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REVIEW ARTICLES

Nursing evidence-based interprofessional practice guideline on acute pain in critical cardiac patients – systematic literature review


Prática interprofissional de enfermagem baseada em evidência sobre dor aguda em pacientes críticos cardíacos - revisão sistematizada da literatura


Rosângela do Nascimento Elisiário Bento1, Isabel Cristina Fonseca da Cruz1

1Universidade Federal Fluminense


ABSTRACT

Background: Ineffective management of postoperative cardiac surgery pain may result in complications such as deep venous thrombosis, pulmonary embolism, coronary ischemia, myocardial infarction, pneumonia, poor wound healing and insomnia. Objective: Review the interprofessional nursing practices based on evidence in the use of non-pharmacological methods for the management of acute pain in patients in the postoperative period of cardiac surgery. Methods: Integrative literature review of the Medline, Lilacs, Scopus and Cinahl databases between 2011 and 2017. Results: Ten studies that met the established inclusion criteria, with a predominance of randomized clinical trials, level of evidence 1B were analyzed. The main non-pharmacological methods found in the studies were cold therapy, music therapy and massage therapy. The use of these therapies significantly reduced the pain intensity in the postoperative period of open heart surgery. Conclusion: The main findings of this study provide scientific evidence supporting the use of cold therapy, music therapy and massage therapy as effective non-pharmacological methods for the management of acute postoperative heart surgery. These therapies have been shown to be safe, flexible, non-invasive, easy to apply, inexpensive and with no side effects.

Key-words: Nursing; Acute Pain; Complementary Therapies; Cardiac Surgical Procedures.


RESUMO

Introdução: O manejo ineficaz da dor aguda no pós-operatório de cirurgia cardíaca pode resultar em complicações como trombose venosa profunda, embolia pulmonar, isquemia coronariana, infarto do miocárdio, pneumonia, má cicatrização de feridas e insônia. Objetivo: revisar as práticas interprofissionais de enfermagem baseada em evidência na utilização de métodos não-farmacológicos para manejo da dor aguda em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Método: Revisão integrativa da literatura realizada nas bases de dados Medline, Lilacs, Scopus e Cinahl entre 2011 e 2017. Resultados: Foram analisados dez estudos que atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos, com predomínio de ensaios clínicos randomizados, nível de evidência 1B. Os principais métodos não-farmacológicos encontrados nos estudos foram a terapia com frio, musicoterapia e massagem terapêutica. A utilização dessas terapias reduziu significativamente a intensidade da dor no pós-operatório de cirurgia cardíaca aberta. Conclusão: Os principais achados deste estudo fornecem evidências científicas que apoiam o uso da terapia com frio, da musicoterapia e da massagem terapêutica como métodos não-farmacológicos efetivos no controle da dor aguda no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Essas terapias demonstraram serem seguras, flexíveis, não-invasivas, fáceis de serem aplicadas, baratas e sem efeitos colaterais.

Palavras-chaves: Enfermagem; Dor Aguda; Terapias Complementares; Procedimentos Cirúrgicos Cardíacos.


INTRODUÇÃO

A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável, provavelmente associada a dano tecidual real ou potencial(1). Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a condição clínica dos pacientes, os procedimentos nociceptivos, a monitorização invasiva, o repouso prolongado no leito e as frequentes intervenções de enfermagem são fontes consideráveis ​​de dor(2).

A dor aguda é um diagnóstico de enfermagem definido pela Taxonomia Nanda Internacional como “experiência sensorial e emocional desagradável associada a lesão tissular real ou potencial de início súbito ou lento, de intensidade leve a intensa, com término antecipado ou previsível e com duração menor que 3 meses”(3).

No que se refere a população de pós-operatório de cirurgia cardíaca, a dor aguda pode ser causada por incisões, drenos torácicos, retração e dissecção tecidual intraoperatória, múltiplas canulações intravasculares e procedimentos invasivos. Além disso, o manejo ineficaz da dor pós-operatória pode resultar em complicações como trombose venosa profunda, embolia pulmonar, isquemia coronariana, infarto do miocárdio, pneumonia, má cicatrização de feridas e insônia(2,4).

