ALGUNS
ASPECTOS SOBRE SAÚDE/DOENÇA EM MULHERES NEGRAS[1]
Isabel
Cristina Fonseca da Cruz[2]
Luiza
Akiko Komura Hoga[3]
RESUMO:
Neste estudo, delineamos um perfil sobre a saúde
da mulher
negra.
A amostra
foi composta
por 262
mulheres da região rural da Grande São Paulo. Os resultados revelaram
que a maioria e casada, católica, possui o 1º grau incompleto,
encontra-se entre 26 e 35 anos, e
trabalha no lar. Quanto a
sexualidade, 21.7% negam ter satisfação sexual; e
a pílula e o método contraceptivo de maior freqüência, seguido
pela laqueadura (17.9%). A pressão alta é o
fator de
risco familiar mais freqüente
(50.3%) e, enquanto patologia,
está presente
em 24.8% da clientela (PAD >=90 mmHg). Concluímos sobre a necessidade
de estender
este estudo
a população
urbana e
aprofundar a investigação
sobre sexualidade,
contracepção, maternidade e
patologias como hipertensão e câncer.
Introdução
Em observações não sistematizadas,
verificamos que
vários modelos de histórico de enfermagem não possuem na parte
referente a identificação do cliente
o item etnia/cor. CARNEIRO et al (1988) chamam
atenção para a inexistência de dados sobre
a morbi-mortalidade de mulheres negras no Brasil, tendo em vista que os
órgãos públicos desconsideram a
variável etnia/cor,
como um indicador das condições
de vida e saúde. Esta ausência de dados impossibilita o estabelecimento de uma
política de saúde, voltada
para as
especificidades da
mulher negra.
Conseqüentemente, a ausência do item cor/etnia
nos registros da área de saúde
parece se refletir no numero escasso de trabalhos publicados sobre o processo saúde/doença
entre pessoas
de etnia negra (CRUZ, 1990).
Segundo SKIDMORE (1991) a ausência
da cor/etnia
nos documentos sobre a população
brasileira tem
por teoria
de base
a tese assimilacionista na
qual os
não-brancos ocupam
uma posição subalterna
devido a classe, não a etnia.
A ideologia
assimilacionista, também conhecida como ideologia do branqueamento, é
de fato, no nosso entendimento, a ideologia
racial predominante no Brasil. Ao criticar Gilberto Freire como
apologista da miscigenação e ideólogo da democracia racial, SKIDMORE (1991)
considera ainda que:
"É necessário esclarecer por que a ideologia do branqueamento
levou os políticos e acadêmicos a acreditarem
que a
etnia merecia
pouca atenção, tanto na coleta de dados
quanto nas discussões sobre
a sociedade. Na
verdade, pode-se perguntar se
sua insistência em ignorar a
etnia não
estaria mascarando
o medo
de enfrentar uma
duvida obvia:
dada a
enorme população brasileira não-branca (56%
no censo de 1890), como
poderiam ter certeza de que iria tornar-se
branca? Não poderia ser o contrario?
De qualquer forma, controlar a coleta de dados
significa controlar o conhecimento da sociedade sobre si mesma. O que, por sua
vez, significava controlar a
agenda das
políticas publicas
nacionais."
Entendemos que a questão racial não é secundaria uma vez
que em nosso
trabalho cotidiano
de enfermagem, utilizamos
como referenciais a teoria transcultural e de
autocuidado. Assim, o conhecimento sobre grupos étnicos, seus
comportamentos, crenças e valores
relativos a saúde e doença é, portanto, uma
necessidade para o exercício
de enfermagem
junto ao
cliente, família
e comunidade (GUALDA; HOGA, 1992).
Com base nestes referenciais trabalha o Núcleo de Assistência ao
Autocuidado da Mulher (NAAM),
tendo surgido o interesse em fazer um
levantamento sobre as
informações já existentes nos históricos, visando um
delineamento preliminar sobre o perfil de saúde/doença da mulher
negra. Neste estudo, portanto, apresentamos
alguns aspectos
sobre a
mulher negra, obtidos por meio da análise retrospectiva de 685 históricos
de enfermagem aplicados entre 1988 e 1991, na
cidade de
Vargem Grande Paulista.
Justifica-se
este estudo em razão do escasso número de
trabalhos científicos
sobre o processo saúde/doença
da etnia negra
brasileira. Devido a escassez de pesquisas e a necessidade de romper as
fortes estruturas erguidas pela ideologia do branqueamento, foi criado o Núcleo
de Estudos sobre Saúde e Etnia Negra - NESEN, no Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica
da Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense, que busca construir
um conhecimento sobre a população afrobrasileira a partir de
sua própria perspectiva e
neste sentido tem desenvolvido
estudos e pesquisas sobre
esta temática.
