The implications of nursing diagnosis: impaired verbal
communication to the client of high complexity in intensive care -
Systematic Literature Review
As implicações do diagnóstico de enfermagem: Comunicação
verbal prejudicada para o cliente de alta complexidade em terapia
intensiva - Revisão Sistematizada da Literatura
Raquel de Abreu Pinheiro e Souza. Enfermeira. Aluna do Curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos /Universidade Federal Fluminense(UFF). raquelabreups@yahoo.com.br
Profa.
Dra. Isabel Cruz. Titular da UFF. isabelcruz@uol.com.br
Abstract: The unconscious or
comatose patient is a challenge to effective communication; the patient’s
neurological status creates doubts about the level of hearing and sensory
perception and limits the communication of nurses. Objective: To identify the scientific production of nursing, the
best evidence for nursing care in the sensory stimulation of the unconscious patient
unable to communicate their needs verbally. Method: Literature review from electronic search in databases and
virtual libraries. Data collection occurred between March and June 2014. It was
selected 10 scientific studies for the sample to be analyzed. The results
analyzed were of the thematic study and evidence-based practice. Results: The evidence resulted in
conflicting findings about the effects of stimulation in unconscious patients.
According to researchers, communication with unresponsive patients is described
as limited, essentially related to nursing interventions to be performed only.
However, there are sufficient evidences to support the assumption that there is
an increasing mental activity and emotional awareness in unconscious patient stimulated.
Findings described in the literature also clearly indicate a correlation
between auditory stimulus and increases in arterial blood pressure, heart rate,
respiratory rate, intracranial pressure, body and facial movement. Conclusion: The literature review
revealed a lack of studies that investigated what nurses actually say to their
patients, emerging the need for additional empirical research. The available
studies suggest that intensive care nurses do not provide enough verbal
communication to their patients and highlight several points of concern.
Keywords: Unconsciousness;
Communication; Coma; Nurse–Patient Relations.
Resumo: Problema: O paciente inconsciente ou em coma é um desafio para uma comunicação
eficiente; seu estado neurológico cria dúvida sobre seu grau de percepção
auditiva e sensitiva e limita a comunicação do enfermeiro. Objetivo: Identificar nas produções científicas de enfermagem, as
melhores evidências para o cuidado de enfermagem na estimulação sensorial do
paciente inconsciente, impossibilitado de comunicar suas necessidades
verbalmente. Método: Revisão
bibliográfica realizada através da busca eletrônica em bases e bibliotecas
virtuais. A coleta de dados ocorreu entre os meses de março e junho de 2014.
Foram selecionados 10 artigos científicos para compor a amostra a ser
analisada. Os resultados foram analisados aos quais se adequavam a temática do
estudo e da prática baseada em evidências. Resultados:
As evidências resultaram em achados conflitivos acerca dos efeitos da estimulação
em pacientes inconscientes. Segundo pesquisadores, a comunicação com pacientes
irresponsivos é descrita como limitada, essencialmente relacionada apenas com
as intervenções de enfermagem a serem realizadas. Há, no entanto, suficientes
evidências para apoiar o pressuposto de que há uma crescente atividade mental e
consciência emocional em pacientes inconscientes estimulados. Achados descritos
na literatura também apontam claramente uma correlação entre estimulo auditivo
e aumentos na pressão sanguínea arterial, frequência cardíaca, frequência
respiratória, pressão intracraniana, movimentação corporal e facial. Conclusão: A revisão da literatura
sobre o tema revelou a escassez de estudos que investigaram o que enfermeiros
de fato dizem a seus pacientes, emergindo a necessidade de pesquisas empíricas
adicionais. Os estudos disponíveis sugerem que enfermeiros de terapia intensiva
não oferecem suficiente comunicação verbal a seus pacientes e destacam diversos
pontos preocupantes.
Palavras-chave: Inconsciência; Comunicação; Coma; Relação
Enfermeira-Paciente.
Introdução
A razão pela
escolha do tema/DE: Comunicação verbal prejudicada para o cliente de alta
complexidade em terapia intensiva baseou-se pelo fato do paciente crítico,
inconsciente, estar impossibilitado de se comunicar verbalmente. Como os
enfermeiros constituem o grupo profissional que passa a maior parte do tempo em
contato com esse cliente, a comunicação enfermeira/paciente se torna uma
habilidade importante para a enfermagem.