Embora as drogas analgésicas sejam a ferramenta mais eficaz disponível para os enfermeiros, existem muitas outras maneiras de aliviar a dor. Os analgésicos têm alguns efeitos colaterais e existem diferenças individuais em seus resultados, de modo que os métodos não-farmacológicos podem atrair alguma atenção(5). Intervenções não-farmacológicas são definidas como “terapias que não envolvem o uso de medicamentos ou quaisquer outras substâncias ativas”(6).

O uso de intervenções não-farmacológicas é recomendado para o manejo da dor em adultos criticamente doentes(7). Ainda assim, há uma escassez de informação sobre a prática interprofissional com base em evidências científicas relacionada à utilização de métodos não-farmacológicos no manejo de dor aguda em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca.

Deste modo, este estudo teve o objetivo de revisar as práticas interprofissionais de enfermagem baseada em evidência na utilização de métodos não-farmacológicos para manejo da dor aguda em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca.

QUESTÃO PRÁTICA

Para elaboração da questão norteadora deste estudo utilizou-se a estratégia PICO, um acrônimo para Paciente, Intervenção, Comparação e “Outcomes” (desfecho)(8). Os elementos desta estratégia estão descritos no quadro 01. Deste modo, este estudo foi conduzido através da seguinte questão norteadora: Como otimizar o cuidado interprofissional do paciente em pós-operatório de cirurgia cardíaca através de métodos não-farmacológicos para manejo da dor aguda?

Quadro 01: elementos da estratégia PICO. Fonte: dados da pesquisa, 2018.

Quadro 1

METODOLOGIA

O presente estudo foi baseado na técnica da revisão integrativa por ser uma ferramenta que permite a inclusão de diversas metodologias e tem o potencial para desempenhar um papel importante na construção da prática baseada em evidências para a enfermagem (9).

Se, por um lado, a abordagem à diversas metodologias permite uma visão mais abrangente sobre o tema da pesquisa, também aumenta a complexidade do processo de análise e coleta dos dados da revisão, uma vez que traz uma dificuldade na avaliação do rigor metodológico e acurácia dos estudos, aumentando o potencial para viés nos resultados(9).

Para minimizar esse risco é necessário o uso de métodos explícitos e sistemáticos na coleta caracterização da amostra e na análise e interpretação dos resultados. Foi adotado a metodologia proposta por Wittemore & Knafl, que inclui cinco etapas: 1) identificação do problema de pesquisa/ questão norteadora; 2) busca na literatura 3) seleção, por pares, das pesquisas que compuseram a amostra; 4) análise dos achados dos artigos incluídos e 5) síntese do conhecimento produzido(9).

Para responder à questão de pesquisa citada anteriormente foi realizada buscas de artigos científicos nas seguintes bases: Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (Medline via Pubmed), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs via Biblioteca Virtual de Saúde - BVS), Scopus e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (Cinahl).

Para realização da busca na literatura, foram utilizados termos de busca selecionados a partir da estratégia PICO. Através destes termos, obteve-se descritores controlados e não controlados após consulta aos Medical Subject Headings (MeSH), List of Headings do CINAHL Information Systems e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). O quadro 02 descreve os descritores controlados e não controlados e a estratégia de busca utilizada em cada base.

Quadro 02: Descritores controlados e não controlados utilizados para construção da estratégia de busca nas bases Medline, Scopus, Cinahl e Lilacs*. Fonte: Dados da pesquisa, 2018. Legenda: DC – Descritor Controlado; DNC – Descritor Não Controlado.*Adaptado de Rocha, 2018 (10).

Quadro 2

A coleta dos dados ocorreu no período de junho a novembro de 2018. Foram adotados como critérios de inclusão artigos publicados entre janeiro de 2011 a dezembro de 2017 nos idiomas português, inglês e espanhol; pacientes adultos (maiores de 18 anos) em pós-operatório de cirurgia cardíaca, artigos que abordam a temática dos métodos não farmacológicos para manejo da dor aguda. Os critérios de exclusão foram: estudos em animais; artigos não disponíveis na íntegra; artigos duplicados, relato de caso, resumo de conferências, teses e dissertações, artigos de revisão, projetos de pesquisas clínicas, artigos que abordam dor crônica. As obras idênticas, repetidas em bases virtuais diferentes, foram eliminadas, considerando-se seu primeiro registro.

