JSNCARE

The importance of the oral hygiene in Intensive Care Unit as a way of prevention of nosocomial infection - Literature Review.

 

A importância da higiene oral em Unidade de Terapia Intensiva como meio de prevenção de infecção nosocomial - Revisão Sistematizada da Literatura.

Gisele Borges Toledo. Enfermeira. Aluna do Curso de Especialização de Enfermagem em Cuidados Intensivos com Ênfase na saúde do Cliente Adulto e Idoso/Universidade Federal Fluminense (UFF). gibt@ibest.com.br

Isabel Cruz. Doutora em Enfermagem/UFF. isabelcruz@uol.com.br

 

ABSTRACT: Patients with inadequate oral hygiene and bad dental conditions presents bigger risk of local complications and systemic, this work has objective inform to the health’s professionals about the importance of the oral hygiene in patients interned in ICU (Intensive Care Unit), as preventive measure of nosocomial infection. Methodology: it is a bibliographical revision computerized of available articles through electronic database, that it had like reference the virtual library of health, utilizing as base of  facts Medline, Lilacs and Scielo. Results: after the search and the utilization of all the keywords were found 31 articles of the which barely 6 in Portuguese and 4 in English corresponded to the criterions of selection for inclusion in this study. Conclusion: it was identified a deficiency around the publications that comprehend this subject, so there is a real need of deepen researches that serve of subsidies to formulation and application of protocols, optimizing the care of nursing the oral health.

Key words: oral hygiene, cross infection, critical care, intensive care.

RESUMO: Pacientes com inadequada higiene oral e más-condições dentárias apresentam maiores risco de complicações locais e sistêmicas, assim tenho como objetivo informar aos profissionais de saúde a importância da higiene oral em pacientes internados em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), como medida preventiva de infecção nosocomial. Metodologia: é uma revisão bibliográfica computadorizada de artigos disponíveis através de banco de dados eletrônicos, que tiveram como referência a biblioteca Virtual de Saúde, utilizando como base de dados Medline, Lilacs e Scielo. Resultados: após a busca e a utilização de todas as palavras chave foram encontrados 31 artigos dos quais apenas 6 em português e 4 em inglês corresponderam aos critérios de seleção para inclusão neste estudo.  Conclusão: foi identificada uma deficiência em torno das publicações que abrange este assunto, logo há uma necessidade real de aprofundar pesquisas que sirvam de subsídios para formulação e aplicação de protocolos, otimizando o cuidado de enfermagem a saúde bucal.                                             

Palavras chave: higiene bucal, infecção hospitalar, cuidados críticos, cuidados intensivos.

INTRODUÇÃO:

SITUAÇÃO-PROBLEMA: Desde as antigas civilizações, havia uma preocupação com a saúde dentária e acreditava-se que a cavidade bucal, por ser a “porta de entrada”, deveria ser mantida rigorosamente limpa para proteger o corpo de infecções1. Relatos de Hipócrates 460-377 a.C., já anunciavam sobre a importância de se remover os depósitos da superfície dentária, para a manutenção da saúde2,3. Sendo assim, já existia a idéia de que as bactérias bucais poderiam causar focos infecciosos à distância, ou enfermidades sistêmicas há mais de um século.                                                                          

Entendo que, num mundo globalizado, é necessário explorar tendências e convertê-las em atitudes eficazes, no cuidado do paciente, o que exige competência, habilidade e atitude diferenciadas por parte do profissional envolvido na execução desse processo4,5. Para refletir sobre tal visão de trabalho, a proposta dessa investigação consiste em explorar a importância designada à higiene (saúde) oral do paciente internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), como meio de prevenção de infecções nosocomiais. Neste contexto, o século XXI revela um novo cenário no cuidado à saúde, no reconhecimento cada vez maior de novos agentes infecciosos, no ressurgimento de infecções que até pouco tempo estavam controladas, o que tem desencadeado o repensar dos paradigmas de controle da infecção6,7.           

