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REVIEW ARTICLES

Nursing evidence-based inteprofissional practice guidelines for sleep deprivation in ICU - systematic literature review


Prática interprofissional de enfermagem baseada em evidência sobre privação do sono em UTI – revisão sistematizada da literatura


Eloá Lamonica Garcia Ferreira1, Isabel Cristina Fonseca da Cruz1

1Universidade Federal Fluminense


ABSTRACT

Introduction: The Intensive Care Unit is, in its essence, a constant surveillance environment, thus, it ends up leaving the patient susceptible to sleep deprivation and leaving aside some aspects of humanization, focusing only on the technical part. Objective: To review the inter-professional guidelines based on evidence that will help the intensivist nurse in the identification and treatment of the nursing care conduct related to the care of high complexity patients with sleep deprivation, in Context of the Interprofessional team. Methodology: This is a bibliographical study based on an integrative review, through computerized research, with the survey of scientific evidence. Results: Sleep is important to conserve body energies, and if not, it can reduce pain resistance, because the sympathetic central nervous system has its increased fatigue, which in turn causes the increase in the use of drugs to can Exercise control over pain, which contributes to sleep deprivation. Conclusion: Sleep in ICU patients has been insufficient due to continuous pauses for procedures performed at the bedside and environment with stressors, not reaching their restorative function, directly influencing the recovery these.

Key-words: Critical care, adult and sleep deprivation.


RESUMO

Introdução: A Unidade de Terapia Intensiva é, em sua essência um ambiente de vigilância constante, sendo assim, acaba por deixar o paciente suscetível à privação do sono e deixando de lado alguns aspectos de humanização, focando apenas na parte técnica. Objetivo: Revisar as diretrizes interprofissionais com base em evidência que ajudarão ao enfermeiro intensivista na identificação e tratamento da conduta de cuidados de enfermagem relacionados ao cuidado do paciente de alta complexidade com privação do sono, no contexto da equipe interprofissional. Metodologia: Trata-se de um estudo bibliográfico a partir de uma revisão integrativa, através de pesquisa computadorizada, com o levantamento de evidências científicas. Resultados: O sono é importante para se conservar as energias corporais, e caso não aconteça, pode reduzir a resistência à dor, porque o sistema nervoso central simpático tem a sua fadiga aumentada, que por sua vez, causa o aumento na utilização de drogas para que se possa exercer o controle sobre a dor, que contribui para a privação do sono. Conclusão: O sono em pacientes de UTI tem se mostrado insuficiente, devido à pausas contínuas para procedimentos realizados à beira leito e ambiente com estímulos estressores, não alcançando sua função restaurativa, influenciando diretamente na recuperação destes.

Descritores: Cuidados Críticos, Adulto e Privação do sono.


INTRODUÇÃO

O sono de má qualidade é uma situação pouco questionada em UTI’s. O sono nesse ambiente potencialmente hostil, é caracterizado pela sua extrema interrupção e arquitetura não convencional, com predomínio de fases leves e limitadas.

A Unidade de Terapia Intensiva é, em sua essência um ambiente de monitorização e vigilância constante do paciente. Posto isso, acaba por deixar o paciente suscetível à privação do sono e deixando de lado alguns aspectos de humanização, focando apenas na parte técnica e fisiológica.

O sono desempenha um aspecto fundamental para a vida do ser humano, pois possui função reparadora, de conservação de energia, de proteção e imunológica. É definido como um processo complexo influenciado por fatores biológicos e ambientais.

O sono e repouso como uma necessidade fundamental do ser humano, capaz de influenciar diretamente na qualidade de vida. Além do mais, a privação do sono interfere no bem estar mental e físico do paciente. O que leva a grave prejuízo funcional no desempenho dos papéis sociais.

A privação deste importante fator pode causar alterações na resistência à infecções e na função imunológica. Podendo afetar de forma negativa a recuperação do paciente.

A pessoa internada em unidades de cuidados intensivos vivencia um processo adaptativo. Uma vez que se depara com um ambiente desconhecido, que pode causar alteração nos padrões normais do sono.

Situação–problema: Escassez de informação sobre a prática interprofissional com base evidências científicas e suas diretrizes para o diagnóstico e prescrição de enfermagem para o paciente de alta complexidade. Sob cuidados intensivos.

Objetivo: Diretrizes interprofissionais com base em evidência que ajudarão ao enfermeiro intensivista na identificação e tratamento da conduta de cuidados de enfermagem relacionados ao cuidado do paciente de alta complexidade com privação do sono, no contexto da equipe interprofissional.

