Nursing evidence-based practice guidelines for cardiac tissue perfusion in ICU - Systematic Literature Review
Prática de enfermagem baseada em evidência sobre perfusão tissular: cardíaca em UTI - Revisão Sistematizada da Literatura
Renata Firmino de Carvalho. Enfermeira. Aluna do Curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos/Universidade Federal Fluminense (UFF). renatinha_firmino@hotmail.com
Profa. Dra. Isabel Cruz. Titular da UFF. isabelcruz@id.uff.br
Abstract: The patients, when diagnosed with risk of decreased cardiac tissue perfusion, presented alteration in the cardiac circulation capable of compromising their health. Thus, nursing care in the ICU requires the nurse to quickly and accurately identify the health conditions of each individual, due to the severity and instability of patients and complexity of care required. However, there is the problem of the scarcity of information about the practice based on scientific evidence and its guidelines for the achievement of the nursing result tissue perfusion: cardiac for the highly complex patient under intensive care in a maximum of 7 days of hospitalization. Therefore, Review evidence-based nursing guidelines that will assist the intensive care nurse in identifying nursing care diagnoses and prescriptions to achieve tissue perfusion: cardiac outcome within 7 days. The descriptive research was conducted through a systematic literature review and based on secondary works that address the subject in question, published from 2011 to 2019. A selection and analysis of 10 articles indexed in nursing journals was performed, following the criteria. of inclusion. This results in the importance of the need for specialized care for patients suffering from some cardiovascular disease that presents a risk of reduction in cardiac / coronary circulation through the creation of multidisciplinary care protocols.
Key words: nursing; blood circulation; hemodynamic monitoring; intensive care units
Resumo: Os pacientes, ao terem o diagnóstico risco de perfusão tissular cardíaca diminuída, apresentaram alteração na circulação cardíaca sanguínea capaz de comprometer a saúde. Sendo assim, a assistência de enfermagem na UTI exige do enfermeiro identificação rápida e precisa das condições de saúde de cada indivíduo, devido à gravidade e instabilidade dos pacientes e complexidade de atenção requerida. No entanto encontra-se o problema da escassez de informação sobre a prática com base evidências científicas e suas diretrizes para o alcance do resultado de enfermagem perfusão tissular: cardíaca para o(a) paciente de alta complexidade sob cuidados intensivos em, no máximo, 7 dias de internação. Portanto, Revisar as diretrizes de enfermagem com base em evidência que ajudarão à (ao) enfermeira(o) intensivista na identificação de diagnósticos e prescrições de cuidados de enfermagem para o alcance do resultado perfusão tissular: cardíaca, no tempo de 7 dias. A pesquisa de natureza descritiva foi realizada por meio de revisão bibliográfica sistematizada e baseada em obras secundárias que abordam o tema em questão, publicadas no período de 2011 a 2019. Foi realizado escolha e análise de 10 artigos indexados em periódicos de enfermagem, seguindo os critérios de inclusão. Resultando na importância da necessidade de um cuidado especializado para o paciente acometido por alguma afecção cardiovascular que apresente um risco de redução na circulação cardíaca/coronariana, através da criação de protocolos assistenciais multidisciplinares.
Palavras-chave: enfermagem; circulação sanguínea; monitorização hemodinâmica; unidades de terapia intensiva
Introdução
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente de internação para pacientes em estado crítico de saúde e que necessitam de uma atenção especializada e contínua (1). Desta maneira, a assistência de enfermagem na UTI exige do enfermeiro identificação rápida e precisa das condições de saúde de cada indivíduo, devido à gravidade e instabilidade dos pacientes e complexidade de atenção requerida. A atenção à saúde ofertada pela equipe de enfermagem precisa estar organizada para compartilhar saberes e estratégias assistenciais, de modo a promover os melhores resultados ao paciente, juntamente com os demais membros da equipe de saúde (2).
O processo de enfermagem (PE) é um método de trabalho, dinâmico, sistematizado e composto de cinco etapas correlacionadas, que se constitui ferramenta essencial para prática da assistência de enfermagem. Assim, a aplicação do PE, aliado à prática clínica e à utilização de uma linguagem padronizada, apoia o desenvolvimento e favorece a organização do pensamento crítico e o raciocínio diagnóstico, bem como oportuniza um cuidado preciso, possibilitando a prática baseada em evidências (3).