Desenvolvimento
O NAAM, vinculado ao Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica, desde
1986 vem prestando assistência as mulheres que procuram a Unidade Básica de Saúde
de Vargem Grande Paulista. Na
consulta de enfermagem, utiliza-se para a coleta
dos dados
o Histórico de
Saúde da
Mulher que
compreende um
histórico auto-aplicado (no qual a cliente declara a sua cor), a
entrevista e o exame fisico. Cabe ressaltar que
inclusão o
item cor
como auto-declaração torna esse instrumento
de coleta
de dados
um documento singular dentro do universo de formulários
da área
de saúde.
Esta pesquisa sobre a saúde da mulher
negra, ou melhor, da mulher
que declarou ser
parda ou
preta, tem um caráter exploratório e descritivo. Como metodologia,
utilizamos a
auditoria retrospectiva
do histórico auto-aplicado. Do histórico destacamos, para análise, as
questões que
nos fornecessem
informações demográficas e
informações sobre métodos contraceptivos
adotados, vida
sexual, condições de trabalho, história familiar sobre doenças, entre
outras. Os dados foram coletados
manualmente, analisados quanto aos
seus valores absolutos e
relativos.
Dos 685 históricos aplicados pelo NAAM, no período de 1988 a 1991, 39
(5.6%) são de
mulheres que
se auto-declararam
pretas e
223 (32.8%), pardas. Assim, da população de 685 mulheres atendidas, 262
(38.2%) mulheres são classificadas neste estudo como negras. Os
históricos destas 262 mulheres foram por conseguinte objeto da análise
retrospectiva proposta para este estudo.
Os dados demográficos no grupo de 262 mulheres negras revelam que a
faixa etária predominante encontra-se entre
26 e 35 anos (32.8%).
Em seguida
temos a
faixa situada
entre 15
e 25 anos(21.3%).
Quanto ao estado civil, a maioria (82.8%) é casada ou vive maritalmente.
No que se refere ao grau de instrução
das mulheres
negras, verificamos que 25.9% são analfabetas, a maioria (51.4%) possui
o 1º grau incompleto. Neste grupo, 19.0% concluiu o
1º grau,
2.2% iniciou o 2º grau, mas apenas 1.9% conseguiu completa-lo.
CARNEIRO et al (1988) refere que, segundo o censo de 1980,
a taxa de analfabetismo entre negras era da ordem de
48%, enquanto que entre
mulheres brancas era de 24%. Nesta pesquisa, encontramos uma taxa menor (25.9%),
mas cabe ressaltar que a maioria
(51.4%) possui o
primeiro grau
incompleto, sendo que muitas
não conseguiram passar do primeiro segmento. Apenas 1.9% concluiu
o segundo grau. Nenhuma sequer entrou em um curso superior.
Os dados sobre escolaridade revelam articulação
ideológica de três grandes categorias: etnia, sexo
e educação
destinadas a facticidade, a
alteridade e a imanência, enfim. PINTO (1992) chama atenção para o fato de
que o tema etnia negra entre os
educadores ter sido freqüentemente
esquecido uma vez que estes também
tendem a priorizar as diferenças
de classe para
estudar tanto
o acesso quanto a permanência
da população no sistema educacional.
Ao rever a literatura sobre educação, PINTO (1992)
constatou que a pré-escola, por exemplo,
é mais frequentada por
crianças brancas; que o atraso escolar afeta particularmente o aluno
negro; e que o acesso ao 1º grau é mais difícil ou
tardio para a etnia negra, além de uma trajetória mais lenta expressa
pelos elevados níveis de
repetência e exclusão. Destacou também que
a qualidade do sistema de
ensino oferecido ao alunado negro é inferior,
sendo a escola mal equipada e com maior
número de
turnos. Por
estas razões entre outras, o número médio de séries cursadas por
negros é muito inferior ao dos brancos.
Segundo OLIVEIRA (1988), nas
escolas públicas de
melhor estrutura, onde são oferecidos cursos com 4h. ou mais de aula,
25% dos estudantes são brancos e apenas 14% são negros. O
projeto de vida dos negros é
realizado fora da escola com poucas perspectivas de um bom ingresso no
mercado de
trabalho. A
escola, não
só simbolicamente, mas na sua pratica diária, formaliza
a dialética de expectativa
de fracasso (para negros e negras), possibilitando
a superioridade dos brancos
(e dos
homens) e o complexo
de inferioridade dos negros (e das mulheres).
