Journal of Specialized Nursing Care

A elevação da cabeceira atuando para prevenção da pneumonia associada à ventilação mecânica

Revisão Sistematizada da Literatura  

The elevation of the head acting for prevention of ventilator-associated pneumonia.

Systematized Review of Literature

 

Suely de Morais Falcão Almeida,  Enfermeira, Aluna  do Curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos para Adulto e Idoso da Universidade Federal Fluminense (UFF). Email:suelymoraisfalcao@gmail.com  

Isabel Cruz Enfermeira, Professora,  Doutora em Enfermagem. Titular da UFF. Email: isabelcruz@uol.com.br

 

ABSTRACT: Patients in intensive care often require the use of an artificial airway, it has its depressed level of consciousness, respiratory failure, trauma or need for aspiration of secretions, making them susceptible to pneumonia associated with mechanical ventilation. The objective of this study is to investigate the effectiveness of elevating the head by 30 to 45 among other prevention measures. The method used was a computerized literature search in the databases online, over the period 2007 to 2012. It was observed that the elevation of the head at 30 and 45, is one of the most simple and effective prevention. We conclude that good nursing practices associated with elevated bed rest at 30 and 45, may prevent ventilator-associated pneumonia. It is recommended the creation of a protocol for prevention, constant training of staff and preparation of posters displaying the results of the performance of the team in prevention.  

Key-words: intensive care, patient positioning, ventilator-associated pneumonia 

RESUMO: Pacientes internados em terapia intensiva frequentemente necessitam da utilização de uma via aérea artificial, pois tem seu nível de consciência diminuído, falência respiratória, traumas ou necessidade de aspiração de secreções , o que os torna suscetíveis a pneumonia associada a ventilação mecânica. O objetivo deste estudo consiste em investigar a eficácia da elevação da cabeceira em 30 a 45º dentre outras medidas como prevenção. O método utilizado foi uma pesquisa bibliográfica computadorizada  nas bases de dados Online, no período de 2007 a 2012. Observou-se que a elevação da cabeceira em 30º e 45º, é uma das formas mais simples e eficaz de prevenção. Conclui-se que boas práticas de enfermagem associada à elevação de cabeceira em 30 e 45º, pode prevenir a pneumonia associada à ventilação mecânica. Recomenda-se a criação de um protocolo para prevenção, constantes treinamentos da equipe e confecção de cartazes expondo os  resultados da atuação da equipe na prevenção.  

 Palavras-chave: cuidados intensivos, posição do paciente, pneumonia associada à ventilação mecânica  

SITUAÇÃO PROBLEMA

As instituições de saúde tem se preocupado cada dia mais em prevenir infecções hospitalares, realizando estudos e treinamentos para a melhora dos resultados. As infecções hospitalares (IH) elevam as taxas de morbidade e de mortalidade, ampliam o tempo de permanência dos pacientes no hospital e, consequentemente, oneram os custos para os serviços de saúde.(1)

Pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) é uma das principais causas de morte por infecção hospitalar nas UTIs. PAV ocorre em 9% a 28% dos pacientes tratados com ventilação mecânica, e as taxas de mortalidade para PAV são de 24% para 50%. 

A pneumonia é a segunda principal infecção nasocomial em unidades de terapia intensiva (UTI), quando associada  à ventilação mecânica, é a infecção que mais acomete os pacientes internados.  Definimos PAV como uma infecção pulmonar que surge entre 48 e 72 horas após a entubação endotraqueal e a instalação da ventilação mecânica invasiva, o diagnóstico é baseado em critérios clínico e radiológicos, como presença de infiltrados novos e persistentes, temperatura > 38,3ºc, leucocitose ou leucopenia, secreção brônquica purulenta,um organismo isolado a partir do sangue, o isolamento de um agente etiológico de uma amostra obtida por meio de sucção de aspiração através do tubo endotraqueal ou de traqueostomia   ou um destes.

São fatores de risco para PAV: idade avançada acima de setenta anos, rebaixamento do nível de consciência, entubação e reentubação traqueal, condições imunitárias, uso de drogas imunossupressoras, choque, doenças graves, antecedência de DPOC, tempo prolongado de ventilação mecânica, aspirado do condensado contaminado dos circuitos do ventilador, desnutrição, contaminação exógena entre outros.  A presença do tubo orotraqueal instalado nas vias aéreas impede o paciente de tossir e aumenta a produção de secreções, esse agrupamento  de secreção é de aproximadamente 100 a 150 ml num período de 24 horas, e uma vez aspirados torna-se a principal porta de entrada de bactérias no trato respiratório inferior.

