Desconstruindo
o RI – proposta de educação permanente em saúde
Isabel Cruz
Resumo: Este artigo apresenta o planejamento de ensino online para a educação permanente de profissionais de saúde da Atenção Básica em Saúde visando a implantação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) no ponto do cuidado.
Descritores:
racismo; educação permanente; população negra;treinamento anti-racista;
consciência crítica
Breve
descrição do contexto:
A Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra (PNSIPN) (2013)[1]
é a estratégia da sociedade brasileira, a partir do reconhecimento do racismo
como um dos determinantes sociais da saúde, para a prevenção e o combate às
iniqüidades identificadas no âmbito do Sistema único de Saúde (SUS) em
especial.
Para a desconstrução do racismo
institucional em suas diversas formas de operacionalização no ponto do cuidado
de saúde, uma das diretrizes previstas pela PNSIPN é a educação permanente
dos trabalhadores e gestores da saúde quanto às estratégias e recursos para o
efetivo enfrentamento da discriminação étnica, assim como para o
redirecionamento do foco da atenção à saúde para a pessoa e a família, para
a comunidade e população negra com respeito à sua cultura de matriz africana.
Descrição
do problema:
Em consonância com a Política Nacional
de Educação Permanente em Saúde (2009)[2]
que recomenda a aprendizagem significativa para a transformação das práticas
profissionais, o Comitê Técnico de Saúde da População Negra (CTSPN) propôs
à Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) a criação de um curso online sobre a
PNSIPN que subsidie tanto a formação quanto a educação continuada dos
profissionais de saúde.
Neste artigo, apresentamos o planejamento
didático e metodológico do curso sobre PNSIPN para profissionais de saúde que
atuam na Atenção Básica, visando apontar as reais competências e habilidades
a serem desenvolvidas nos profissionais de saúde para o cuidado culturalmente
pertinente e isento de vieses discriminatórios para o(a) cliente do SUS,
detalhando as estratégias metodológicas para uma capacitação desta natureza
por meio da educação a distância. Esperamos que esta proposta didática possa
servir a iniciativas similares no enfrentamento de outras discriminações e
promoção da equidade em saúde.
Medidas chaves para a mudança (ou
melhoria):
Uma oficina foi realizada pela UNA-SUS/DF,em
28/05, para o mapeamento colaborativo sobre o curso. Nesta oficina, com base no
documento produzido pelo CTSPN no qual estão elencados temas sobre saúde da
população negra de interesse para implantação da política (Brasil, 2010)[3]
e após o “brain-storm”, foram identificadas competências que o
profissional de saúde da Atenção Básica (Brasil, 2011)[4]
deve demonstrar e que potencializam a ação sob a perspectiva da PNSIPN,
considerou-se que o curso deve ter, no mínimo, as seguintes unidades e ações:
A Contextualização:
·
Entender que os dados epidemiológicos
referentes à saúde da população negra refletem as práticas racistas e
discriminatórias
·
Problematizar o racismo como herança
ideológica estruturante a ser superada
·
Reconhecer as práticas racistas
(linguagem, negligência)
·
Atentar para as consequências das ações
discriminatórias;
·
Identificar a legislação que protege o
usuário do SUS negro;
·
Conceituar e caracterizar os determinantes
sociais de saúde da população negra e outros grupos em situação de
vulnerabilidade social, focalizando no cuidado às causas subjacentes à doença,
morte prematura e incapacidade, entre outras, assim como ao enfrentamento das
ideologias discriminatórias.
·
Analisar as principais disparidades ou
iniqüidades étnicas em saúde e suas implicações na prestação do cuidado
de enfermagem para a pessoa negra, família, grupos e comunidades.
·
explicitar preconceitos étnicos no SUS,
desconstruindo a discriminação nas relações interpessoais profisional de saúde-cliente
O Encontro Clínico
·
Desenvolver uma visão multicultural da saúde,
assim como a habilidade de estabelecer um relacionamento profissional terapêutico,
culturalmente competente quanto às necessidades da população negra, firmando
em uma perspectiva anti-racista e anti-sexista na implementação do processo de
enfermagem.
·
promover o empoderamento das comunidades
negras do entorno da UBS, assim como a melhoria do controle social da saúde.
·
Buscar conhecer a comunidade onde atua
para identificar a melhor maneira de atendê-la.
