Sobre a Prioridade 4 da Estratégia de Saúde Digital 2020-2028 – análise pela perspectiva da enfermeira

Profa. Dra. Isabel Cruz - Titular/Universidade Federal Fluminense  

No mundo e no Brasil a estratégia de saúde digital está em curso e é preciso, no mínimo, conhecer as demandas por novas capacidades da(o) enfermeira(o) no encontro clínico mediado por tecnologias digitais.

Problema

A Estratégia de Saúde Digital 2020-2028 (ESD28)[i] é uma edição atualizada na qual se apresenta, conforme as diretrizes e princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e a política brasileira de governo eletrônico, a visão de Saúde Digital e onde estão descritos os mecanismos contributivos para sua incorporação no processo do cuidar.

Contudo, o desconhecimento das demandas específicas que a ESD28 pode impor sobre cada pessoa ou setor da sociedade e da disrupção que as tecnologias de informação e comunicação (TICs) provocam na área da saúde coloca em risco o potencial terapêutico do encontro clínico paciente[1]-enfermeira(o), baseado no trabalho em equipe interprofissional, isento de vieses.

Neste sentido, ao analisar a ESD28, mais especificamente a prioridade 4 (usuário como protagonista), comparando com um referencial sobre capacidades digitais para a(o) enfermeira(o)[ii], identifiquei as seguintes demandas:

Capacidade da(o) Enfermeira(o)

ESD28 (prioridade 4)

2.1 Defensoria do(a) Paciente em Saúde Digital

Enfermeiras(os) e obstetrizes trabalham em parceria com pacientes / clientes em relação à educação e defesa sobre a coleta, acesso e uso de informações

4.1.1 Desenvolver ações para o envolvimento de cidadãos

1.1 Desenvolvimento Profissional

Enfermeiras(os) e obstetrizes usam ferramentas digitais para atingir e manter os requisitos de desenvolvimento profissional

4.1.2 Desenvolver ações para envolvimento de profissionais de saúde

 

3.1 Coleta de Dados

Enfermeiras(os) e obstetrizes desempenham um papel crucial na coleta de dados completos, oportunos e precisos

3.2 Gerenciamento dos Dados

Enfermeiras(os) e obstetrizes desempenham um papel fundamental para garantir a acessibilidade, confiabilidade, privacidade, segurança e oportunidade dos dados em ambientes de saúde

3.3 Ciclo de Vida dos Dados

Enfermeiras(os) e obstetrizes são capazes de reconhecer que os dados têm diferentes usos ou utilidade em vários pontos dentro do sistema de saúde

 

4.2.1 Implantar serviços de Registro Pessoal de Saúde

 

4.1 Compartilhamento dos Dados

Enfermeiras(os) e obstetrizes usam e compartilham dados digitais de forma adequada com demais profissionais de saúde e pacientes/clientes

4.2 Criação e Uso de Informação

Enfermeiras(os) e obstetrizes usam dados de uma ampla gama de fontes para criar informações para a enfermagem, seus pacientes/clientes e demais profissionais de saúde e usuários para apoiar o cuidado

4.3 Prática Estendida

Enfermeiras(os) e obstetrizes usam informações na tomada de decisões críticas para desenvolver, estender e apoiar cuidados baseados em evidências

4.1.1 Desenvolver ações para o envolvimento de cidadãos

4.1.2 Desenvolver ações para envolvimento de profissionais de saúde

4.2.1 Implantar serviços de Registro Pessoal de Saúde

 

 

Algumas soluções em pauta

Dentre as soluções já em desenvolvimento, destaco principalmente a Resolução COFEN nº 634/2020[iii] que autoriza e normatiza a teleconsulta de enfermagem.

Por conta da pandemia por SarsCov19 e da citada Resolução, criei e está disponível à comunidade, de forma gratuita, o curso online autoinstrucional Teleconsulta da(o) Enfermeira(o)[iv], na plataforma MOOCS, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Nesta mesma plataforma, há um curso interprofissional igualmente gratuito e auto instrucional: Introdução à Saúde Digital[v] no qual são apresentadas as principais TICs usadas no processo de cuidar.

Na rede social Facebook, criei o grupo Enfermeira(o) Digital para compartilhar notícias e artigos de interesse no tema. Na Rede Nacional de Pesquisa (RNP), criei a comunidade com mesmo nome para a realização de reuniões, eventos e workshops de forma remota.

Conforme identifico na comunidade acadêmica e profissional pessoas que já estão atuando em saúde digital, especialmente, enfermeiras(os), convido a participar da série de webinar Enfermeira(o) Digital e compartilhar seu conhecimento com colegas. Alguns destes webinares estão disponibilizados no canal YouTube do nosso grupo de pesquisa.

Hora de agir

Isto posto, como exatamente, eu, enquanto enfermeira(o), parte de uma profissão: Enfermagem, bem como do SUS, posso ter protagonismo na implementação da ESD28?

Já vemos alguns sinais de progresso, tal como a Resolução do COFEN. Contudo, é preciso identificar as oportunidades para a inclusão das TICs no processo de formação e de educação permanente de enfermagem. Igualmente, identificar as áreas do cuidado do(a) paciente nas quais as TICs podem ser um recurso que promova o acesso da pessoa ao SUS e o melhor cuidado da(o) enfermeira(o).

A saúde digital e conectada exige mais colaboração paciente-enfermeira(o), bem como trabalho e comunicação baseados em equipe interprofissional. Pode parecer óbvio, mas é disruptivo, tendo em vista o modelo de cuidado tradicional.

As tecnologias digitais são mais um recurso para melhorar o processo de trabalho da(o) enfermeira com seus pacientes, mas para tanto será necessário tanto desconstruir algumas velhas práticas, quanto desenvolver novas competências. A comunidade Enfermeira(o) Digital, na Rede Nacional de Pesquisa, é um dos espaços de aprendizagem que estão à sua disposição: saúde digital & conectada!

Referências

 


[1] Paciente: inclui referência a pessoa em suas diversidades ou socialmente vulnerável em razão de determinantes sociais como racismo e sexismo, entre outros.

 


[i] Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Departamento de Informática do SUS. Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028 [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Departamento de Informática do SUS. – Brasília : Ministério da Saúde, 2020. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_saude_digital_Brasil.pdf

[ii] Australian Digital Health Agency, 2020. National Nursing and Midwifery Digital Health Capability Framework. Australian Government: Sydney, NSW. National Nursing and Midwifery Digital Health Capability Framework, v1.0, 2020, available at nursing-midwifery.digitalhealth.gov.au

[iii] CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução COFEN nº 634/2020, de 26 de março de 2020. http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-0634-2020_78344.html

[iv] Cruz, ICF da Teleconsulta da(o) Enfermeira(o) – curso online. NEPAE/UFF, Jun 2020. Disponível em http://nepae.uff.br/2020/06/09/teleconsulta-dao-enfermeirao-curso-online/

[v] Cruz, ICF da Introdução à Saúde Digital. NEPAE/UFF, Nov 2020.  Disponível em http://nepae.uff.br/2020/11/19/introducao-a-saude-digital/





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