Journal of Specialized Nursing Care

Higiene bucal no paciente de alta complexidade: controle de infecção - revisão da literatura

Oral hygiene in highly complex patient: infection control - literature review

 

Jairo Moraes Romani. Enfermeiro. Aluno do Curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos/Universidade Federal Fluminense (UFF). jairo_romani@yahoo.com.br.  

Profª. Drª. Isabel Cruz. Titular da UFF. isabelcruz@uol.com.br.  

RESUMO. Os pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI), na maioria das vezes, não possuem higienização oral adequada. Essa condição de deficiência de higiene oral em pacientes graves desencadeia frequentemente complicações sistêmicas e orais. Este estudo tem como objetivo identificar relatos relacionados a higiene oral que apontem o controle de infecção em pacientes hospitalizados em UTI. Trata-se de uma investigação bibliográfica e descritiva, pois a mesma delineia relações entre fenômenos, descrevendo suas características. A higiene bucal deficiente é comum em pacientes internados em UTI, o que propicia a coloni­zação do biofilme bucal por microrganismos patogê­nicos, especialmente por patógenos respiratórios. A pneumonia nosocomial é a causa mais comum de morte entre as infecções adquiridas em ambiente hospitalar e a segunda infecção hospitalar mais comum. Conclui-se que o procedimento adequado de higiene bucal para o paciente de alta complexidade deve contemplar a escovação e o uso de soluções antissépticas. Sobretudo, recomenda-se a observação e a avaliação realizadas pelo enfermeiro, que deve decidir qual material e equipamento utilizar, e com que frequência devem ser empregados.  

Palavras-chave: Higiene bucal, controle de infecções, pacientes internados.  

ABSTRACT. Most of Intensive Care Unit (ICU) patients do not have a decent oral hygiene. So, this lack of care with their mouth can lead to several problems. This paper’s goal is to select other studies that relate oral hygiene and infection control on ICU patients. It is a descritive and bibliographical investigation, because it describes its phenomena and its characteristics. The lack of care with oral hygiene conceives patogenic bacteria at the respiratory system. Nosocomial pneumonia is the most common cause of death among hospital-acquired infections and the second most common nosocomial infection. So, nurses must brush these patients teeth and antiseptic solutions properly. Above all, it is recommended observation and evaluation performed by nurses, who must decide which materials and equipment used, and how often they should be employed.  

Keywords: Oral hygiene, infection control, critically Ill.  

INTRODUÇÃO  

Há tempos se suspeita da relação de doenças bucais e sistêmicas. Desde então, muito se tem estudado e inúmeras pesquisas vêm se desenvolvendo com os resultados evidenciando cada vez  mais essa possível relação.

Em contrapartida, a promoção e a prevenção da qualidade de vida vêm sendo a temática de muitas conferências e debates que contextualizam o cotidiano da saúde.

O indivíduo hospitalizado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), na grande parte dos casos, é totalmente dependente de cuidados básicos (como higiene oral) e, frequentemente, encontra-se colonizado por patógenos provenientes da doença de base que o levou à internação. Contudo, ocorre também a colonização oral por microorganismos existentes no ambiente hospitalar1.

Dessa forma, a higiene oral deficiente, comum em pacientes de alta complexidade, propicia a colonização do biofilme bucal, especialmente por patógenos respiratórios, favorecendo o surgimento de complicações infecciosas1.

Por muito tempo, a prática de enfermagem, no que se refere à realização de higiene oral em UTI, foi destinada ao conforto do paciente. Os profissionais não relacionavam a realização do cuidado com a prevenção da ocorrência de infecções hospitalares, subestimando os benefícios da prática de higiene oral quando comparada a outros cuidados avaliados como mais importantes1.

Neste estudo, para se chegar à questão clínica, utilizou-se a seguinte estratégia chamada PICO:  

Acrônimo

DEFINIÇÃO

DESCRIÇÃO

P

Paciente ou diagnóstico de enfermagem

Cliente de alta complexidade

I

Prescrição

Cuidado com a higiene oral

C

Controle ou comparação

-

O

Resultado

Diminuição do potencial para infecção

 

A pesquisa foi guiada pela seguinte pergunta clínica: no cliente de alta complexidade, como o cuidado com a higiene oral pode ser eficaz na diminuição do potencial para infecções?

Em um mundo globalizado, é necessário explorar tendências e convertê-las em atitudes eficazes, no cuidado do paciente. Isso exige competência, habilidade e atitude, diferenciadas por parte do profissional envolvido na execução  desse processo2.

