Journal of Specialized Nursing Care

The Nursing in the Humanization of the Attendance in Unit of Intensive Therapy – Sistematic Literature Review

 

A Enfermagem na Humanização do Atendimento em Unidade de Terapia Intensiva – Revisão Sistematizada da Literatura

 

Nanci Alves Pastor. Enfermeira Aluna do Curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos Adulto e Idoso/ Universidade Federal Fluminense(UFF). nancialvespastor@bol.com.br Isabel Cruz. Doutora em Enfermagem. Titular da UFF. isabelcruz@uol.com.br

 

Abstract: This study it searchs to establish a reflection on the humanization of the assistance given to the criticamente ill customer. The nursing in the humanization of the attendance in Unit of Intensive Therapy contributes for a new boarding of the area of health, that tends if to not only worry about the curativas actions, but over all with the preventive and reabilitadoras that guide the customer in this period of life, promoting an improvement of the nature human being and the welfare state. For the collection of data 20 articles concerning the thematic one had been selected. With the analysis of the data, three main aspects had emerged that had given sensible the thematic one: Nursing; Humanization and UTI. In function of the negative effect and estressores of the environment of intensive therapy on the patient, the family and the multiprofessional team, a series of studies is turned toward the humanization necessity of the services that use high technology, since the mechanization of the attendance can hinder the development of the critical and reflexiva capacity professional them of health, over all of the nursing.

 

Key- Words: nursing, humanization of Assistance; Intensive Care Units

 

Resumo: Este estudo busca estabelecer uma reflexão sobre a humanização da assistência prestada ao cliente criticamente enfermo. A enfermagem na humanização do atendimento em Unidade de Terapia Intensiva contribui para uma nova abordagem da área de saúde, que tende a se preocupar não somente com as ações curativas, mas sobretudo com as  preventivas e reabilitadoras que norteiam o cliente neste período de vida, promovendo uma melhoria da natureza humana e do bem estar social. Para a coleta de dados foram selecionados 20 artigos acerca da temática. Com a análise dos dados, emergiram três aspectos principais que deram sentido à temática: Enfermagem; Humanização e UTI. Em função dos efeitos negativos e estressores do ambiente de terapia intensiva sobre o paciente, a família e a equipe multiprofissional, uma série de estudos volta-se para a necessidade de humanização dos serviços que utilizam alta tecnologia, visto que a mecanização do atendimento pode impedir o desenvolvimento da capacidade crítica e reflexiva dos profissionais de saúde, sobretudo da enfermagem.

 

Palavras-chave: enfermagem, humanização da assistência; Unidades de Terapia Intensiva.

 

Introdução

Situação – problema:

A vivência como enfermeira no contexto da terapia intensiva, preocupada com a humanização e a qualidade do cuidado de enfermagem, motivou esta pesquisa sobre a abordagem da necessidade de humanização do cuidado de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva, com a finalidade de provocar uma reflexão da equipe e, em especial, dos enfermeiros que atuam com o cliente criticamente enfermo.

A pesquisa em questão apresenta como temática: “A Enfermagem na humanização do atendimento em Unidade de Terapia Intensiva”, e enfoca como objeto de estudo o atendimento de enfermagem ao cliente de terapia intensiva, com base em princípios da humanização.

A humanização constitui-se por um processo que engloba uma rede de diálogos, de respeito e de reconhecimento mútuo e solidário e que tende a colocar o homem e os valores humanos acima dos demais valores. O conceito de humanização prega a valorização dos diferentes sujeitos, implicados ao processo de saúde, sejam eles: usuários, gestores ou trabalhadores.(1) Estabelecendo vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão e implementação do processo humanístico.