Muitas vezes a comunicação
com esse tipo de paciente tem baixa prioridade enquanto o enfermeiro atende à
demanda de equipamentos altamente técnicos para sustentar a vida e recuperação
do paciente. Isto sugere uma perda potencial de oportunidades para a
estimulação verbal de pacientes inconscientes pelos profissionais de saúde que
mais passam tempo com eles. A estimulação sensorial pode ser um fator
importante no processo de reabilitação precoce. A justificativa para a
implementação de intervenções de estimulação sensorial é melhorar o nível geral
de responsividade e consciência do paciente, promovendo cuidado, orientação,
valor terapêutico, reduzindo o risco de distúrbios psicológicos, angústia,
ansiedade e favorecendo o relaxamento.
Os profissionais
de enfermagem devem utilizar a comunicação como instrumento para humanizar o
cuidado, minimizando sua ansiedade causada pela sua condição de passividade
imposta pela doença e hospitalização.¹
Há, no entanto, suficientes
evidências para apoiar o pressuposto de que há uma crescente atividade mental e
consciência emocional em pacientes inconscientes estimulados. Achados descritos
na literatura também apontam claramente uma correlação entre estímulo auditivo
e aumentos na pressão sanguínea arterial, frequência cardíaca, frequência
respiratória, pressão intracraniana, movimentação corporal e facial. ²
Pergunta Clínica:
Para o cliente de alta complexidade
com o diagnóstico: Comunicação verbal prejudicada, qual a intervenção (ou protocolo)
de enfermagem mais eficaz para sua resolução?
Quadro 1:
Estratégia PICO
ACRÔNIMO |
DEFINIÇÃO |
DESCRIÇÃO |
P |
Paciente ou diagnóstico de enfermagem |
Paciente com comunicação verbal prejudicada de
alta complexidade. |
I |
Prescrição |
Estimulação sensorial do paciente inconsciente, intervenções
de estimulação sensorial, favorecendo o processo de reabilitação precoce. |
C |
Controle ou comparação |
Não se aplica |
O |
Resultado |
Melhorar o nível geral de responsividade e
consciência. Reduzir estresse, angústia e ansiedade. Favorecer o relaxamento. |
Metodologia
Utilizou-se para fim de pesquisa a
abordagem de estudo de pesquisa bibliográfica computadorizada compreendida no
período de 2009 a 2014, utilizando os portais: BIREME e CAPES com as
seguintes bases: MEDLINE (Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e EMBASE.
Foram utilizados os seguintes termos
de busca controlados, extraídos do Mesh (Unconsciousness; Communication;
Coma; Nurse–Patient Relations; Intensive Care)
e do Decs (Inconsciência; Comunicação; Coma; Relação Enfermeira-Paciente;
Terapia Intensiva).
Foram utilizados operadores booleanos
(AND) e combinação dos componentes da estratégia PICO: (P) AND (I) AND (C) AND
(O). Para localizar o maior número de artigos, realizou-se o cruzamento dos
descritores destacados.
Utilizaram-se como critérios para
inclusão dos artigos pré-selecionados: tempo de publicação a partir de 2009,
artigos publicados em periódicos online, idioma em português ou inglês.
Posteriormente, foi realizada leitura
interpretativa, sendo excluídos aqueles que não abordavam diretamente da
temática do estudo e pacientes entubados. Assim, obteve-se um número de 10
(dez) artigos, sendo destes 6 (seis) em inglês e 4 (quatro) em português, ao
qual é nossa bibliografia potencial.
Após
leitura interpretativa, foram incluídos na amostra final dez artigos que
condiziam diretamente ao tema abordado pelo PICO. Foram excluídos da pesquisa
os estudos que não preencheram os critérios de inclusão, previamente
determinados, bem como artigos com textos incompletos, publicações em anais,
teses e resumos.
Os resultados das buscas foram descritas na tabela
1. A primeira coluna apresentada as diversas combinações dos descritores para
ampliar o universo de artigos, a segunda coluna apresentada o respectivo número
de artigos encontrados e a terceira coluna apresenta o número de artigos
aproveitados em cada busca.
Tabela 1 - Combinação de palavras-chave e número de
artigos encontrados na busca bibliográfica nos portais BIREME e CAPES, utilizando
os critérios de inclusão. Rio de Janeiro, Mar/Jun 2014.