Reconhecendo a importância da higiene oral em pacientes de alta complexidade para a prevenção de infecção e para a boa prática do processo de enfermagem, apresentou-se como objetivo: identificar, na literatura, artigos relacionados à higiene oral que apontem o controle de infecção em pacientes hospitalizados em UTI.  

METODOLOGIA

         Trata-se de uma pesquisa bibliográfica computadorizada. O método utilizado para realização dessa pesquisa é de caráter descritivo, pois ele delineia o estabelecimento de relações entre fenômenos, descrevendo suas características.

A pesquisa utilizou, como material, artigos científicos publicados nas principais revistas indexadas às bases de dados PubMed, LILACS, MEDLINE e SciELO. Foram utilizados como descritores indexados do Mesh: Oral Hygiene, Infection Control, Critically Ill e, como termos de busca extraídos do DeCS, Higiene Bucal, Controle de Infecções, Pacientes internados. Além disso, foi realizada uma busca nas referências citadas dos artigos selecionados nas bases de dados.

Os critérios de inclusão foram: artigos que abordaram técnicas e soluções utilizadas de higiene bucal em pacientes hospitalizados em UTI, publicados em inglês e em português, no período de 2007 até 2012, com textos disponíveis na íntegra.

A seleção das publicações foi realizada mediante a leitura criteriosa do título e do resumo, a fim de verificar a adequação com a pergunta clínica. Além disso, foram extraídas, de cada artigo, informações acerca das características e do rigor metodológico, intervenção estudada e principais resultados encontrados. A análise dos dados extraídos foi realizada de forma descritiva.

Assim, a partir da amostra obtida, foram selecionados seis artigos em língua inglesa e quatro artigos em língua portuguesa.

 RESULTADOS  

A cavidade oral, no que diz respeito às doenças periodontais e a certas desordens sistêmicas, tem um importante papel em infecções adquiridas em hospitais e enfermarias, especialmente infecções do trato respiratório4.

É possível que mediadores do hospedeiro, como citocinas e prostaglandinas, que são elevadas na saliva de indivíduos com doença periodontal, promovam inflamação pulmonar e infecção se aspiradas para as vias aéreas baixas. Três vias ligam infecções orais e efeitos sistêmicos: toxinas e produtos de infecção como resultado de bacteremia; injúrias metastáticas devido à circulação de toxinas de bactérias orais e o processo inflamatório que esses microorganismos provocam4.

 A cavidade oral é o primeiro portal de entrada para microorganismos patogênicos que causam infecções sistêmicas, sendo a pneumonia uma delas4.

As pneumonias nosocomiais são desenvolvidas em ambiente hospitalar e não estão presentes, ou incubadas, no paciente no momento de sua internação. Por ser uma das principais causas de morbimortalidade em indivíduos internados, e ainda impôr altos custos à população, na medida em que aumenta a demanda terapêutica e o tempo de permanência hospitalar, tem sido reconhecida como importante problema de saúde pública no mundo. No Brasil, as infecções respiratórias hospitalares são responsáveis por 13 a 18% de todas as infecções adquiridas nesse ambiente5.

A pneumonia é uma infecção aguda dos pulmões, que pode produzir sinais e sintomas respiratórios, como tosse, respiração curta e rápida, produção de secreção e dores no peito, além de sintomas sistêmicos não-específicos, incluindo febre, fadiga, dores musculares e falta de apetite. As bactérias são a causa mais frequente dessas infecções, e as pneumonias bacterianas são usualmente as mais fáceis de serem prevenidas e tratadas3.

A pneumonia nosocomial é a segunda infecção hospitalar mais comum e a causa mais comum de morte entre as infecções adquiridas em ambiente hospitalar3.

Alguns fatores parecem estar associados à pneumonia nosocomial configurando grupos vulneráveis: pacientes submetidos à intubação orotraqueal e/ou ventilação mecânica; pacientes com rebaixamento do nível de consciência; indivíduos vítimas de aspiração de grande volume de secreção; condição oral deficiente; portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica; idosos; uso prévio de antimicrobianos; presença de sonda gástrica; trauma grave e broncoscopia recente5.

Em associação a todos esses fatores, em ambiente hospitalar, existe uma maior probabilidade de se lidar com pacientes imunologicamente comprometidos devido a doenças ou a medicamentos, com diminuição do fluxo salivar devido a procedimentos, como a desidratação terapêutica (com o objetivo de aumentar a função respiratória e cardíaca), além do decréscimo do reflexo da tosse e da capacidade de higiene diminuída, entre outros, que fazem com que esse grupo de pacientes tenha um risco maior de desenvolver outras doenças3.