Em termos de infecção hospitalar, a problemática é mais séria na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)8. Neste ambiente, o paciente está mais exposto ao risco de infecção, haja vista a sua condição clínica, a variedade de procedimentos invasivos, entre outros fatores de risco9,10. É destacado que na UTI os pacientes têm um aumento de cinco a dez vezes de contrair infecção; o que representa cerca de 20% do total das infecções de um hospital11. Estes pacientes estão com o estado clínico comprometido, ou seja, apresentam alterações no sistema imunológico, exposição a procedimentos invasivos11, desidratação terapêutica (prática comum para aumentar a função respiratória e cardíaca), o que leva a xerostomia (redução do fluxo salivar)12-13. Ainda é ressaltado que são suscetíveis ao ressecamento da secreção salivar, tornando-se muco espessado, especialmente devido à incapacidade de nutrição, hidratação e respiração8,14. A impossibilidade do autocuidado favorece a precariedade da higienização bucal, acarretando o desequilíbrio da microbiota residente, com conseqüente aumento da possibilidade de aquisição de diversas doenças infecciosas comprometendo a saúde integral do paciente2,3.                  

A higiene bucal deficiente é comum em pacientes internados em UTI, o que propicia a colonização do biofilme bucal por microrganismos patogênicos, especialmente por patógenos respiratórios6. Diante das relações entre infecções nosocomiais e a condição bucal, se faz necessário à aquisição e manutenção da saúde oral14,15.

Ultimamente, a promoção e prevenção da qualidade de vida vêm sendo a temática de muitas conferências e debates que contextualizam o cotidiano da saúde11,12. Visto que pacientes com inadequada higiene oral e más condições dentárias apresenta maior risco de complicações locais e sistêmicas16.                  

Influenciada por este paradigma, acredito ser de extrema importância à questão da higiene oral em pacientes hospitalizados em Unidade de Terapia Intensiva como prevenção de infecções nosocomiais. Ressaltando, ainda, que tal investigação se justifica, na medida em que o cuidado com a higiene oral dos pacientes é um fator importante no processo saúde/doença.                                     

Cabe ainda lembrar que a higiene oral não só ajuda a manter o estado sadio da boca, dentes, gengivas e lábios, como atua no fator de prevenção nas infecções do aparelho respiratório causadas por microaspirações8,13. Assim, promover o cuidado com a higiene oral é uma medida de prevenção de infecções nosocomiais, principalmente associada à ventilação mecânica (PAVM), em pacientes internados em UTI, uma vez que reduz a colonização da orofaringe por patógenos respiratórios17,18.          

Pesquisas têm demonstrado a inter-relação da doença periodontal com doenças sistêmicas, como doenças cardiovasculares, osteoporose, nascimento de bebês de baixo peso e parto prematuro, diabetes e doenças respiratórias12. A cavidade oral tem sido considerada como um potente reservatório de patógenos respiratórios19. Diante destes fatos, evidencia-se a importância da higiene bucal como um meio de se prevenir patologias diversas.                                                                                                      
OBJETIVO: Em unidade de terapia intensiva (UTI), infecções nosocomiais são responsáveis por altas taxas de morbidade, mortalidade e aumento expressivo dos custos hospitalares, sendo que seu estabelecimento se dá mais comumente pela aspiração do conteúdo presente na boca e faringe1.        O objetivo deste estudo foi buscar dados na literatura sobre a influência da condição bucal no estabelecimento de infecções nosocomiais de pacientes internados em unidade de terapia intensiva, como também discutir sobre a importância da saúde bucal e a inter-relação com saúde sistêmica.

METODOLOGIA

 

            Pesquisa bibliográfica computadorizada e/ou manual, no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2008, utilizando as palavras-chave/key-words, higiene bucal (oral hygiene), infecção hospitalar (cross infection), cuidados críticos (critical care), cuidados intensivos (intensive care), nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Medical Literature Analysis and Retrieval System (Medline) e Scientific Eletronic Library Online (Scielo). Dos 31 textos identificados, foram selecionados 10 para análise devido às implicações para uma melhor prática.