Na Unidade de Terapia Intensiva o cliente, e a equipe de enfermagem vivenciam inúmeros fatores estressores, portanto neste local é imprescindível e necessário conscientizar o enfermeiro e toda a sua equipe a entender a real necessidade de oferecer uma profunda avaliação do estado físico, psíquico e emocional deste tipo de cliente, incluindo também o auxiliando no entendimento do que representa para ele este momento de sua vida, fato este que pode ser “encarado”, para muitos como um acontecimento ou experiência de proporções fragilizadas e negativas.(2)

É válido ressaltar, a postura do enfermeiro e de sua equipe que atende o cliente de Terapia intensiva, com relação aos aspectos familiares, o que significa que o profissional não deve somente enfocar a sua assistência ao cliente, mas sim oferecer apoio e suporte, seja físico ou emocional, às famílias que acompanham o mesmo.(3)

Diante do motivo da temática proposta, justifica-se a importância do estudo sobre a humanização do cuidar, principalmente quando se referencia o cliente criticamente enfermo, já que a humanização envolve questões amplas que vão desde a atuação profissional até a reflexão calcada em valores como a cidadania, o compromisso social e a saúde como qualidade de vida oferecida ao usuário dos serviços de saúde. Nesse contexto, o estudo científico em questão permitirá a construção do senso crítico no cuidado a estes clientes, uma vez que nos auxiliará no questionamento de nossas ações, no sentido de desenvolver a solidariedade e o compromisso com o próximo.

 

Objetivo:

 

Identificar a produção científica de enfermagem, determinando a melhor evidência disponível para o cuidado do cliente/família com relação à necessidade de humanização da assistência prestada pelos profissionais de enfermagem que atuam com o cliente criticamente enfermo na Unidade de Terapia Intensiva.

 

Metodologia

 

A pesquisa e o levantamento bibliográfico computadorizado e / manual foram realizados através da base de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), utilizando palavras-chaves/ Key words (enfermagem/humanização/Unidade de Terapia Intensiva). Os dados da pesquisa foram obtidos no período de março de 2007 a setembro de 2007. Sendo a coleta realizada, inicialmente, através da pesquisa e inclusão de artigos, voltados para assuntos pertinentes ao cliente em Terapia Intensiva e para a assistência de enfermagem humanizada. Dos 28 textos identificados que abordam o tema em questão, foram selecionados 20, para a análise devido às implicações para uma melhor prática.

 

No primeiro momento, todo o material obtido foi previamente selecionado mediante uma pesquisa qualitativa, buscando identificar e conhecer o que a enfermagem estaria publicando sobre a assistência prestada ao cliente criticamente enfermo, tendo como base os princípios da humanização. Num segundo momento foi feita a descrição do objeto de estudo, arquivando-se todos os artigos identificados sobre a temática deste estudo.

 

Em seguida, os artigos foram colocados em ordem cronológica, enfocando os seguintes aspectos: dados de identificação do artigo - título, nome do periódico, volume, número e ano de publicação e dados de identificação do pesquisador: nome,categoria profissional, local de atuação; A partir desse momento realizou-se a análise minuciosa dos artigos selecionados, ou seja, quais as idéias sobre "humanização do atendimento e UTI” poderiam ser aproveitadas para a elaboração da pesquisa.

 

 A partir deste conhecimento prévio, pude identificar três núcleos temáticos: enfermagem; humanização e UTI. Sintetizando, a elaboração do trabalho seguiu os seguintes passos: leitura de todos os artigos acerca da temática, obtenção de dados, catálogo e codificação do material em núcleos temáticos e por último, tratamento e interpretação dos resultados encontrados na pesquisa.

 

Resultados

 

Os estudos relacionados na tabela 1 versam sobre modelo de estudo, tamanho da amostra, objetivos, intervenções, medidas de desfecho e resultados relativos aos aspectos nos dez artigos utilizados.

 

Tabela 1- Publicações localizadas, segundo o tema “A enfermagem na humanização do atendimento em Unidade de Terapia Intensiva”, mencionadas nas bases de dados. Niterói, 2007.

 

Autor (es), Data

& País

 

Objetivo da pesquisa

 

Tamanho da amostra

 

Tipo do estudo & instrumentos

 

Principais achados

 

Conclusões do autor (es)

 

HumanisaSUS(1)

 

          

        _

     

 

       

         _

 

        

 

     

        _

Humanizar consiste em ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecno­lógicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos profissionais.

 

A Humanização,  deve ser entendida como um conjunto de estratégias para alcançar a quali­ficação da atenção e da gestão em saúde no SUS.

