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REVIEW ARTICLES

Nursing evidence-based interprofissional guidelines for impaired deglutition in ICU - systematized literature review


Prática interprofissional de enfermagem baseada em evidência sobre deglutição prejudicada na UTI - revisão sistematizada da literatura


Ricardo Augustinho de Faria1, Isabel Cristina Fonseca da Cruz1

1Universidade Federal Fluminense


ABSTRAC

The Intensive Care Unit (ICU) is identified as an indicated unit for patients requiring specialized care and continuous monitoring. Nursing care at an ICU requires the clinician to take a clinical approach to quickly identify the health conditions of each admitted patient, due to the severity and complexity of each patient. It is known that food is an important factor for the maintenance of life, source of pleasure and important for the development of human beings. Diffusion is defined as impaired difficulty or swallowing, may be present in varying degrees and may range from difficulty in chewing to complete inability to swallow. The purpose and to highlight the importance of the integrated care of nursing and interprofessional team to the client with diagnosis of nursing of deglutition impaired. Systematic review of the literature of 10 scientific articles published between the years 2011 to 2017 in the LILACS, MEDLINE and SCIELO databases, which met the inclusion and exclusion criteria of the study. It is concluded that because the nurse is the closest professional that is of the patient during his / her hospitalization in the ICU, he / she may be the first professional to detect the existence of an alteration and they are the ones that have to involve other professionals of the interprofessional team without forgetting to involve the patient and his family in this team. Thus, a good nursing assessment is necessary, it will be important to understand each patient's intake pattern and changes.

Key-words: Deglutition / Rehabilitation disorders; Tracheostomy; Intensive care units; Deglutition, Nursing Diagnoses.


RESUMO

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é identificada como uma unidade indicada para pacientes que necessitam de atenção especializada e monitorização. A assistência de enfermagem numa UTI exige do enfermeiro um olhar clínico criterioso para identificar rapidamente as condições de saúde de cada paciente, devido à gravidade e complexidade de cada um. Sabe-se que a alimentação é um fator importante para a manutenção da vida, e importante para o desenvolvimento dos seres humanos. A disfagia define-se como dificuldade ou deglutição prejudicada, pode estar presente em vários graus e pode ir desde a dificuldade na mastigação até a incapacidade completa. O objetivo e evidenciar a importância do cuidado integrado de enfermagem e equipe interprofissional ao cliente com diagnóstico de enfermagem de deglutição prejudicada. Revisão sistematizada da literatura de 10 artigos científicos publicados entre os anos 2011 a 2017 nas bases de dados LILACS, MEDLINE e SCIELO, que atendiam os critérios de inclusão e exclusão do estudo. Conclui-se que o enfermeiro por ser o profissional mais próximo que se encontra do paciente durante sua internação na UTI, pode ser o primeiro profissional a detectar a existência de uma alteração e são os que capacidade têm de envolver outros profissionais da equipe interprofissional.

Palavras-chave: Transtornos de deglutição/Reabilitação; Traqueostomia; Unidades de terapia intensiva; Deglutição, Diagnósticos de Enfermagem.


INTRODUÇÃO

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é caracterizada como um ambiente de internação para pacientes em estado crítico de saúde e que necessitam de atenção especializada e contínua.(1) Assim a assistência da enfermagem em UTI exige do enfermeiro identificação rápida e acurada das condições de saúde de cada indivíduo, devido a gravidade e instabilidade dos pacientes e complexidade de atenção requerida.

Sabe-se que a alimentação é um fator importante para a manutenção da vida, fonte de prazer e importante para o desenvolvimento dos seres humanos. Portanto, qualquer alteração nesse processo pode ocasionar transtornos graves com conseqüências que afetam a qualidade de vida das pessoas.(2)

A disfagia define-se como uma dificuldade ou deglutição prejudicada. Pode estar presente em vários graus e pode ir desde a dificuldade na mastigação até a completa incapacidade em deglutir sólidos e líquidos.(3)

A deglutição prejudicada é um distúrbio relacionado a conseqüências graves, tais como a desnutrição, desidratação, pneumonia de aspiração, enfermidades do sistema nervoso central e distúrbios neuromusculares.

O Paciente com o diagnóstico de enfermagem de deglutição prejudicada pode apresentar engasgos, tosse, regurgitação nasal dos alimentos e pneumonias de repetição.