 

PRINCIPAIS RESULTADOS

Tabela 1 – Publicações localizadas, segundo o tema: A importância da higiene oral em Unidade de Terapia Intensiva como meio de prevenção de infecção nosocomial, mencionadas nas bases de dados, Niterói, 2008.

 

Autor(es), Data & País

Objetivo da pesquisa

Tamanho da amostra

Tipo do estudo & instrumento

Principais achados

Conclusões do autor(es)

 

 

 

 

 

 

Silva M, Oliveira ALR, 2006, Brasil.1

Objetivou buscar dados sobre a participação da condição bucal no aparecimento da pneumonia nosocomial em UTI.

Estudo com 512 profissionais (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem).

Estudo prospectivo, sendo elaborado um questionário com 16 questões fechadas, enviados via postal.

A condição da higiene oral dos pacientes internados em UTI foi considerada deficiente. Os grupos demonstraram diminuição na incidência de infecção nosocomial com os cuidados com a saúde bucal.

Com a relação entre infecções nosocomiais e condição bucal a higiene oral é o melhor meio de prevenção.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Miyuki D, Sorgini MA, 2007, Brasil.2

Objetivou identificar o padrão microbiológico de pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva e verificar a influência da higiene oral para a prevenção de infecções nosocomiais.

Estudo com 146 amostras da orofaringe, porém devido a problemas no processamento na coleta de cultura, apenas 56 amostras integraram o estudo.

Estudo prospectivo, correlacional. As amostras foram submetidas à coleta de secreções da orofaringe nas primeiras 24 horas de internação.

Verificou-se que os portadores de microorganismos patógenos apresentavam tempo de internação maior do que os colonizados somente por espécies da flora normal. As bactérias da flora normal e patógenas mais isoladas nas culturas foram: Streptococcus, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa.

A descrição da flora oral foi útil para o reconhecimento do risco de desenvolvimento de infecções hospitalares por microorganismos patógenos, verificando-se a importância da higiene oral.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Brito LFS, Leal SMC, 2007, Brasil.3

Objetivou explorar o conhecimento da importância da higiene oral como cuidados primários, para evitar que se tornem agentes complicadores do estado geral.

A população foi constituída por 10 enfermeiros (as) da Unidade de Terapia Intensiva.

Estudo qualitativo, descritivo e exploratório. A coleta de dados foi por entrevista semi-estruturada, utilizado a análise de Conteúdo Temático.

Observou-se que o cuidado é direcionado para o fazer-saber e para as intercorrênciais emergenciais, o que demonstrou um desconhecimento por parte dos enfermeiros (as) sobre a relação da saúde oral com a saúde sistêmica.

Não havia ciência das conseqüências clínicas da não promoção da higiene oral em pacientes com déficit de autocuidado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Morais TMN, Silva A, Avi AlRO, 2006, Brasil4.

Verificar o grau de conhecimento sobre saúde bucal e a existência de um protocolo de infecção de controle em UTI.

Estudo realizado com 110 profissionais (enfermeiros e técnicos de enfermagem).

Estudo quantitativo e qualitativo.  Coleta de dados através de um questionário contendo 24 questões mistas.

A importância da higiene oral na manutenção da saúde sistêmica apresenta-se pouco difundida e, verificou-se não existir protocolos ou setor responsável pelo controle de infecção oral.

Para a manutenção da saúde sistêmica a equipe deve buscar sempre a constante atualização.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Santos PSSS, Mello WR, Wakim RCS, Paschol MAG, 2008, Brasil5.

Avaliar a eficiência antimicrobiana na prática de higiene oral, utilizando solução bucal de sistema enzimático em pacientes em Unidade de Terapia Intensiva.

Estudo realizado com 20 pacientes totalmente dependentes de cuidados.

Estudo piloto, prospectivo. Os pacientes foram divididos em dois grupos com a mesma técnica de higienização, mas com soluções diferentes.

Observou-se que o grupo que utilizou à solução enzimática a base de lactoperoxidase mostrou ser mais eficiente na avaliação clínica do que os pacientes que utilizaram solução a base de cetilpiridínio.