 

Boemer MR(2), Ross LR, Nastari, RR, Jul. 2005, Brasil.

 

Investigar e analisar a idéia de morte dentro de uma

Unidade de

terapia intensiva

 

Foram entrevistados cerca de 30 enfermeiros pertencentes a

uma Unidade de terapia intensiva.

 

Observação-participante e entrevista semi-

Estruturada

com análise de depoimentos

 

A morte provoca dor e sofrimento e afeta os sentimentos da equipe que assiste o cliente.

Dificuldade e ausência de meios para se lidar com a situação.

 

A morte dentro de uma UTI é encarada como um momento de proporções

negativas, porém, acontecimento compreensível, em se tratando de clientes gravemente enfermos e com dificuldade de recuperação.

 

Dunkell J(3),Eisendrath S.,2005, EUA.

 

Observar os efeitos da UTI na família do cliente gravemente enfermo

 

Entrevista com 20 famílias de clientes internados numa unidade de

Terapia Intensiva

 

Análise quantitativa e entrevista

 

A família apresenta um sentimento de incapacidade diante da situação;

 

Os aspectos: físico, emocional, psicológico e espiritual são profundamente afetados.

 

A UTI oferece um dos ambientes mais agressivos, tensos e traumatizantes para a família do cliente internado.

 

Lima MG(4), Maio 2007, Brasil.

 

Verificar a assistência prestada pelo enfermeiro em UTI

 

Visitação e observação de cerca de 15 unidades de Terapia Intensiva.

 

Análise Quali-quantitativa

 

O enfermeiro apresenta dificuldade em prestar uma assistência qualificada ao cliente.

 

 

O ambiente estressor da UTI, dificulta a prestação de uma assistência humanizada ao cliente de Terapia

 Intensiva.

 

Holland C(5), Cason CL, Prater LR, Maio 2006, EUA.

 

Realizar uma análise crítica

e reflexiva sobre a dimensão do cuidado de enfermagem

 

       _

 

 Pesquisa qualitativa, descritiva e bibliográfica.

 

A equipe se apresenta extremamente despreparada para cuidar do paciente gravemente enfermo;

 

Ao oferecer o atendimento ao cliente, a enfermagem deixa de lado os princípios da humanização.

 

A própria dinâmica de uma

UTI não possibilita momentos de reflexão para que seu pessoal possa se orientar melhor

 

 

 

Russell S(6)., 2005, Inglaterra.

 

Estudo exploratório sobre a percepção e experiências de um paciente de terapia intensiva

 

Foram analisados 60 clientes de diferentes unidades de Terapia Intensiva.

 

Pesquisa de campo de caráter exploratório e análise de dados

 

 

Uma parcela da clientela demonstrou insatisfação com relação ao cuidado de enfermagem,

 

A outra enfocou alguns aspectos que poderiam ser modificados para a qualidade do cuidado prestado.

 

Os pacientes hospitalizados em UTI encaram este momento como um acontecimento de proporções fragilizadas e de fadiga física e emocional.

 

 

Guirardello EB(7), Romero-Gabriel CAA, Pereira IC,

 

Miranda AF. Jun.2007, Brasil.

 

 

 

Descrever a percepção do paciente em UT

 

      -

 

Pesquisa bibliográfica e descritiva.

 

Período de incapacidade para realização de atividades rotineiras diárias;

 

O cliente aborda dificuldade em compreender a situação pela qual vivenciou.

 

Para muitos pacientes internados em UTI, a percepção se mostra negativa, visto que a assistência não é prestada satisfatoriamente.

 

Spindola T(8), Castañon FF, Lopes GT, 2008, Brasil.

 

Avaliar o estresse na Unidade de Terapia Intensiva

 

       _

 

Pesquisa qualitativa, descritiva e bibliográfica.

 

Dentre os fatores que originam o estresse, temos: o ambiente de crise, o risco de vida, situação vida/morte, sobrecarga de trabalho e falta de condições de reconhecimento.

 

A UTI é uma Unidade geradora de estresse, sendo as principais manifestações: fadiga física e emocional, tensão e ansiedade.

 

 

Souza M(9), Possari JF, Mugaiar KHB, Abr/jun, 2006,Brasil.