Combinação dos descritores |
Número de artigos |
Artigos
Aproveitados |
Comunicação + inconsciência |
11 |
4 |
Coma + incounsciousness + communication |
13 |
2 |
Nursing/patient + communication |
15 |
2 |
Communication + Nursing/patient + Intensive Care |
20 |
3 |
Na primeira etapa de busca, as palavras chave foram
arranjadas em duplas e trios. Os artigos encontrados foram selecionados
primariamente de acordo com o título. Após essa fase, realizou-se leitura
crítica dos resumos para nova seleção dos artigos.
Foram incluídos para leitura interpretativa do
texto completo e busca de evidências apenas os artigos científicos que atendiam
os critérios de inclusão e que correspondessem a mesma temática estudada nesta
pesquisa.
Durante a busca bibliográfica foram encontrados 59
artigos científicos que atendiam a temática do estudo. Desse total foram
selecionados 10 artigos científicos para compor a amostra a ser analisada,
sendo 04 artigos científicos de periódicos brasileiros e 06 de periódicos
estrangeiros.
Os resultados foram analisados a luz da temática do
estudo e da prática baseada em evidências cujo referencial base para a
identificação do nível de evidência foi a Classificação do Journal American Medical Association³.
Síntese das
evidências científicas
Quadro 2: Publicações
localizadas nas bases de dados virtuais.
Rio de Janeiro, 2014.
Autor
(es), Data & País |
Objetivo
da pesquisa |
Força
da evidência |
Tipo
de estudos & Instrumentos |
Principais
achados |
Conclusões
do autor (es) |
Morais GSN, Costa SFG, Fontes WD, Carneiro AD.
2009. Brasil¹ |
Destacar
a comunicação como instrumento básico no processo do cuidar humanizado em
enfermagem ao paciente hospitalizado. |
Nível
3 – Grau C. |
Pesquisa
de natureza bibliográfica. |
Valoração
do processo de comunicação como componente básico na humanização do cuidado
em enfermagem. |
Perceber
a comunicação, verbal e não-verbal, reveladas em sinais, gestos e movimentos
que expressam mensagens e, dessa forma, compreender as necessidades reais do
paciente. |
Jesus
LMT, Simões JFFL, Voegeli D. 2013,Brasil2 |
Alternativas para habilidades na comunicação com
pacientes críticos. |
Nível
3 – Grau C. |
Revisão
sistemática da literatura, seguida de análise de conteúdo. |
Identificaram-se
dificuldades na comunicação com pacientes que não são capazes de responder,
pressões do ambiente de trabalho, conhecimento limitado sobre as necessidades
de pacientes inconscientes, e conhecimento detalhado limitado do porquê e de
como se comunicar com pacientes inconscientes. |
A
mensagem estímulo desenvolvida pode facilitar a comunicação com pacientes
inconscientes. |
Puggina
ACG, Silva MJP. 2009. Brasil4 |
Verificar
a influência da música e mensagem oral sobre os Sinais Vitais e Expressão
Facial dos pacientes em coma fisiológico ou induzido. |
Nível
1 – Grau A. |
Ensaio
Clínico Controlado e Randomizado. |
Foram avaliadas as variáveis: pulso, temperatura,
pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, saturação de O2,
frequência respiratória e expressão facial. |
A
mensagem foi um estímulo mais forte do que a música em relação à capacidade
de produzir respostas fisiológicas sugestivas de audição. |
Takeshita
IM, Araújo IEM. 2011, Brasil5 |
Avaliar
as estratégias de interação dos enfermeiros com o paciente inconsciente e
identificar itens de prescrições que favoreçam essa interação. |
Nível
2- Grau A. |
Estudo
descritivo. |
Foram
encontradas as seguintes ações:
favorecer a interação de familiares com o paciente inconsciente. Procurar
acalmar o paciente por meio do toque e da conversa, caso agitação; Predominar
um cuidado humanizado e menos tecnicista. |
Concluiu-se
que os enfermeiros utilizam estratégias como chamar o paciente pelo nome,
comunicar os procedimentos, evitar comentários próximos ao leito, reduzir
ruídos, estimular os familiares a interagir, acalmar o paciente pela conversa
e toque. |
Happy
MB, Garret K, Thomas DD, Tate J, George k, Houze M, Radtke j, Sereika S.