Cuidados de higiene oral com produtos de ação bactericida podem melhorar o estado geral de pacientes dependentes de cuidados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Oliveira lCBS, Carneiro PPM, Fischer RG, 2007, Brasil6.

Investigar e identificar a presença de patógenos respiratórios na cavidade oral de pacientes em Unidade de Terapia Intensiva.

Pesquisa realizada com 30 pacientes internados em UTI, de um hospital do estado do Rio de Janeiro.

Estudo transversal com pacientes com diagnóstico de infecção nosocomial. A coleta de dados foi através de cultura das amostras do aspirado traqueal.

Os agentes associados com a infecção nosocomial estavam presentes em 70% das amostras. As bactérias encontradas foram S. aureus, Kleibsella pneumoniae, Candida albicans, Streptococcus, Eschericia coli e Enterobacter cloacae.

Os patógenos respiratórios encontrados no biofilme bucal são importante reservatório para agentes associados a infecções.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bopp M, Darby M, Loftin K, Broscious S, 2007, USA7.

Verificar a eficácia da higiene oral com gluconato de clorexidina 0,12%, comparando aos que receberam a higiene oral sem solução.

Estudo realizado com 5 pacientes internados na Unidade de terapia Intensiva.

Estudo randomizado, prospectivo. Todos os pacientes foram monitorados até a alta.

Os resultados sugerem que cuidados de higiene oral com gluconato de clorexidina 0,12%, pode reduzir o risco de infecção hospitalar quando comparados aos pacientes que receberam higiene sem solução.

Cuidados com a higiene oral utilizando o gluconato é a melhor maneira de redução de infecção nosocomial.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Munro CL, Ashtiani B, Bryant S, 2003, USA8.

 

Descrever a freqüência de intervenções de higiene bucal, relatadas pelos enfermeiros em uma Unidade de Terapia Intensiva de um hospital da grande sudeste.

Pesquisa realizada com 20 enfermeiros.

Estudo prospectivo, com um inquérito descrevendo as práticas de higiene bucal adotados pelos enfermeiros nas 24 horas, para todos os pacientes selecionados.

75% informaram prover cuidado bucal 2 ou 3 vezes por dia e 72% prover cuidados 5 vezes ou mais por dia para pacientes intubados. O uso de escova de dentes e creme dental foi significativamente maior em pacientes intubados.

Apesar de haver provas de que apenas o uso de escova e creme dental são ineficazes para remover a placa, ainda é o principal meio de higiene.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bergmans DCJJ, Bonten MJM, Gaillard JCP, 2003, USA9.

Utilizar soluções antimicrobianas na prática de higiene oral na admissão do paciente e no decorrer da  internação como meio de descontaminação oral.

Pesquisa realizada com 87 pacientes internados em Unidade de Terapia intensiva.

Estudo  randomizado, prospectivo, em que 87 pacientes receberam profilaxia antimicrobiana tópica.

A utilização de soluções tópicas na higiene oral erradicou a colonização de patógenos na orofaringe no momento da admissão, impedindo a colonização nos demais dias de internação.  

Essa abordagem evita a colonização da orofaringe, sendo um método eficaz de prevenção de infecções nosocomiais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jelic S, Cunningham JA, Factor P, 2008, USA10.

Relacionar a higiene oral com a incidência de infecções, tempo de permanência na Unidade de Terapia Intensiva e a mortalidade.

Revisão de literatura.

Revisão de literatura tendo como base um levantamento realizado no banco de dados pubMéd.

A maioria dos patógenos encontrados na cavidade oral eram causadores de infecções nosocomiais, o que consequentemente influencia no tempo de internação e no número de mortalidade.

O estudo mostra a importância de uma profilaxia oral para a diminuição de infecções nosocomias, custos e mortalidades.

Fonte: UFF – Especialização de Enfermagem em Cuidados Intensivos com Ênfase  na Saúde do Cliente Adulto/Idoso.