A boca sofre colonização contínua, apresentando praticamente metade de toda a microbiota presente no corpo humano e, em adição a esse fato, a placa bacteriana serve de reservatório permanente de microrganismos, podendo determinar infecções à distância3.

Para o desenvolvimento de pneumonia nosocomial , há a necessidade de que patógenos alcancem o trato respiratório inferior e sejam capazes de vencer os mecanismos de defesa do sistema respiratório, que incluem os mecânicos (reflexo glótico, reflexo da tosse e sistema de transporte mucociliar), humorais (anticorpos e complemento) e celulares (leucócitos polimorfonucleares, macrófagos e linfócitos) 3.

Em adultos saudáveis, o organismo que predomina na cavidade oral é  Streptococcus v  iridans, mas a flora oral nos pacientes em estado de saúde crítico muda e passa a ser predominantemente de organismos gram-negativos, constituindo-se em uma flora mais agressiva. Essa flora pode ser composta por Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, Acinetobacter baumannii, Haemophilus influenza  e Pseudomonas aeruginosa3.

A condição de higiene oral está relacionada com o número de espécies de bactérias presentes na boca. Em pacientes internados em UTIs, a higiene oral já é normalmente precária, além do fato de que esses indivíduos estão expostos a diversos outros fatores adicionais, como a diminuição da limpeza natural da boca promovida pela mastigação de alimentos duros e fibrosos e a movimentação da língua e das bochechas durante a fala. Há também a redução do fluxo salivar pelo uso de alguns medicamentos, que contribuem para o aumento do biofilme e, consequentemente, de sua complexidade, favorecendo a colonização oral por patógenos respiratórios3.

 A higiene oral precária por si só está relacionada a infecções pulmonares subsequentes, ao maior número de episódios de febre e ao desenvolvimento de pneumonia, quando comparamos esse tipo de pacientes com grupos de pacientes com adequada higiene oral3.

São sugeridos três prováveis mecanismos para associar o biofilme oral às infecções respiratórias. A higiene oral deficiente contribuiria para o aumento da concentração de patógenos na saliva, que poderiam ser aspirados para o pulmão em quantidade suficiente para deteriorar as defesas imunes. Através de condições específicas, o biofilme oral poderia abrigar colônias de patógenos pulmonares e facilitar seu crescimento. Além disso, as bactérias presentes no biofilme oral poderiam facilitar a colonização das vias aéreas superiores por patógenos pulmonares3.

 

Autor(es), Data & País

Objetivo da pesquisa

Força da evidência

Tipo do estudo & instrumentos

Principais achados

Conclusões do autor(es)

Silva LD, Nepomuceno RM, Silva EF, et al. 2012. Brasil.

Identificar na literatura artigos relacionados a higiene oral nos pacientes intubados.

 

Pesquisa bibliográfica.

Artigos científicos indexados em bases de dados e livros.

A escovação, a aspiração continua, o posicionamento em decúbito lateral, a verificação da pressão do cuff e o uso da cânula orofaríngea são considerados etapas imprescindíveis da técnica de higiene oral no paciente intubado.

A higiene oral do paciente intubado deve ser realizada de forma sistemática e a equipe enfermagem precisa ser sensibilizada quanto à importância do cuidado para o paciente.

Brito LFS, Vargas MAO, Leal SMC. 2007. Brasil.

Registrar como é operacionalizado o cuidado

com a higiene oral; Identificar situações cotidianas na unidade

de terapia intensiva que interferem na promoção

da higiene oral.

 

Investigação qualitativa, descritiva e exploratória.

A coleta de dados foi realizada por entrevista semi-estruturada.

Fatores burocráticos ainda interferem na prestação de uma assistência mais integralizada.

Existem dificuldades no entendimento das conseqüências que a não promoção da higiene oral pode acarretar na evolução clínica dos pacientes no estado de síndrome do déficit no autocuidado.

Amaral SM, Cortês AQ, Pires FR. 2009. Brasil.

Revisar a literatura sobre a importância do microambiente oral no desenvolvimento da pneumonia nosocomial.

 

Pesquisa bibliográfica.

Livros e artigos científicos indexados em bases de dados.

O microambiente oral está associado à evidência crescente na patogênese das infec­ções respiratórias em pacientes hospitalizados.

A negligência aos cuidados orais é um fator de risco para o desenvolvimento das pneumonias nosocomiais.

Inserir, no protocolo de prevenção da pneumonia nosocomial, o monitoramento e a descontaminação da cavidade oral de pacientes hospitalizados por profissio­nais qualificados pode ser um grande aliado na redução da colonização pulmonar por patógenos orais e, consequentemente, redução da incidência de pneumonias nosocomiais.