Os dados
encontrados neste
estudo sobre
escolaridade confirmam a situação desvantajosa da mulher
negra principalmente quanto a
alfabetização e anos de estudo cursados, uma vez que
77% da clientela não obteve a escolaridade mínima de 08 anos. Cabe
observar ainda que nível de escolaridade e saúde são significativamente
relacionados. Geralmente as pessoas de baixa escolaridade estão em condições
precárias de economia e saúde e possuem uma grande dificuldade de ser
atendidas pelo sistema de saúde.
Quanto a ocupação profissional 39.3% das
mulheres trabalham fora do
lar como ajudantes de
produção, faxineiras,
empregadas domésticas e caseiras, entre outras.
Diante do
baixo nível
de escolaridade entre as mulheres negras que compõem a nossa amostra, não
chega a ser surpresa o perfil
profissional evidenciado.
Os dados evidenciados
neste estudo,
reforçam as
observações de CARNEIRO et
al (1988) sobre as
ocupações das mulheres
negras. Segundo CARNEIRO et al, o emprego doméstico é a ocupação que
mais concentra mão-de-obra feminina, dentro do setor
de prestação
de serviço.
Quanto a
religião professada,
a grande
maioria (83.9%) declarou ser
católica. Não houve nenhuma referencia as
religiões afro-brasileiras. Seria interessante um
estudo sobre a representação da mulher nas
diferentes religiões
brasileiras e como estas
representações contribuem para mantê-las, ou não, na
imanência.
Em síntese, os dados demográficos revelam ser este
um grupo de mulheres negras
adultas jovens, casadas, católicas,
com uma escolaridade inferior
a 8 anos, que trabalham no âmbito do lar. O
grupo estudado possui ainda algumas características que limitam as possíveis
generalizações sobre os resultados, a saber:
residir numa região agrícola, limítrofe a cidade de São Paulo. Alem
de que há históricas diferenças entre os
negros que
foram fixados
em regiões rurais e os que
foram mantidos nas cidades.
Quanto aos dados referentes ao processo saúde/doença, estes revelam
sobre a vida
sexual, por
exemplo, que
86 clientes
(32.8%) alegam
categoricamente não sentir desejo sexual. Da amostra, 21.7%
negam ter orgasmo ou satisfação sexual.
Concordamos com SUPLICY (1984) quando afirma que o
sexo não está inserido no
abstrato, ao contrário, está profundamente ligado a
fatores político-económicos
e, principalmente, ao
papel desempenhado pela mulher na sociedade. Quanto ao prazer da mulher, SUPLICY
observa que este é ainda um tema proibido entre
nós. Em conseqüência a
proibição, permanece desconhecido e mitificado.
A detecção do diagnóstico
de enfermagem disfunção
sexual em
mulheres pode apoiar-se no relato da cliente quando esta nega o
sentimento de satisfação pós-coito.
CRUZ et
al (1992)
apontaram as características
definidoras deste diagnóstico em uma população
de 96 mulheres brancas e não-brancas. Em nossa pesquisa,
encontramos um percentual de disfunção sexual em mulheres negras
semelhante ao encontrado por CRUZ et al.
Embora a disfunção sexual
possa ser
causada por
drogas, álcool entre outras causas, em muitos casos pode
ter uma
origem psicológica. Em outros casos,
pode se
dar por
uma deficiente técnica
sexual, hostilidade entre parceiros e sentimento ou
culpa sobre o ato sexual (KOZIER et al, 1979).
Sobre o inicio da vida sexual, a maior parcela
(45.8%) teve sua primeira
relação sexual após os 18 anos, seguida pela
parcela entre 15 e 18 anos (42.7%).
Neste grupo
11.4% tiveram
a sua primeira experiência
sexual antes dos 15 anos. A dispaurenia,
ou seja, dor durante as relações sexuais foi
motivo de
queixa para 31.2% das
mulheres. Referiram ter sangramento durante
ou após
o coito 2.6% das clientes.
Quanto a freqüência das relações sexuais, a
maioria (52.2%) pratica sexo
2 a 3 vezes por semana; 20.2% tem relações
uma vez por
semana e 15.6% a cada 15
dias. Seis
mulheres (2.2%) declararam
ter relações sexuais várias vezes ao dia.