Sabe-se que muitas são as práticas que podem ser realizadas para prevenir a pneumonia associada à ventilação mecânica, tais como: lavagem de mãos, higiene oral, aspiração subglótica e endotraqueal, utilização de soluções estéries nos equipamentos e troca dos mesmos conforme protocolo da instituição, elevação da cabeceira em 30 e 45º,interrupção de sedação, mensuração de resíduo gástrico, instalação e controle da dieta enteral e protocolo de TEV e PUD. A mais simples e menos onerosa é a elevação da cabeceira a 30 e 45º.  

JUSTIFICATIVA

O tema foi escolhido, visto que a maioria dos pacientes internados em terapia intensiva são submetidos à entubação orotraqueal x ventilação mecânica, tornando-se suscetíveis a pneumonia associada à ventilação mecânica. Logo, esse estudo visa buscar evidências científicas para a mais simples forma de prevenção, a elevação da cabeceira.

                    Tabela 1 – Desmembramento da estratégia PICO

 

P

Pacientes internados em unidade de terapia intensiva, submetidos à ventilação mecânica

I

Elevação  da cabeceira a 30 e 45º

C

 XX

O

Prevenção  a Pneumonia associada à ventilação mecânica

 

PERGUNTA CLÍNICA

No cliente de alta complexidade, qual é a eficácia da elevação da cabeceira a 30 e 45º, para prevenção da pneumonia associada  à ventilação mecânica?   

OBJETIVO

O presente estudo visa identificar nas produções científicas de enfermagem as melhores práticas baseadas em evidências, em relação ao melhor posicionamento dos pacientes submetidos a ventilação mecânica, internados em uma unidade de terapia intensiva para prevenir a pneumonia associada à ventilação mecânica.  

METODOLOGIA

Esse estudo caracteriza-se como revisão de literatura, referente à prevenção da pneumonia associada à ventilação mecânica.

A busca dos artigos foi realizada nos meses de setembro à novembro de 2012, nas bases de dados PubMed e Portal de Revistas de Enfermagem. Os critérios de inclusão dos artigos selecionados para revisão de literatura foram: artigos que abordassem a prevenção da pneumonia associada à ventilação mecânica; artigos publicados em inglês e português;  no período de 2007 a 2012, foram excluídos os artigos que não abordavam o posicionamento da cabeceira a 30 e 45º.

A busca foi realizada por cada termo em separado com a  combinação dos componentes da estratégia PICO: (P) AND (I) AND (C ) AND (O). Onde (P) refere-se ao paciente internado em terapia intensiva, submetido à ventilação mecânica, (I) refere-se à elevação da cabeceira em 30 a 45º e (O) refere-se à prevenção da pneumonia associada à ventilação mecânica.  

Em um segundo momento, realizou-se leitura interpretativa do material obtido, com caráter exploratório, a fim  de verificar o interesse da pesquisa.  A amostra constituiu-se de 11 artigos, 07 em inglês e 04 em português.  

RESULTADOS

No presente estudo, foram identificados as informações presentes nas publicações localizadas nas bases de dados (Tabela 2), referente à força de evidência, principais achados e conclusões dos autores.  

 

               Tabela 2 – Publicações localizadas nas bases de dados.

 

Autor(es), Data

Objetivo da

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Tipo do estudo

Principais

Conclusão do

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pesquisa

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minuiu os gastos

 

 

 

 

 

para a instituição.

 

Louise e cols (2) observa em seu estudo que o posicionamento é um fator modificável,  e o posicionamento do paciente com a cabeceira em 30 a 45º deve ser utilizado  preferencialmente à menos que contra indicado. Observou-se que a equipe mantém a elevação de cabeceira, quando o paciente está em uso de nutrição enteral e em status de desmame de prótese ventilatória, descartando seu uso quando os pacientes encontravam-se com diminuição da pressão arterial média, uso de suporte inotrópico e falência de órgãos. Ou seja, o uso da elevação da cabeceira foi menor que o recomendado.

Frank Lyerla et al (3)   também observa em seu estudo que a equipe mais uma vez relaciona a elevação da cabeceira à pacientes em uso de nutrição enteral, pacientes com diagnósticos pulmonar, diminuindo seu uso para pacientes com diagnósticos gastrointestinais e outras patologias, a elevação foi maior para pacientes com IMC baixo, desprezando seu uso em pacientes com IMC entre 25,0 e 29,9 (acima do peso). Observou também a não observância por parte da enfermeira na elevação da cabeceira de seus pacientes.

