Na última
reunião do Comitê Técnico em Saúde da População Negra, ocorrida nos dias
17 e 18 de maio de 2011, em Brasília, foi incluída na pauta a discussão sobre
a Elaboração do PNS/PPA 2012/2015 – Metas 2012/2015 – 2022, tendo em vista
sua importância para a efetivação da Política nacional de Saúde Integral da
População Negra. Diante da exigüidade do prazo para apresentar contribuições
ao plano, o Comitê estabeleceu como estratégia de participação a discussão
eletrônica.
Na segunda semana de junho, alguns membros do Comitê puderam aprofundar a
discussão participando em reuniões com a SEPPIR e do grande debate no Conselho
Nacional de Saúde.
Das trocas de mensagens e das participações nas discussões com a SEPPIR
e o CNS, foi gerado um documento que inclui ou altera iniciativas e metas no
Plano Nacional de Saúde(PNS)/Plano
Plurianual(PPA) 2012-2015.
Buscamos em nossa proposta manter o foco no programa temático do governo: aperfeiçoamento
do Sistema Único de Saúde (SUS). Para que isto aconteça é necessário,
no nosso entendimento, aumentar o acesso e a equidade no SUS.
Diante do fato de que um dos macrodesafios deste governo é a erradicação da
pobreza extrema, avaliamos que a maior contribuição que o Ministério da Saúde
pode dar neste momento é remover as barreiras de acesso ao SUS por meio de
iniciativas que incluam 16 milhões de pessoas em condição social totalmente
vulnerável.
A opção política deste governo pelos excluídos pode ser resultado da longa
trajetória de luta dos movimentos sociais, em especial os movimentos negro e
feminista, pela inclusão social de todos e todas. Assim, quando a gestão
pública elabora seu plano estratégico de ação, o Comitê
Técnico de Saúde da População Negra trabalha para a intensa negociação
com as instâncias do poder no sentido de fazer valer as iniciativas
necessárias para a atenção à saúde da população em pobreza extrema.
Além das sugestões apresentadas no documento encaminhado à SEPPIR e ao Ministério
da Saúde, consideramos importante apontar algumas outras iniciativas em saúde
a serem consideradas quando se pretende efetivamente derrubar barreiras ao
acesso da população em situação de exclusão social no sistema de saúde, a
saber:
- redução das listas de espera dos transplantes renais (de cadáver), de
cirurgias para doenças cardíacas, entre outras listas de espera.
- promoção da diversidade cultural na prestação de serviços de saúde por
meio da associação mais estreita destes serviços com as instituições nas
comunidades do entorno dos serviços
-promoção do alfabetismo em saúde da população por meio de educação em saúde
sobre hipertensão, diabetes, anemia falciforme, glaucoma, DST/AIDS, pré-natal,
etc, e suas estratégias de prevenção e/ou tratamento (inclusive os recursos
disponíveis e como acessá-los)
- Fomento à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias de superação das
barreiras da comunicação profissional de saúde-usuário
- atenção à saúde de populações difíceis de serem alcançadas pelos serviços
rotineiros, como a população sem-teto, por exemplo, por meio equipes de saúde
"NA" comunidade, equipes itinerantes, postos de saúde com
capacidade para prestar todo o atendimento em um único dia e/ou em horários
noturnos e finais de semana, etc.
- implantação em 100% das maternidades, casas de parto, o serviço de registro
civil das crianças, para que nenhuma criança seja perdida para a indigência.
- implantação da educação em saúde da gestante sobre o parto, direitos como
licença maternidade e os cuidados do bebê em 100% dos serviços pré-natal
visando o empoderamento da mulher e a equidade de gênero.
- garantia de cuidados de enfermagem imediatos para a mulher em todas as
maternidades e casas de parto nas primeiras seis horas do puerpério, visando
reduzir a mortalidade materna (por hemorragia, principalmente) em 3/4 da taxa
atual.
- garantia de alojamento conjunto mãe-filho em todas as maternidades e casas de
parto visando a promoção do aleitamento exclusivo, o estabelecimento de vínculo
afetivo e a redução da mortalidade infantil em 2/3 da taxa atual.
- estabelecimento de padrões profissionais e éticos para os
profissionais e instituições do SUS relativos à competência cultural em saúde,
prevenção e combate da discriminação racial e sexual, entre outras.
- Fomento a pesquisa sobre medicamentos tradicionais, benefícios ou possíveis
interações danosas.
Concluímos, ressaltando que o acesso é a primeira condição para garantir
equidade em saúde e só desta forma o SUS poderá ser aperfeiçoado. Uma vez
que há 16 milhões em pobreza extrema e destes 71% são negros, precisamos
explicitar no PNS/PPA, que será debatido no Conselho nacional de Saúde (CNS)
no dia 05 de julho, o que exatamente o Ministério da Saúde se propõe a fazer
para incluir estas pessoas, cidadãs, na prestação da atenção à saúde.
JSNCARE