NURSING EVIDENCE-BASED INTERPROFISSIONAL PRACTICE GUIDELINES FOR TELEMONITORING TECHNOLOGY AS AN INSTRUMENT FOR NURSE ASSISTANCE IN PATIENTS WITH HEART FAILURE: SYSTEMATIZED LITERATURE REVIEW
DIRETRIZES DE PRÁTICA INTERPROFISSIONAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS DE ENFERMAGEM PARA A TECNOLOGIA DE TELEMONITORAMENTO COMO INSTRUMENTO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMEIRO EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: REVISÃO DE LITERATURA SISTEMATIZADA
Juliana de Mendonça Gomes¹, Isabel Cristina Fonsceca da Cruz²
¹ Enfermeira, aluna do Curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos. Universidade Federal Fluminense (UFF).
² Doutora, professora. Titular da UFF. isabelcruz@id.uff.br
RESUMO: OBJETIVOS; Evidenciar a tecnologia de telemonitoramento – TMO como instrumento na assistência do enfermeiro ao paciente portador de insuficiência cardíaca com enfoque na prevenção de agravos. Apontar a contribuição do TMO na promoção do autocuidado e autonomia do paciente. MÉTODO; Foi realizada uma revisão sistemática de acordo com os critérios preconizados pela Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) atualizada pela declaração PRISMA 2020. Foi utilizada a estratégia PICO para formular a abordagem e condução da estrutura da pesquisa bem como responder à questão norteadora. De acordo com os critérios de elegibilidade foram considerados aproveitáveis para a construção do artigo: revisões sistemáticas, narrativas, meta-analises e publicações em meios oficiais com período menor que 5 anos de produção levando em consideração o ano atual (2023), que estejam dentro da temática abordada ou cuja temática esteja voltada para pacientes com função cardíaca prejudicada ou instrumentos de telemonitoramento e escritos nos idiomas Português, Inglês ou Espanhol e publicados em revista ou sites oficiais. E como critérios de exclusão produções com mais de 5 anos, que estejam fora do tema ou em outros idiomas. RESULTADO; Foram encontrados um total de 88 artigos e de acordo com os critérios de exclusão e elegibilidade 11 foram considerados apropriados para o estudo também foram considerados aproveitáveis para o estudo materiais encontrados em fontes como Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Cardiologia e em Revistas com foco em saúde todos estes respeitando os critérios de elegibilidade e exclusão. CONCLUSÃO; o uso dos wearables como tecnologias de telemonitoramento podem contribuir na redução do agravamento dos casos de insuficiência cardíaca bem como das comorbidades associadas.
PALAVRAS – CHAVE: TELEMONITORAMENTO; TECNOLOGIAS EM SAÚDE; INSUFICIENCIA CARDIACA.
ABSTRACT: OBJECTIVES; To highlight telemonitoring technology – also called RPM (Remote Patient Monitoring) as an instrument in nursing care for patients with heart failure with an approach to preventing injuries. Point out the contribution of the RPM in promoting self-care and patient autonomy. METHOD; A systematic review was carried out in accordance to the criteria recommended by the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) updated by the 2020 PRISMA declaration. The PICO strategy was used to formulate the approach and conduct of the research structure as well as answer the guiding question. According to the eligibility criteria, the following were considered usable for the construction of the article: systematic reviews, narratives, meta-analyses and publications in official media with a period of less than 5 years of production taking into account the current year (2023), which are within the theme addressed or whose theme is focused on patients with impaired cardiac function or telemonitoring instruments and written in Portuguese, English or Spanish and published in magazines or official websites. And as exclusion criteria for productions that are more than 5 years old, that are off-topic or in other languages. RESULT; A total of 88 articles were found and according to the exclusion and eligibility criteria 11 were considered suitable for the study were also considered usable for the study found in sources such as Ministry of Health, Brazilian Society of Cardiology and in Magazines with a focus on health, all of these respecting the eligibility and exclusion criteria.