·
Identificar no entorno da UBS as referências
da cultura negra ; blocos, terreiros, etc. assim como lideranças (saúde
transcultural)
·
Lidar com as diferenças culturais com
atitudes permeadas de ética e respeito
·
Reconhecer as práticas tradicionais e
populares de saúde da população negra no seu território (inclusive em relação
ao cuidar dos terreiros).
·
Negociar o cuidado garantindo a comunicação
interculutural com os pacientes negros
·
Realizar o processo de enfermagem
culturalmente competente entrado na pessoa negra & família
·
Fazer em parceria com o(a) cliente &
família negra um planos de intervenção multiprofissional a partir de um
projeto terapêutico individualizado, baseado em evidência científica, que
garanta resultados etnicamente equânimes, incluindo no plano a marcação dos
retornos periódicos, o agendamento da visita domiciliar, a solicitação de
apoio de outros profissionais, a negociação do atendimento em grupo ou outras
práticas que potencializem o cuidado.
·
Avaliar a adesão do(a) cliente negro(a)
ao plano terapêutico a cada encontro, assim como suas crenças e preocupações
·
Identificar a disposição e a capacidade
do cliente negro & família (alfabetismo em saúde, crenças de saúde, etc)
em usar a medicação corretamente e/ou realizar o tratamento (cirurgia, por ex)
·
Incluir no plano terapêutico, em parceria
com o cliente & família, se conveniente, terapias complementares de matriz
africana. Se não for possível negociar a compatibilização do tratamento com
as crenças& valores do(a) cliente negro(a) & família.Instituir uma política
de atendimento “centrada na pessoa”, observando as especificidades da
cultura negra.
·
Qualificar o acolhimento no sentido de
proporcionar a inclusão do usuário com humanização e respeito;
·
Substituir o “contato” médico-paciente
pelo “encontro” médico-paciente
·
Ter empatia , saber ouvir as necessidades
do outro.
·
Questionar estigmas, estereótipos
·
Estimular/ promover autoestima da população
negra
Enfrentamento do Racismo
·
Atuar na defensoria dos direitos da população
negra e demais populações em risco
social à saúde, criando ou fortalecendo parcerias e redes de trabalho estratégicas
no entorno do UBS, principalmente.
·
Ampliar o conhecimento clínico sobre
etnofarmacologia
·
Garantir a autodeclaração de pacientes
no quesito raça/ cor;
·
Com base no diagnóstico simplificado de
saúde da UBS, com dados desagregados por raça/ cor, propor um plano de
intervenção para a correção das inequidades nos resultados terapêuticos
·
Implementar as ferramentas de prevenção
e/ou combate do racismo institucional
·
Identificar as vulnerabilidades da população
negra
·
Estabelecer/ seguir “linhas de
cuidado” (protocolos) que priorizem a
população vulnerável
·
Avaliar a operacionalização dos
processos na UBS que promovem o preconceito e ou discriminação à pessoa negra
e sua cultura.
·
(Viabilizar acesso dos ACS à terreiros)
·
Fazer a avaliação e o diagnóstico
simplificado de situações de saúde da clientela
vivenciando o racismo/sexismo ou em situação de vulnerabilidade social, de
comunidades e de Micro-Regiões de Saúde.
·
Integrar o empoderamento do(a) cliente
& família em todos os pontos do cuidado por meio do ensino de saúde
(quanto à condição & tratamento, por ex)
Com o material produzido pelo grupo quanto
aos temas geradores do curso, retornamos à instituição de origem para dar
continuidade ao plano de ensino-aprendizagem sob o referencial das políticas de
educação permanente em saúde e de saúde integral da população negra.
Processo
de planejamento do curso online:
O curso online foi planejado para uma
carga horária de 45h e para ser desenvolvido de forma auto-instrucional, ou
seja, sem mediação de tutoria, mas com o apoio de um(a) facilitador(a) da
interatividade no AVA (questionários, lições, glossários, etc) e através do
AVA com os colegas de curso (blogs, emails, fóruns, etc) para assim os
profissionais desenvolverem a consciência crítica sobre o racismo
institucional e a autonomia quanto à sua desconstrução.
No que se refere à educação permanente
sobre a PNSIPN, os conceitos teóricos norteadores do nosso planejamento foram o
treinamento anti-racismo, o desenvolvimento da consciência crítica e
multiculturalismo [5].
Sob os referenciais da PNSIPN e da PNEPS,
mesmo por meio do ambiente virtual de aprendizagem, nosso planejamento
fundamentou-se no construtivismo social buscando apresentar a cultura enquanto
conhecimento para proporcionar experiências que desfaçam mitos e criem
conhecimento nas pessoas nos profissionais de saúde sobre o cuidado isento de
viés discriminatório.