 

DISCUSSÃO

Avaliação crítica dos artigos selecionados e implicações para a prática de enfermagem para o cliente de alta complexidade

Há muito se suspeita da relação de doenças bucais e sistêmicas, sendo as primeiras citações científicas desta relação datada em 2.100 a.C., indicando que problemas bucais, especialmente a doença periodontal, podem atuar como foco de disseminação de microrganismos patogênicos com efeito metastático sistêmico, especialmente em pessoas com a saúde comprometida1,2. Os avanços científicos trazem subsídios para acreditar na contribuição significativa do tratamento e cuidado bucal3, na prevenção e/ou melhora da condição sistêmica, principalmente no paciente crítico4.

A colonização da orofaringe por microorganismos potencialmente patogênicos vem sendo associada a diversas doenças sistêmicas, incluindo distúrbios cardiovasculares, pulmonares, renais, entre outros2. Dentre as doenças sistêmicas, vários estudos indicam que as periodontopatias podem influenciar o curso das infecções respiratórias destacando-se as pneumonias5,6. A pneumonia é uma infecção debilitante, em especial, no paciente idoso e imunocomprometido7,8,9. Nos hospitais, a pneumonia nosocomial exige atenção especial. É a segunda causa de infecção hospitalar e a responsável por taxas significativas de morbidade e mortalidade em pacientes de todas as idades10,11,12. Os pacientes mais vulneráveis a esta importante infecção são os internados em unidades de terapia intensiva (UTI), em especial os que estão sob ventilação mecânica9,13.                                                                   

A literatura científica é vasta de evidências sobre os altos índices de infecção do trato respiratório no meio hospitalar, especialmente nas Unidades de Terapia Intensiva14,15. Fatores como idade, patologia de base, colonização da orofaringe e uso de sonda endotraqueal, predispõem ao aparecimento destas infecções16.           

O autor pesquisado enfatiza que pacientes de UTI apresentam higiene bucal deficiente e maior colonização do biofilme bucal por patógenos respiratórios6. Sendo que a quantidade e a complexidade aumentam com o tempo de internação5,6. Estes resultados levam a sugerir que a colonização do biofilme bucal por patógenos, em especial os respiratórios, pode ser uma fonte específica de infecção nosocomial importante em UTI, uma vez que as bactérias presentes na boca podem ser aspiradas e causar pneumonias de aspiração6,8,10.     

É importante ressaltar que esta microbiota é uma ameaça aos pacientes críticos, particularmente aqueles em ventilação mecânica17,18. Essa microbiota é abundante e diversificada, podendo conter de 108 a 1011 bactérias/ml18,19. Vários agravos, como cárie dental, doença periodontal, endocardite bacteriana, pneumonia, entre outros, têm sido associados aos microrganismos da boca8,12. 

Logo, a medicina vem travando uma dura batalha contra as infecções nosocomiais, pois além de causar números significativos de óbito, provoca impacto expressivo aos custos hospitalares, pois pode atuar como fator secundário complicador prorrogando, em média de 7 a 9 dias a hospitalização10,11. Em pacientes intubados, a estada hospitalar pode ser prolongada em média entre 10 a 13 dias com aumento significativo nos custos com o diagnóstico e o tratamento dessas infecções11. Desta maneira, acredito ser imprescindível a realização de pesquisas para aperfeiçoar métodos de diagnóstico, tratamento e medidas preventivas eficazes no cuidado de higiene oral, de forma a buscar resultados para diminuir as infecções, uma vez que a forma mais comum de adquiri-la é por meio da aspiração do conteúdo da boca e da faringe. Estudos demonstram que 45% de adultos sadios e 70% de pacientes com depressão do nível de consciência apresentam aspiração de secreção da orofaringe durante o sono3,4.                                                                                                                                  

Dentre todas as infecções adquiridas em hospital, as infecções nosocomiais são responsáveis por 10% a 15% deste total; e 20% a 50% de todos os pacientes afetados por infecções falecem8,9. O risco de desenvolvimento de pneumonia nosocomial é de 10 a 20 vezes maior na unidade de terapia intensiva, sendo que o seu desenvolvimento em pacientes com ventilação mecânica e/ou umidificador varia de 7% a 40%15,18. Estimativas indicam que nos EUA mais de 300.000 infecções respiratórias nosocomiais ocorram a cada ano, resultando em 20.000 mortes/ano e gastos aproximados de US$ 30 bilhões em cuidados hospitalares e antibioticoterapia com estes pacientes15,16.                              