Os dados apresentados mostram que uma parcela significativa iniciou a
vida sexual antes dos 18 anos e que a queixa de dispaurenia é também bastante
frequente. Vai além do âmbito deste estudo discutir as implicações destes
dados, mas é interessante observar a estrita relação que eles podem ter com
doenças sexualmente transmissíveis, doenças degenerativas, gravidez na
adolescência, entre outros problemas. Observamos ainda que a saúde sexual
envolve não só os aspectos somáticos, mas também os emocionais, intelectuais
e sociais (CRUZ, 1995)
Quanto ao método contraceptivo utilizado por esta
clientela, verificamos que a pílula anticoncepcional
ocupa uma
posição de destaque, sendo
o método escolhido por 49.6% das mulheres.
Tendo em vista os dados apresentados por CARNEIRO et al (1988), a pílula
mantém-se como o principal método. Na medida
em que
persiste a predominância de
um método contraceptivo, verificamos
que ainda não está
desenvolvido um programa de planejamento familiar.
A pílula e um método hormonal (estrogênio e progesterona)
de alta eficácia contraceptiva que é fácil e livremente
vendida nas farmácias.
Contudo, não e tão inócua
quanto aparenta.
Devem-se observar alguns critérios para sua indicação
e o seu uso deve ser criteriosamente monitorizado quanto a presença de náuseas,
dor nos seios, ganho de peso, problemas circulatórios (tromboses), ataques cardíacos,
enxaquecas severas, problemas hepáticos,
diabetes mellitus e tabagismo.
Na amostra estudada, a pílula
é seguida,
de longe,
pela laqueadura (17.9%),
pelo condom
(3.4%) e pelo dispositivo
intra-uterino (3%), O coito interrompido é praticado
por 3%
das clientes. Este método requer considerável autocontrole e
possui desvantagens relacionadas ao escape do sêmen para a
vagina antes do clímax e a
diminuição da satisfação sexual do casal.
A tabela, ou método biológico ou da ovulação, é
adotada por 1.5% das
clientes, enquanto 0.7% utiliza
injeções e
0.3% , o método de Billings
(muco cervical) ou então a ducha vaginal.
Seis mulheres relataram já ter passado da menopausa, enquanto outra
declarou ter sido submetida a uma histerectomia.
No grupo estudado,
12.9% declararam
não utilizar
nenhum método
contraceptivo. Quanto
a utilização
do aborto
como forma
de interrupção da gravidez, 4.1% relataram ter feito aborto por
meio de sondas, curetagem, "injeção local" e "ingestão
de pólvora
com pinga".
No nosso entendimento, qualquer discussão atualmente sobre métodos
contraceptivos a serem utilizados pelas mulheres não pode excluir a questão da
transmissão da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis e do papel
(ativo) da mulher quanto a exigência do uso do condom pelo parceiro.
Em
seu estudo sobre os fatores que influenciam ou não o engajamento das mulheres
na utilização do condom como método contraceptivo e de prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis, CRUZ; SOBRAL (1994) verificaram que a maioria
refere ter uma atitude positiva quanto ao uso, não ter problema em portar, nem
em propor o uso. Porém, esta mesma maioria alega que o homem não quer usar e
que a opinião do parceiro é muito importante. Diz que o condom compromete o
prazer e seu custo é caro. Portanto, enquanto persistirem as crenças
comportamentais que impedem o uso (comprometimento do prazer), a influência de
pessoas com poder normativo (homem/parceiro) e o papel social secundário da
mulher, teremos fracassos nas políticas de prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis e de gravidez na adolescência.
No grupo estudado de mulheres
negras, a
maternidade aconteceu
primeiramente na faixa etária de 18-30 anos
(46.5%). Para
25.9% das clientes o primeiro filho nasceu antes dos 18 anos. Quanto
ao numero de filhos, 9.5% tiveram mais de 08 filhos. A maior
parcela (35.1%) tem três filhos ou mais. Apenas 4.1% das mulheres não
tem nenhum filho.
No que
se refere
a historia
familiar de
patologias, verificamos que a pressão
alta está presente
na maioria
das famílias (50.3%). Os demais problemas relatados são: problemas
de coração (41.2%), diabetes (22.1%),
câncer (15.2%)
e problemas mentais (11.8%).
Outros problemas foram relatados
por 5.3%
das clientes, tais como: bronquite, lúpus, tuberculose, esquistossomose,
doença de Chagas e poliomielite.