Quanto aos conteúdos para as habilidades
de implantação da PNSIPN no ponto do cuidado, os temas e subtemas
identificados como fundamentais foram:
-
Tema: Nova demografia brasileira
Subtemas: epidemiologia geral das doenças e agravos prevalentes na população negra; racismo(s) em ação: disparidades e iniqüidades em saúde no Brasil -
Tema: PNSIPN na Unidade de Saúde
Subtemas: Determinantes Sociais da Saúde (DSS) e barreiras para a população negra no acesso ao SUS / Novas modalidades de discriminação & preconceito no SUS / PNSIPN como estratégia mais efetiva para o enfrentamento dos vários tipos de racismo no SUS/Diagnóstico simplificado de RI na US -
Tema: Quem é o (a) Outro, quem é meu cliente e quem sou eu, profissional de saúde?
Subtemas: De onde vem o “outro” - Inclusão da história, culturas & resiliência negra no processo de cuidar em saúde. Como prestar cuidado de saúde à pessoa e não ao estereótipo étnico-racial. Corporeidade negra -
Tema: Relações interpessoais na prática clínica na perspectiva da PNSIPN
Subtemas: choque de culturas (profissional x leigo)/ Fontes de disparidades no encontro clínico/ Cuidado centrado no paciente / Anamnese na perspectiva da PNSIPN e a coleta sensível do item raça/cor. -
Tema: Promovendo a autonomia do(a) usuário(a) negro(a) por meio do alfabetismo em saúde.
Subtemas: O acesso do(a) usuário & família à informação em saúde: Comunicação terapêutica. Entrevista motivacional & negociação. Autocuidado apoiado. -
Tema: Medicina de matriz africana e práticas populares de cuidado em saúde
Subtemas: Religiosidade negra e saúde espiritual (promovendo o ecumenismo, combatendo o fundamentalismo e garantindo laicicidade do Estado brasileiro) -
Tema: PNSIPN e o monitoramento iniqüidades na US por meio do item raça/cor
Subtemas: Prioridades em SPN (monitoramento das iniqüidades quanto ao ciclo vital, agravos prevalentes, da promoção à recuperação da saúde, ambiente acolhedor, monitoramento de resultados, etc) e práticas culturalmente pertinentes. -
Tema: Estratégias para implantação e implementação da PNSIPN na US
Subtemas: Organização do controle social da população negra na US. Estratégias de desconstrução do do RI e empoderamento do usuário e da comunidade na perspectiva da PNSIPN -
Tema: Promoção da Saúde (e do Bem-Estar) da População Negra
Subtemas: Transversalidade da PNSIPN com as ações e programas do MS. O papel do ACS. Arte & esporte negros:a dança, música e a capoeira como instrumentos terapêuticos
Estratégias
para a promoção da aprendizagem:
Os objetivos do curso, as atividades e as
ações de acompanhamento são apresentados no quadro a seguir, indicando também
uma expectativa de aprendizagem progressiva (Amantesa et al, 2007)[6]
auto-dirigida sobre o desempenho adequado da competência profissional para a
implantação da PNSIPN no ponto do cuidado de saúde.
Meta: Contribuir para a
implementação da PNSIPN no ponto do cuidado, promovendo o acesso ao SUS, assim
como o cuidado de saúde equânime e culturalmente pertinente às necessidades
da população negra
|
|
||||
Intenção
de Resultados de Aprendizagem |
Eu
posso identificar o SUS, mas preciso de ajuda para identificar as políticas
relevantes para o cuidado na unidade de saúde (US) |
Eu
posso identificar o SUS e uma política relevante para o cuidado na US |
Eu
posso identificar o SUS e várias políticas relevantes (em especial as
de equidade) para o cuidado na US |
Eu
posso explicar o que acontece ao SUS se ou quando a PNSIPN está
faltando na US |
Eu
posso explicar o que acontece ao SUS se ou quando a PNSIPN está
faltando na US E generalizar sobre a função da PNSIPN para o
SUS. E avaliar a função da PNSPN para o todo. E
implementar a PNSIPN na US |
Contexto Caso
clínico: 1.
Como
eu trato RI?(vinheta) 2.