KEY WORDS: TELEMONITORING, HEALTH TECHNOLOGIES AND HEART FAILURE
INTRODUÇÃO
De acordo com um estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia na edição de 2021 da Estatística Cardiovascular – Brasil as Doenças Crônicas Não Transmissíveis – DCNT constituem o principal grupo de causa de mortes prematuras, perda da qualidade de vida, além de impactos econômicos e sociais. Ainda de acordo com esse estudo essas doenças são responsáveis por aproximadamente 70% das mortes globais o que equivale a aproximadamente 38 milhões de mortes por ano, destas, certa de 17 milhões são causadas por Doenças Cardiovasculares – DCV, no Brasil esse quadro se repete quando 72% das mortes totais são causadas pelas DCNT e destas 30% são DCV. (1) Para o Global Burden of Disease, a definição de DCV total engloba 10 causas dentre elas doença isquêmica do coração, cardiopatia hipertensiva, aneurisma aórtico entre outras.
No Brasil as DCVs são a maior causa de morte com a doença isquêmica do coração – DIC ocupando 1° lugar das causas. Artigo publicado pela Journal of School of Nursing – University of São Paulo, afirma que a insuficiência cardíaca – IC é uma doença crônica que apresenta alta prevalência mundial, estimada em 64,34 milhões de pessoas e que a mesma influencia em baixa qualidade de vida, morbimortalidade além de altos índices de hospitalização por agravos e como consequência aumento dos custos para o sistema de saúde.(2) De acordo o Sistema de Informações sobre Mortalidade¹ – SIM/DATA SUS, em 2019 foram um total de 222.620 hospitalizações para procedimentos clínicos para DCV no Brasil sendo a IC o principal motivo de internação gerando o total de R$ 359.301.690,44 reais para os cofres públicos.
Tendo em vista esses dados pode-se inferir que as doenças cardiovasculares são um problema de saúde pública sendo inclusive uma preocupação abordada pela agenda de 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no bloco de saúde e bem estar que tem como uma das metas até 2030 reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento.(3) A insuficiência cardíaca é uma síndrome clinica causada por um comprometimento estrutural ou funcional na capacidade de o ventrículo se encher de sangue ejetá-lo de maneira efetiva(4) e, de acordo com a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem se enquadra no termo DE/RE Função Cardíaca Prejudicada – código 10037305 cuja definição é processo cardíaco prejudicado. (CIPE® Versão 2017 – Português do Brasil)
SITUAÇÃO PROBLEMA
A maioria dos casos de agravos e reinternação dos pacientes com insuficiência cardíaca são causados pela descontinuidade do tratamento ou falta de acesso ao serviço/profissional de saúde bem como a falta de dados e informações que viabilizem uma estratégia de cuidado focada nas necessidades dos pacientes por parte dos profissionais de saúde.
OBJETIVO
O presente estudo busca evidenciar o TMO na assistência do enfermeiro ao paciente com insuficiência cardíaca principalmente no que diz respeito a prevenção de agravos bem como apontar de que forma essa tecnologia além de prevenir agravos, contribui na gestão do autocuidado e autonomia desses indivíduos.
QUADRO 1 – Estratégia De PICO. Rio De Janeiro, 2023.
P (população): pessoas com insuficiência cardíaca desospitalizadas (CIPE® 10037305) |
I (intervenção): uso de tecnologias de telemonitoramento no controle de agravos |
C (comparação): não uso de tecnologias de telemonitoramento |
O (resultados): a eficácia na prevenção de agravos |
T : não há |
Fonte: Gomes & Cruz, 2023.
METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão sistemática de acordo com os critérios preconizados pela Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) atualizada pela declaração PRISMA 2020. Utilizou-se também a estratégia PICO para formular a abordagem e condução da estrutura da pesquisa bem como responder à questão norteadora: Se tratando de pacientes com insuficiência cardíaca como as tecnologias de telemonitoramento podem contribuir para prevenção de agravos, redução de custos e uma assistência equânime?