A primeira fase do processo de enfermagem constitui-se na coleta de dados, e é parte integrante do processo diagnóstico (4). Posteriormente, vem a segunda fase, que é o estabelecimento dos diagnósticos de enfermagem (DE), que consiste na tomada de decisão clínica sobre a presença de uma resposta humana que requer intervenção de enfermagem. O diagnóstico atribuído é fundamental para definir o plano de cuidados e resultados esperados (2-5).
O diagnóstico de enfermagem risco de perfusão tissular cardíaca diminuída, segundo a taxonomia NANDA (North American Nursing Diagnosis Association) é definido como a suscetibilidade a uma redução na circulação cardíaca (coronariana) que pode comprometer a saúde (2). Na fisiopatologia da cardiopatia isquêmica dois processos estão implicados: a oferta e a demanda de oxigênio pelo miocárdio (6). A isquemia miocárdica ocorre quando há desequilíbrio na oferta e na demanda de oxigênio, tendo a aterosclerose como sua principal etiologia, porém podem ocorrer eventos por espasmo coronariano, alteração da relação da oferta de oxigênio e demanda miocárdica ou trombose coronariana (6). Fatores que alteram a demanda e a oferta de oxigênio, portanto, são os responsáveis pela evolução do paciente para síndrome coronária aguda (6).
A Síndrome coronariana aguda (SCA) é caracterizada pela American Heart Association como um “grupo de sintomas clínicos compatíveis com isquemia miocárdica aguda” (7). Dentre os fatores de risco não modificáveis, associados ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares, podem ser citados a idade acima de 55 anos, histórico familiar de doenças cardiovasculares, sexo masculino e etnia para algumas afecções (8). Figuram-se entre os fatores de risco modificáveis a dislipidemia, tabagismo, hipertensão arterial sistêmica (HAS), inatividade física, obesidade, diabetes mellitus (DM), dietas não saudáveis e estresse psicossocial (8). A dislipidemia é o principal preditor das doenças cardiovasculares, principalmente pelas elevadas concentrações séricas de lipoproteína de baixa densidade (LDL) (8). Os níveis de LDL em excesso na circulação participam da formação da placa de ateroma no endotélio arterial, cuja presença na artéria coronariana reduz progressivamente o lúmen do vaso, restringindo o fluxo de sangue, podendo levar à síndrome coronariana aguda (SCA) (9).
A listagem das prováveis intervenções para o diagnóstico de enfermagem em questão (risco de perfusão tissular cardíaca diminuída) normalmente é realizada pela NIC (Nursing Interventions Classification), no qual tem-se descritas as principais intervenções: controle de arritmias; controle do choque; cuidados cardíacos na fase aguda; monitoração hídrica; monitoração dos sinais vitais; monitoração hemodinâmica invasiva e monitoração respiratória (10).
Para tais intervenções, destacam-se as principais atividades de enfermagem: realizar monitoração contínua do eletrocardiograma, atentando para mudanças indicativas de arritmia; assegurar o pronto acesso a medicamentos de emergência para arritmias e administrá-los quando prescrito; monitorar os parâmetros hemodinâmicos invasivos e as evidências de perfusão tissular inadequada; monitorar o estado circulatório – pressão sanguínea, temperatura e cor da pele, sons cardíacos, frequência e ritmo cardíacos, presença e qualidade dos pulsos periféricos e enchimento capilar; monitorar as primeiras respostas compensatórias à perda de líquidos, como frequência cardíaca aumentada, pressão sanguínea diminuída, hipotensão ortostática, débito urinário diminuído, pulsos filiformes, enchimento capilar reduzido, apreensão, palidez, pele fria e sudorese; monitorar sinais de oxigenação tissular inadequada; controlar a temperatura e as condições respiratórias; colocar o paciente em posição supina, com as pernas elevadas, para aumentar a pré-carga; inserir e manter acesso endovenoso de grande calibre; administrar líquidos endovenosos concomitante à monitoração das pressões de pré-carga cardíaca, do débito cardíaco e do débito urinário, quando adequado (11).
Os diagnósticos e as intervenções de enfermagem contribuem para a atuação do enfermeiro na tomada de decisão e manejo dos pacientes internados em unidades de terapia intensiva, possibilitando realizar uma sistematização da assistência de enfermagem eficaz e resolutiva (3).
Situação Problema
A escassez de informação sobre a prática com base evidências científicas e suas diretrizes para o alcance do resultado de enfermagem perfusão tissular: cardíaca para o(a) paciente de alta complexidade sob cuidados intensivos em, no máximo, 7 dias de internação.