2011. EUA6 |
Descrever
as interações de comunicação, métodos, e técnicas de assistência entre
enfermeiros e pacientes críticos que não verbalizam. |
Nível
2- Grau B. |
Estudo
observacional descritivo de não-intervenção. Estudo de coorte sobre os
cuidados habituais de um ensaio clínico enfermeiro-paciente. |
86,2%
das enfermeiras iniciaram trocas de comunicação. As ações comuns mais
positivas das enfermeiras foram o contato visual com o paciente. 40 % das
sessões de comunicação com enfermeiros como um tanto difíceis até
extremamente difícil. |
haver
melhoria na comunicação entre enfermeiros e pacientes que não verbalizam na
unidade de terapia intensiva. |
Fleischer S, Berg A, Zimmermann M, Wüste K,
behrens J. 2010. Alemanha7 |
Descrever
o uso e definições dos conceitos de interação enfermeiro-paciente e
comunicação enfermeiro-paciente na literatura de enfermagem. |
Nível
3 – Grau C. |
Revisão
integrativa. |
A
principal intenção de comunicação e interação é para influenciar o estado de
saúde do paciente ou bem-estar. |
Todas
as citações concluíram que habilidades na comunicação podem ser aprendidas a
certo grau. A comunicação, muitas vezes é negligenciada por quem cuida. |
Haidet KK, Tate J, Thomas DD, Kolanowski A, Happ
MB. 2009. EUA8 |
Oferecer
vantagens para enfermeira em avaliar comportamento e as relações entre
comportamentos complexos. |
Nível
3- Grau D. |
Pesquisa
descritiva, documental, Ensaio clínico, estudo observacional e opinião de
especialistas. |
Videografia
oferece uma ferramenta única para a gravação de comportamentos comunicativos
entre pacientes criticamente enfermos que não verbalizam. |
A
gravação de vídeo como método de coleta de dados, irá melhorar a qualidade
dos dados obtidos e os resultados para a prática de enfermagem. |
Radtke JV, Brooke M.
Baumann BM, Garrett KL, Happ MB.. 2011. EUA9 |
Identificar
problemas de comunicação por pacientes que não falam, em estado grave na
Unidade de Terapia Intensiva. |
Nível
1- Grau A. |
Ensaio
clínico e estudo observacional. |
Através
de técnicas alternativas de comunicação, melhorar sintomas na comunicação
e aliviar o sofrimento de pacientes
com limitações de fala. |
A
comunicação com dispositivos e materiais, alternativos podem oferecer
adicional suporte na comunicação e melhorar os resultados de comunicação. |
Gordon C, Hill CL,
Ashburn A.2009. Inglaterra10 |
Explorar
a forma como a equipe de enfermagem e pacientes com afasia ou disartria se
comunicam, em interações naturais. |
Nível
3- Grau C. |
Um estudo observacional foi realizado. Os dados
foram 35.5 horas de gravação e notas de campo, videotape e conversa análise. |
A equipe de enfermagem controlava as conversas,
criando assimetria em todas as interações. Os pacientes tinham pouca abertura
devido o pouco tempo e por responder a perguntas fechadas. |
Na reabilitação, o foco para a interação pode ser
pensado em objetivos para o paciente, preocupações ou planos para o futuro. A
equipe de enfermagem precisa receber treinamento para reforçar programas de
reabilitação na comunicação. |
Grossbach I, Stranberg S, Chlan L. 2011. EUA11 |
Avaliar as necessidades de comunicação;
identificar estratégias alternativas de comunicação; criar um plano de
cuidados personalizado para o paciente. Promover uma comunicação eficaz aos
pacientes impossibilitados de falar. |
Nível
3- Grau C. |
Revisão sistemática de estudos observacionais. |
Estratégias para facilitar a comunicação foram
identificadas: Estabelecer um ambiente favorável à comunicação. Avaliar as
habilidades funcionais que afetam a comunicação. Antecipar as necessidades
dos pacientes. Facilitar leitura labial. Uso de dispositivos de comunicação
ampliada e alternativa. Instruir o paciente, a família do paciente e equipe
sobre estratégias de comunicação. |
São necessários estudos para melhorar a comunicação enfermeiro-paciente,
incluindo interpretação de
comportamentos não-vocal. Estratégias precisam ser testadas para melhorar as
habilidades de comunicação dos profissionais de saúde. |
Discussão dos resultados sobre as evidências
científicas
Os ambientes das Unidades de Terapia Intensiva
(UTIs) são estressantes, ocasionam sobrecarga de trabalho e utilizam muitos
recursos tecnológicos. Depoimentos de profissionais de enfermagem revelam que
há prevalência de ações mecânicas e rotineiras para cumprir as tarefas impostas
em detrimento do cuidado holístico12.