De acordo com os critérios de elegibilidade foram considerados aproveitáveis para a construção do artigo: revisões sistemáticas, narrativas, meta-analises e publicações em meios oficiais com período menor que 5 anos de produção levando em consideração o ano atual (2023), que estejam dentro da temática abordada ou cuja temática esteja voltada para pacientes com função cardíaca prejudicada ou instrumentos de telemonitoramento e escritos nos idiomas Português, Inglês ou Espanhol e publicados em revista ou sites oficiais. E como critérios de exclusão produções com mais de 5 anos, que estejam fora do tema ou em outros idiomas.
A busca do referencial teórico foi realizada nas bases de dados PubMed, BVS, Schielo utilizando como instrumento de busca o operador booleano AND e as palavras chaves: tecnologias em saúde AND cardiologia.
Em primeiro momento, a leitura dos títulos bem como a dos resumos foi utilizada como ferramenta para decidir se o material atende aos critérios de elegibilidade e em um segundo momento da pesquisa foi necessária uma análise mais profunda por meio da leitura do material afim de constatar sua finalidade para a revisão sistemática.
Na BVS foram encontrados 56 resultados onde 48 foram descartados após a leitura do título, 03 após a leitura dos resumos e 05 foram considerados aplicáveis ao estudo. Na Pudmed foram encontrados 09 resultados, onde 08 foram descartados após a leitura do título e 01 aplicável ao estudo. Na Scielo foram encontrados 23 resultados onde 17 foram descartados após a leitura do título (destes 12 com período de publicação > 5 anos), 01 foi descartado após leitura do resumo (não aplicável ao estudo) e 05 foram considerados para o estudo. Para averiguação do nível de evidencia dos artigos elegíveis foi realizada busca por ISSN na Plataforma Sucupira.
A coleta e análise dos dados foi realizada por apenas um revisor utilizando-se de meios próprios sem que fosse necessário qualquer investimento financeiro de terceiros para tal.
RESULTADOS
Quadro 2: Autores, Ano & Pais; Objetivo da pesquisa; Força da evidência; Tipo do estudo & instrumentos; principais achados; Conclusões do autor(es).
AUTORES, ANO, PAÍS |
OBJETIVO DA PESQUISA |
TIPO DE INSTRUMENTO |
TIPO DE ESTUDO |
PRINCIPAIS ACHADOS |
NÍVEL DE EVIDENCIA |
Sousa MM, Lopes CT, Almeida AAM, Almeida TCF, Gouveia BLA, Oliveira SHS. 2021; Brasil. |
Desenvolver e verificar as evidências de validade de conteúdo e face de um protótipo de aplicativo móvel para o autocuidado de pessoas com insuficiência cardíaca. |
Na etapa de validação, seis enfermeiros especialistas em cardiologia avaliaram o conteúdo por meio do Suitability Assessment of Materials e 13 pessoas com insuficiência cardíaca realizaram avaliação de face, pelo índice de validade de conteúdo. |
Estudo de desenvolvimento tecnológico. |
Foi possível desenvolver e validar o conteúdo e face do protótipo do aplicativo “Tum Tum”, que demonstra potencial para promover o autocuidado em pessoas com insuficiência cardíaca. |
A2 |
Arruda VLD, Machado LMG, Lima JC, Silva PRDS 2022; Brasil. |
Analisar a tendência da mortalidade por insuficiência cardíaca (IC) em brasileiros com 50 anos ou mais, em um período de 21 anos |
Indivíduos com 50 anos ou mais, no período de 1998 a 2019. |
Estudo ecológico com análise de série temporal da mortalidade por IC no Brasil. |
A tendência das taxas de mortalidade por IC entre as UF e regiões brasileiras foi decrescente ao longo de 21 anos. |
A3 |
Cruz IO, Costa S, Teixeira R, Franco F, Gonçalves L. 2022; Brasil. |
Avaliar o impacto desse programa de telemonitoramento (PTM) em internações hospitalares e admissões em serviços de emergência |
Um total de 39 pacientes, com uma média de idade de 62,1 ± 14 anos e predominância de pacientes do sexo masculino (90%). |