O papel da equipe de enfermagem no cuidado de Pacientes com deglutição prejudicada é identificar, avaliar, controlar e impedir as complicações relacionadas a mesma.(4)

A resolução do COFEN-272/2002 determinou que a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma incumbência privativa do enfermeiro e ressalta a obrigatoriedade da implantação da mesma em todas as instituições de saúde, sejam estas de caráter público ou privado.(5)

O diagnóstico de enfermagem fornece critérios importantes para avaliação da assistência prestada, dá suporte e direção ao cuidado, facilita a pesquisa e o ensino, delimita as funções independentes de enfermagem, estimula o cliente a participar de seu tratamento e do plano terapêutico e contribui para expansão de um corpo de conhecimentos próprios para enfermagem.(6)

Situação-problema: escassez de informação sobre a prática interprofissional, com base e evidências científicas que ofereçam indicadores das prescrições de enfermagem para o paciente de alta complexidade com diagnostico de deglutição prejudicada sob cuidados intensivos. Objetivo: Revisar as diretrizes interprofissionais com base em evidência que ajudarão à (ao) enfermeira (o) intensivista na identificação e tratamento da conduta de cuidados de enfermagem relacionados ao paciente com a deglutição prejudicada.

QUESTÃO PRÁTICA:

Como otimizar o cuidado interprofissional do(a) paciente de alta complexidade com a deglutição prejudicada por meio da prática de enfermagem baseada em evidência?

QUADRO 1: Descrição dos componentes da estratégia PICO (Niterói, 2018).

Quadro 1

METODOLOGIA

O estudo utilizou como método a revisão sistematizada da literatura para trazer o que já existe publicado sobre o tema em questão. Que se caracteriza como um estudo baseado em dados retirados de estudos primários, os quais através de artigos são obtidos os resultados da pesquisa. E para a realização desta revisão, seguiu-se a elaboração da pergunta de pesquisa; busca na literatura; seleção dos artigos; extração dos dados; avaliação da qualidade metodológica; síntese dos dados; avaliação da qualidade das evidências e resultados.

Essa busca foi realizada em no mês de setembro de 2018, nas bases de dados LILACS, MEDLINE e SCIELO os termos utilizados para a busca (keywords/descritores) foram Transtornos de deglutição/Reabilitação; Traqueostomia; Unidades de terapia intensiva; Deglutição, Diagnósticos de Enfermagem. Através do Portal de Pesquisa da Biblioteca Virtual em saúde (BVS), utilizando os seguintes filtros: texto completo disponível; idioma: português; ano de publicação de 2011 a 2017; tipo de documento: artigo completo. Tendo como critérios de inclusão: artigos relacionados com a temática da pesquisa proposta, tendo adulto/idoso como público alvo, pacientes da Unidade de terapia Intensiva, com fatores de risco para deglutição prejudicada. E de exclusão: repetições de artigos em mais de uma base de dado e artigos que falavam do tema, porém não relacionados com adulto/idoso.

Com os dados obtidos, foi realizada uma tabela que representa as principais evidências encontradas. Incluindo autores, objetivo da pesquisa, força da evidência, tipo de estudo, principais achados e conclusões dos autores. Para a classificação da força de evidência foi utilizada como referência a escala de Oxford Centre for Evidence-based Medicine.

RESULTADOS

As publicações trouxeram questões relacionadas a sistematização da assistência de enfermagem, apontando suas principais intervenções para o diagnóstico de deglutição prejudicada, pondo em relevância a contribuição para a melhora do paciente. Diante disso, os artigos achados estão dispostos no quadro abaixo.

Quadro 2: Pesquisa dos artigos.

Publicações localizadas nas bases de dados segundo Autor (es), Data e País, Objetivo da pesquisa, Força da evidência, Tipo do estudo e instrumentos, principais achados. Niterói, 2018.

Quadro 2

DISCUSSÃO

Observando a rotina diária da unidade de tratamento intensivo, foi evidenciado que a equipe interprofissional considera o fonoaudiólogo como o profissional responsável pela reabilitação de pacientes com alteração da deglutição.

Fator importante e que deve ser levado em consideração é que o tratamento das disfagias tem caráter interprofissional e pode envolver, em algum momento, outros profissionais, além do fonoaudiólogo, embora os dados da literatura apontem que o fonoaudiólogo é o profissional para avaliar e tratar a deglutição, além da função de todo processo de alimentação de forma globa(l.7)

A literatura afirma ser um dos papéis da equipe de enfermagem o de detectar os sinais de dificuldades da deglutição.(8 9)

A realização de uma avaliação de enfermagem será pertinente no sentido de compreender o padrão de ingestão de cada indivíduo e de identificar eventuais défices.(10)

O principal objetivo do tratamento da disfagia é nutrir e hidratar o doente de forma adequada. A melhor e mais funcional forma de o fazer é através da alimentação oral. Se tal não for possível, existe a possibilidade de implementar alimentação entérica (sonda nasogastrica ou gastrostomia) como uma alternativa mais segura e mais agradável para o doente, até que este recupere. A recuperação da disfagia pode demorar dias, semanas, meses e até anos, dependendo do grau de gravidade e das capacidades físicas, neurológicas e cognitivas do doente.(11)

