Boletim NEPAE-NESEN

Vídeo aula como instrumento de ensino sobre o mecanismo da pressão arterial: um relato de experiência.

Video lesson as a teaching tool about the mechanism of blood pressure: an experience report.

Natália Braga. Graduanda do Curso de Graduação e Licenciatura em Enfermagem da Universidade Federal Fluminense

Isabel Cruz. Professora Titular do curso de Enfermagem e Licenciatura da Universidade Federal Fluminense

RESUMO.

Este artigo trata de um relato de experiência sobre uma vídeo aula desenvolvida para clientes portadores de hipertensão arterial sistêmica. Teve-se como objetivo, a orientação ao cliente adulto de como manter sua pressão arterial em 120X80. Então, como proposta da disciplina pratica e pesquisa em ensino III, do curso de graduação em enfermagem e licenciatura da Universidade Federal Fluminense, foi desenvolvida uma vídeo aula que tem por objetivo o aprendizado do cliente sobre o mecanismo da pressão arterial e técnica de verificação da mesma.

Descritores: Enfermagem. Hipertensão. Autocuidado.

ABSTRACT.

This article it is an experience report on the video lesson developed for clients with hypertension. Had as objective, teaching the adult client how to control your blood pressure at 120x80. Then, as proposed discipline practices and teaching research III, the undergraduate degree in nursing and Fluminense Federal University, was developing a video lesson that aims to learn the client about the mechanism of blood pressure and technical verification thereof.

Keywords: Nursing. Hipertension. Self Care.

 

Introdução.

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um problema grave de saúde pública no Brasil e no mundo¹. Entre as doenças do aparelho circulatório, é a mais frequente e propicia fator de risco para diversas complicações como as cardiovasculares, cerebrovasculares e renais. Aponta-se que no Brasil são cerca de 17 milhões de portadores de hipertensão arterial, 35% da população de 40 anos e mais. E esse número é crescente¹.

A hipertensão arterial sistêmica em diversas vezes se apresenta de forma silenciosa, ou seja, não há sinais ou sintomas da doença. Deste modo, a HAS é diagnosticada pela detecção de níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA) pela medida casual². Entretanto, é de suma importância que o profissional de saúde que irá realizar a aferição da PA, tenha condutas que evitem erros, pois apesar de ser um procedimento simples a maneira incorreta de realiza-lo pode ocasionar em um diagnóstico falho.

Quando o cliente é devidamente diagnosticado com hipertensão arterial sistêmica, os profissionais de saúde que integram a rede de atenção básica, devem fornecer diversas orientações acerca do quadro patológico. O empoderamento do usuário pode ser o medicamento mais eficaz para o controle da sua PA. Para tanto, deve-se promover o autocuidado, onde o cliente precisa estar ciente de como é o mecanismo da sua doença e a melhor maneira de manter sua PA em 120X80 mmHg.

O ensino ao cliente adulto deve estar direcionado ao problema que ele possui e deste modo o enfermeiro possui um importante papel educador. Sendo assim, cria elo com o usuário afim de propiciar melhores formas de autocuidado, objetivando sempre que o aprendizado seja realizado com excelência. Portanto, o enfermeiro como profissional educador precisa utilizar-se de instrumentos, quer sejam estes de cunho presencial ou não, para orientar ao cliente a melhor pratica a ser realizada.

 Nos dias atuais os meios de comunicação, principalmente a internet, configuram uma tecnologia muito importante para o ensino ao cliente, pois muitas pessoas procuram na rede informações sobre saúde, mudança de hábitos, entre outras. Todavia, é de suma importância que essas informações estejam corretas e fornecidas em uma linguagem acessível e apropriada para o público que à procura.

Portanto, a disciplina de Pratica e Pesquisa em Ensino III, do curso de graduação em Enfermagem e Licenciatura da Universidade Federal Fluminense, proporcionou-nos enquanto acadêmicos a construção de uma vídeo aula, tendo como intuito/objetivo o empoderamento dos clientes com hipertensão arterial, através do ensino pratico e direcionado para o autocuidado permanente. Pois, acredita-se que quando o cliente possui as informações necessárias, ele é capaz de redirecionar a forma na qual se cuida.

Deste modo, tem-se como objetivo deste artigo relatar a experiência na elaboração e execução de uma vídeo aula, sobre o mecanismo da hipertensão arterial.

