Journal of Specialized Nursing Care

HYDROELETROLITIC CONTROL IN HIGH COMPLEX PATIENT: SISTEMATIC LITERATURE REVIEW            

GERENCIAMENTO HIDROELETROLÍTICO NO PACIENTE DE ALTA COMPLEXIDADE: REVISÃO SISTEMATIZADA DA LITERATURA

 

Bruna Miquelam Guimarães. Enfermeira. Aluna do Curso de Especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos da Universidade Federal Fluminense (UFF). brunamiquelam@gmail.com.
Isabel Cristina Fonseca da Cruz.
Doutora em Enfermagem. Professora Titular da UFF.
isabelcruz@uol.com.br

 

Abstract: Once that nursing staff is straightly responsible for hydroeletrolitic control in high complex patient, has important function to identify risks for development, complications and preventions related ARF (acute renal failure). This study is a computerized bibliographic research, realized with electronic , with a view to answer this clinical flaming question: High coplex patient, how efficiency is the nursing prescription on hydroeletrolitic control in patient with ARF? Were selected to study 10 articles, who attended inclusion criterion in this study, and then, has theirs results discussed, and pointed implications on clinical practice for nurse who take care of high complex patient. Through this articles analysis, concluded there is many factors determine ARF in CCU (critical care unit), so the daily monitoration of the renal function for the nursing staffs is an important care, to avoid complications on ARF e their mortality.

Key-words: Nursing Care, Critical Care, Acute Renal Failure, Acute Kidney Injury, Diagnosis.

 

Resumo: Uma vez que a equipe de enfermagem está diretamente responsável pelo Gerenciamento Hidroeletrolítico no paciente de alta complexidade, tem papel fundamental na identificação de fatores de risco para o desenvolvimento, complicações e prevenções relacionada à IRA. Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica computadorizada, realizada em bases eletrônicas com o objetivo de responder a seguinte questão clínica flamejante: No cliente de alta complexidade, qual a eficácia da prescrição de enfermagem Gerenciamento Hidroeletrolítico no cliente com IRA? Foram selecionados para análise 10 artigos, por atenderem aos critérios de inclusão deste estudo, que em seguida, tiveram seus resultados discutidos, sendo apontadas implicações na prática clínica do enfermeiro que cuida de pacientes de alta complexidade. Através da análise dos artigos, conclui-se que há multifatores determinando a IRA na UTI, sendo assim a monitorização diária da função renal pela equipe de enfermagem é um cuidado importante para evitar as complicações da IRA e a respectiva mortalidade.

Palavras-chave: Cuidados de Enfermagem; Cuidados Críticos; Insuficiência Renal Aguda, Lesão Renal Aguda, Diagnóstico.

 

INTRODUÇÃO

A Insuficiência Renal Aguda (IRA) é um problema comum em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), portanto, o enfermeiro deve considerar que seja um problema em potencial para todos os pacientes. (4)

Os rins recebem cerca de 20% a 25% do débito cardíaco por minuto; o sangue é filtrado através dos néfrons (unidades de funcionamento dos rins). Cada rim tem cerca de 1milhão de néfrons, permitindo que a homeostase seja mantida. Quando os néfrons são perdidos, a função renal fica significamente prejudicada, tendo como conseqüência o seu comprometimento.(3)

A IRA é caracterizada por um rápido declíneo da função renal que ocorre ao longo de dias ou semanas, resultando na inabilidade dos rins para exercer as funções de excreção, manter o equilíbrio ácido-base e homeostase hidroeletrolítico do organismo. (1,4) De acordo com o quadro 1, estudos têm sido realizados para trazer a consciência dos enfermeiros a necessidade de cuidados de enfermagem e as intervenções terapêuticas, as manifestações clínicas e diagnósticos do desequilíbrio hidroeletrolítico na IRA em pacientes criticamente doentes.

Estratégias clínicas para manter um padrão hidroeletrolítico adequado durante a doença crítica, envolve a ação do gerenciamento hidroeletrolítico através do registro do balanço hídrico, avaliação da volemia, monitorização dos valores de exames laboratoriais, para podermos então ter níveis de líquido e eletrólitos controlados.

 

Pergunta da pesquisa: Em paciente de alta complexidade, qual a eficácia do Gerenciamento Hidroeletrolítico no cliente com IRA?

A estratégia PICO foi utilizada para responder a questão clínica flamejante, onde vale ressaltar que o cuidado de enfermagem baseado em evidência científica é seguro e de grande valia para o paciente e o enfermeiro.

 

ACRONIMO

DEFINIÇÃO

DESCRIÇÃO

P

Paciente ou diagnóstico de enfermagem

Indivíduos com idade superior a 18 anos internados em UTI com distúrbio hidroeletrolitico e IRA

I

Prescrição

Gerenciamento Hidroeletrolítico

C

Controle ou Comparação

 

Não há

O

Resultado

Níveis de Líquido e Eletrólitos controlados

 

Objetivo: Identificar a produção científica de enfermagem, usando a estratégia PICO para localizar a melhor evidência disponível para o Gerenciamento Hidroeletrolítico no cliente com IRA em UTI.