Questão prática: Como otimizar o cuidado interprofissional do paciente de alta complexidade com privação do sono, por meio da prática de enfermagem baseada em evidência?

QUADRO 1: Descrição dos componentes da estratégia PICO

Quadro 1

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo bibliográfico a partir de uma revisão integrativa, realizada através de pesquisa computadorizada, com o levantamento de evidências científicas. Seguindo as etapas de PICO.

O mesmo inclui que para uma boa tomada de decisões utilizamos a análise de pesquisa que nos permite ter o conhecimento mais amplo, reduzindo incertezas e possibilitando assim uma conclusão precisa sobre o determinado assunto.

O estabelecimento de critérios para estudos, deu-se através da busca dos descritores estabelecidos no portal da BVS, onde P se deu como: Cuidados Críticos, Adulto e Privação do sono; I se deu como ruído e O como repouso. Foi considerado como critério de inclusão os artigos em português, período de 2011 à 2017, textos completos e com concordância ao tema descrito. O período da coleta ocorreu entre setembro e novembro de 2018.

É notório que a revisão de literatura é a base para redação científica. É nesta que o pesquisador se familiariza com os textos, identifica os pontos chaves e autores que vem escrevendo sobre o problema pesquisado.

RESULTADOS

Buscou-se apontar as questões mais freqüentemente discutidas em artigos de pesquisa em banco de dados da Revista Medline e BDENF que tivessem como temática a privação do sono em UTI. Inicialmente, foram encontrados 70 artigos. Após novo refinamento, de acordo com os requisitos pré-estabelecidos, a amostra foi constituída por 10 artigos de periódicos, como mostra a seguir:

QUADRO 2: Artigos selecionados para revisão integrativa, seguindo o nível de evidência pela Oxford:

Quadro 2

DISCUSSÕES

As alterações do sono na pessoa internada nas Unidades de Cuidados Intensivos, são um fenômeno comum, devido a própria estrutura desta tipologia da unidade. Assim, torna-se fundamental sensibilizar os profissionais de saúde sobre esta temática, incidindo posteriormente da sua formação.(5)

O Processo de Enfermagem (PE) – considerado a base de sustentação da SAE – é constituído por cinco fases interdependentes na prática clínica: coleta de dados, diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação.

Nesta temática, o Diagnóstico de Enfermagem (DE) é entendido como uma descrição de resposta humana, das condições de saúde e processos vitais que existem em um indivíduo que influenciam diretamente o estado de saúde. O DE é identificado por meio de uma classificação implementada por uma organização internacional conhecida como North American Nursing Diagnosis Association.(11)

As características definidoras do Diagnóstico de Enfermagem (DE) “padrão de sono prejudicado” nos pacientes é “relato de ficar acordado” e “relato de dificuldade para dormir”. Dos 13 fatores relacionados descritos na NANDA para o DE “padrão de sono prejudicado”, quatro são identificados nos pacientes: “interrupções”, “ruídos”, “mobiliário estranho para dormir” e “temperatura ambiente”.(11)

Os DE mais frequentes no estudo mencionado são: nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais, risco de infecção, risco de aspiração, integridade da pele prejudicada, desobstrução ineficaz de vias aéreas, integridade tissular prejudicada, hipertermia, termorregulação ineficaz, conforto prejudicado, eliminação urinária prejudicada, diarréia, enfrentamento a estresse.(11)

O sono tem efeito direto com recuperação do paciente estando interligado com seu sistema imunológico, com a suscetibilidade do paciente à infecções, à transtornos psicológicos e sua percepção no ambiente hospitalar.(3)

É importante para se conservar as energias corporais, e caso não aconteça, a pessoa estará sujeita à sonolência diurna, fadiga, humor alterado e períodos de desorientação. Pode também reduzir a resistência à dor, porque o sistema nervoso central simpático tem a sua fadiga aumentada, o que, por sua vez, causa o aumento na utilização de drogas para que se possa exercer o controle sobre a dor, que contribui para a privação do sono. Portanto, o sono constitui uma necessidade humana básica que merece receber toda a atenção e intervenções por parte do enfermeiro.(10)

O sono é definido cientificamente como um conjunto de alterações comportamentais e fisiológicas que ocorrem de forma conjunta e em associação com atividades elétricas cerebrais características. É um estado comportamental complexo, no qual exige uma postura relaxada típica, a atividade motora encontra-se reduzida ou ausente e há um elevado limiar para resposta a estímulos externos.(4,6)