Resenha do Artigo: Influência do conhecimento sobre o estilo de vida saudável no controle de pessoas hipertensas

 

Introdução: As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no Brasil. Além disso, a hipertensão arterial é uma doença alta prevalência, com índices que oscilam de 22% a 44%. Vários são os fatores de risco que contribuem para a hipertensão arterial e, destaca-se a obesidade, ingestão de bebida alcoólica, inatividade física e tabagismo. Objetivos: Caracterizar hábitos de vida: tabagismo, etilismo, atividade física e presença de obesidade; identificar conhecimentos sobre esses hábitos de vida e associar as variáveis estudadas com o controle da hipertensão arterial em pessoas hipertensas. Método: Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória, de natureza quantitativa. Os dados foram coletados de 2006 a 2008, num hospital do governo de São Paulo, por meio de entrevista com amostra de conveniência de 511 pacientes, durante consulta ambulatorial, após anuência dos participantes e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Utilizou-se formulário próprio com dados de identificação e avaliação de hábitos. Resultados: Foram estudadas pessoas hipertensas, com predomínio de mulheres, brancos, casados, baixa escolaridade, pessoas que exerciam atividades do lar, serviços domésticos e aposentados. Mais da metade possuía renda, de até cinco salários mínimos, sem o hábito de medir a pressão. 65,8% tinha mais de 5 anos de hipertensão e a média de idade manteve-se na quinta década. O Índice de Massa Corporal encontrou-se no limite superior de sobrepeso; na medida da cintura, observou-se que 32,9% dos homens tinham cintura maior que 102 cm e 74,1% das mulheres maior que 88 cm, que são limites tolerados. Os níveis tensionais, predominaram acima dos limites 140/90 mmHg. Menos da metade é tabagista ou ex tabagista, com média de consumo diária de 15 cigarros. No consumo de bebidas alcoólicas, 76,2% afirmou não ingerir, entretanto no total ingerido pelos demais, a média foi elevada. A pesquisa evidenciou que cerca de 58,9% dos entrevistados não realizavam atividade física regularmente, 22,6% realizava e 18,5% interromperam. Verificou-se elevado grau de conhecimento das atitudes não medicamentosas do tratamento, que incluem mudanças nos hábitos e estilos de vida. Discussão: A avaliação antropométrica incluindo o IMC e a circunferência abdominal contribuem para identificar alterações e avaliação para se desenvolver uma doença cardiovascular. Verificou-se que valores elevados de circunferência abdominal e do IMC se associam com hipertensão arterial. No estudo a maioria das mulheres apresentaram mais sobrepeso do que os homens e possuem risco de 2,5% maior para desenvolver hipertensão, do que as normais. Destaca-se, a importância da abstenção ao tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas quando se adota estilo de vida saudável. Com relação à atividade física, embora haja evidencias de benefícios, observa-se demasiado sedentarismo. A pesquisa evidenciou que cerca de 80% dos participantes tinham conhecimento sobre formas não medicamentosas no tratamento da hipertensão. Conclusão: O conhecimento sobre a perda de peso é fator determinante para o controle da pressão arterial. Entretanto, o conhecimento sobre mudanças nos hábitos, não implica em mudança de comportamento. Apesar das pessoas indicarem conhecer aspectos importantes sobre tratamento não medicamentoso, não realizaram, mudanças suficientes para alcançar o controle da pressão arterial.

 

 

Processo de realização da vídeo aula.

A disciplina de pratica e pesquisa em ensino III, faz parte da grade curricular do curso de enfermagem e licenciatura da Universidade Federal Fluminense, sendo desenvolvida no oitavo período do curso em questão. A proposta para elaboração de uma vídeo aula, foi nos dada pela então Docente Professora Doutora Isabel Cruz, como um produto avaliativo final da disciplina. O primeiro encontro presencial foi de suma importância, pois foi possível estabelecer os caminhos que iriam ser trilhados por nós acadêmicos durante a disciplina.

Deste modo, através da plataforma de Educação em Saúde Online, por meio de um fórum cada discente escolheu o seu tema para a vídeo aula e aqui será abordado sobre o mecanismo da pressão arterial. Posteriormente, realizamos várias atividades com a finalidade de adquirir competências para desenvolvimento de um ensino de qualidade para nossos clientes. A partir do ensino que nos foi proporcionado, foi possível entender que o cliente possui necessidades gerais e específicas, onde o aprendizado deve ser focado e de fácil acessibilidade.

Entretanto, para a realização da vídeo aula era necessário que antes fosse formulado um plano de aula, onde este também seria um instrumento de avaliação. Para formularmos o plano de aula, nos foi oferecido todo apoio por parte da docente, onde esta nos forneceu referencial teórico e disponibilidade para sanarmos qualquer dúvida recorrente.

 

O segundo encontro presencial foi para o seminário de apresentação da vídeo aula, direcionado para a apresentação do esboço online através da ferramenta PREZI, onde montamos inicialmente como seria a nossa vídeo aula. E então, passamos por mais uma avaliação da docente e esta nos deu considerações no que concerne, ao esboço da vídeo aula e nos preparamos melhor para a entrega final do plano de aula.

 

O planejamento didático-pedagógico é fundamental para traçarmos os objetivos de aprendizagem que desejamos alcançar com nossos clientes. Essa estruturação é resultado de um processo de planejamento que está diretamente relacionado à escolha do conteúdo, de procedimentos, de atividades, de recursos disponíveis, de estratégias, de instrumentos de avaliação e da metodologia a ser adotada por um determinado período de tempo³. Através da Taxonomia de Bloom, aprendemos sobre os objetivos operacionais e também sobre os domínios do conhecimento o que foi fundamental para elaboração da vídeo aula.