Enquanto que Mary Beth Sedwick et al(4) no uso de práticas baseadas em evidências relata a importância da criação de um conjunto ventilador e práticas de enfermagem, que ajudem na redução da PAV, conclui que o cumprimento rigoroso e a responsabilidade para iniciar os protocolos, tão como o uso de uma ferramenta de feedback para a equipe, houve uma melhora para os pacientes e a maior colaboração da equipe interdisciplinar, gerando diminuição de custos para a instituição.

DISCUSSÃO

Os cuidados de enfermagem a um paciente em VM necessitam de competência técnica e interpessoal. O enfermeiro precisa perceber as alterações no estado de saúde dos pacientes, interpretar e intervir corretamente, utilizando o processo de enfermagem. Sendo assim, é fundamental a organização da assistência, visando à manutenção de um rigor técnico no controle dos cuidados prestados, prevenindo complicações, diminuindo custos e melhorando a qualidade (5). Observa-se que o enfermeiro (a) deve orientar sua equipe em relação as práticas baseadas em evidências, nas atividades preventivas da PAV. Porque a educação desempenha um papel na influência da prática clínica (6). Estudos mostram que a equipe técnica sub-utiliza a intervenção de elevação da cabeceira, medida mais eficaz, simples e sem custos, relacionam a mesma somente quando em uso de nutrição enteral, pacientes com diagnósticos de patologias pulmonares e/ou com massa muscular diminuída, a elevação da cabeceira vai muito além, deve ser implementada a todos os pacientes, a não ser que contra indicada, pois este cuidado diminui o refluxo gástrico e a aspiração pulmonar, prevenindo o desenvolvimento da PAV. Assim como a higiene oral, que vai muito além de higiene e conforto. Em 76% dos casos de PAV, as bactérias que colonizam a boca e pulmão são os mesmos (6).

A criação de um pacote (conjunto de ações preventivas), pela equipe interdisciplinar que atua na unidade de terapia intensiva, que descreva práticas para prevenção, tais como: lavagem de mãos, higiene oral, aspiração subglótica e endotraqueal, utilização de soluções estéreis nos equipamentos, troca dos mesmos conforme protocolo da instituição, interrupção de sedação, mensuração de resíduo gástrico, instalação e controle da dieta enteral e protocolo de TEV e PUD. Este estudo sugere constantes  treinamentos para equipe, uma vez comprovado que conhecimento melhora à prática clínica, outro ponto fundamental é a instalação de cartazes no setor, uma vez que nem todos os funcionários tem oportunidade de participar dos mesmos. Outro ponto importante é o feedback para a equipe, dos resultados obtidos com a implementação das novas práticas.

Uma sugestão é fixar na cabeceira do leito uma espécie de régua, para que o posicionamento mantenha-se entre 30 e 45º, uma vez que práticas baseadas em evidência comprovam que cada pessoa tem uma visão dessa altura, correndo o risco de estar com o posicionamento errado, com a visualização da régua toda a equipe multidisciplinar pode realizar a vigilância, outra sugestão é a criação por exemplo de um protocolo de prevenção, uma espécie  de “relógio da cabeceira”, como é feito com a mudança de decúbito, de 2 em 2 horas, uma espécie de ronda, verificando o posicionamento da cabeceira, realizando aspiração e higiene oral caso necessário.

 

CONCLUSÃO

As orientações de 2003 dos Centros de Controle e Prevenção de doenças recomendam a elevação do HOB em um ângulo entre 30 ° e 45 ° para evitar PAV. Elevação HOB, a este nível é o primeiro de quatro componentes recomendados pelo Institute for Healthcare Improvement  para a prevenção de PAV. Mais recentemente, a elevação HOB foi reconhecido pela Comissão Mista como uma de suas "medidas essenciais" para monitorar e melhorar o atendimento de pacientes críticos.(7)

Nesse estudo observou-se a sub-utilização da elevação da cabeceira para pacientes submetidos à prótese ventilatória e/ou associada somente aqueles pacientes com alimentação enteral e com complicações pulmonares, a equipe de enfermagem deve visualizar todos os seus pacientes como potenciais para  adquirir a PAV, a  elevação da cabeceira deve ser mantida em todo o período inclusive o noturno, a não ser que patologicamente seja contra indicado.