 

 

Abordar a humanização do cuidado de enfermagem nas Unidades de Terapia Intensiva

 

     

             _

 

 

Pesquisa bibliográfica e de caráter qualitativo

 

 

O encontro com o paciente nunca é neutro.

No ato de cuidar sempre incorporamos preconceitos,)

Valores e atitudes.

 

 

 

Os profissionais de enfermagem não podem humanizar o atendimento, antes de aprender como

ser íntegro consigo mesmo

 

 

Rockenbach

LH(10), jan/mar. 2008 Brasil.

 

Analisar a

postura da  enfermagem e a humanização do paciente em UTI

 

       _

 

Análise

bibliográfica

 

Valorização do cuidado centrado na tarefa em si do que no próprio paciente

Prevalência das ações curativas, voltadas para a questão tecnológica e burocrática.

 

 

Na realidade, não se observa uma postura calcada em princípios da humanização, visto que as ações são exclusivamente mecanizadas.

 

Barr WJ(11), Bush HA, 2005, EUA

 

 

 

 

 

 

Descrever os fatores que facilitam o cuidado humanizado de enfermagem

 

Visitação e conversa com

 enfermeiros de 20 Unidades de Terapia Intensiva  

 

Estudo exploratório descritivo e quantitativo

 

Dentre os principais fatores que promovem o atendimento humanizado, podemos citar: Amor, carinho, respeito, diálogo, privacidade, atenção ao paciente e familiares.

 

 

Os fatores da humanização proporcionam melhora significativa na recuperação do cliente gravemente enfermo.

 

 Discussão

 

Os artigos selecionados nesta pesquisa foram criticamente abordados, a seguir, permitindo assim uma melhor compreensão do tema em questão. Em relação à limitação da pesquisa, é quanto à amostra escolhida. Foram encontradas apenas três obras relacionadas com o tema, enquanto que as demais foram complementares, pois abordavam indiretamente o tema humanização.

Os artigos identificados e selecionados através da revisão bibliográfica apresentam grande relevância para a prática da enfermagem, já que representam uma produção científica que quando aplicada à prática do enfermeiro, possibilita a prestação de uma assistência qualificada ao cliente de alta complexidade.

As UTIs surgiram a partir da necessidade de aperfeiçoamento e concentração de recursos materiais e humanos para o atendimento a pacientes graves, em estado crítico, mas tidos ainda como recuperáveis, e da necessidade de observação constante, assistência médica e de enfermagem contínua, centralizando os pacientes em um núcleo especializado(3).

Embora seja o local ideal para o atendimento a pacientes agudos graves recuperáveis, a UTI parece oferecer um dos ambientes mais agressivos, tensos e traumatizantes do hospital (2).

Os fatores agressivos não atingem apenas os pacientes, mas também a equipe multiprofissional, principalmente a enfermagem que convive diariamente com cenas de pronto-atendimento, pacientes graves, isolamento, morte, entre outros.

Apesar do grande esforço que os enfermeiros realizam no sentido de humanizar o cuidado em UTI, esta é uma tarefa difícil, pois demanda atitudes às vezes individuais contra todo um sistema tecnológico dominante. A própria dinâmica de uma UTI não possibilita momentos de reflexão para que seu pessoal possa se orientar melhor (2). É importante abordar a necessidade de humanização do cuidado de enfermagem na UTI, com a finalidade de provocar uma reflexão da equipe e, em especial, dos enfermeiros.

 Atualmente considera-se que o desenvolvimento tecnológico vem dificultando as relações humanas, tornando-as frias, objetivas e individualistas. Ao não se dar conta onde termina a máquina e começa o paciente, a relação com a máquina pode tornar o cuidado de enfermagem um ato mecânico e o paciente ser visto como uma extensão do aparato tecnológico (2).

A assistência baseada na racionalização, mecanização e burocratização impedem o desenvolvimento da capacidade crítica e reflexiva dos profissionais. Neste caso as passam a ser realizadas de forma fragmentada, perdendo de vista o paciente em sua totalidade. Este deixa de ser uma pessoa para ser um caso interessante ou um número. O paciente individualizado, com seus problemas, temores e necessidades, nunca é levado em conta.

