Boletim NEPAE-NESEN Qual a razão de a galinha d

Qual a razão de a galinha d'Angola ser o símbolo da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra-PNSIPN?

Isabel Cruz

Introdução

A escolha de um símbolo para a PNSIPN precisou ser fundamentada. Apresento aqui tanto a lenda que justifica a indicação da galinha d'Angola, quanto a defesa. 

 Etù – A galinha D’Angola

Fonte: adaptado por Isabel Cruz a partir de http://ocandomble.wordpress.com/2012/10/23/etu-a-galinha-dangola-2/  

 

 

galinha d’Angola era uma ave considerada muito feia e por isso as pessoas se afastavam dela, mesmo tendo qualidades. Cansada de ser desprezada, resolveu consultar um líder. Porém, o líder a colocou para fora, dizendo que ela não tinha as condições para permanecer naquela floresta. Ainda mais triste, a galinha d’Angola resolveu ir para outra floresta e de uma vez por todas, deixar de conviver perto de tudo e todos. Após muitos dias caminhando, a galinha d’Angola parou em uma nova floresta. Lá, ela encontrou um velho maltrapilho gemendo de dores. 

O Velho disse:

-“Pare! Estou muito doente, cheio de feridas, e não tenho dinheiro para me alimentar, me dê o que comer e beber, por favor!”

A galinha d’Angola pegou todo alimento e água que tinha e deu ao Velho que, após saciar a sua fome e sede, dormiu um sono profundo. Enquanto o Velho dormia, a galinha d’Angola andou pela floresta e encontrou ervas para limpar e curar as feridas do velho. Ao acordar, o Velho já sem dores notou que suas feridas haviam sido cuidadas. Perguntou à galinha d’Angola porque ainda estava lá e ela respondeu:

- O senhor estava precisando de mim. Fiquei para lhe ajudar, mesmo sabendo que as pessoas se afastam por me considerar feia.

O Velho então disse:

- As pessoas olham, mas não vêem que a beleza está na sua compaixão...

A galinha d’Angola ficou alegre com o reconhecimento. O Velho, que era um artista, com uma pedra de giz branco começou a enfeitá-la com muitas pintas. E, dizendo que todos agora iriam ver o seu coração compassivo, modelou um coraçãozinho vermelho que coroou a cabeça da galinha d’Angola!

 Moral da história: não devemos julgar ninguém por sua aparência, nem negar apoio, assim como nossos conhecimentos. Há beleza, conhecimento e valor em sermos compassivo, ou seja, em nos colocarmos no lugar do “outr@” tratando as pessoas como gostaríamos de sermos tratad@s.

A galinha d'Angola foi associada à PNSIPN porque:

A população negra deve ser "julgada" pela atitude,não por generalizações ou estereótipos. A população negra compartilha com outras populações a solidariedade & compaixão enquanto marcos civilizatórios, assim como o seu conhecimento próprio sobre práticas tradicionais de cura a ser compartilhado por tod@s no SUS. A PNSIPN sintetiza estes valores em uma diretriz para @ profissional de saúde: "Trate @ cliente enquanto pessoa com respeito à sua cultura, como o ser humano que é."

O racismo institucional e o viés racial implícito formam barreiras que excluem a pessoa negra e sua cultura do SUS e ambos dão o toque iatrogênico da relação interpessoal.
O exercício cotidiano da nossa parte treinar o olhar para ver a realidade tal como se apresenta. E, parafraseando o monge budista, dizer para @ profissional:
- Não olhe para meu dedo que aponta. Olhe para a realidade d@ usuário negr@ no SUS, para as iniquidades nos resultados de saúdeevidenciadas pela epidemiologia. Atente para o contexto precário no qual o cuidado acontece e tire suas próprias conclusões. Mas, por favor, não culpe a vítima, @ usuário, a pessoa negra, sua cliente, cidadã e pagadora de impostos. Cumpra ao menos o código de ética da sua profissão. Se e quando fugirmos disto, por favor, acenda o farol vermelho e toque a buzina!

Próximos passos

Atuar pela implementação da PNSIPN e pela desconstrução do racismo institucional, bem como do viés racial implícito no ponto do cuidado de saúde.


OBS

A família Abayomy simboliza a Saúde da População Negra.

 

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BNN - ISSN 1676-4893 

Boletim do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre as Atividades de Enfermagem (NEPAE)e do Núcleo de Estudos sobre Saúde e Etnia Negra (NESEN).