Pré
teste PNSIPN |
-
Conhecer o funcionamento do SUS e as políticas
de promoção da equidade, assim como os direitos dos usuários - Identificar as redes sociais e as forças políticas que atuam
no território de cobertura da ESF e que podem influenciar na atuação
da ESF e no cumprimento da
implantação da PNSIPN na US |
-Identificar as principais patologias e agravos que acometem a
população adscrita e
sua distribuição no território por subgrupos populacionais: etários,
territoriais, étnicos (brancos,
pretos, pardos, amarelos e indígenas), econômicos e\ou por
outros determinantes sociais (RACISMO)* |
Objetivo 1: Caracterizar (distinguir)
as iniqüidades evidenciadas pelos dados epidemiológicos referentes à
saúde da população negra; |
Objetivo 3: Correlacionar (explicar
causas e efeitos) a influência da cultura, da família, da história,
da resiliência e da genética da população negra brasileira com a saúde-doença
e bem-estar. |
Objetivo 2: Especificar (predizer) as conseqüências
do RI para o(a) cliente, o profissional e o SUS como um todo e da
implementação da PNSIPN e outras legislações que promovem a equidade
na US. |
Atividades |
Revise
por meio da lição (ou scorm/IMS ou hot potatoes) as políticas de
humanização e equidade, sumarizando as mais frequentes na sua US (fórum) Mapeie
a rede social adstrita a US de interesse para implantação da PNSIPN Compartilhe
seus resultados e impressões
na rede social do curso,da US e/ou da comunidade |
Revise por meio da lição
(ou scorm/IMS ou hot potatoes) os agravos prevalentes na população
negra, sumarizando os mais frequentes na sua US (texto
online e fórum) Compartilhe seus resultados e
impressões na rede social do curso,da US e/ou da comunidade |
Revise por meio da lição
(ou scorm/IMS ou hot potatoes) os dados epidemiológicos recentes
desagregados por raça/cor identificando as condições de desigualdades
e iniqüidades em saúde (texto online e fórum) Reflita, por meio do jogo,
sobre as barreiras ao acesso ao SUS e, na posição de cliente, avalie
quais recursos a partir da US você teria para superá-las. TAREFA: Busque nas bases
online (Scielo & portal BVS, Saúde Baseada em Evidência -MS
[websearch]) os temas
disparidade e iniqüidade utilizando com descritor “população
negra” ou negros (fórum) Analise criticamente 1 dos
artigos encontrados quanto à força de evidência da recomendação
para a PNSIPN (texto online:
resenha) |
Descreva no glossário do curso os termos sobre a PNSIPN com base na
literatura Exemplifique no glossário do curso os termos X, Y, e Z descritos Identifique nas palavras cruzadas os termos definidos TAREFA: Determine o Diagnóstico
Simplificado de RI na US, por meio do formulário de avaliação
do RI
e avalie em relatório as
condições para implantação da PNSIPN em nível local Identificar os aspectos comuns
de sua vida com a cultura negra por meio do teste A
cultura Negra faz arte de suas raízes? |
Julgue sua competência
cultural em saúde por meio do pré-teste
PNSIPN identificando seus potenciais e déficits Classifique os tipos de
racismo por meio de um Mapa
de conceitos (texto online) Sumarize, no Facebook ou Delicious, os itens das legislações de equidade que
tem relação direta com o cuidado em saúde na US A partir da vinheta de
abertura do módulo, compare e contraste a ação do profissional do vídeo
com a sua Explique os possíveis efeitos
ou vantagens da implementação da PNSIPN na US para a clientela e para
os profissionais, sumarizando em texto online. Fazendo
conexões: (1) PNSIPN e eu (o que há na política
que tam bem há no meu cotidiano; o que está na política e não está
no meu cotidiano). (2) PNSIPN e outras Políticas (similaridades e
diferenças) (3) Diante de uma imagem ou gráfico sobre SPN: O que
aconteceu antes ou o que vai acontecer depois?.(4) Perguntas sobre a
PNSIPN: preferencialmente criadas pelo aluno. Mas pode ser tipo: “O
que neste texto me ajuda no cotidiano da US?”Na medida em que se
encontram respostas as perguntas são retiradas. (5) Monitoramento e
Codificação do texto: ler e marcar os trechos que entendeu (ok), não
entendeu (x) (6) Visualização: a imagem mental do texto. (7) Sumarização
e palavras chave |
Atividades
Moodle/Web 2.0 |
Lição,
scorm questionário Fórum Twitter, Face, etc Escolha (feedback sobre a utilidade para a prática clínica) |
Lição ou
scorm questionário Fórum Texto
online Twitter, Face, etc Escolha (feedback sobre a utilidade para a prática clínica) |