Por força dos efeitos negativos do ambiente sobre o paciente, a família e a equipe multiprofissional, uma série de estudos volta-se para a necessidade de humanização dos serviços que utilizam alta tecnologia, incluindo, sobretudo a ação do enfermeiro que presta cuidados diretos ao cliente criticamente enfermo (5).

O aspecto humano do cuidado de enfermagem pode representar, uma das questões que necessite de maior atenção ao ser implementada. A rotina diária e complexa que envolve o ambiente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) faz com que os membros da equipe de enfermagem, na maioria das vezes, esqueçam de tocar, conversar e ouvir o ser humano que está à sua frente.

Além de envolver o cuidado ao paciente, a humanização estende-se a todos aqueles que estão envolvidos no processo saúde-doença neste contexto, que são, além do paciente, a família, a equipe multiprofissional e o ambiente( 5).

 

O paciente internado na UTI necessita de cuidados de excelência, dirigidos não apenas para os problemas fisiopatológicos, mas também para as questões psicossociais, ambientais e familiares que se tornam intimamente interligadas à doença física. A essência da enfermagem em cuidados intensivos não está nos ambientes ou nos equipamentos especiais, mas no processo de tomada de decisões, baseado na sólida compreensão das condições fisiológicas e psicológicas do paciente.

O cuidar envolve verdadeiramente uma ação interativa. Essa ação e comportamento estão calcados em valores e no conhecimento do ser que cuida "para" e "com" o ser que é cuidado. O cuidado ativa um comportamento de compaixão, de solidariedade, de ajuda, no sentido de promover o bem, no caso das profissões de saúde, visando ao bem-estar do paciente, à sua integridade moral e à sua dignidade como pessoa( 6).

Ao se projetar no lugar do outro, toma-se consciência de si próprio, ou seja, com a capacidade de sentir, avaliar e escolher terapeuticamente como gostaria de ser tratado naquele momento. Cuidar humanamente significa então se colocar no lugar do próximo, e enfocar a excelência do atendimento ao cliente.

 

Humanizar a assistência significa reconhecer as pessoas que buscam nos serviços de saúde e a resolução de suas necessidades de saúde, como sujeitos de direitos, observando cada pessoa em sua individualidade, em suas necessidades específicas, ampliando as possibilidades para que possa exercer sua autonomia.

 

O ambiente físico pode ser responsável pelo desenvolvimento de distúrbios psicológicos, pela desorientação no tempo e no espaço, privação de sono devido aos ruídos constantes. Todos os aspectos que puderem ser melhorados nesse sentido devem ser valorizados (7-8)

O ambiente tem influência direta no bem-estar do paciente, família e equipe multiprofissional. As estratégias que facilitam o contato, a interação e a dinâmica no contexto da UTI podem ser consideradas premissa básica para o cuidado humanizado.

 

Humanizar significa, ainda, a necessidade de manter a família informada e prepará-la para entrar na UTI. A informação adequada, com palavras simples e condizentes com o nível sociocultural dos familiares, é um importante requisito para a humanização do cuidado. A participação do enfermeiro junto aos familiares, além de possibilitar a visita aos pacientes internados na UTI, envolve o fornecimento de informações precisas, favorecendo o contato com a realidade (8).

 

Existe, na realidade, uma enorme contradição entre o que é falado com o que é vivido. No contexto real, transparecem as raízes de um cuidado despersonalizado, centrado na execução de tarefas e agressivo com o paciente, a família e a equipe multiprofissional. Constata-se que prevalecem ações curativas, voltadas para valorização das tecnologias. O objeto da enfermagem está centrado mais na tarefa a ser executada do que no paciente.

 

Ao refletir sobre o significado cultural de cuidado humanizado, tendo a cultura como um sistema de significados pelo qual os indivíduos percebem e compreendem o mundo que habitam, aprendendo a viver dentro dele, concluí-se que a enfermagem tem a responsabilidade e o compromisso ético e profissional de resgatar o sentido do seu agir, e isso só será possível a partir da conscientização de que o ser humano é capaz de buscar a si mesmo, a sua essência e, por conseqüência, buscar o outro.