Kahn S, Garcia CH, Júnior JG, et al. 2012. Brasil.

Verificar a existência de um protocolo de controle de infecção oral nos hospitais do Estado do Rio de Janeiro.

 

Investigação qualitativa, descritiva e exploratória.

Foi empregado como instrumento de coleta um questionário.

39% dos hospitais pesquisados responderam

positivamente quando questionados se existia na instituição

algum procedimento destinado aos pacientes

internados, impossibilitados de realizarem,

por si somente, a prática de métodos mecânicos

e químicos de remoção de placa (no caso de UTIs).

Existe a necessidade de se criar um protocolo de controle de infecção da cavidade oral para contribuir para a redução da mortalidade de pacientes internados e propor medidas preventivas para este fim.

Oliveira TFL, Filho ISG, Passos JS, et al. 2011. Brasil.

Identificar os fatores associados à pneumonia nosocomial em hospital público de Feira de Santana, Bahia.

 

Estudo caso-controle.

Foram empregados, como instrumentos de coleta, questionários, prontuários médicos e exames clínicos bucais.

Embora a bactéria seja um fator necessário para a doença respiratória, ela sozinha não é suficiente para causar a infecção. Outros fatores estão envolvidos e devem ser considerados, como aqueles que afetam o controle neurológico da deglutição e respiração e, assim, favorecem a aspiração de bactéria bu­cal.

Enfatizar a conscientização profissional, para buscar a excelência no atendimento com competência profissional, e abordagem holística do indivíduo hospitalizado, visando minimizar a ocorrência de pneumonias nosocomiais.

 DISCUSSÃO  

A ausência de atenção com a higiene bucal resulta no aumento da quantidade e da complexidade da placa dental, que pode favorecer a interação bacteriana entre bactérias indígenas da placa e patógenos respiratórios. Essas interações podem resultar na colonização da placa dental pelos patógenos respiratórios. As bactérias orais podem ser liberadas da placa bacteriana dental para as secreções salivares, podendo então ser aspiradas no trato respiratório inferior e causar doença respiratória4.

A redução dos focos de infecção de origem bucal vão desde cuidados e técnicas locais de higienização, como a busca de produtos que auxiliem na homeostasia do ambiente bucal e na redução da flora bacteriana6. 

Essencialmente, existem duas formas de remover a placa dental e seus microrganismos associados: através de intervenções mecânicas e/ou farmacológicas. Esses processos incluem a descontaminação com a administração de antibi­óticos sistêmicos, a descontaminação local com o uso tópico de antissépticos orais e a escovação dentária. A necessidade de utilização de um desses meios ficou evidente quando estudos demonstraram que, após 48h da admissão em UTI, todos os pacientes apresentam na orofa­ringe colonização por bacilos gram-negativos, frequentes agentes etiológicos das pneumo­nias nosocomiais, passando então o biofilme a ser considerado um importante reservatório de patógenos respiratórios3.

Tem sido demonstrado que higiene oral mecânica com ou sem antissépticos como o gluconato de clorexidina a 0,12% não somente reduz a prevalência de colonização por patógenos orais mas também reduz a ocorrência de pneumonias em 50%4.

O digluconato de clorexidina 0,12% apresenta ação antibacteriana prolongada e um mecanismo de ação catiônica: adere fortemente aos substratos aniônicos, permanece nos substratos, é liberada gradualmente por até 8 horas, seu mecanismo é ativo contra bactérias gram-positivas e gram-negativas. Ele é um antisséptico tópico bucal indicado no tratamento e prevenção de infecções orais em pacientes imunocomprometidos1.

A clorexidina é um composto sintético derivado de uma bis-biguanida que, pelas suas características, apresenta um alto nível de atividade, própria dos antimicrobianos de alto padrão, sem, no entanto, ter os efeitos secundários que a maioria apresenta1.  

Técnica de higiene oral para o pacien­te de alta complexidade  

Estudos afirmam a finalidade da higiene oral na prevenção do desconforto e do acúmulo de bactérias na cavidade oral, sugerindo os seguintes materiais na realização da técnica: cuba rim; solu­ção antisséptíca; manteiga de cacau ou vaselina; espátula de madeira; gaze não estéril; 2 seringas de 20ml; copo descartável com água; luva de pro­cedimento; cânula orofaríngea; sonda de aspiração traqueal; frasco coletor e vácuo; cufômetro; fixador de tubo orotraqueal; toalha, escova e pasta de dente1.