A tecnologia beneficia o cuidado ao
paciente, oferece maior segurança e economiza o tempo da equipe, mas deve ser
utilizada de forma a não substituir a presença humana com seu toque, olhar ou
palavra, visto que esses elementos são insubstituiveis13.
O
paciente inconsciente ou em coma, é um desafio para uma comunicação eficiente;
seu estado neurológico cria dúvidas sobre seu grau de percepção auditiva e
sensitiva e limita a comunicação do enfermeiro. Quando não se conhece a demanda
do paciente, torna-se difícil a implementação de cuidados voltados para suas
necessidades específicas14.
O grau em que
enfermeiros iniciam e estabelecem comunicação com seus pacientes ainda parece
ser influenciada pela extensão de resposta global do indivíduo, e em pacientes
irresponsivos, a comunicação é muitas vezes limitada a uma breve explicação
prévia diante da realização de um procedimento de enfermagem15.
A percepção auditiva
dos pacientes em coma, tanto fisiológico como induzido, em relação à comunicação
verbal ao seu redor sempre foi muito questionada e, até hoje, mesmo com os
avanços da Medicina e da neurociência, ainda não temos uma resposta precisa do
que acontece na mente desses pacientes durante a experiência de estar em coma.
Como existem muitas duvidas em
relação ao que ocorre com o paciente em coma precisamos aprender outros meios
de percebê-los. Manifestações ou correlatos fisiológicos das emoções são
respostas autonômicas, comandadas pelo Sistema Nervoso Autônomo (SNA), frente a
um estímulo. Aumento da frequência cardíaca, respiratória e rubor da face são
exemplos de manifestações fisiológicas de uma emoção positiva. Uma emoção
negativa também desencadeia aumento da frequência cardíaca e respiratória, mas
ao contrario da anterior, o individuo empalidece e sua frio. As emoções também
podem provocar manifestações comportamentais, isto é, respostas motoras e essas
podem ser estereotipadas (reflexas ou involuntárias) ou até bastante complexas
envolvendo ações voluntárias16.
A
audição parece ser o último sentido que é perdido, e tal afirmação pode ser
sustentada através dos relatos de pessoas que retornaram desse estado. A
maioria relata dados sensoriais auditivos como sons, palavras, frases, vozes
familiares etc. Por isso, é extremamente importante o ambiente sonoro em que o
paciente está inserido, bem como as conversas paralelas ao lado do leito e a
própria comunicação com o paciente, principalmente antes da realização de
qualquer procedimento.
Em
pesquisa realizada em hospital escola da cidade de São Paulo, destacou-se que o
paciente comatoso responde com alterações na saturação de oxigênio, frequência
respiratória e expressão facial ao ouvir um familiar lendo uma mensagem ou ao
ouvir uma musica favorita. Embora tais respostas não sejam satisfatórias para a
neurociência é importante preocupar-se com o que e falado próximo ao paciente
inconsciente, pois não é possível afirmar quanto esses pacientes são capazes de
ouvir17.
Em outra pesquisa, revelou-se que,
apesar do exposto acima, os profissionais se comunicam verbalmente com o
paciente inconsciente, além de utilizar o toque e “brincadeiras” para
descontrair o ambiente. Como resposta aos estímulos sonoros, o paciente
movimenta as extremidades do corpo e efetua a abertura ocular. Vale ressaltar
que alguns membros da equipe de enfermagem são mais sensíveis para interpretar
as respostas do paciente, especialmente quando se trata da comunicação não
verbal e de emoções18.
As evidências resultaram em achados
conflitivos acerca dos efeitos da estimulação em pacientes inconscientes. Há,
no entanto, suficiente evidencias para apoiar o pressuposto de que há uma
crescente atividade mental e consciência emocional em pacientes inconscientes
estimulados. Achados descritos na literatura também apontam claramente uma
correlação entre estimulo auditivo e aumentos na pressão sanguínea arterial,
frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão intracraniana,
movimentação corporal e facial19,20,21.
Segundo pesquisadores, a comunicação
com pacientes irresponsivos é descrita como limitada, essencialmente
relacionada apenas com as intervenções de enfermagem a serem realizadas. Quatro
áreas problemáticas foram identificadas: dificuldades básicas na comunicação
com pacientes que não são capazes de responder, pressões do ambiente de
trabalho, conhecimento limitado sobre as necessidades de pacientes
inconscientes, e conhecimento limitado do porque e de como se comunicar com
pacientes inconscientes22.