Quadro 1: Descrição dos componentes da estratégia PICOT, Niterói, 2019.
Acrônimo |
Descrição |
Componente da Questão Prática |
P |
Paciente |
Paciente adulto ou idoso com risco de perfusão tissular cardíaca diminuída |
I |
Intervenção |
Precauções cardíacas, identificação de risco e supervisão |
C |
Controle ou comparação |
Monitoração de sinais vitais |
O |
Desfecho (outcomes) |
Estado circulatório: eficácia da bomba cardíaca; detecção e controle dos riscos |
T |
Máximo 7 dias de internação em UTI ou Unidade de Alta Complexidade |
Percurso crítico: 7 dias |
Objetivo
Revisar as diretrizes de enfermagem com base em evidência que ajudarão à (ao) enfermeira(o) intensivista na identificação de diagnósticos e prescrições de cuidados de enfermagem para o alcance do resultado perfusão tissular: cardíaca, no tempo de 7 dias.
Questão Prática
Com base em evidência, como otimizar o cuidado da (o) enfermeira para que o (a) paciente de alta complexidade alcance o resultado perfusão tissular: cardíaca em, no máximo, 7 dias de internação?
Material e método
A pesquisa de natureza descritiva foi realizada por meio de revisão bibliográfica sistematizada e baseada em obras secundárias que abordam o tema em questão, publicadas no período de 2011 a 2019. A coleta do material para a pesquisa foi realizada no período de maio a novembro de 2019. O levantamento foi realizado em ambiente virtual através das bases eletrônicas SciELO (Scientific Electronic Library Online), Lilacs (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online) e BDENF (Base de Dados de Enfermagem). Os descritores foram escolhidos segundo a estratégia PICOT, sendo (P) blood circulation AND (I) hemodynamic monitoring AND (C) vital signs AND (O) perfusion. Os critérios de inclusão utilizados foram: artigos com texto completo, idiomas português e inglês, ter sido publicado entre 2011 e 2019 e ter como principal assunto temas relacionados ao risco de redução da circulação cardíaca. Após levantamento de títulos, excluiu-se aqueles que não preenchiam os critérios de inclusão, sendo selecionados 10 artigos para realizar a discussão.
Resultados
Quadro 2: Classificação dos artigos selecionados pelo Oxford (12)
Autores, ano e país |
Objetivo da pesquisa |
População/Amostra |
Tipo do Estudo |
Principais recomendações |
Nível de evidência |
Kaiomakx Renato Assunção Ribeiro; Fernanda Alves Ferreira Gonçalves; Maria Madalena Borges; Rayana Gomes de Oliveira Loreto; Mônica Santos Amaral, 2019, Brasil (13) |
Descrever os diagnósticos e intervenções de enfermagem mais comuns no período de pós-operatório de revascularização do miocárdio. |
13 artigos sobre o tema |
Revisão integrativa da literatura |
Novas pesquisas que ampliem o foco nos diagnósticos de enfermagem frente ao pós-operatório de revascularização do miocárdio bem como os diagnósticos de enfermagem que se fazem presente nas complicações desenvolvidas nesta etapa cirúrgica, especificando tais diagnósticos para tal procedimento, facilitando assim a tomada de decisão do enfermeiro de acordo com o tipo de cirurgia cardíaca |
2C |
Silvana Alves Benedet; Nicole Brasil, 2012, Brasil (14) |
Caracterizar as necessidades de cuidados de enfermagem dos pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) a partir da identificação dos diagnósticos e intervenções de enfermagem mais frequentes |
10 pacientes |
Exploratório descritivo, do tipo convergente assistencial |
Os enfermeiros podem propor intervenções fundamentadas e específicas, proporcionando a implementação de ações eficazes e imediatas para a resolução dos problemas identificados |
2C |
Laryssa Wilson Paiva Gonçalves; Daniele Alcalá Pompeo (15) |
Identificar, por meio do modelo de raciocínio clínico Outcome Present State Test (OPT), os diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem |
1 paciente com insuficiência cardíaca congestiva descompensada |
Estudo de caso |
O modelo OPT pode ser considerado uma ferramenta útil para o enfermeiro, que atualmente exerce muitas atividades burocráticas, administrativas e de cuidado, com reduzido número de profissionais |
4 |
Randson Sousa Rosa, Darlyane Antunes Macêdo, Bruno Gonçalves de Oliveira, Eliane dos Santos Bomfim, Cezar Augusto Casotti, Ivanete Fernandes do Prado, 2016, Brasil (16) |
Avaliar o risco coronariano em pacientes hospitalizados a probabilidade de desenvolver um infarto agudo do miocárdio nos próximos dez anos e discutir o cuidado de enfermagem com base nas evidências científicas |