Durante a etapa de seleção dos dados, foi elaborado uma planilha no Microsoft Excel para extração de dados dos artigos selecionados, na qual continha informações referentes aos autores, título, periódico, ano, base de dados, local e desenho do estudo, objetivos, tipo e número participantes, principais resultados e conclusões de cada artigo. Ainda nesta etapa foi analisado o Nível de Evidência (NE) de cada artigo de acordo com a classificação de Oxford(11).

A análise dos dados foi realizada através da identificação de variáveis que possibilitou a construção de categorias temáticas. Os dados foram comparados através de um quadro contendo as principais variáveis e também de forma descritiva. Por último, a etapa de síntese do conhecimento produzido foi desenvolvida baseada nas principais evidências encontradas durante a fase de análise de dados.

RESULTADOS

A busca na literatura totalizou 42 artigos, dos quais 20 atenderam aos critérios de inclusão e foram selecionadas para este estudo. Após a leitura integral dos textos, realizou-se a exclusão de 10 artigos, sendo 03 por duplicidades nas bases de dados e 07 por se tratarem de revisões de literatura. Desse modo, a amostra deste estudo compreendeu 10 artigos que foram analisados. A figura 1 descreve o processo realizado durante a seleção dos estudos.

Figura 01: Processo de identificação, triagem e inclusão das produções científicas disponíveis nas bases de dados investigadas*. Fonte: dados da pesquisa, 2018. * Adaptado de Rocha, 2018 (10).

Figura 01

Os resultados encontrados mostraram predominância de ensaios clínicos randomizados com nível de evidência 1B – 6 (60%); publicados em periódicos de enfermagem – 5 (50%); estudos conduzidos por enfermeiros 9 (90%); estudos desenvolvidos nos Países do Oriente (Turquia, Irã e Síria) - 6 (60%); publicados no idioma inglês 10 (100%) e no ano de 2014 – 5 (50%).

Para análise dos dados e síntese do conhecimento adquiridos os artigos selecionados foram distribuídos em três categorias que representaram os principais métodos não farmacológicos abordados nos estudos: Crioterapia; Musicoterapia e Massagem terapêutica. O quadro 03 apresenta a distribuição dos artigos selecionados de acordo com a categoria, autores, ano de publicação, país, objetivo da pesquisa, população/amostra, tipo de estudo, principais recomendações e nível de evidência.

Figura 2

DISCUSSÃO

Nos resultados desta pesquisa, a maioria das produções foram ensaios clínicos randomizados, nível de evidência 1B – 6 (60%) e que evolveu amostras significativas. O predomínio de estudos com alta qualidade metodológica permite a generalização dos resultados e reuni evidência capazes de subsidiar a tomada de decisões na prática assistencial de enfermagem, sendo fundamentais para a realização do cuidado com segurança, eficácia e qualidade(10).

Pode-se observar a predominância de estudos publicados em periódicos de enfermagem – 6 (60%) e conduzidos por enfermeiros – 9 (90%), demonstrando o protagonista do enfermeiro no desenvolvimento de pesquisas relacionadas aos métodos não-farmacológicos para aplicação em sua prática profissional.

Todos os estudos encontrados envolveram cirurgia cardíaca aberta (com esternotomia mediana) de revascularização do miocárdio (RM) e/ou cirurgia de válvula cardíaca. Este achado pode estar relacionado ao fato de que recuperação desses tipos de cirurgias está associada a dor torácica intensa no local da esternotomia e também dor nos membros no local de coleta do conduto quando realizada a RM (cirurgia na qual se utiliza um segmento de artéria ou veia para desviar sangue da aorta para as artérias coronárias). Esses pacientes rotineiramente relatam dor leve a moderada, apesar de receberem drogas sedativas. A dor pode ser causada por incisões, retração e dissecção do tecido intra-operatório, múltiplas canulações intravasculares, inserção de drenos torácicos após a cirurgia e múltiplos procedimentos invasivos que os pacientes realizam como parte do esquema terapêutico(17).