Lição,
scorm Jogo RPG (O cliente negro & as barreiras do SUS para conquistar o
cuidado étnico-cultural centrado na pessoa) Texto
online (impressões sobre as barreiras ao SUS encontradas pelo cliente
negro[a]) Websearch
(evidência científica) & tarefa baseada em projeto (texto
online – resenha) |
glossário jogo (hot
potatoes) texto
online Questionário Twitter, Face, etc Escolha (feedback sobre a utilidade para a prática clínica) |
Tarefa
baseada em projeto de implantação da PNSIPN na US) MAPA DE PROCESSO: A JORNADA DO PACIENTE NA SUA
US Wiki
(acompanhamento do projeto) Questionário pré-teste PNSIPN Texto online ou diário |
Produto
do(a) aluno(a) |
|
|
Ensaio sobre política baseada
em evidência para publicação em Blog ou periódico |
TAREFA: Diagnóstico
simplificado do RI na US (visando a implantação da PNSIPN) |
Ensaio (vantagens da PNSIPN no
ponto do cuidado) Relato de Experiência (Diagnóstico)
para publicação em Blog ou periódico |
Conteúdo |
|
|
Racismo(s) em ação:
disparidades e iniqüidades em saúde no Brasil Determinantes Sociais da Saúde
ou da Doença e outras barreiras no SUS para a população negra |
Nova demografia brasileira:
maiorias em número e vulnerabilidades História, culturas &
resiliência negra Saúde da População Negra (transcultural,
violências, outras doenças e agravos prevalentes (além do RI) Relações interpessoais &
choque de culturas (branquidade x negritude) Cenas de discriminação –
identificação e resolução |
SUS realmente universal? Políticas
de equidade para o enfrentamento das várias discriminações no SUS Estratégias sistêmicas para
enfrentamento do racismo institucional no Brasil (Estatuto da Igualdade
Racial, PNSIPN movimentos sociais negros, etc) |
Material
de apoio SUS |
Brasil.
Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa.
I Seminário Nacional de Saúde da População Negra : síntese do relatório
: |
Guia
de Enfrentamento ao Racismo Institucional e Desigualdade de Gênero. Geledés, SEPPIR 2013 |
Saúde
da população negra / Black population health. Batista, Luís Eduardo;
Werneck, Jurema; Lopes, Fernanda. Petrópolis; DP et Alii;ABPN; 2012.
319 p. Racismo
como determinante social de saúde.SEPPIR, 2011 |
Brasil.
Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Manual de
doenças mais importantes, por razões étnicas, na população
brasileira afro-descendente / Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas
de Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001 (valor histórico
– está desatualizado quanto aos dados epidemiológicos, terapias e
políticas de atendimento) |
Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (mód
I-V)/Orgs Maria Luiza Heilborn, Leila Araújo & Andreia Barreto - RJ
- CEPESC; Brasília, Secretaria de Políticas para Mulheres, 2010 |
O
encontro clínico Caso
clínico:
Como eu trato RI? (vinheta) |
- Conhecer e ser capaz de utilizar sistemas de informação sobre
raça/cor e outros instrumentos de suporte para a realização do
conjunto de competências em ESF |
- Conhecer, descrever e aplicar técnicas de abordagem, culturalmente
pertinentes, à
família negra; |
Objetivo 1: Incorporar (seguir um
procedimento) na consulta clínica
o item raça/cor e da cultura negra como componentes chave da história
do(a) paciente, família e comunidade, - Conhecer, descrever e aplicar técnicas de entrevista e consulta
que tenham a pessoa negra como
centro (entrevista clínica centrada na pessoa) Objetivo 3: Aplicar (seguir um
procedimento) as estratégias da comunicação culturalmente efetiva
e terapêutica no encontro com pacientes, famílias e comunidades
negras. |
Objetivo 2: Reconhecer (explicar causas e
efeitos do uso ou da negação) as práticas
tradicionais e populares de saúde da população negra no seu território
(inclusive em relação ao cuidar dos terreiros). - Realizar ações pedagógicas de saúde junto à população
negra adscrita, no nível individual, de grupos, de acordo com os
conceitos de aprendizagem ativa e autonomia dos sujeitos |
Objetivo 4: Demonstrar a tomada de
decisão clínica compartilhada, integrando a perspectiva cultural do(a)
paciente no desenvolvimento do tratamento de saúde e do autocuidado. - Estabelecer, qualificar continuamente e utilizar
terapeuticamente o vínculo longitudinal com o usuário, família e comunidade negros. |
Atividades |
Sequencie as perguntas básicas
da anamnese de modo que o item raça/cor fique contextualizado Relacione a devida