 

Dessa forma, do ponto de vista do profissional de enfermagem, a realidade na prática da UTI é interpretada considerando o conceito de "doença processo" que se refere às anormalidades de estrutura ou funcionamento de órgãos ou sistemas (9).

 

A observação do contexto real da terapia intensiva faz constatar a dicotomia existente entre teoria e prática. Apesar de conceituarem cuidado humanizado como respeito, amor, carinho, mantendo o diálogo, a privacidade, dando atenção à família, os informantes mencionam atitudes, comportamentos, condutas que caracterizam a UTI como um ambiente mecânico e desumano com paciente, família e equipe de enfermagem.

 

É preciso ter em mente que, para a família cumprir o seu papel e dar suporte à situação vivenciada pelo paciente, ela também precisa de suporte para suas necessidades físicas e emocionais (9).

 

O processo de interação efetiva entre membros da equipe e familiar não é fácil, uma vez que aspectos psicológicos negativos estarão sempre envolvidos, em maior ou menor escala. A análise qualitativa do efeito benéfico dessa interação é altamente estimulante e permite antever a sua eficiência na assistência global ao paciente criticamente enfermo. Trata-se, pois, de um desafio, para a equipe que atua em UTI, promover interação efetiva com o paciente e com a família (10).

 

A equipe de enfermagem está, provavelmente, exposta a um nível maior de estresse que qualquer outra do hospital, porque deve lidar não somente com a assistência a seus pacientes e familiares, mas também com suas próprias emoções e conflitos.

 

É preciso a aplicabilidade do processo de humanização no atendimento de enfermagem ao cliente de Terapia Intensiva devido aos fatores estressores que cercam o ambiente hospitalar. Faz-se necessário a integralização do enfermeiro com cliente afim de que possa criar um ambiente menos hostil e mais produtivo para a promoção da saúde, seja física ou mental de ambos os envolvidos.

 

A UTI é uma unidade geradora de estresse, sendo as principais manifestações: fadiga física e emocional, tensão e ansiedade. Dentre as fontes que produzem alto poder estressante, a equipe considera: o ambiente de crise, risco de vida, situação vida/morte, sobrecarga de trabalho, má utilização de habilidades médicas e a falta de reconhecimento pelos profissionais (10-11).

 

Acredito que alguns profissionais defendem, que devido aos diversos problemas de saúde e a falta de recursos encontrados numa Unidade de Terapia Intensiva, o processo de humanização é inviável, porém, comprovadamente percebemos que as mudanças já existem e crescem gradativamente. Afinal, o cuidado é a essência da Enfermagem.

 

Só é possível humanizar a UTI partindo de nossa própria humanização. Os profissionais de enfermagem não podem humanizar o atendimento do paciente crítico, antes de aprender como ser inteiro/íntegro consigo mesmo. O encontro com o paciente nunca é neutro, sempre carregamos conosco os preconceitos, valores, atitudes, enfim, nosso sistema de significados culturais. Por isso, cuidar de quem cuida é essencial para se poder cuidar terapeuticamente de outros (11-12).

 

A humanização deve fazer parte da filosofia de enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos são importantes, porém não mais significativos do que a essência humana. Esta, sim, irá conduzir o pensamento e as ações da equipe de enfermagem, principalmente do enfermeiro, tornando-o capaz de criticar e construir uma realidade mais humana, menos agressiva e hostil para as pessoas que diariamente vivenciam a UTI.

 

Diante dos textos abordados durante a pesquisa, é possível sugerir e nortear ações de enfermagem nas UTIs, para uma melhor prática do processo de humanização, pautadas nos seguintes aspectos:

 

·         Compreender o termo “humanização” como a maneira de ver e considerar o ser humano a partir de uma visão global, buscando superar a fragmentação da assistência;

·         Relacionar a prática dessa natureza ao modo como lidamos com o outro. Assim, essa característica implica em fazermos a diferença no modo como lidamos com outro, tratando-o com dignidade e respeito, valorizando seus medos, pensamentos, sentimentos, valores e crenças, estabelecendo momentos de escuta e de fala do indivíduo a ser tratado;