O manejo da dor em adultos criticamente doentes deve ser baseado nas diretrizes clínicas recentes da Society of Critical Care Medicine (SCCM). Esta diretriz traz como potencial problema o fato de que a dor aguda no pós-operatório de cirurgia cardíaca é comum e mal manejada e recomenda o uso concomitante de métodos farmacológicos e não-farmacológicos para o manejo da dor(7).

Desta maneira, o plano interprofissional de cuidados para o manejo da dor aguda no pós-operatório de cirurgia cardíaca da equipe multiprofissional deve ser baseado nas diretrizes clínicas da SCCM e envolver tanto métodos farmacológicos quanto os métodos não-farmacológicos.

Nesta pesquisa, os principais métodos não-farmacológicos utilizados para o manejo da dor aguda no pós-operatório de cirurgia cardíaca foram a terapia com frio, a musicoterapia e a massagem terapêutica e essas terapias foram discutidas separadamente a diante para melhor explanação de seus conteúdos.

Terapia com Frio

Nesta categoria foi abordado o uso da terapia com frio (crioterapia) como uma técnica não-farmacológica para manejo da dor aguda em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca. A aplicação de calor/frio é um cuidado presente na Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC) e é definida como “estimulação da pele e tecidos subjacentes, com calor ou frio, para reduzir dor, espasmos musculares ou inflamação”(19).

A crioterapia tem sido utilizada há anos como um método não-farmacológico de alívio da dor. O frio induz à vasoconstrição que pode limitar a permeabilidade do vaso e, portanto, os processos inflamatórios, reduzindo a dor muscular. O frio também diminui a velocidade de condução nervosa e aumenta o limiar de dor(5).

A terapia com frio é um método simples, eficaz, seguro, barato e com poucas complicações ou sem efeitos colaterais. É uma intervenção de enfermagem que diminui o uso de analgésicos e agentes anti-inflamatórios, relaxa espasmos, aumenta a mobilidade, melhora a reabilitação e diminui a duração da permanência hospitalar(12-13).

Os resultados desta pesquisa demonstraram que a terapia com frio foi eficaz no manejo dor aguda relacionada à realização de exercícios de respiração no pós-operatório de cirurgia cardíaca com reduções significativas nos escores de dor P<0,001 (12); P<0,01 (13). Pacotes de gel frio foram utilizados diretamente sobre o curativo esternal por 15 e 20 minutos antes da realização destes exercícios (12-13). Em seguida os pacientes foram instruídos a realizar 03 ciclos de respiração profunda seguida de um episódio de tosse. O espirômetro de incentivo (volumétrico) também foi utilizado em um estudo durante 10 inspirações (13).

A dor após a cirurgia cardíaca com esternotomia pode levar a uma diminuição dos movimentos respiratórios, fraqueza muscular abdominal e intercostal e expansão pulmonar inadequada, bem como diminuição da capacidade e volume inspiratório devido à ineficácia da tosse e imobilidade. Essas mudanças contribuem para o desenvolvimento de complicações pulmonares pós-operatórias, como pneumonia e atelectasia, que são as principais causas de mortalidade nestes pacientes (13).

Os exercícios de tosse e respiração profunda são importantes para prevenir essas complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgia cardíaca. No entanto, esses exercícios são uma das intervenções de enfermagem mais dolorosas nos dois primeiros dias após a cirurgia. A dor durante exercícios de respiratórios está relacionada à abertura da caixa torácica, pressão na ferida e estresse nas linhas esternais, resultando em expansão pulmonar inadequada e tosse ineficaz (13).

Abordagens farmacológicas como acetaminofeno, morfina e hidromorfina têm sido usadas comumente no controle da dor no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Porém, as intervenções farmacológicas sozinhas não conseguem controlar o aumento da dor, especialmente a dor relacionada à respiração profunda e à tosse, sendo necessário o uso concomitante de métodos não-farmacológicos. O presente estudo revelou que crioterapia poderia ser preferida como uma terapia não-farmacológica para o manejo da dor na incisão esternal associada aos exercícios de respiração profunda em pacientes submetidos à esternotomia (13).