Além do cuidado
físico, de importância irrefutável, do controle técnico dos monitores e do
estabelecimento de uma relação interpessoal com o paciente, o enfermeiro pode
atuar diretamente sobre o ambiente, orientando o paciente quanto ao tempo e ao
espaço, favorecendo a sua recuperação pela redução de sons desagradáveis,
selecionando de forma criteriosa algumas músicas e leituras, evitando
comentários negativos próximos aos pacientes e favorecendo uma sensação de
harmonia e bem estar.
Outra alternativa encontrada por
pesquisadores foi a realização da Prescrição de enfermagem em prol desses
pacientes. Pela Lei no 7.498, de 25 de junho de 1986, art. 8o, inciso I, “f”, e
incumbência privativa do enfermeiro a prescrição de enfermagem, que viabiliza a
descrição do plano de cuidados diários do individuo que esta sob sua
responsabilidade. No caso do paciente inconsciente, a prescrição favorece a
conscientização da equipe de enfermagem a estimular e interagir com esse
paciente. Foram encontradas prescrições relacionadas a interação e a
comunicação com o paciente inconsciente. Os conteúdos descritos nas prescrições
foram divididos em categorias como: orientar paciente quanto aos procedimentos
a serem realizados, realizar mudança de decúbito, atentar para sinais de
manifestação de dor, massagem de conforto após o banho e conforto emocional,
observar faces de dor, favorecer conforto e tranquilidade, passar energia
positiva para o paciente, observar alteração de sinais vitais, questionar o paciente
sobre dor e compreensão, preserva o pudor do paciente, identificar-se para o
paciente, orientar a família a conversar com o paciente e realizar estimulação
tátil. A sistematização da assistência de enfermagem por meio do registro é
importante, pois proporciona a comunicação efetiva entre os membros da equipe e
a avaliação da eficácia do cuidado prestado23.
Conclusões
Comunicar-se com pacientes
inconscientes persiste como um problema no contexto das unidades de terapia
intensiva, e oportunidades de promover estratégias de comunicação efetivas e
potencialmente terapêuticas têm sido perdidos. Há, no entanto, evidências o suficiente
para apoiar o pressuposto de que pacientes inconscientes podem ouvir, e que
estímulos verbais são efetivos em provocar uma resposta. Não obstante, as
inconsistências na literatura apontam para a necessidade de estudos mais
detalhados sobre o efeito do estimulo de voz em pacientes comatosos.
A revisão da literatura sobre o tema
revelou a escassez de estudos que investigaram o que enfermeiros de fato dizem
a seus pacientes, emergindo a necessidade de pesquisas empíricas adicionais.
Porém, os estudos disponíveis sugerem que enfermeiros de terapia intensiva não
oferecem suficiente comunicação verbal a seus pacientes e destacam diversos
pontos preocupantes. Enfermeiros tendem a se concentrar mais nos aspectos
técnicos do trabalho e geralmente falham na assistência das necessidades
psicológicas e sociais dos pacientes por uma comunicação insuficiente ou
inefetiva. Para isso, devem-se realizar frequentes capacitações e atualizações
da equipe de enfermagem frente às diversas alternativas para a comunicação com
os pacientes inconscientes ou impossibilitados de verbalizar. Estimular o
desenvolvimento de novas pesquisas buscando continuamente o aprimoramento de
estratégias de comunicação verbal e não verbal, caracterizam-se como uma medida
promissora para a instituição e para o paciente.
A estratégia PICO foi considerada uma
técnica facilitadora na busca de conhecimento científico durante a prática
assistencial. Através dela, foi possível responder as situações problemas
buscando as recomendações de melhores evidências no meio cientifico. Também
favoreceu o desenvolvimento profissional e a atualização frequente do
enfermeiro frente às demandas da assistência.
Os estudos apresentaram forças de
evidência fortes, moderadas a fracas. Nesse sentido, as recomendações descritas
possuem positiva indicação na prática de enfermagem. Além disso, são benéficas,
seguras e possuem baixo custo, tornando viável a sua utilização e incorporação
à rotina dos serviços de terapia intensiva.
Acredita-se que esta pesquisa foi de suma
importância para área de saúde, principalmente para a enfermagem, pois
conseguiu demonstrar alternativas para melhor comunicação e estimulação precoce
do paciente inconsciente. Contribuiu ainda para o crescimento da enfermagem e
conhecimento científico para aplicação e melhoria da prática assistencial.
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