De acordo com o autor pesquisado, existem duas formas para os micro-organismos bucais alcançarem o trato respiratório inferior: difusão hematogênica e aspiração. A difusão hematogênica das bactérias é rara e só há dois casos documentados na literatura1,2. Os micro-organismos podem contaminar o trato respiratório inferior através de quatro possíveis vias: 1) aspiração do conteúdo da orofaringe; 2) inalação de aerossóis infectados; 3) disseminação da infecção através de áreas contíguas; 4) disseminação hematogênica através de áreas infecciosas extrapulmonares (p. ex.: infecção do trato gastrintestinal)3. Assim, pode ser sugerido que há três mecanismos possíveis para se associar o biofilme bucal com infecções respiratórias. Primeiro, o biofilme bucal com higiene deficiente, resultaria em alta concentração de patógenos na saliva, que poderiam ser aspirados para o pulmão em grandes quantidades, deteriorando as defesas imunes. Segundo, através de condições específicas, o biofilme bucal poderia abrigar colônias de patógenos pulmonares e promover seu crescimento. Por fim, as bactérias presentes no biofilme bucal poderiam facilitar a colonização das vias aéreas superiores por patógenos pulmonares6

Assim, a condição de deficiência de higiene oral em pacientes críticos desencadeia freqüentemente periodontites, gengivites, otites, rinofaringite crônicas, xerostomia potencializando focos de infecções propícias a infecções nosocomiais7,8. Com freqüência, os pacientes de terapia intensiva, permanecem com a boca aberta, devido à intubação traqueal, permitindo a desidratação da mucosa oral, diminuições do fluxo salivar e aumento da saburra ou biofilme lingual (matriz orgânica estagnada) no dorso da língua, o que favorece a produção de componentes voláteis de enxofre, tais como mercaptanas (CH SH) e sulfidretos (SH) que têm odor desagradável e colonização bacteriana2,3,4. Um outro ponto a ser considerado é o impacto do fraco estado nutricional repercutindo na cavidade oral, pois estes pacientes recebem nutrição enteral ou parenteral, o que reduz a capacidade de reparação tecidual e reduz a imunidade a infecções devido à inadequada nutrição13,14. Diante dos riscos bacterianos oriundos da boca, este estudo sugere que se deve preconizar a completa limpeza nos tecidos da cavidade bucal, incluindo: dentes, gengivas e língua; removendo restos alimentares e placa bacteriana, com o intuito de promover um ambiente bucal “imune” às afecções orais.                                    

 Ponderando que a microbiota da cavidade bucal representa uma ameaça aos pacientes críticos, algumas estratégias para prevenir a colonização têm sido estudadas, como a aplicação de antibióticos tópicos não absorvíveis4,5. Segundo o autor pesquisado, é importante que o produto enzimático de escolha para a higiene contenha a lactoferrina, que através de sua ação e suas interações na saliva reduz a incidência de Cândida albicans e Cândida krusei na mucosa oral5. Dos trabalhos analisados, entre os produtos utilizados está o Peridex (gluconato de clorexidine 0,12%), um agente antimicrobiano com amplo espectro de atividade contra gram-positivos, incluindo o Staphylococcus aureus e com menor eficácia contra gram-negativos. É absorvido pelos tecidos, ocasionando um efeito residual ao longo do tempo, apresentando atividade mesmo cinco horas após a aplicação, o que impede a formação da placa bacteriana e/ou fúngicas na cavidade oral6,7.

Atualmente, inúmeros produtos para higiene bucal e controle da flora microbiana encontram-se disponíveis no mercado5,6,7. Cabem aos profissionais de saúde e às pessoas responsáveis pela aquisição dos mesmos, buscar informações dentro da ampla literatura existente sobre eficácia, posologia e principalmente indicação.               