 

E então, com o planejamento didático-pedagógico é possível focar no problema do cliente, e utilizar das melhores ferramentas disponíveis para gerar conhecimento e atitudes do cliente frente ao seu quadro patológico. Após a entrega do plano didático-pedagógicos, recebemos as devidas considerações e a partir desse ponto nos dedicamos a confecção da vídeo aula.

 

Para construção da vídeo aula, primeiro foi realizado uma busca na literatura a cerca do mecanismo da pressão arterial, ou seja,  de como o contato do sangue na parede das artérias resulta em níveis tensionais normais ou anormais. Logo após, discutiu-se sobre os movimentos de sístole e diástole e foi realizada a técnica de verificação da PA. Estas informações foram expostas sequencialmente, com a finalidade de manter um aprendizado lógico e prático. Para gravação do vídeo, utilizou-se uma câmera fotográfica.

 

O vídeo foi editado a partir do programa de computador Movie Maker, onde foi possível a adequação correta entre falas, imagens, músicas e efeitos especiais. A vídeo aula possui duração de sete minutos e espera-se que por intermédio dele os clientes possam controlar melhor a PA em 120X80 mmHg. Após ser finalizado, o vídeo foi publicado no site YouTube para visualização pública.

 

 

Análise e interpretação da experiência da vídeo aula

 

A partir da elaboração da vídeo aula, pude perceber que nem sempre organizar as ideias e coloca-las em pratica será de fácil resolução. Quanto as informações oferecidas, foi estabelecida uma linguagem de fácil entendimento. Entretanto, a falta de habilidade mediante a uma câmera, ocasionou-me uma certa inquietação e as explicações aconteceram de forma muita rápida e então prejudicaram o aprendizado de quem a estivesse assistindo.

 

Enquanto acadêmica, foquei demais no auxilio de terceiros e deixei passar despercebido que muitas das vezes, aquele cliente é sozinho e que ele terá que automedir sua pressão arterial sem que ninguém faça para ele. Desta maneira, penso que a melhor forma dele realizar esse controle da PA e mantê-la em 120X80 mmHg, é através do medidor digital e não com o uso de esfigmomanômetro e estetoscópio. É preciso saber focar nas necessidades do cliente e ensinar a praticidade e não complicar ainda mais o pouco conhecimento que aquele possui.

 

Todavia, acredito que uma apresentação neste formato de vídeo, prende a atenção do cliente que a assiste e pode sim promover mudanças no seu cotidiano. Acredito que após estar ciente de que a verificação da PA é importante, ele poderá anotá-la e levar para a sua próxima consulta e isto facilitará o profissional a ensiná-lo sempre a melhor pratica de autocuidado.

 

Realizar esta atividade, fez-me refletir quanto a qualidade da informação e do ensino que prestamos aos nossos clientes. O cuidado de enfermagem, não está pautado somente nas técnicas realizadas com perfeição, porém também na qualidade de ensino que proporcionamos e este aprendizado vou levá-lo sempre comigo.

 

 

 

Conclusão

 

Portanto, a hipertensão arterial é um problema grave e deve ser enfrentado por todos nós enquanto profissionais da saúde. Ressalta-se a importância da elaboração da vídeo aula, como método de ensino para os cliente acometidos pela HAS e através deste método foi possível delinear melhores caminhos para o aprendizado dos nossos clientes. O planejamento didático-pedagógico foi o melhor instrumento para organizar os objetivos, pois sem ele as ações iriam permanecer desconectadas. A experiência que a elaboração da vídeo aula nos trouxe é incontestável, hoje sabemos que os adultos também podem aprender, basta nós saibamos direcionar da melhor maneira o seu empoderamento. Pensa-se que quando o ensino é produzido com qualidade, eficiência, ele é capaz de gerar mudança de vida. O ensino é um instrumento facilitador de novas perspectivas.

 

 

Referências

 

 

1. BRASIL, Hipertensão Arterial Sistêmica; Ministério da Saúde. 2006. Disponível em:www.saúde.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=23616 acessado em: 15/08/2013.

 

2. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Rev bras hipertens [Internet]. 2010; 17(1): 57-60. Disponível em: http://www.anad.org.br/profissionais/images/VI_Diretrizes_Bras_Hipertens_RDHA_6485.pdf Acessado em: 14/08/2013.

 

3. Ana, P. de C.M.F, Renato, V. B. Taxonomia de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações do instrumento para definição de objetivos instrucionais. Gest. Prod., São Carlos, v. 17, n. 2, p. 421-431, 2010

 

4. SMELTZER S.C; BARE, B.G. e mais 50 colaboradores; Brunner e Suddarth. Tratado de Enfermagem Médico – Cirúrgica; [revisão técnica Isabel Cristina Fonseca da Cruz, Ivone Evangelista Cabral, Márcia Tereza Luz Lisboa; Tradução José Eduardo Ferreira Figueiredo]- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 10 º edição. 2005, vol. 2, cap.30. p.934 – 962.

 

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BNN - ISSN 1676-4893 

Boletim do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre as Atividades de Enfermagem (NEPAE)e do Núcleo de Estudos sobre Saúde e Etnia Negra (NESEN).