Os resultados desta pesquisa também demonstraram que a crioterapia foi eficaz no manejo dor aguda relacionada à remoção do dreno torácico no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio com diferenças significativas na intensidade da dor imediatamente (P= 0,001) e 15 minutos após a remoção do dreno torácico (P=0,01). A crioterapia foi utilizada através de três pacotes de géis frios envolvidos por gazes que foram colocados ao redor do dreno torácico por 10 minutos até a temperatura atingir 13 ° C. Em seguida, os pacotes de géis foram retirados e o dreno torácico foi removido (5).

A inserção de drenos torácicos após a revascularização do miocárdio é realizada para manter o coração e o funcionamento pulmonar e é essencial para evitar derrame pleural, pneumotórax e hemotórax. A manutenção destes drenos no local, no entanto, está associada a um aumento de dor e desconforto para o paciente, irritação mecânica do coração e pericárdio e ao aumento da incidência de infecção. Os drenos torácicos são tipicamente removidos dentro de 24-48 horas após a cirurgia ou quando o excesso de ar, sangue ou líquido é drenado adequadamente. No entanto a remoção destes drenos após a cirurgia tem sido descrita como uma das piores experiências entre esses pacientes (5).

Embora a forma usual de controle da dor seja a prescrição de analgésicos, a retirada dos drenos torácicos continua sendo dolorosa mesmo com o uso de métodos farmacológicos (5). A SCCM recomenda em suas diretrizes que os métodos farmacológicos sejam utilizados em concomitante com as intervenções não-farmacológicas para aliviar a dor em pacientes adultos internados em UTIs antes da remoção do dreno torácico (7). Deste modo, a aplicação de frio se mostrou um método não-farmacológico efetivo no manejo da dor relacionada à remoção do tubo torácico no pós-operatório de cirurgia cardíaca.

Musicoterapia

A musicoterapia é uma intervenção de enfermagem utilizada para o manejo da dor aguda e é definida pela NIC como “uso da música para ajudar a alcançar uma mudança específica no comportamento, sentimentos ou fisiologia” (19). Nesta categoria temática foi abordado o uso da terapia com música como uma técnica não-farmacológica para manejo da dor aguda em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca.

Durante a terapia com música, ocorre uma convergência entre a entrada sensorial (como a música ambiente) e a saída neural (através do sistema nervoso central) que regula as respostas da dor e do estresse (14). Ouvir música também libera endorfinas e reduz os níveis de catecolaminas, resultando em menor pressão sanguínea e menor necessidade de analgésicos. As vantagens na utilização deste método no alívio da dor são a ausência de efeitos colaterais, riscos mínimos e baixos custos (15).

Os resultados desta pesquisa demonstraram diminuições significativas nos escores médios de dor com a utilização da musicoterapia no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio e/ou cirurgia de válvula cardíaca (P= 0,001 (14-15); P= 0,04 (4)). A terapia com música foi utilizada com técnicas diferentes entre os estudos selecionados: 20 minutos de música gravada com sons da natureza (14); 30 minutos de músicas suaves, relaxantes e de variedades diferentes (clássica, folclórica ou arte musical) que foram selecionadas pelos pacientes (15) e 30 minutos de música sedativa (música sem letras e com uma qualidade melódica sustentada, com uma taxa de 60-80 batidas por minuto e uma ausência geral de ritmos fortes ou percussão) (4).

Apesar das técnicas diferentes entre os estudos na utilização da musicoterapia, os resultados foram significativos, demonstrando ser um método simples, seguro e eficaz de reduzir respostas fisiológicas potencialmente nocivas decorrentes da dor em pacientes após cirurgia cardíaca aberta.

Para pacientes de cirurgia cardiovascular, a musicoterapia pode fornecer um meio adicional para lidar com sintomas comuns de dor e ansiedade, ao mesmo tempo em que proporciona um meio de relaxamento. Além disso, pode proporcionar uma nova realidade perceptiva para que o ambiente hospitalar seja reconfortante, ajudando o paciente a contrapor sentimentos de dor e ansiedade (14).