Conclui-se que pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva, uma vez que submetidos à ventilação mecânica, mantidos com a cabeceira elevada entre 30 e 45º, previnem a pneumonia associada à ventilação mecânica.

Cabe ao enfermeiro(a), manter-se atualizado das melhores práticas baseadas em evidências, oferecendo treinamentos a sua equipe,constante acompanhamento, realização de  reuniões com a equipe mutidisciplinar, assim como a confecção e constante atualização dos protocolos, que servem de guia para o melhor atendimento. A aplicação deste gera economia para a instituição de saúde e benefícios para o paciente, que tem chances de ficar menos tempo internado, com consequente redução dos custos assistenciais, estresse para si, para os familiares e para o profissional de saúde.  

REFERÊNCIAS  

1 - Silva LTR, Laus AM, Canini SRMS, Hayashida M. Avaliação das medidas de prevenção e controle de pneumonia associada à ventilação mecânica. Revista Latino-Americana de Enfermagem [periódico na internet]. 2011 Nov/Dez [acesso em16/08/12]. Vol. 19 no.6. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692011000600008   

2 – Rose L,  Baldwin  I,   Crawford T, Parke R. Semirecumbent Positioning in Ventilator-Dependent Patients: A Multicenter, Observational Study.  Am J Crit Care. [periódico na internet].2010 Nov [acesso em 08/10/12]. vol. 19 no. 6 e100-e108. Disponível em: http://ajcc.aacnjournals.org/content/19/6/e100.short  

3 – Lyerla F, LeRouge C, Cooke DA, Turpin D, Wilson L.  A Nursing Clinical Decision Support System and Potential Predictors of Head-of-Bed Position for Patients Receiving Mechanical Ventilation.  Am J Crit Care [periódico na internet] 2010 Jan [acesso em 08/10/12].vol.19no.1 39-47. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20045847

4 – Sedwick MB, Lance-Smith M, Reeder SJ, Nardi J. Using Evidence-Based Practice to Prevent Ventilator-Associated Pneumonia. Am J Crit Care [periódico na internet] 2012 Ago [acesso em 08/10/12]vol. 32 no. 4 41-51. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22855078

5 – Santos VFR, Figueiredo AEPL. Intervenção e atividades propostas para o diagnóstico de enfermagem - ventilação espontânea prejudicada. Acta Paulista de  Enfermagem. [periódico na internet]2010 Jan [acesso em 08/10/12]. vol.23 no.6. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ape/v23n6/17.pdf

6 – Cason CL,  Tyner T, Saunders S, Broome L. Nurses' Implementation of Guidelines for Ventilator-Associated Pneumonia From the Centers for Disease Control and Prevention. Am J Crit Care. [periódico na internet] 2007 Jan [acesso em 08/10/12]. vol. 16 no. 1 28-37. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17192524

7 – Hiner C, Kasuya T, Cottingham C, Whitney J. Clinicians´ Perception of Head-of-Bed Elevation. Am J Crit Care. [periódico na internet] 2010 Mar. [acesso em 08/10/12]. vol. 19 no. 2 164-16. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20194613

8 – Grap MJ. Not-so-Trivial Pursuit: Mechanical Ventilation Risk Reduction. Am J Crit Care. [periódico na internet] 2009 Jul. [acesso em 08/10/12]. vol. 18 no. 4 299-309. Disponível em: http://ajcc.aacnjournals.org/content/18/4/299.short

9 – Tolentino-DelosReyes AF, Ruppert SD, Shiao SPK. Evidence-Based Practice: Use of the Ventilator Bundle to Prevent Ventilator-Associated Pneumonia. Am J Crit Care. [periódico na internet] 2007 Jan. [acesso em 08/10/12]. Vol. 16 20-27. Disponível em: http://ajcc.aacnjournals.org/content/16/1/20.short

10 – Silva HG, Santo FHE. Protocolo para a enfermagem na prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica: comparação de efeitos. Online Brazilian Journal of Nursing [periódico na internet]. 2009 Jul. [acesso em 08/10/12] Vo. 8, no 2. Disponível em:  http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_arquivos/32/TDE-2011-04-19T135324Z-2845/Publico/Hamanda%20Silva.pdf

11 – Silveira IR, Maia FOM, Gnatta JR, Lacerda RA. Higiene bucal: prática relevante na prevenção de pneumonia hospitalar em pacientes em estado crítico. Acta Paulista de  Enfermagem. [periódico na internet] 2010 Out. [acesso em 08/10/12]. Vol. 23 no.5. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ape/v23n5/18.pdf  





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