·         Considerar a humanização como um processo vivencial que permeia toda a atividade das pessoas que assistem o paciente, procurando realizar e oferecer o tratamento que ele merece;

·         Respeitar às individualidades e promover a garantia de uma estrutura tecnológica que permita a segurança e o acolhimento ao cliente e sua família, com ênfase no cuidado voltado para o desenvolvimento e psiquismo, buscando facilitar o vinculo entre o cliente, a família e a equipe durante sua permanência no hospital;

·         Enfatizar a importância do envolvimento da equipe de enfermagem na assistência ao cliente- família, ressaltando a necessidade do processo de hospitalização, para uma boa qualidade de sobrevida do cliente criticamente enfermo;

·          Humanizar a assistência facilitando a interação entre equipe profissional-cliente-família, proporcionando a recuperação do cliente de forma satisfatória e contribuindo assim para minimizar os efeitos nocivos provocados pela hospitalização, tornando a família elemento ativo dentro do processo do cuidar.

·         Estruturar e organizar a UTI levando em conta os avanços terapêuticos e tecnológicos disponíveis para o cuidado do cliente de alto risco para que possa atender a novas realidades. Todo planejamento e organização da UTI, da escolha do material, recursos humanos, bem como planta física, deve levar em consideração e enfatizar o cuidado centrado no bem-star do cliente e família em todos os aspectos da assistência, da admissão até a alta hospitalar. A estrutura do hospital onde será implantada a UTI deverá ser analisada para se certificar de que possui todos os serviços técnicos e humanos de apoio para atender as demandas do cuidado do cliente gravemente enfermo.

·         Para que o trabalho não se torne mecanizado e desumano, é necessário que os profissionais de enfermagem estejam preparados para lidar com as situações do cotidiano, recebendo auxilio psicológico e aprendendo a administrar sentimentos vivenciados na pratica assistencial.

·         Para o desenvolvimento de ações humanizadas a filosofia da instituição, deve estar comprometida com um projeto terapêutico que contemplem a humanização das relações de trabalho, da assistência e do ambiente de trabalho. Nesse contexto, é fundamental o incentivo à equipe, valorizando os profissionais enquanto seres bio-psicossociais, pois, quando se sentem mais respeitados, valorizados e motivados como pessoas e profissionais, podem estabelecer relações interpessoais mais saudáveis com os pacientes, familiares e equipe multiprofissional .

·         O encontro envolvendo cuidador e ser cuidado deve ter como eixo condutor a escuta sensível para a construção de uma pratica do cuidar que seja capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível com a promoção de acolhimento, vinculo e responsabilização.

.

 

Conclusão

A temática humanização do atendimento de enfermagem ao cliente em Unidade de Terapia Intensiva mostra-se relevante no contexto atual, uma vez que a constituição de um atendimento calcado em princípios como a integralidade da assistência, a eqüidade, a participação social do usuário, dentre outros, demanda a revisão das práticas cotidianas, com ênfase na criação de espaços de trabalho menos alienantes que valorizem a dignidade do trabalhador e do usuário.

 A relevância da pesquisa encontra-se também no fato de permitir resgatar os valores humanísticos da assistência de enfermagem, enfocando as transformações que ocorrem com o cliente grave, o que significa tratá-lo de forma holística, isto é,como um todo, não permitindo assim a fragmentação deste.

A assistência integral possibilita a qualificação do atendimento de enfermagem, e visa em si, uma melhora significativa no perfil dos profissionais que atuam dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva, incluindo o conhecimento sobre a natureza humana e o desenvolvimento de atitudes de valorização do homem, que contribuirá para a humanização da profissão.

O fazer deve ser voltado para o respeito, para a dignidade e para a valorização do ser humano, e a partir do momento em que o enfermeiro atua na compreensão das experiências vividas pelo cliente criticamente enfermo e que conta com os seus cuidados, este começa a atuar baseado em princípios humanísticos. O grande desafio é não desistir do caminho a ser trilhado, e aí os fatos vão se transformando de obrigações a um imenso prazer.