Estudo retrospectivo observacional que analisou dados de todos os pacientes que se cadastraram no PTM de janeiro a 2018 a dezembro de 2019. |
Este estudo sugere que o PTM poderia reduzir a utilização de serviços de saúde em pacientes com insuficiência cardíaca. |
B2 |
Velasco NS, Figueiredo LS, Cavalcanti ACD & Flores PVP. 2020; Brasil. |
Avaliar a efetividade do uso de aplicativos móveis na adesão ao tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca crônica. |
6 publicações |
Revisão sistemática de literatura. |
O uso de aplicativos móveis no gerenciamento da saúde de pacientes com insuficiência cardíaca para melhorar a adesão e autocuidado. |
C |
Caorsi WR. 2021; Uruguai. |
Abordar o uso da tecnologia digital móvel no manejo de pacientes com fibrilação atrial. |
45 publicações |
Revisão Sistemática. |
A contribuição da tecnologia por meio do desenvolvimento de aplicativos para telefones celulares, relógios, dispositivos portáteis ou implantáveis que registram o ritmo cardíaco e permitem monitoramento prolongado, ambulatorial e remoto, facilitando sua detecção. |
C |
San’Anna RM, Camacho ACLF, Souza VMF, Menezes HF, Silva RP. 2022; Brasil. |
Identificar na literatura científica tecnologias educacionais utilizadas no processo de educação em saúde direcionadas aos pacientes portadores de doenças cardiovasculares que contribuem para impactar na qualidade de vida. |
16 artigos |
Revisão integrativa da literatura.
|
As estratégias educativas são observáveis em diversas intervenções dentro das unidades de saúde. É necessário se atentar para os critérios na construção e desenvolvimento de materiais educacionais na área de saúde. |
B2 |
Lêda IR, Silva MCR, Garbi GP. 2021; Brasil. |
Extrair as informações necessárias para o desenvolvimento de um dispositivo ou aplicativo com função de melhorar a qualidade da saúde do coração, mitigando os impactos negativos das patologias e, consequentemente, o número de óbitos |
7 artigos |
Pesquisa bibliográfica qualitativa e sistemática. |
O presente estudo de base para que novas pesquisas e revisões de literatura sejam evidentes e efetivas no apontamento de soluções aperfeiçoadas e inovadoras no contexto das políticas voltadas a qualidade de vida e humanização em saúde. |
- |
Freitas Junior AF, Silveira FS, Conceição-Souza GE, Canesin MF, Schwartzmann PV, Bernardez-Pereira S, Bestetti, RB. 2020; Brasil.
|
Explanar sobre o uso do telemonitoramento invasivo e não invasivo nos pacientes com IC |
18 publicações |
Metanálises envolvendo estudos observacionais e randomizados de TMOI e TMONI têm mostrado impacto positivo no prognóstico de pacientes com IC. |
A redução na mortalidade geral pode variar de 19 a 31% com o TMOI ou TMIONI em pacientes com IC, enquanto a redução na frequência de internação hospitalar por IC varia de 27 a 39%, principalmente em pacientes em classe funcional III/IV |
B2 |
Silva WTD, Tyll MG, Miranda ACCDS, Moura GP, Veríssimo ADOL. 2020; Brasil. |
Identificar as características clínicas e socioepidemiológicas de pacientes com insuficiência cardíaca (IC) no atendimento de emergência em um hospital de alta complexidade na Região Amazônica do Brasil, assim como, as comorbidades associadas à mortalidade dos pacientes com IC descompensada |
125 pacientes com IC descompensada. |
Estudo descritivo, longitudinal Prospectivo. |
Assim, deve-se orientar o paciente quanto à adesão correta ao acompanhamento do tratamento medicamentoso e aos sintomas da IC congestiva, para que procure ajuda em tempo hábil e, com isso, melhore sua qualidade de vida. |
B3 |
Colafranceschi AS. 2019; Brasil. |
Apresentar uma visão pessoal de potenciais barreiras para a incorporação e disseminação da telemedicina no Brasil. Outro objetivo é discutir abordagens para superar tais barreiras.