 

Resposta Baseada em Evidência Científica

O equilíbrio hidroeletrolítico é um processo dinâmico crucial para a vida. Em todos os setores existem distúrbios potenciais e reais do equilíbrio hidroeletrolitico, assim como ocorre para cada doença, e com uma gama de alterações que afetam tanto as pessoas saudáveis, como aquelas que se encontram doentes.

Segundo Sumnall R e Rolim ILTP, os rins executam uma grande variedade de funções fisiológicas, tendo como principais funções: excreção de resíduos metabólicos, por exemplo, uréia e creatinina; regulamento de ácido-base e eletrólitos; controle da pressão arteral; manutenção do volume de água corporal e produção de renina e eritropoetina. Quando essas funções são comprometidas, o paciente fica suscetível ao desenvolvimento de várias patologias, como o distúrbio hidroeletrolítico e à IRA. Pacientes internados em UTI são frequentemente encontrados com distúrbio hídrico e eletrolítico, assim as ações de enfermagem, necessitam ser definidas com base em fenômenos determinados por meio da avaliação científica e clínica do paciente, pois se esses eventos não forem tratados poderão levar o paciente à morte.

 

METODOLOGIA

Pesquisa bibliográfica computadorizada, compreendida no período de 2006 a 2010, nos índices dos periódicos: American Journal of Critical Care, Critical Care Nurse, Dimensions of Critical Care Nurse, Acta Paulista de Enfermagem,Revista Gaúcha de Enfermagem, Revista Latino-Americana de Enfermagem e Revista Brasileira de Enfermagem.

Para encontrar os artigos foi utilizada, a busca em separado das seguintes palavras-chave: Insuficiência Renal Aguda , Terapia Intensiva e Diagnóstico, e a combinação dos termos da estratégia PICO: Unidade de terapia intensiva (P), gerenciamento hidroeletrolítico (I), e controle de líquidos e eletrólitos (O).

Através da leitura dos resumos, foi feita uma pré-seleção daqueles artigos que correspondiam ao objetivo desta pesquisa. Em seguida, foi realizada uma leitura interpretativa e minuciosa de cada artigo, visando selecionar e organizar aqueles que possuíam as melhores respostas baseadas em evidências científicas, para a confecção da pesquisa.

 

RESULTADOS

Foram selecionados para análise 10 artigos, por atenderem aos critérios de inclusão deste estudo, sendo quatro em língua portuguesa e seis em língua inglesa. Os artigos selecionados são apresentados no Quadro 1, onde são destacadas as suas  principais características.

 

Quadro 1 - Publicações localizadas nas bases de dados. Niterói, 2010.

Autor (es), país e ano de publica-ção

Objetivo da pesquisa

Força da evidência*

Tipo de estudo

Principais achados

Conclusões do (s) autor (es)

Bernardina LD, Belasco AGS, Bittencourt ARC, Barbosa DA; Brasil; 2008.(1)

Avaliar a evolução clínica de pacientes com IRA submetido a tratamento dialítico e não-dialítico na UTI.

2C

Estudo prospectivo e observacional.

Descreve os principais achado relaciona-dos ao desenvolvi-mento da IRA e a evolução dos pacientes submetidos ao tratamento não-dialítico e dialítico.

A porcenta-gem de pacientes submetidos ao tratamento dialítico é menor em relação aos pacientes submetidos ao tratamento não dialíticos.

Broscious SK, Castagnola J; EUA; 2006.(3)

Identificar os resultados esperados dos pacientes com DRC; descrever a fisiopatolo-gia e discutir o impacto da DRC em relação ao sistema do corpo.

1B

 

Estudo de caso.

Desenvol-vimento de diretrizes de prática clínica e um siste-ma de classifica-ção uniforme para DRC.

A avaliação completa de todos os sistemas do corpo permitirá o início da detecção de alterações sistêmica relaciona-das à DRC.

Brown AS, BSN, RN, CCRN; EUA; 2010.(4)

Trazer a consciên-cia as manifesta-ções clínicas, diagnóstico e tratamento da acidose tubular renal para enfermeiro de UTI.

5D

Estudo de caso.

Apresen-tam os sinais e sintomas e testes que devem serem realizados para diagnosti-car de forma correta e precoce o desenvolvi-mento da acidose tubular renal.

A acidose tubular renal apresenta-se de forma agudo e crônica. É um distúrbio relativa-mente raro, diagnóstico e interven-ções corretas podem prevenir complica-ções e reverter à disfunção renal.