 

Deve-se evitar a falta de humanidade com a fragilidade dos outros. Pessoas não podem ser tratadas como objetos passíveis de manipulação, pois não são! É preciso entender que suas dores e seus desejos se confundem. Somente quando nos permitimos tanta proximidade com o outro entramos no processo de humanização e derrubamos barreiras inimagináveis, descemos um degrau de onipotência e subimos um degrau de respeito e aprendizagem. Só aqueles que crêem no ato de ser mais um mero profissional são capazes de entender o que é sofrer, coloca-se no lugar do outro e caminham em direção ao processo da humanização.

 

A necessidade da valorização do processo evolutivo e humanístico é fundamental dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva. É preciso ressaltar a capacidade do cuidar, assistir e aliviar o sofrimento em saúde não implica necessariamente que a assistência seja uma intromissão coercitiva.

 

O processo evolutivo de humanização em enfermagem objetiva proteger socialmente o indivíduo em situações de risco emocional e físico, garantindo assim os direitos do cliente enquanto cidadão. É o uso obrigatório da ética. É o início de uma proteção compartilhada, é o uso da cientificidade para a promoção respeitando seus anseios, sonhos, necessidades, afetividade, do interesse, do diálogo, do fim da “banalização” que se criou ao redor do outro como se o outro fosse um produto diário de renda e não como parte integrante de nós mesmos. É preciso manter viva a chama da sensibilidade na alma ou perde-se o sentido de cuidar.

 

É possível que esta realidade também esteja presente na maioria das UTIs brasileiras. Assim, essas características não devem ser apenas relacionadas a problemas burocráticos, muito menos estrutural e técnico, mas sim a uma questão que envolve atitudes, comportamentos, valores e ética moral e profissional. Convém, finalmente salientar que toda e qualquer medida modificadora de padrões de comportamento, atitudes e valores como são as propostas de formação humanizada e humanizante, envolvem um processo de conscientização e sensibilização que embora demorado e doloroso valem à pena.

 

Através deste estudo pode-se vivenciar que o processo de humanização em UTI, consiste fundamentalmente, em tornar uma prática bela, por mais que ela lide com o que tem de mais degradante, doloroso e triste na natureza humana, o sofrimento, a deteriorização e a morte. Refere-se, portanto, a possibilidade de assumir uma posição ética de respeito ao cliente e de reconhecimento dos limites do cliente criticamente enfermo.

 

Diante do proposto, humanizar passa a ser responsabilidade de todos, individual e coletivamente. Jamais estará dada, sendo preciso reconstruí-la em todos atos de saúde, quer aqueles burocráticos – administrativos, quer aqueles relacionais. Humanização no setor saúde é ir além da competência tecnocientífica – política dos profissionais, compreende o desenvolvimento da competência das relações inter-pessoais que precisam estar pautadas no respeito à vida, na solidariedade, na sensibilidade de percepção das necessidades singulares dos sujeitos envolvidos.

                                        

Referências Bibliográficas

1. BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: política nacional de humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Brasília, DF, 2004.

2. Dunkell J, Eisendrath S. Families in the intensive care unit their effect on staff. Dimens Crit Care Nurs 2005; 12 (3):258-61

3. Boemer MR, Rossi LR, Nastari RR. A idéia de morte em unidade de terapia intensiva - análise de depoimentos. Rev Paul Enferm 2005 jul; 10 (2):8-14.         

4. Lima MG. Assistência prestada pelo enfermeiro em unidades de terapia intensiva: aspectos afetivos e relacionais. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem/USP; 2007.         

5. Holland C, Cason CL, Prater LR. Patient's recollections of critical care. Dimens Crit Care Nurs 2006 May-June; 16(3):132-41.         

6. Russell S. An exploratory study of patient's perceptions, memories and experiences of an intensive care unit. J Adv Nurs 2005; 29(4): 783-91.         

7. Guirardello EB, Romero-Gabriel CAA, Pereira IC, Miranda AF. A percepção do paciente sobre sua permanência na Unidade de Terapia Intensiva. Rev Esc Enferm. USP 2007 jun.; 33(2):123-9.   

8. Spindola T, Castañon FF, Lopes GT. O estresse na Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Enfermagem 2008; 5:2-41.

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