Vários aspectos comprometem a higienização da cavidade bucal e favorecem ainda mais o crescimento microbiano, como a dificuldade e/ou impossibilidade do autocuidado, a presença do tubo traqueal, que dificulta o acesso à cavidade bucal e a conseqüente formação de patógenos resistentes na placa dentária10,11. Diante do exposto, busco na prática baseada em evidências o referencial teórico para fundamentar este estudo, uma vez que sua abordagem proporcionará a aplicação sistematizada da melhor evidência científica, para a avaliação de opções e tomada de decisão no cuidado integral do paciente.                

É importante considerar  as dificuldades e os desafios inerentes à higienização bucal destes pacientes. Mas, acredito que estes resultados possam constituir em mais uma evidência no contexto de que a saúde bucal esta relacionada à saúde sistêmica de pacientes críticos em UTI, de forma a verificar a grande importância da prática de higiene oral como meio de prevenção de infecções nosocomiais, uma vez que as literaturas pesquisadas demonstraram, de maneira clara e vigorosa, a influência da condição bucal na evolução do quadro dos pacientes internados.

CONCLUSÃO:

Durante o desenvolvimento da temática proposta para esta pesquisa, surgiram muitas dificuldades para a localização de periódicos e, até mesmo, bibliografias que tratassem deste tema especificamente por enfermeiros em Centro de Terapia Intensiva.

Considero, ainda, que mais estudos com abordagem na importância do cuidado oral fazem-se necessários para melhor elucidar a questão. Os dados encontrados e suas interpretações abrem caminho para diversas reflexões e conhecimento sobre as inter-relações entre saúde bucal e saúde sistêmica para toda a equipe de saúde, a partir do entendimento do corpo humano como um conjunto, abandonando a visão da boca como sendo uma parte isolada do organismo. Estes dados, propõem uma nova visão de que procedimentos específicos para o controle destes patógenos na cavidade oral devem ser considerados como meio de prevenção de infecções nosocomiais, especialmente em pacientes de Unidade de Terapia Intensiva.

A partir destas constatações, torna-se fundamental que a equipe de enfermagem promova a atenção referente à higiene oral, de forma sensível e comprometida ao técnico-científico, ao cuidar do paciente, abandonando a visão da boca como sendo parte isolada do organismo. Sugiro e destaco a necessidade de pesquisas clínicas, a fim de correlacionar os índices de infecções nosocomiais em UTI com a falta de cuidados com a higiene oral e, também, padronizar metodologias de execução do cuidado com a higiene oral em pacientes intubados, possibilitando a adoção de uma nova postura diante da realidade constatada, em relação à deficiência dos cuidados com a higiene oral em UTI.

Cabe, ainda, ressaltar que a dedicação e o profissionalismo, implicados em proporcionar um cuidado diferenciado com relação à higiene oral, ultrapassam as barreiras de simplesmente salvar dentes e sorrisos. O profissional que anseia por promover uma assistência integral compromete-se com o processo saúde/doença do paciente1.

O enfermeiro enquanto integrante e líder da equipe assistencial têm de instituir medidas de educação e treinamento como forma de associar à teoria a prática. Os autores pesquisados sugerem como soluções potenciais a criação de protocolos de higiene oral e cuidados profissionais para diminuir a ocorrência de infecções2.                                                                          

A preocupação com infecções bucais como foco primário de infecções sistêmicas em pacientes totalmente dependentes de cuidados internados em UTI, apesar de pouco documentada, tem sido um tema relevante nas discussões de equipes de saúde3. Neste sentido, o que irá garantir a eficácia de uma boa higiene oral em pacientes dependentes será a conscientização, a estimulação e o treinamento contínuo daqueles que estiverem diretamente envolvidos com os mesmos4. Acredito que a compreensão deste paradigma, por parte da equipe multiprofissional, é fundamental para que o paciente seja atendido de forma integral.