|
8 publicações |
Artigo exploratório. |
A telemedicina é capaz de aumentar a integração do sistema de saúde, superando a ainda existente e deletéria fragmentação que previne o acesso completo aos direitos à saúde. Investimentos em infraestrutura são mandatórios para expandir a adoção da telemedicina. |
B2 |
Cestari VRF, Florêncio RS, Garces TS, Pessoa VLMP, Moreira TMM. 2022; Brasil. |
analisar os aplicativos móveis sobre insuficiência cardíaca disponíveis nos principais sistemas operacionais e sua usabilidade |
38 aplicativos móveis |
Pesquisa sistemática. |
Os aplicativos móveis sobre insuficiência cardíaca possuem conteúdo variado e usabilidade adequada. Contudo, há necessidade de desenvolvimento de aplicativos móveis mais abrangentes. |
A4 |
Gomes & Cruz, 2023 & Brasil;
DISCUSSÃO
De acordo com dados do SUS, houve 3.085.359 hospitalizações por insuficiência cardíaca de 2008 a 2019. Esse número representa um terço do total de hospitalizações clínicas relacionadas às condições CV no período estudado.(1)
A IC é considerada a doença mais prevalente, com estimativa de 23 milhões de pessoas afetadas pela doença, e a projeção para 2030 é de aumento de 46%, afetando mais de 8 milhões de pessoas.(5) É tido como um grande problema de saúde pública, cuja incidência tem aumentado, e com mortalidade e morbidade significativas. (6) De acordo com dados do sistema de informações sobre mortalidade – SIM, no ano de 2021 a insuficiência cardíaca foi responsável por 12.681 óbitos.
Esse número equivale aproximadamente ao número total de óbitos no ano de 2023 somente entre os meses de Janeiro e Maio.
No que diz respeito ao custo, essas internações somam valores significativos principalmente porque a faixa etária de maior prevalência de IC é a dos idosos, que comumente apresentam múltiplas morbidades associadas, como hipertensão arterial, diabetes, doença renal e pulmonar crônica, que estão relacionadas ao aumento de risco de IC (5), impactos socioeconômicos e limitações a qualidade de vida do paciente, apresenta altas taxas de incidência e mortalidade com elevado custo para o sistema de saúde. (7)
As internações por descompensação da IC constituem um importante custo à saúde pública e atinge a um público cuja maioria dos indivíduos apresenta baixo grau de escolaridade e baixa renda familiar. Essas Características socioepidemiológicas são conhecidas como fatores de risco e agravantes tanto para o desenvolvimento de IC quanto para a readmissão hospitalar. (8)
A tecnologia em saúde se refere à aplicação de conhecimentos com objetivo de promover a saúde, prevenir e tratar as doenças e reabilitar as pessoas. São exemplos de tecnologias em saúde: medicamentos, produtos para a saúde, procedimentos, sistemas organizacionais, educacionais, de informação e de suporte e os programas e protocolos assistenciais por meio dos quais a atenção e os cuidados com a saúde são prestados à população. (9)
A tecnologia digital móvel (m-Saúde), ainda pouco utilizada, tem potencial para se tornar um auxílio essencial na prática clínica, principalmente em cardiologia onde a contribuição da tecnologia, por meio do desenvolvimento de aplicativos para telefones celulares, relógios, dispositivos portáteis ou implantáveis que registram o ritmo cardíaco permitindo assim monitoramento prolongado, ambulatorial e/ou remoto facilitando a detecção dos agravos. (10)
Observa-se que cada vez mais se faz necessário investir na prevenção no que tange as doenças
cardiovasculares, e isto está relacionado a investir em medidas preventivas que se encarreguem de propiciar aos indivíduos portadores de doenças cardiovasculares mudanças no seu estilo de vida e realização do controle dos fatores de risco relacionados aos eventos cardiovasculares (11) evidenciando cada vez mais o estímulo ao empoderamento através da educação em saúde como principal ferramenta na promoção do autocuidado e no que diz respeito ao contato do enfermeiro com o paciente esse processo se dá em todos os níveis de atenção e em qualquer ambiente que permita o mínimo de interação entre os pares.