Quanto a hereditariedade, os dados deste estudo corroboram os da
literatura sobre a prevalência da hipertensão e demais
doenças cardíacas em pessoas da etnia negra (CRUZ, 1988, 1994).
Chamam-nos também atenção os resultados sobre outras patologias como a
diabetes e o câncer que são
responsáveis por um elevado índice de mortalidade
Quanto aos valores da pressão arterial encontrados
na nossa clientela,
verificamos que 20.6% apresentaram uma pressão arterial sistêmica superior ou
igual a
140 mmHg
e 24.8%,
uma pressão arterial diastólica
maior ou igual a 90 mmHg.
Estes dados são simplesmente assustadores.
A incidência
da hipertensão e maior em negros do que qualquer outro grupo
racial. Aparece em jovens, com maior
severidade e
levados índices
de morbi-mortalidade. No grupo feminino, a
mortalidade é
de 12.3% para negras,
enquanto que para não-negras e de 0.8% (GIGER et
al, 1991).
Considerações finais
Um dos objetivos deste estudo foi o de
oferecer informações sobre
o processo saúde/doença em mulheres
negras,
uma vez
que informações dessa natureza não estão
disponíveis com
facilidade nos periódicos especializados.
Os dados apontados aqui sobre o processo
saúde/doença entre mulheres
negras mostram
que há
necessidade de se
aprofundar algumas questões no que toca principalmente ao
nível educacional das
mulheres, a sua vida sexual, escolha do método contraceptivo e prevenção e
controle de patologias como a hipertensão arterial e câncer.
Quanto a contracepção por método hormonal, há que
investigar a forma como esta sendo
utilizada, tendo
em vista
a elevada incidência neste
grupo de
historia familiar
sobre hipertensão arterial e
elevados valores pressóricos. No que concerne a vida sexual ativa, destaca-se
ainda a prevenção da AIDS e das doenças sexualmente transmissíveis.
Quanto as doenças, a pressão alta se confirma como prevalecente na
etnia negra.
Isto aponta
para a
necessidade urgente
de realizarem estudos que articulem a
pressão arterial
com outras variáveis que
ajudem a traçar um
perfil cultural
e étnico
da doença. Paralelamente a
estes estudos,
temos que
desenvolver programas de educação para a saúde, detecção, prevenção
e controle de doenças cardíacas, câncer, diabetes,
planejamento familiar
e climatério, entre outros.
Os resultados apresentados neste estudo lançam uma tênue
luz na obscuridade em que está mergulhada as ciências da área da saúde
no que se refere a etnia negra brasileira.
Mas, ainda
assim as limitações
existentes para
esta pesquisa
não nos
impedem de verificar que a
mulher negra além da,
ou por
causa de,
baixa escolaridade está fora do
mercado de
trabalho e
condenada a imanência.
Mudar este quadro é possível. Depende de várias forças, sendo que a
principal é a ação política organizada das mulheres negras, uma vez que há
não só as questões de gênero,
mais ainda
as questões raciais.
ABSTRACT:
SOME ISSUES ON HEALTH/DISEASE OF BRAZILIAN BLACK FEMALE. This
paper points out some issues on health/disease of 262 black female within a
black and
feminist framework.
The demographic
data revealed that the majority is married,
catholic, housewife,
and has a low education
level and
age between
26-35 years.
The contraceptive pill is the method of
choice and
21.7% refer
no sexual pleasure. High blood pressure is a familiar risk factor for
50.3% followed by
diabetes (22.1%),
and cancer
(15.2%). The findings
indicated that 24.8% of black female
have the diastolic blood pressure
equal or above
mmHg. The
results support
the conclusions about the necessity
of continuing studies of
health and illness of black clientes within a progressist framework,
and development of program for health education. It
stress also
the necessity of a health and educational policy for the black
female and the
implications for
nursing assessment,
diagnoses, interventions, and evaluation of client outcomes.
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[1]
Publicado na Revista Baiana de Enfermagem v. 11, n2, p50-60, 1998
[2]
Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo. Professora Titular do
Deptº de Enfermagem Médico-Cirúrugica da Universidade Federal Fluminense.
Coordenadora do NESEN - Núcleo de Estudos sobre Saúde e Etnia Negra.
Professora dos Cursos de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal da Bahia. E-mail- mqfcruz@nitnet.com.br
[3]Professora da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo-São Paulo.
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BNN - ISSN 1676-4893
Boletim do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre as Atividades de Enfermagem (NEPAE)e do Núcleo de Estudos sobre Saúde e Etnia Negra (NESEN).