justificativa para as prováveis dúvidas ou questionamentos do cliente
sobre o item raça/cor |
Defina estereótipo e estigma,
explicando as causas e consequências de uma relação profissional de
saúde-clientela baseada em viés étnico-racial Delineie as estratégias de
comunicação terapêutica ou assertiva básicas e para a abordagem de
pacientes, famílias e comunidades na perspectiva da PNSIPN. Apresente, em vídeo, uma ação
pedagógica de saúde junto à população negra adscrita, no nível
de indivíduos ou grupos, de acordo com os conceitos de aprendizagem
ativa e autonomia dos sujeitos
a entrevista clínica ao (à) cliente a partir de um roteiro adequado à
cultura negra A partir da(s) vinheta(s) de
abertura do módulo, compare e contraste a ação do profissional do vídeo
com a sua |
Distinga na galeria de imagens
a pessoa de seu estereótipo étnico-racial Delineie as perguntas básicas
para a entrevista clínica na perspectiva da PNSIPN. (questionário) “Fazer cara para a
entrevista” Escolha o rosto que você mostrará conforme o sentimento
experesso pelo(a) paciente TAREFA: Apresente, em vídeo,
a entrevista clínica ao (à) cliente a partir de um roteiro na
perspectiva da PNSIPN TAREFA: Apresente, em vídeo,
ensino ao cliente negro(a) ou um projeto terapêutico singular na
perspectiva da PNSIPN A partir da vinheta de
abertura do módulo, compare e contraste a ação do profissional do vídeo
com a sua Delineie as estratégias de
comunicação terapêutica ou assertiva básicas e para a abordagem de
famílias e comunidades na perspectiva da PNSIPN. Reflita, por meio do jogo,
sobre sua ação (e a da equipe) para neutralizar as barreiras ao acesso
ao SUS e implementar a PNIPN na US. |
Sumarize num mapa de conceitos
as religiões dos clientes da US Compare e contraste:
ecumenismo ou fundamentalismo entre as instituições religiosas no
entorno da US Classifique, no banco de
dados, as práticas tradicionais, religiosas e populares de saúde
vivenciadas pelos(as) clientes da US e da comunidade adstrita. Compartilhe suas impressões
na rede social do curso,da US e/ou da comunidade. |
Prediga as vantagens para a
sua clientela (e para os profissionais) com a adoção da tomada de
decisão compartilhada Justifique adoção da tomada
de decisão compartilhada no processo de trabalho dos profissionais da
sua US Crie uma árvore de decisão
sobre o cuidado em saúde para o(a) cliente negro na perspectiva da
PNSIPN TAREFA:Estruture um plano de
negociação do cuidado em saúde na perspectiva da PNSIPN |
Atividades
Moodle/Web 2.0 |
Questionário (hot potatoes) External tool Lição
ou Scorm / Escolha (feedback da atividade para a prática clínica |
Lição Galeria de imagens (lightbox
gallery) External tool Scorm / Escolha (feedback da
atividade para a prática clínica Fórum Wiki Questionário Tarefa baseada em projeto
(estudo de caso) |
Lição Galeria de imagens (lightbox
gallery) External tool Scorm / Escolha (feedback da
atividade para a prática clínica Fórum Wiki Questionário Tarefa baseada em projeto
(estudo de caso) |
Lição Questionário Mapa de conceitos ou hot maps
(texto online) Fórum Banco de dados Jogo
RPG: “Faça a coisa certa” (a ação do profissional contra as
barreiras do SUS para o cliente receber um cuidado étnico-racial
centrado na pessoa) Twitter,
Face, etc Escolha
(feedback sobre a utilidade para a prática clínica) |
Fórum Tarefa baseada em projeto Texto online ou em blog
(projeto) Wiki (acompanhamento) Lição |
Produto
do(a) aluno(a) |
|
|
TAREFA: Estudo de caso (vídeo e texto) para publicação |
Vídeo (religiões e práticas locais) |
Estudo
de caso – para publicação TAREFA: Plano de negociação (projeto terapêutico singular) |
Conteúdo |
Relação profissional-cliente Teorias do cuidado em saúde |
|
OBJ 1 O(a) Outro – meu (minha
cliente: a nova demografia brasileira e os velhos medos. Ou como prestar
cuidado de saúde à pessoa e não ao estereótipo étnico-racial. Corporeidade Anamnese anti-opressiva com
foco no(a) usuário(a) negro(a) e a coleta sensível do item raça/cor. VÍDEO-AULADEMONSTRAÇÃO: O
ENCONTRO CLÍNICO (NA PERSPECTIVA DA PNSIPN) preparada para o curso
(incluindo no script as perguntas do paciente [engajamento ou
empoderamento]) OBJ 3 Fontes de disparidades no
encontro ·
Comunicação terapêutica ·
Entrevista motivacional &
negociação ·
Autocuidado apoiado ·
VÍDEO-DEMONSTRAÇÃO: A
TOMADA DE DECISÃO COMPARTILHADA (NA PERSPECTIVA DA PNSIPN) |
Medicina de matriz africana e
práticas populares de cuidado em saúde Religiosidade negra e saúde