Nesse sentido, o surgimento de novas tecnologias e/ou dispositivos tecnológicos no âmbito das práticas em saúde, tem facilitado o trabalho de identificação de problemas de saúde ao incrementar procedimentos de monitoramento de patologias clínicas, instruindo as práticas de intervenção médica, se tornando a solução mais eficiente para qualificar as práticas de tratamento e supervisão de pacientes, o que justifica a crescente demanda por serviços de saúde através da telemedicina. (12)
Estudos demonstraram que programas de TMO poderiam reduzir os índices de internações hospitalares e admissões em serviços de emergência, durações dos períodos de internação, e até mesmo a mortalidade relacionada à IC. Outras possíveis vantagens são o envolvimento dos pacientes e das famílias no controle da doença, a otimização do tratamento médico em tempo hábil, o aumento da adesão ao tratamento e a melhoria da qualidade de vida do paciente. (6)
Considerando a complexidade do tratamento, é imprescindível que os pacientes com IC adotem comportamentos de autocuidado para manutenção da compensação. Melhores níveis de autocuidado relacionam-se à menores taxas de readmissão, melhor qualidade de vida e menor mortalidade. (2). As principais estratégias para evitar a internação hospitalar são o tratamento farmacológico adequado, a educação do paciente, o acompanhamento estruturado e o automonitoramento.(6)
O enfermeiro deve considerar diferentes abordagens educacionais para a educação do paciente portador de doenças cardiovasculares. Além disso, deve-se considerar as preferências desses indivíduos, suas potencialidades e acessibilidade durante a possibilidade de oferta de educação em saúde para melhorar sua qualidade de vida. (11)
O uso de recursos tecnológicos pode ser uma estratégia viável para fortalecer os comportamentos saudáveis e promover melhor adesão ao tratamento. A tecnologia de saúde móvel (mHealth) é uma ferramenta promissora que pode ajudar a melhorar a autogestão de doenças crônicas. É definida como o uso de smartphones, tablets e outros dispositivos móveis para prestar cuidados de saúde e serviços de saúde preventivos.(2)
Os APP possibilitam seguimento adequado dos pacientes e auxiliam no processo de tomada de decisão clínica dos profissionais, contribuindo com a elaboração de diagnósticos fidedignos e orientações/condutas terapêuticas direcionadas, além de consultas remotas. (15). Com o progressivo barateamento dessas tecnologias, vencendo -se a barreira do custo-efetividade, teremos a oportunidade de testar uma infinidade de wearables que poderão permitir o acesso precoce da equipe de saúde a dados de TMO de variáveis como pressão arterial, pulso, saturação de oxigênio, análise postural, queda, frequência respiratória, temperatura, glicemia capilar, entre outros. (13)
A falta de compreensão e informação sobre sinais e os sintomas das doenças cardiovasculares é reconhecida como um grande obstáculo ao tratamento oportuno e está associada a complicações e mortes potencialmente evitáveis. (11)
A tecnologia mHealth está inovando os processos de comunicação, visto que pode alcançar maiores populações, sem restrições de tempo, potencializando o processo de ensino e aprendizagem e, consequentemente, a promoção, prevenção, adesão terapêutica e reabilitação da saúde em diversos locais do mundo.(2) Quando desenvolvidos para paciente, os APP funcionam como estratégias facilitadoras do autocuidado, da manutenção da autonomia e da independência.(15)
Em um país com dimensões como as do Brasil as tecnologias podem ser verdadeiras aliadas no sentido de promover maior acesso aos serviços de saúde e ainda que de maneira remota o acesso as informações fazendo com que não só o paciente, mas também seus cuidadores contribuam para o monitoramento e estejam aptos para identificar sinais de agravamento da doença possibilitando intervenção eficaz.