A privação do sono é comum nestes pacientes e pode estar associada a maior incidência de morbidade, mortalidade e existência de delírio.(5)

A mudança na rotina provoca alterações no sono e no funcionamento mental, físico, ocupacional e sexual do indivíduo que, em resposta, busca alternativas para restaurar o equilíbrio de seu sono e avaliar ou excluir os sintomas.(9)

A UTI é um ambiente de alta complexidade, cujo funcionamento é tradicionalmente baseado em monitorização e vigilância constante. Como resultado, aspectos físicos e técnicos ao paciente são priorizados, e alguns elementos humanizados do cuidado podem não ser considerados. O sono do paciente crítico é assunto de crescente interesse na literatura, e evidências demonstram que o sono na UTI é caracterizado pela baixa qualidade.(2)

Enfermeiros que trabalham em Unidade de Terapia Intensiva não possuem o completo entendimento da importância do sono e das intervenções necessárias para promovê-lo.(7)

A privação do sono na UTI permanece sendo uma situação recorrente, apesar da promoção do sono ser considerada fundamental no cenário da saúde, no entanto, o grau em que a privação do sono pode ser associada à prestação de cuidados de enfermagem permanece obscura.(7)

Vários fatores estão relacionados com a privação do sono em pacientes críticos, esses incluem fatores ambientais, como: ruídos, luminosidade e atividades do cuidado; Fatores intrínsecos: relacionados ao paciente e a sua condição aguda de doença e/ou injúria; e ainda aqueles relacionados ao tratamento em curso, como o suporte ventilatório e a terapia medicamentosa.(2)

Pacientes em unidade de atendimento crítico necessitam de um sono ininterrupto e de qualidade, mas são esses mesmos pacientes que estão em alto risco de perder o sono e/ou apresentar um sono de pouca qualidade.(7)

Evidências sugerem que a promoção do sono na UTI seja alcançada via intervenções multifacetadas, focadas na minimização multifatorial das perturbações do sono noturno e na manutenção dos ciclos sono-vigília. Destacam-se, assim, quatro principais abordagens: Controle dos níveis de ruídos e de luminosidade noturna, melhoria do conforto do paciente e organização das atividades assistenciais possibilitando períodos ininterruptos de sono. A redução do ruído pode ser obtida através dos ajustes dos alarmes de monitores, ventiladores, diminuição da campainha telefônica, fechamento de portas, minimização de conversas e oferta de tampões de ouvido.(2)

Níveis de luz podem ser reduzidos através da diminuição da luminosidade e dos quartos, adjacências e do oferecimento de máscaras para olhos. As melhorias no conforto do paciente incluem ajuste na VM, otimizando a sincronia paciente-ventilador, alívio adequado da dor, técnicas de relaxamento, como massagem, musicoterapia e escutas de som de oceano e ainda administração de fármacos quando necessários como zoopidem, haloperidol ou ainda melatonina. Atividades assistenciais como realização de exames e coleta de sangue, cuidados de higiene e administração de medicamentos devem ser planificados para evitar interrupções desnecessárias do sono.(2,5)

A elaboração de protocolos ou criação de bundles sobre como melhorar a qualidade de sono destes clientes, a identificação de fatores que interferem na qualidade do sono, o planejamento e a implementação de estratégias são medidas relevantes que ao proporcionarem uma melhoria na qualidade do sono da pessoa internada, potencializam a qualidade dos cuidados prestados.(5)

O ruído ambiental já foi descrito como o principal fator perturbador do sono, pontuando conversas de pessoal, alarmes de monitores e de bombas de infusão, telefones e televisão são apontados como principal fonte.(2)

Pesquisas futuras devem ser direcionadas a identificação de um método de monitoramento/protocolos do sono precisos e viáveis, para facilitar a implementação de estratégias de promoção e recuperação do sono, simultaneamente, diminuir as complicações associadas à privação do sono.(6)

Estima-se que a pouca preocupação dos profissionais com a qualidade do sono dos pacientes internados em UTI, esteja relacionada a pouca discussão da temática na prática clínica. Assim, recomenda-se que a qualidade do sono seja incluída na agenda de discussões dos profissionais, de modo que o sono também seja foco do cuidado de enfermagem.(8)

CONCLUSÃO

Neste trabalho foi abordado o assunto: Como otimizar o cuidado interprofissional do paciente de alta complexidade com privação do sono por meio da prática de enfermagem baseada em evidências, onde se pôde concluir que se trata de um tema de suma importância, por impactar diretamente na qualidade de vida do paciente.