42 pacientes hospitalizados |
Descritivo de corte transversal |
A equipe de enfermagem esteja qualificada a detectar a presença dos fatores de risco nos pacientes hospitalizados; que a enfermagem estabeleça parcerias com os demais membros da equipe multidisciplinar, para melhor compreensão do processo de adoecimento da saúde cardiovascular |
2C |
Andressa Teoli Nunciaroni, Maria Cecília Bueno Jayme Gallani, Rúbia de Freitas Agondic, Roberta Cunha Matheus Rodrigues, Lisa Trevisan Castro, 2012, Brasil (17) |
Formular os diagnósticos de enfermagem (DE) mais frequentes no subgrupo de pacientes portadores de doenças isquêmicas do coração, internados em unidade de cardiologia e verificar sua associação com características sociodemográficas e clínicas |
151 pacientes |
Estudo descritivo-exploratório, retrospectivo |
Estabelecimento de algumas prioridades no planejamento das intervenções de enfermagem, visando a otimização do tempo da equipe de enfermagem, a melhora da qualidade do cuidado e o favorecimento das ações de educação para esta população |
2C |
Jennifer Santos do Nascimento, Ana Jéssica Nunes, Gabrielle Barrozo Novais, Felipe Mendes de Andrade de Carvalho, Lorenna Emília Sena Lopes, 2017, Brasil (18) |
Relatar um caso de Angina Instável com ênfase na discussão de critérios de intervenções realizadas pelo enfermeiro e equipe de saúde. |
Paciente com quadro de angina |
Relato de caso |
Importância de uma anamnese detalhada para caracterizar o sintoma dor. As intervenções devem estar voltadas também para a prevenção de complicações severas e irreversíveis, de modo individualizado |
4 |
Sanja Samia Rolim Fernandes Ximenes, 2013, Brasil (19) |
Analisar os diagnósticos de enfermagem presentes em pessoas com hipertensão e doença cardiovascular |
105 pacientes |
Descritivo e transversal |
Desenvolvimento de pesquisas acerca de diagnósticos e doenças cardiovasculares, para que possa suscitar conhecimentos e se tornem fontes científicas, além de despertar a prática dos diagnósticos na enfermagem |
2C |
Paloma Cesar de Sales, Simone Maria Muniz Bezerra da Silva, Fernanda Apolonio Rocha, 2016, Brasil (20) |
Traçar o perfil epidemiológico das mulheres submetidas à Revascularização do Miocárdio e identificar os principais diagnósticos de enfermagem nestas pacientes |
30 pacientes |
Descritivo-exploratória, do tipo transversal, com abordagem quantitativa |
A implementação da sistematização da assistência da enfermagem deve ser planejada a fim de garantir que a inovação seja compatível com as necessidades tanto dos clientes quanto das metas da unidade de serviço |
2C |
Rosa Aparecida Nogueira Moreira, Lívia Moreira Barros, Andrea Bezerra Rodrigues, Joselany Áfio Caetano, 2013, Brasil (21) |
Identificar os diagnósticos de enfermagem da classe respostas cardiovasculares/pulmonares pertencentes ao domínio atividade/repouso, segundo a taxonomia II da NANDA-I em pacientes no pós-operatório imediato de cirurgia bariátrica e propor as intervenções e os resultados de enfermagem de acordo com a NIC e NOC |
59 pacientes |
Descritiva do tipo transversal |
Realização de novos estudos que proporcionem análise mais aprofundada dos diagnósticos de enfermagem |
2C |
Lívia Moreira Barros, Rosa Aparecida Nogueira Moreira, Natasha Marques Frota, Joselany Áfio Caetano, 2014, Brasil (22) |
Analisar os diagnósticos de enfermagem da classe respostas cardiovasculares/pulmonares em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica |
58 pacientes |
Observacional de caráter transversal |
Necessidade da implementação de um protocolo na instituição que facilite os cuidados de enfermagem prestados a essa clientela, visando à identificação precoce dos diagnósticos de enfermagem e resolução de possíveis complicações |
1C |
|
|
|
Discussão
A enfermagem enquanto ciência é organizada por sistemas. Portanto, o diagnóstico de enfermagem como parte deste sistema é uma descritiva sobre o estado de saúde de um cliente (20). As análises devem ser feitas a partir do estado de saúde dos clientes envolvidos, sendo que o enfermeiro cria sua opinião e assim contribui para evolução do mesmo. Desta maneira, o objetivo do diagnóstico de enfermagem é padronizar a terminologia utilizada por enfermeiros, tais como descrições de problemas de enfermagem, intervenções e resultados (20). Proponentes do uso dos diagnósticos de enfermagem argumentam que o uso destes diagnósticos torna o processo de cuidado mais científico e baseado em evidência (20-22).