Estudo realizado em um hospital de alta complexidade no Brasil apresentou que, em um público total de 125 pessoas com insuficiência cardíaca, 41,6% das causas de descompensação são ocasionadas por má adesão ao tratamento farmacológico e 12,8% por má adesão do tratamento não farmacológico. (10)
Do ponto de vista político, as iniciativas governamentais em relação à telemedicina foram tomadas principalmente pelo Ministério da Saúde e criadas para promover o seu uso na expansão e melhoria dos serviços de saúde. No entanto, as dimensões envolvidas encontram-se além dos limites estabelecidos pelo MS. É necessária uma ação efetiva interministerial para estimular a economia (inovação e eficiência econômica) e a dimensão social (interesse da população e igualdade) para impulsionar a telemedicina em direção à expansão e melhoria do cuidado em saúde. (14)
O crescimento da internet aumenta a venda de smartphones e, com isso, proliferam estudos de construção e validação de APP, que já ultrapassa 165 mil, retratando interesse no desenvolvimento
de tecnologias móveis, colaborando na construção de nova modalidade de assistência em saúde. (15)
A cultura também é um fator que delimita a utilização das tecnologias em favor da integralidade da assistência à saúde bem como sua instrumentalidade. Tendo em vista que a saúde e principalmente a enfermagem durante muito tempo e ainda hoje limitou o cuidado ao contato direto ao paciente. Muitos profissionais ainda se veem incapazes de prestar uma assistência de qualidade a um paciente e sua família a quilômetros de distância. Ainda que um sistema de comunicação eficaz seja capaz de permitir ao profissional não só a extensão do seu cuidado como também a individualização dele, maior controle e acesso as demandas daquele individuo bem como do meio em que está inserido.
A principal característica da telemedicina é sua capacidade de democratizar os serviços de saúde. Para isso, são necessárias iniciativas legislativas (econômicas e sociais) que apoiem e encorajem o uso dessa tecnologia, um aparato regulatório, a mobilização de um grupo de empresas interessadas, e o desenvolvimento científico adequado. (14)
CONCLUSÃO
O estudo evidencia a influência da utilização de tecnologias de telemonitoramento juntamente com uma rede que permita o compartilhamento das informações geradas a partir destas com a equipe multiprofissional de modo a contribuir substancialmente com o monitoramento efetivo desse paciente. Para tanto faz-se necessário que o investimento nessas tecnologias seja cada vez maior e este é um movimento que já está sendo visto não só através do envolvimento das empresas de tecnologias em introduzir esse tipo de monitoramento através de tecnologias vestíveis – wearables - que são capazes de fornecer dados como: pressão arterial, pulso, saturação de oxigênio entre outros no sentido de fornecer ao paciente dados que permitam autoavaliação de suas condições físicas e possíveis alterações mas também do próprio sistema público de saúde no sentido de criar em enriquecer um sistema de políticas públicas que fortaleçam essa modalidade como estratégia para fortalecer o cuidado e atenção no ambiente extra-hospitalar.
No Brasil o sistema único de saúde já conta com a introdução de algumas dessas tecnologias de TMO ainda que de maneira gradativa, mas que já demonstra tamanha efetividade na redução de agravos e no controle das comorbidades associadas. Essa estratégia deve contar com a capacitação dos profissionais no sentido não só de dominar as tecnologias, mas também de ultrapassar a barreira do cuidado que culturalmente está associada ao ambiente físico das unidades de saúde. Em contrapartida temos a barreira social associada ao acesso a essas tecnologias por parte do próprio paciente mais ainda se tratando em construir uma cultura com confiabilidade e segurança a partir da assistência oferecida através do teleatendimento.