Existem vários métodos de tratamento da disfagia como, o fortalecimento muscular, manobras compensatórias, estimulação neuromuscular. Existem também estudos de investigação sobre agentes farmacológicos envolvidos no metabolismo da dopamina que podem melhorar a deglutição e o reflexo da tosse nos idosos.(12)

Sabe-se, com relação aos cuidados no cliente com a deglutição prejudicada a equipe de Fonoaudiologia, que as pesquisas encontradas falam da importância da atuação do fonoaudiólogo para minimizar as complicações oriundas da disfagia orofaríngea. Elas referem que o fonoaudiólogo é o profissional responsável pela avaliação e reabilitação da deglutição e que deve promover a identificação precoce do comprometimento da deglutição, modificações dietéticas, ajustes posturais e as medidas de tratamentos para cada cliente a fim de minimizar o risco de aspiração de alimento.(13,14)

Detalharam-se, por meio de alguns estudos, os cuidados específicos que cabem à Enfermagem: garantir que o cliente esteja posicionado corretamente nos horários das refeições; identificar o cliente que necessita de assistência extra; fornecer refeições/líquidos da consistência apropriada; auxiliar o uso de espessantes; participar da discussão sobre a colocação de alimentação enteral e promover o envolvimento dos clientes e cuidadores no processo do cuidado.(15,16)

Confirma-se também, por meio da maior parte das publicações analisadas, o potencial do enfermeiro no rastreio e gerenciamento da disfagia. Os enfermeiros passam a maior parte do tempo com os clientes hospitalizados e estão idealmente posicionados para observar os que estão tendo dificuldade em comer, beber e tomar medicamentos. Identificar disfagia precocemente é vital para prevenir complicações adicionais. Assim, os enfermeiros devem estar atentos aos clientes de risco considerando sua história médica pregressa.

Entende-se, assim, que o sucesso do tratamento da disfagia requer envolvimento multidisciplinar e do cliente com sua família/cuidadores que são figuras centrais nesse processo. A assistência do enfermeiro e do fonoaudiólogo ao cliente disfágico conduz a uma situação que se inter-relaciona e o trabalho integrado entre esses profissionais tem o objetivo de elevar a qualidade da assistência nos cuidados ao cliente com disfagia.

Percebe-se que a Enfermagem é citada, na maioria dos estudos, com um papel importante nessa equipe multidisciplinar principalmente pela sua presença 24 horas junto aos clientes hospitalizados. Assim, justifica-se a importância dos enfermeiros treinados para uma triagem de alteração de deglutição a fim de garantir sua identificação precoce.(17,18)

CONCLUSÃO

O enfermeiro por ser o profissional que mais próximo se encontra do doente durante a prestação de cuidados, tem um papel muito importante na identificação e tratamento deste problema. Podem mesmo ser os primeiros profissionais a detectar a existência de uma alteração e são os que mais capacidade têm de envolver outros profissionais da equipe multidisciplinar sem esquecer de envolver nessa equipe o doente e a sua família. Assim a realização de uma avaliação de enfermagem será importante no sentido de compreender o padrão de ingestão de cada indivíduo e despistar alterações. Segundo vários autores será pertinente a realização de uma história, de uma avaliação física e a utilização de meios complementares de diagnóstico.

A recuperação da disfagia pode demorar dias, semanas, meses e até anos, dependendo do grau de gravidade e das capacidades físicas, neurológicas e cognitivas do doente.

Presume-se que, da análise dos manuscritos, é possível que a integração dos conhecimentos da Fonoaudiologia e da Enfermagem pode resultar no desenvolvimento de diretrizes e protocolos de apoio aos profissionais de Fonoaudiologia e Enfermagem e, dessa forma, prover melhoria na qualidade da assistência do cliente disfágico.


REFERÊNCIAS

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 551/GM, de 13 de abril de 2005. Requisitos Comuns para Unidades de Terapia Intensiva de Adultos do Mercosul. In: Brasil. Ministério da Saúde [Internet]. Brasília; 2005 [cite 2014 Dec 22]; Available from: http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIA/Port2005/GM/GM-551.Htm
  2. Leonor VD, Santos RS, Mendes JM, Willig MH. The contributions of continuing education on oropharyngeal dysphagia for pediatric nursing care at a teaching hospital. Rev CEFAC. 2015 Sep/Oct; 17(5):1531-40. Doi: http://dx.doi.org/10.1590/19820216201517521014.
  3. Chin PA, Finocchiaro D. & Roserbrough A. Rehabilitation Nursing Practice. New York: McGraw-Hill. c1998.
  4. Werner H. The benefits of the dysphagia clinical nurse specialist role. J Neurosci Nurs. 2005;37 (4):212-5.
  5. Brasil. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução nº272/2002. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE, nas Instituições de Saúde Brasileiras. Brasília; 2002.
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