espiritual Arte & esporte negros:a
dança, música e a capoeira como instrumentos terapêuticos |
Discriminação &
preconceito – onde se escondem? Como se manifestam? Como são
combatidos? Cuidado centrado no paciente Autonomia do paciente Alfabetismo em saúde O acesso do paciente/usuário
à informação em saúde (e prontuário) |
Materiais
do SUS |
|
|
Autocuidado
apoiado: manual do profissional de saúde / Organização
Ana Maria Cavalcanti. -- Curitiba : Secretaria Municipal da Saúde,
2012. |
|
Brasil, Centro de Referência e Treinamento DST/aids - Como e
para que Perguntar a Cor ou Raça/Etnia no Sistema Único de Saúde? Série:
Prevenção às DST/aids. ISBN 978-85-99792-09-4. |
Estratégias
de enfrentamento do RI Caso clínico:
1.
Como
eu trato RI (vinheta)? 2.
Pós-teste
PNSIPN |
|
|
- Conhecer e utilizar os sistemas de informação do SUS, em
especial sobre o quesito raça/cor, assim como aplicá-los na prática
na ESF |
Objetivo 1: Reconhecer (comparar e
contrastar dados de brancos/negros) as iniquidades étnicas existentes
no nível local - Mapear e ranquear,
em ordem de prioridade os problemas que são mais prevalentes e que
possuem maior impacto sobre a saúde da população negra, desde os
eventos ou desfechos patológicos até as suas causas mais profundas ou
distais. Objetivo 3: Incluir (organizar) a
participação do controle social na priorização do tratamento clínico
do usuário negro na unidade de saúde. |
Objetivo 2: Apresentar
(estruturar) propostas de intervenção na unidade de saúde para
integração de práticas de saúde da população negra - Estabelecer planos de ação coerentes, conforme critérios
epidemiológicos, éticos (erradicação
de iniquidades étnicas e outras), econômicos e sociais, de modo
a atender à PNSIPN |
Atividades |
|
|
|
Mapear e
ranquear, em ordem de prioridade os problemas que são mais prevalentes
e que possuem maior impacto sobre a saúde da população negra TAREFA: Com
base no calendário SPN ou saúde ou linha do tempo, operacionalizar uma
atividade de promoção da SPN no nível comunitário ou diagnóstico
precoce (ou busca ativa) de doença ou agravo prevalente Comparar e
contrastar os resultados terapêuticos da US conforme os grupos étnicos
da clientela TAREFA: Estruturar a política
de participação do controle social nas decisões da US |
A partir da vinheta de
abertura do módulo, compare e contraste a ação do profissional do vídeo
com a sua TAREFA: Estabelecer um plano
para implantação & monitoramento da PNSIPN na US Julgue sua competência
cultural em saúde por meio do pós-teste PNSIPN Compartilhe suas impressões
na rede social do curso,da US e/ou da comunidade |
Atividades
Moodle/Web 2.0 |
|
|
|
Lição Glossário ou texto externo Questionário Tarefa Fórum (Fagulha, ação &
reação) Texto online ou blog: Promoção
da Saúde da População Negra – Relato de experiência Twitter,
Face, etc Escolha
(feedback sobre a utilidade para a prática clínica) |
Lição Tarefa “baseada em
Projeto” Wiki (acompanhamento do
projeto) Fórum Questionário
(pós-teste PNSIPN) |
Produto
do(a) aluno(a) |
|
|
|
Infográfico
sobre
a demografia local, com dados desagregados por raça/cor & gênero Relato de experiência sobre
tarefa Promoção da Saúde |
TAREFA: Plano de implantação da PNSIPN na US |
Conteúdo |
Política de saúde baseada em
evidência científica |
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OBJ 1 Item raça/cor: elementos para
o monitoramento iniqüidades na US OBJ 3 Organização do controle
social da população negra na US Estratégias de empoderamento
do usuário e da comunidade VÍDEO-DEMONSTRAÇÃO: PROJETO
TERAPÊUTICO SINGULAR (NA PERSPECTIVA DA PNSIPN) |
Políticas de ação
afirmativa e o impacto na SPN Prioridades em SPN (ciclo
vital, agravos prevalentes, da promoção à recuperação da saúde,
ambiente acolhedor, etc) e práticas culturalmente pertinentes |
Materiais
do SUS |
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Linha de
Cuidado à Saúde de
Famílias em Situação de Violências Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/ |
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Obs: objetivos em azul foram
extraídos das competências dos profissionais de nível superior em ESF
Próximos
passos:
Terminado o planejamento do curso, se dará
início à sua estruturação no Ambiente Virtual de Aprendizagem. As unidades
temáticas foram planejadas da seguinte forma: Contexto (10 horas), Encontro Clínico
(20 horas) e Enfrentamento do Racismo (15 horas).