 

REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS

1 - Silva M, Oliveira ALR. A doença periodontal influenciando a condição sistêmica. Rev Bras Enferm 2006 out; 18:316-19

 

2 - Miyuki D, Sorgini MA. Colonização orofaríngea de pacientes à admissão em uma unidade de cuidados intensivos. Acta Paul Enferm 2007 dez; 20:344-51

 

3 - Brito LFS, Leal SMC. Higiene oral em pacientes no estado de síndrome do déficit no autocuidado. Acta Paul Enferm 2007 dez; 28(3):359-67

 

4 - Morais TMN, Silva A, Avi AlRO. A importância da prática de higiene oral em pacientes internados em unidade de terapia intensiva. Rev Paul Enferm 2006 jun; 18:412-7

 

5 - Santos PSSS, Mello WR, Wakim RCS, Paschol MAG. Uso de solução bucal com sistema enzimático em pacientes totalmente dependentes de cuidados em unidade de terapia intensiva. Rev Bras Enferm 2008 jun; 20:35-41

 

6 - Oliveira lCBS, Carneiro PPM, Fischer RG. A presença de patógenos respiratórios no biofilme bucal de pacientes com pneumonia nosocomial. Rev Bras Enferm 2007 set; 19(4):428-33

7 - Bopp M, Darby M, Loftin K, Broscious S. Effects of daily oral care with 0.12% chlorhexidine gluconate and a standard oral care protocol on the development of nosocomial pneumonia in intubated patients: a pilot study. Crit Care Nurs 2007 jan; 1(8):76-82

 

8 - Munro CL, Ashtiani B, Bryant S. Oral care interventions in critical care: frequency and documentation. Am J Crit Care 2003 dez; 12:113-8

 

9 - Bergmans DCJJ, Bonten MJM, Gaillard JCP. Prevention of ventilator-associated pneumonia by oral decontamination. Am J Crit Care 2003 aug; 164:382-8

 

 10 - Jelic S, Cunningham JA, Factor P. Clinical review: airway hygiene in the intensive care unit. Crit Care Nurs 2008 mar; 12(2):209

 

11 - Oliveira AC, Horta B, Martinho GH, Dantas LV, Ribeiro MM. Nosocomial infections and bacterial resistance in patients from a teaching hospital intensive care unit. Online Braz J Nurs 2007 dez; 6(2). Disponível em: www.uff.br/objnursing. Acesso em 10 out 2008.

12 - Almeida RV, Paiva IS. Periodontia: a atuação clínica baseada em evidências científicas. São Paulo: Artes Médicas; 2005.

 

13 - Magalhães MHCG, Becker MM, Ramos MS. Aplicação de um programa de higienização supervisionada em pacientes portadores de paralisia cerebral. Rev Bras Enferm 2003 mar; 4(2):109-13

 

14 - Barry CL, Grap MJ. Oral health and care in the intensive care unit: state of the science. Am J Crit Care 2004 out; 13(1):25-34

 

15 - Dauber A, Bauernfeind  A, Russwurm  W, Metzger SI. Decrease in nosocomial pneumonia in ventilated patients by selective oropharyngeal decontamination (SOD). Am J Crit Care 2003 dez; 23: 187-95 

 

16 - Furr LA, Binkley CJ, McCurren C, Carrico R. Factors affecting quality of oral care in intensive care

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17 - Brasil. Ministério da Saúde. Programa nacional de controle de infecção hospitalar. Manual de procedimentos básicos em microbiologia clínica para o controle de infecção hospitalar. Brasília: ANVISA; 2003. 56p.        

 

18 - Vargas MAO, Vieira DF, Sabini TL, Rosa FS. Aspiração de secreções do paciente sob ventilação mecânica. In: Associação Brasileira de Enfermagem. PROENF: Programa de Atualização em Enfermagem: saúde do adulto. Porto Alegre:Artmed/Panamericana; 2006. p. 181-211

 

19 - Andrade D, Angerami ELS. Reflexões acerca das infecções hospitalares às portas do terceiro milênio. Rev Paul Enferm 2003 out; 32:492-497

 





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