Ao atingir o objetivo da pesquisa realizada, concluo que o sono em pacientes hospitalizados tem se mostrado insuficiente, devido à pausas contínuas para procedimentos realizados à beira leito e ambiente inadequado com estímulos estressores, não alcançando sua função restaurativa, influenciando diretamente na recuperação destes pacientes.

Sendo assim, torna-se indispensável que a equipe multidisciplinar esteja sempre atenta e unida na missão de tornar todos os profissionais da área de saúde atentos, desenvolvendo humanização e aplicando a empatia com o doente, para que possamos reduzir os riscos.

Vale ressaltar que é importante o treinamento contínuo das equipes de saúde e sensibilização para que evitem a interrupção do sono destes clientes, priorizando e estipulando horários viáveis para procedimentos de rotina, promovendo maior descanso e assistência humanizada na Unidade de Terapia Intensiva.

Ao término desta pesquisa percebeu-se que as intervenções assistenciais podem prejudicar o sono dos pacientes internados em CTI, portanto recomenda-se que os profissionais de saúde repensem o planejamento de suas intervenções assistenciais, e introduzam novas práticas para melhorar a qualidade do sono de pacientes internados em CTI. Diante disso, torna-se necessário o planejamento das intervenções assistenciais, de acordo com a demanda de cada paciente e com diversificação de horários. Recomenda-se a padronização da realização das intervenções assistenciais de forma agrupada que permita o desenvolvimento do ciclo de sono noturno completo de aproximadamente 90-110 minutos.

Por fim, ao mesmo tempo em que protocolos para a promoção do sono na Unidade de Terapia Intensiva estejam sendo estudados e posteriormente venham a ser implantados, ainda não está definido o quanto do sono pode ser melhorado nesses pacientes, nem quais são as melhores estratégias para sua promoção. Enquanto todos esses questionamentos não forem respondidos, parece adequado oferecer aos pacientes condições para um sono reparador quando tal objetivo puder ser alcançado de forma segura.


REFERÊNCIAS

  1. Johnson M, Maas M, Moorhead S. Classificação dos resultados de Enfermagem (NOC). 5°th Edição. Rio de Janeiro. Elsevier; 2016.
  2. Beltrami FG, Nguyen XL, Pichereau C, Maury E, Fleury B, Fagondes S. Sono na Unidade de Terapia Intensiva. Revista JBP. Porto Alegre-RJ. 2015;
  3. Alves JCA, Gardenghi G. Avaliação do sono em pacientes hospitalizados em Unidade de Terapia Intensiva: Revisão de literatura. São Paulo-SP, 2015;
  4. Neves GSML, Macedo P, Gomes MM. Transtornos do sono: Atualização (1/2). Revista Brasileira de Neurologia, Vol.53. Rio de Janeiro-RJ, 2017;
  5. Pascoal JFC, Marques RMD, Ribeiro PSV. Fatores que influenciam a qualidade do sono em Unidade de Cuidados Intensivos. Revista CuidarteEnfermagem. Lisboa-Portugal, 2016;
  6. Neves GSML, Giorelli AS, Florido P, Gomes MM. Transtornos do sono: Visão geral. Revista Brasileira de Neurologia. Volume 49. Rio de Janeiro-RJ, 2013.
  7. Almeida SRD, Silva BP, Souza OMJ, Magro SCM. Sono como necessidade humana básica no cenário do paciente crítico. Revista de enfermagem UFPE online. Volume 10. Recife, 2016;
  8. Chianca TCM, Souza CC, Hamze FL. Influência das intervenções assistenciais na continuidade do sono de pacientes em unidade de terapia intensiva. Revista Latino-Americana de Enfermagem. Viçosa-MG, 2015;
  9. Muller MR, Guimarães SS. Impacto dos transtornos do sono sobre o funcionamento diário e a qualidade de vida. Estudos de Psicologia. Campinas, 2013;
  10. Santos MFR, Filho ERA. Atuação do enfermeiro na alteração do sono em pacientes idosos hospitalizados em UTI, SEMI-INTENSIVA. Simpósio de TCC e Seminário de IC. Brasília-DF, 2016;
  11. NANDA,Diagnostico de enfermagem da NANDA: Intervenções,prioridades,fundamentos /Marilynn E. Doengens,Mary Frances Moorhouse,Alice C. Murr; revisão técnica: Sônia Regina de Souza ;[tradução Carlos Henrique Cosendy].-Rio de janeiro,2014.




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