Nesse sentido é de total importância o papel do enfermeiro que é visto como precursor da pratica do cuidado, e se tornará um meio fundamental de aproximação do paciente e sua família com essas novas tecnologias tornando-se o principal mediador para o fortalecimento do empoderamento e gestão do autocuidado e consequentemente numa significativa melhora no panorama geral do impacto da insuficiência cardíaca no sistema de saúde.
REFERÊNCIAS
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2. Sousa MM, Lopes CT, Almeida AAM, Almeida TCF, Gouveia BLA, Oliveira SHS. Development and validation of a mobile application for heart failure patients self-care. Rev Esc Enferm USP. 2022;56: e20220315. https://doi.org/10.1590/1980-220X-REEUSP-2022-0315en.
3. Objetivo de Desenvolvimento Sustentável [Internet]. Brasília: Organização das Nações Unidas; 2022. 3 Saúde e Bem-Estar [2]. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/3.
4. Morton PG, Fontaine DK. Cuidados Críticos em Enfermagem - Uma Abordagem Holística. 11ª ed. Guanabara Koogan; 2019.
5. Arruda VLD, Machado LMG, Lima JC, Silva PRDS. Tendência da mortalidade por insuficiência cardíaca no Brasil: 1998 a 2019. Rev Bras de Epidemiol. 2022; 25: E220021.
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6. Cruz IO, Costa S, Teixeira R, Franco F, Gonçalves L. Telemonitoramento da Insuficiência Cardíaca–A Experiência de um Centro. Arq Bras Cardiol. 2022; 118(3):599-604.
7. Velasco NS, Figueiredo LS, Cavalcanti ACD & Flores PVP (2020). Systematic review on mobile applications in adherence to the treatment of patients with heart failure. Research, Society and Development, 9(7): 1-19, e446974306.
8. Silva WTD, Tyll MG, Miranda ACCDS, Moura GP, Veríssimo ADOL. Características clínicas e comorbidades associadas à mortalidade por insuficiência cardíaca em um hospital de alta complexidade na Região Amazônica do Brasil. Rev Pan Amaz Saude 2020;11:e202000449 – e-ISSN: 2176-6223.
9. Ministério da Saúde (BR). Entendendo a incorporação de tecnologias em saúde no SUS: como se envolver. Brasília, DF; 2016. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/entendendo_incorporacao_tecnologias_sus_envolver.pdf
10. Caorsi WR. Cardiologia digital (e-Cardiología): ferramentas de utilidade para o diagnóstico e o manejo do paciente com fibrilação auricular. Revista Uruguaya de Cardiologia. Rev Urug Cardiol 2021; 36: e402.
11. San’Anna RM, Camacho ACLF, Souza VMF, Menezes HF, Silva RP. Tecnologias educacionais no cuidado à pacientes com doenças cardiovasculares. São Paulo: Rev Recien. 2022; 12(37):163-175.
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12. Lêda IR, Silva MCR, Garbi GP. A aplicabilidade do mobile health: qualificando as práticas de tratamento e supervisão de pacientes [Internet]. 2021.
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13. Freitas Junior AF, Silveira FS, Conceição-Souza GE, Canesin MF, Schwartzmann PV, Bernardez-Pereira S, Bestetti, RB. Tópicos Emergentes em Insuficiência Cardíaca: O Futuro na Insuficiência Cardíaca: Telemonitoramento, Wearables, Inteligência Artificial e Ensino na Era Pós-Pandemia. Arq Bras Cardiol. 2020; 115(6):1190-1192.
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14. Colafranceschi AS. Economia Comportamental e Adesão à Inovação: Construindo Novas Habilidades para Superar Barreiras ao Cuidado Mediado pela Tecnologia. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(4):664-666.
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15. Cestari VRF, Florêncio RS, Garces TS, Pessoa VLMP, Moreira TMM. Benchmarking of mobile apps on heart failure. Rev Bras Enferm. 2022;75(1):e20201093. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-1093.
JSNCARE