A música é uma intervenção de enfermagem barata, não farmacológica e não invasiva, que não tem efeitos colaterais e pode ser eficaz junto com outros métodos para o manejo da dor. No entanto, a música tem uma implicação cultural e estudos insuficientes foram realizados em países como o Brasil (4).

Massagem Terapêutica

Nesta categoria foi abordado o uso da massagem terapêutica como uma técnica não-farmacológica para manejo da dor aguda em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca. A massagem terapêutica é uma intervenção de enfermagem definida pela NIC como “estimulação da pele e tecidos subjacentes com graus variados de pressão manual para reduzir dores, produzir relaxamento e/ou melhorar a circulação” (19).

Os efeitos da massagem no alívio da dor têm sido explicados usando a teoria do controle do portão de transmissão e modulação da dor, sugerindo a que a massagem pode ser eficaz em “fechar o portão” - isto é, inibir a transmissão de estímulos nocivos, estimulando grandes fibras nervosas que demonstraram alterar a percepção da dor. Deste modo, a massagem estimula as fibras nervosas não dolorosas, libera endorfinas e tem a capacidade potencial de auxiliar no alívio da dor (17).

Em dois estudos selecionados nesta pesquisa, o uso da massagem terapêutica para o manejo da dor em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca teve reduções significativas na intensidade da dor P=0,001 (16); P<0,001 (17). Em um estudo os pacientes do grupo intervenção receberam uma escolha de áreas a serem massageadas por 20 minutos, como ombros, costas, pescoço, couro cabeludo, mãos, pés ou pernas (16). No outro estudo, os pacientes do grupo intervenção receberam duas sessões de 20 minutos de massagem nas mãos e nos pés (5 minutos para cada extremidade) (17).

Em outro estudo selecionado por esta pesquisa, apesar de não ter tido resultados estatisticamente significativos, a intensidade da dor e os escores comportamentais foram diminuídos para o grupo experimental onde os pacientes receberam massagem nas mãos por 15 minutos. Também neste estudo, a intensidade da dor diminuiu de moderada para leve desde o início até 30 minutos após a massagem das mãos entre os pacientes do grupo experimental (2). A efetividade e a viabilidade destes resultados foram avaliadas pelos mesmos autores em um outro estudo onde aumentar a aceitação da equipe, envolver os familiares na terapia e repetir a intervenção mais frequentemente e após a alta da UTI foram propostas a serem consideradas (18).

A massagem terapêutica pode atuar como um complemento não farmacológico útil ao tratamento padrão pós-operatório de pacientes de cirurgia cardíaca. O desconforto físico experimentado pelos pacientes de cirurgia cardíaca resulta de uma variedade de fatores, incluindo trauma e manipulação do corpo durante a cirurgia, a imobilidade por vários dias subsequentes e as manifestações físicas do estresse psicológico. A massagem terapêutica aborda tanto os sintomas físicos quanto os psicológicos, reduzindo a tensão muscular e dor, diminuindo a ansiedade e aumentando o relaxamento, se constituindo em uma intervenção de enfermagem custo-efetiva (16).

CONCLUSÃO

O estudo fornece evidências científicas que apoiam o uso da terapia com frio, da musicoterapia e da massagem terapêutica como métodos não-farmacológicos efetivos no controle da dor aguda no pós-operatório de cirurgia cardíaca. É aconselhável que essas terapias se tornem parte dos cuidados de enfermagem para o paciente com dor aguda, pois demonstraram serem eficazes, seguras, flexíveis, não-invasivas, fáceis de serem aplicadas, baratas e sem efeitos colaterais. Os enfermeiros que utilizam esses métodos não-farmacológicos como intervenções de enfermagem promovem a autonomia da enfermagem e a ideia de que são profissionais capazes de afetar o ambiente dos pacientes.

Desta maneira, os métodos não-farmacológicos citados são intervenções de enfermagem que podem ser facilmente incorporados aos protocolos interprofissionais de manejo da dor aguda no pós-operatório de cirurgia cardíaca.

Como propostas futuras, levando em conta a implicação cultural na utilização dessas abordagens complementares, considera-se que mais estudos utilizando métodos não-farmacológicas sejam realizados no Brasil entre a população de pós-operatório de cirurgia cardíaca.


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