A higiene oral no paciente de alta complexidade deve ser promovida através das seguintes etapas1: lavar as mãos; explicar o procedimento para o cliente; reunir o material na mesa de cabeceira; calçar luvas e paramentar-se com outros equipamentos de proteção individual (avental de manga longa, máscara e óculos). Colocar o paciente em posição de decúbito lateral; caso o paciente esteja com sonda nasogástrica sem dieta, abri-la, para evitar náuseas e refluxo do conteúdo gástrico para a boca; colocar a toalha na parte superior do tórax e pescoço do paciente, com forro plástico, se necessário; testar a pressão do balonete do tubo orotraqueal (cuft) e garantir a fixação do tubo no centro da boca; introduzir cânula orofaríngea; conectar a sonda de aspiração ao aspirador e manter aspiração durante todo procedimento; injetar, com seringa, água e solução antisséptica pelo orifício da cânula oro­faríngea e pelas laterais, continuando o procedimento de aspiração, através da cânula orofaríngea e laterais; retirar a cânula orofaríngea e continuar a aspiração. Fazer a limpeza dos dentes, gengivas, língua e palato, com escova de dente seguindo a técnica de escovação: segure a escova em um ângulo de 45 graus e escove com movimentos que vão da gengiva à ponta dos den­tes. Com suaves movimentos circu­lares, escove a face voltada para a bochecha, a face interna dos dentes e a superfície usada para mastigar. Com movimentos suaves, escove também a língua para remover bactérias e purifi­car o hálito.

Após a escovação, com espátula envolta em gaze e solução antisséptica passe nas seguintes estruturas: raspando a língua no sentido postero-anterior; passar nas bochechas no sentido postero-anterior; no palato no sentido postero-anterior; aplicar nas superfícies dos dentes no sentido da gengiva para os dentes.

Finaliza-se a téc­nica recolocando a cânula orofaríngea após lavá-la em água estéril ou substi­tuí-la por outra estéril. Proceder à troca da fixação do tubo endotraqueal; enxu­gar os lábios com a toalha e lubrificá-los com manteiga de cacau ou vaselina; recompor a unidade; retirar luvas e lavar as mãos; registrar o procedimento no prontuário do paciente.  

CONCLUSÃO  

O conhecimento atual sobre a microbiota oral e da orofaringe (associado à evidência crescente de sua participação na patogênese das infecções respiratórias em pacientes hospitalizados) faz com que a negligência aos cuidados orais seja um fator de risco para o desenvolvimento das pneumonias nosocomiais. O investimento em implementação de protocolos de cuidados com a saúde oral para diminuir riscos de doenças sistêmicas infecciosas é uma medida de grande valia para a saúde pública e privada. Inserir, no protocolo de prevenção, o monitoramento e a descontaminação da cavidade oral com medidas simples (como limpar os dentes dos pacientes com escovas dentais e realizar profilaxia da cavidade oral com a utilização de gluconato de clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia) mostram redução da incidência de infecção nosocomial em pacientes internados em UTI.

Conclui-se que a higiene oral do paciente de alta complexidade deve ser realizada de forma sistemática e que a equipe de enfermagem precisa ser sensibilizada quanto à importância do cuidado para o paciente. O desenvolvimento correto da técnica de escovação e o emprego adequado de soluções antissépticas contribuem para a melhora do quadro clínico, reduz o risco de infecções, controla a microbiota oral e propicia condições favoráveis à melhora do paciente.

Pode-se ressaltar que alguns pontos são extremamente importantes para a eficácia da higiene oral, dentre eles citam-se a remoção mecânica da sujidades com a escovação, a aspiração (que deve ser contínua durante todo o procedimento), o decúbito lateral como meio preventivo de bronco-aspiração, a utilização de cânula orofaríngea para ajudar na limpeza oral e escolha dos antissépticos que previnem o acúmulo de bactérias. Contudo, vale lembrar que, embora a tecnologia dos equipamentos e os produtos farmacológicos sejam importantes, eles não substituem a observação e a avaliação realizadas pelo enfermeiro, que deve decidir qual material e equipamento utilizar, e com que frequência devem ser empregados.  

REFERÊNCIAS  

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2. Brito LFS, Vargas MAO, Leal SMC. Higiene oral em pacientes no estado de síndrome do déficit no autocuidado. Rev. Gaúcha de Enfermagem; 2007. 359-67 p.  

3. Amaral SM, Cortês AQ, Pires FR. Nosocomial pneumonia: importance of the oral environment. J Bras Pneumol. 2009. 1116-1124 p. Acesso em 2012 Jul 15. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-371320090 01100010&lng=en&nrm=iso&tlng=em.  

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