O reconhecimento dos diagnósticos de enfermagem mais frequentes, além de facilitar a criação de uma “ponte” entre os dados clínicos complexos e o cuidado de enfermagem, pode direcionar a criação de protocolos específicos ao atendimento de enfermagem a esses pacientes, bem como servir como veículo de mudança e transformação da prática clínica. Observa-se que esta atividade requer do enfermeiro habilidades específicas e atenção rigorosa, sobretudo para detecção de alterações no estado de saúde e de necessidades específicas de pacientes (21). Assim, a identificação dos diagnósticos representa um julgamento clínico eficiente do profissional, o qual envolve, também, a escolha adequada das intervenções, incluindo a priorização criteriosa das metas a serem alcançadas no planejamento da assistência, o que é essencial na prática do enfermeiro, especialmente no caso dos profissionais que trabalham com pacientes graves. (21).
O paciente com risco de perfusão tissular cardíaca diminuída apresenta alteração na circulação cardíaca sanguínea capaz de comprometer a saúde (21). As doenças cardiovasculares isquêmicas afetam as artérias e consequentemente o coração, causando arritmias cardíacas, anginas e isquemias (17). A isquemia miocárdica consiste na oxigenação insuficiente do músculo cardíaco, é reversível e se apresenta clinicamente como angina pectoris (17). Nos aspectos clínicos demonstrados em estudo, pelo paciente com angina estável, é comum o relato de desconforto ou dor sufocante, sensação de pressão, peso, estrangulamento ou sufocamento na região do tórax, mais precisamente na região retroesternal ou precordial com irradiação para pescoço, mandíbula, ombros e ainda face interna dos braços, mais precisamente do membro superior esquerdo (18).
Para que seja possível o diagnóstico, se faz necessário a avaliação da clínica e exame físico, com o objetivo principal de excluir a hipótese de causas não cardíacas da dor torácica e doenças cardiovasculares não isquêmicas (18). As intervenções feitas devem estar voltadas também para a prevenção de complicações severas e irreversíveis, de modo individualizado sendo voltada para as reais necessidades do indivíduo, prestando cuidados resolutivos e humanizados em qualquer etapa do processo de Enfermagem (18).
Quando a isquemia é grave, prolongada, resulta em lesão irreversível que consiste no infarto do miocárdio (19). O enfermeiro possui função importante no manejo da clínica dos pacientes com infarto agudo do miocárdio, sendo necessário conhecimento de sua fisiopatologia, manifestações clínicas, eletrocardiográficas, terapêutica, cuidados específicos de enfermagem e habilidade em emergência cardiológica (19).
Estudos evidenciaram que os índices de risco para a vida, ligados à obesidade, como a hipertensão arterial sistêmica e a doença coronariana aumentam progressivamente com a elevação do peso corpóreo. Cerca de 60% dos obesos apresentam hipertensão arterial sistêmica (21). De acordo com esses conceitos, mesmo na ausência de sintomatologia clínica, pacientes obesos necessitam de investigação cardiovascular cuidadosa. Ao diagnosticar essa situação, o enfermeiro tem papel de extrema importância nas ações de tratamento e prevenção de maiores complicações. Torna-se necessário estabelecer estratégias que possam auxiliar o cuidado da equipe de enfermagem, otimizando a qualidade da assistência ao paciente (22).
Há uma elevada incidência de diagnósticos de enfermagem relacionados à necessidade de oxigenação, às alterações respiratórias e cardiovasculares, as quais constituem em um problema bastante comum nos pacientes de UTI, seja como motivo da internação ou como complicação desta, tendo em vista o elevado número de procedimentos invasivos que costumam ser realizados nesses pacientes (14).