Por meio do AVA estão previstas as
atividades que propiciarão inicialmente o preparo do(a) profissional para a
reflexão sobre si próprio(a), sua cultura e relações interpessoais (vinhetas
e pré-teste sobre PNSIPN), sendo seguidas por atividades que levem à consciência
crítica isenta de viés discriminatório até às atividades de avaliação
pelas quais o(a) profissional deverá demonstrar sua prontidão para a
implementação da PNSIPN no ponto do cuidado por meio de propostas de intervenção
na Unidade de Saúde e na comunidade adstrita.
Considerações
finais
Em que pese a PNSIPN tornar obrigatório a
inclusão sobre saúde da população negra e enfrentamento do racismo
institucional dos currículos dos cursos da área da saúde e nos cursos de
educação permanente, percebemos tanto uma dificuldade quanto um certo
desconforto em contextualizar o racismo enquanto um determinante social da saúde
e, principalmente, em ensinar as estratégias evidenciadas pelas pesquisas para
o desenvolvimento do relacionamento terapêutico profissional-usuário(a) do SUS
e para a redução das iniqüidades étnicas em saúde.
É preciso dizer com todas as letras: a
desconstrução das discriminações institucionais por meio do processo formal
de ensino-aprendizagem demanda técnicas e métodos de ensino problematizadores
e construtivistas sociais que levem o(a) aluno(a) a expor suas crenças
publicamente, de forma segura, para serem trabalhadas à luz das evidências
científicas e, desta forma, (re)construir sua consciência crítica quanto ao(à)
cliente em situação de vulnerabilidade social e a sua responsabilidade sobre
qualidade do relacionamento profissional.
Em síntese, as evidências científicas
sustentam que é possível realizar um ensino online para o desenvolvimento de
atitudes. Portanto, planejamos este curso contando ainda com a interatividade do
AVA Moodle e da web 2.0 no engajamento no curso, compartilhamento de experiências
e comprometimento dos(as) profissionais de saúde na implantação da PNSIPN no
ponto do cuidado.
Referências
[1]
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa. Departamento de
Apoio à Gestão Participativa. Política
Nacional de Saúde Integral da População Negra : uma política para
o SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. – 2. ed.
– Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2013.
Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_integral_populacao.pdf
[2]
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política
Nacional de Educação Permanente em Saúde / Ministério da Saúde,
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de
Gestão da Educação em Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde,
2009. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_educacao_permanente_saude.pdf
[3]
Brasil, Ministério da Saúde. Saúde da População Negra: Bases para a
Gestão Municipal na Construção da Equidade no SUS. Orientações para
Gestores Profissionais de Saúde para a implementação da Política
Nacional de Saúde Integral da População Negra, Brasília, 2010.
[4]
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde. Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde. Competências
dos profissionais de nível superior na estratégia de saúde da família /
Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde. – Brasília : UNA-SUS,
2011.
[5]
Parker, S et al Anti-Racism & Diversity Trainers: Core Competencies and
Leading Training Practices - A Literature and Scoping Review, Canadá, 2010.
Disponível em http://www.embracebc.ca/embracebc/resources/index.page#training_practices
[6]
Amantesa, A. et al O USO DATAXONOMIA SOLO COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA NA
PESQUISA EDUCACIONAL. Encontro Nacional de Pesquisa de Educação em Ciências,
Anais, 2007.Disponível em http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/vienpec/search0.html
JSNCARE