Cada intervenção de enfermagem possui diversas atividades de enfermagem, que devem ser escolhidas de acordo com a necessidade do paciente (15). As intervenções e ações de enfermagem para risco de perfusão tissular cardíaca diminuída são: monitorização dos sinais vitais: monitorar pressão arterial, pulso, padrão respiratório e observar as tendências; Averiguar presença e qualidade dos pulsos; controlar presença de cianose periférica e central; Acompanhar cor e temperatura da pele. Cuidados cardíacos: avaliar dor torácica (intensidade, localização, irradiação, duração e fatores precipitantes e de alívio); documentar arritmias cardíacas; orientar o paciente a relatar imediatamente desconforto no peito; Verificar sinais e sintomas de insuficiência respiratória. Testes laboratoriais a beira do leito: monitorar dados laboratoriais, quando adequado (enzimas cardíacas, níveis de eletrólitos). Interpretação de dados laboratoriais: monitorar dados de testes sequenciais na busca de tendências e mudanças extremas (glicemia, colesterol total e fração) (13). O enfermeiro deve ajustar as atividades descritas para a realidade do paciente e do serviço, as quais darão origem às prescrições (15).
As atividades prescritas devem ser compreendidas por todos os membros da equipe de enfermagem e cabe ao enfermeiro decidir quais atividades farão parte do plano de ação do paciente e qual a melhor forma de executá-las, considerando-se, sempre, a prática baseada em evidências (15). O julgamento é o processo de tirar conclusões com base nas medidas tomadas, ou seja, o enfermeiro irá julgar se o paciente se beneficiou dos cuidados prestados e se atingiu os resultados esperados. Nessa fase, o enfermeiro usa a reflexão, fazendo observações enquanto pensa nas situações do cliente (15).
Para alcançar melhores resultados no cuidado do paciente em estado grave, faz-se necessária uma adequada assistência da equipe de profissionais de enfermagem, devendo, esta, ser capaz de evitar ou minimizar possíveis complicações numa população potencialmente mais grave, visando também à redução do tempo de permanência na Unidade de terapia intensiva (UTI) e, consequentemente, à diminuição considerável nos custos (13). Para que isso aconteça é imprescindível conhecer o perfil desses pacientes, bem como as complicações mais incidentes, a fim de levantar subsídios para o preparo e qualificação da equipe de enfermagem frente às demandas de cuidado (13).
Contudo, faz-se necessário que a enfermagem estabeleça parcerias com os demais membros da equipe multidisciplinar, para melhor compreensão do processo de adoecimento da saúde cardiovascular, de modo a promover a implantação de cuidados de enfermagem compatíveis com os manuais de cuidados direcionados aos pacientes em estado crítico (16).
Conclusão
O tratamento das doenças cardiovasculares necessita de uma análise multidisciplinar, preferencialmente de uma equipe especializada para atender da melhor forma possível esses pacientes e seus respectivos casos. A prática baseada em evidências faz-se necessária, uma vez que, existem diversas possibilidades no mundo das afecções cardiovasculares que fazem o paciente apresentar uma redução em sua circulação cardíaca, podendo comprometer sua saúde. Para cada causa pode ser necessário um tratamento diferente, podendo exigir conhecimentos específicos.
Este estudo reafirma a importância da utilização dos diagnósticos e intervenções de enfermagem em uma UTI, pois é através deste processo que se direciona o atendimento individualizado das necessidades humanas básicas do paciente possibilitando uma resposta mais rápida à terapêutica implantada. As intervenções encontradas nos artigos utilizados para discussão, associados com as intervenções da NIC deve ser avaliada por enfermeiros especializados e implementadas dentro do processo de enfermagem para o benefício do paciente com risco de redução na circulação cardíaca/coronariana.
Concluímos este estudo acreditando que é fundamental o processo da sistematização da assistência de enfermagem principalmente no que se refere à formulação de diagnósticos voltados ao cuidado cardiovascular. A enfermagem possui vários modelos de processos para a assistência de enfermagem, nos quais o enfermeiro deve se apropriar e incorporar na sua prática assistencial aquela que vai de acordo com o seu contexto e necessidades no campo assistencial. Esse estudo fornece subsídios e traz recomendações para a criação de protocolos assistenciais multidisciplinares para o cuidado especializado e centrado no paciente acometido por alguma afecção cardiovascular que apresente um risco de redução na circulação cardíaca/coronariana.
Referências
1. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 551/GM, de 13 de abril de 2005. Requisitos Comuns para Unidades de Terapia Intensiva de Adultos do Mercosul. In: Brasil. Ministério da Saúde [Internet]. Brasília; 2005[cited 2014 Dec 22];
2. Herdman, TH, Kamitsuru S. Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I: definições e classificação 2018-2020. 11th ed. Porto Alegre: Artmed; 2017.
3. Sousa MM, Araújo AA; Freire MEM, Oliveira JS, Oliveira SHS. Diagnósticos e intervenções de enfermagem para a pessoa com insuficiência cardíaca descompensada. Revista Fundamental Care Online. 2016.
4. Santos N, Veiga P, Andrade R. Importância da anamnese e do e Importância da anamnese e do exame físico para o cuidado do enfermeiro. Revista Brasileira de Enfermagem. 2011.
5. Cruz DALM, Pimenta CAM. Evidence-based practice applied to diagnostic reasoning. Rev Latino-Am Enfermagem. 2005
6. Carvalho ACC, Sousa JMA. Cardiopatia isquêmica. Revista Brasileira Hipertensão, 2001.
7. American Heart Association. What is acute coronary syndrome?
8. Labarthe DR, Dunbar SB. Global Cardiovascular Health Promotion and Disease Prevention: 2011 and Beyond. Circulation.
9. Brunori, EHFR, Lopes CT, Cavalcante AMRZ, Santos VB, Lopes JL, Barros ALBL de. Associação de fatores de risco cardiovasculares com as diferentes apresentações da síndrome coronariana aguda. Revista Latino Americana de Enfermagem, 2014.
10. Bulechek GM, Butcher K, Dochterman JM, Wagner CM. Classificação das intervenções em enfermagem (NIC). 6th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016.
11. Oliveira MF, Silca LF da. Enfermagem em laboratório de hemodinâmica: diagnóstico e intervenção fundamentados na Teoria da Adaptação de Roy. Revista Eletrônica de Enfermagem. 2010.
12. Oxford Centre for Evidence-based Medicine. CEBM. [Online].; 2009 Available from: < https://www.cebm.net/2009/06/oxford-centre-evidence-based-medicine-levels-evidence-march-2009 >/.
13. Ribeiro KRA, Gonçalves FAF, Borges MM, et al. Pós-Operatório de Revascularização do Miocárdio: Possíveis Diagnósticos e Intervenções de Enfermagem. Revista Fundamental Care Online. 2019.
14. Benedet AS, Brasil N. A sistematização da assistência de enfermagem e as necessidades de cuidados de pacientes internados em terapia intensiva. Revista Eletrônica Gestão & Saúde. 2012.
15. Gonçalves LWP, Pompeo DA. Aplicação do modelo Outcome Present State Test em paciente com isuficiência cardíaca congestiva. Revista Mineira de Enfermagem. 2016.
16. Rosa RS, Macêdo DA, Oliveira BG de, Bomfim ES, Casotti CA, Prado IF do. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online. 2016.
17. Nunciaroni AT, Gallani MCBJ, Agondi RF, Rodrigues RCM, Castro LT. Caracterização dos diagnósticos de enfermagem de pacientes internados em uma unidade de cardiologia. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre (RS) 2012.
18. Nascimento JS do, Nunes AJ, Novais GB, Carvalho FMA de, Lopes LES. Intervenções de enfermagem no diagnóstico da angina instável. Congresso internacional de enfermagem. 2017.
19. Ximenes, SSRF. Diagnósticos de enfermagem no cuidado clínico a pessoa com hipertensão e doença cardiovascular. Revista da Rede de Enfermagem no Nordeste. 2013.
20. Sales PD de, Silva SMMB de, Rocha FA. Diagnóstico de enfermagem em mulheres submetidas à revascularização do miocárdio. Perspectivas online: ciências biológicas e da saúde. 2016.
21. Moreira RAN, Barros LM, Rodrigues AB, Caetano JA. Diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem no pós-operatório de cirurgia bariátrica. Revista da Rede de Enfermagem no Nordeste. 2013.
22. Barros LM, Moreira RAN, Frota NM, Caetano JA. Identificação dos diagnósticos de enfermagem da classe de respostas cardiovasculares/pulmonares em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. 2015
JSNCARE