Ciampone JT, Gonçalves LA, Maia FOM, Padilha KG; Brasil; 2006.(5)

Comparar as necessida-des de cuidados de enferma-gem e as interven-ções terapêuti-cas realizadas em pacientes idosos e não-idosos em UTI, segundo o NursingActividade Score (NAS).

2A

Aborda-gem Quantitati-va.

Descreve as necessida-des de cuidados e de interven-ções terapênti-cas  segundo  a Nursing Activities Score (NAS).

Pacientes idosos e não idosos internados na UTI, apresent-am iguais necessida-des de cuidados.

Dirkes S, Hodge K; EUA; 2007.(6)

Identificar as indicações para diálise intermiten-te e de substitui-ção renal contínua; vantagens , desvanta-gem e complica-ções da CRRT.

1B

Revisão de Literatura

Apresenta a avaliação de sinais e sintomas e interven-ções de enferma-gem para pacientes  em diálise intermiten-te e de substitui-ção renal.

A mortalidde associada a IRA permanece elevada, onde a CRRT torna-se o tratamento de escolha p IRA em pacientes críticos.

Garcia TPR et al; Brasil; 2008.(8)

Identificar as características de pacientes portadores de IRA, vítimas de politrauma internados em UTI.

2A

Pesquisa retrospec-tiva de análise de prontuário

Mostra os resultados obtido na análise dos 357 prontuários dos pacientes vítimas de politrauma.

A prevenção das causas do politrauma junto da monitoriza-ção diária da função renal destes pacientes constituem em cuidados importan-tes para evitar complica-ção do quadro e a mortalida-de.

Gessner P, ACNP; EUA; 2006.(9)

Examinar como o uso da vasopres-sina na sepse pode melhorar alguns aspectos da função renal.

2A

Estudo de caso

Apresenta a estabiliza-ção da função renal após início da vasopres-sina em dose baixa no paciente com sepse grave e com comprome-timento da função renal.

A vasopres-sina pode melhorar a função renal, aumentan-do a filtração glomerular.

Murphy F, Byrne G; EUA; 2010.(10)

Familiari-zar estudantes e enfermei-ros que podem não estar familiariza-do com a DRC e seu impacto na assistência de enferma-gem.

1B

Revisão Bibliográfi-ca

Preconizar a vital importân-cia de que todos os enfermei-ros possuem uma compreen-são da lesão renal e como controla-la, afim de prestar cuidado integral ao paciente.

Há 03 tipos de lesão renal que são classifica-das em pré-renal, renal ou intra-intrínseco e insuficiência renal. É importante reconhecer que nem todo lesão renal é reversível, com isso a prevenção é primordial.

Silva GLDF, Thomé EGR; Brasil; 2009.(13)

Identificar a prevalência de complica-ções durante a terapia hemodialítica em pacientes com IRA na UTI e as condutas de enferma-gem realizadas durante esses episódios.

1B

Estudo retrospectivo.

Busca de interven-ções de enferma-gem adequada as diferentes situações no atendimen-to de pacientes em hemodiáli-se as principais complica-ções intradialíti-ca  (hipotensão arterial, hipotermia e falta de fluxo no acesso vascular.

O sucesso na realização da terapia dialítica está relaciona-da com a disponibili-dade de uma equipe de enferma-gem para este tratamento. Com isso é importante que a educação em enferma-gem aconteça.

Sumnall R; EUA; 2007.(14)        

Rever o uso da gestão de fluidos e diuréticos em pacientes com IRA.

B1

Revisão de literatura

Rever a eficácia do gerencia-mento de fluidos e diuréticos na IRA.

Identificar abordagens para o desenvol-vimento da prática futura do gerencia-mento de fluidos e diuréticos na IRA.

 

                                                                                                                                  

DISCUSSÃO

 

Dada à relevância deste tema, será discutido a seguir, as principais implicações dos seus resultados para a prática do enfermeiro que atua em UTI.

Os distúrbios hidroeletrolíticos são comuns em pacientes de UTI, seja ele pós-cirúrgico ou portador de patologias como: cetoacidose diabética, síndrome da resposta inflamatória sistêmica, IRA; e em muitas outras. Devido a essa problemática, é necessário que a equipe de enfermagem esteja pronta a reconhecer um distúrbio quando ele acontece e apta para assistir e antever problemas futuros para esses pacientes, intervindo sempre que necessário.

A IRA é uma síndrome proveniente das mais variadas causas, apresentando alto índice de mortalidade, (8) tendo como definição na maioria dos estudos, como a existência da perda da função renal ao longo de dias ou semanas, resultando na elevação dos níveis metabólicos (creatinina e uréia) e eletrolítico, diminuição ou cessação na produção de urina, ou quando há necessidade de tratamento dialítico. (1,4,13,14)

Estudos classificam à IRA em três tipos: insuficiência pré-renal (caracterizada pela redução da perfusão renal devido a hipovolemia por perda de sangue ou plasma); insuficiência renal ( resulta de qualquer doença que afeta a perfusão renal, o que é normalmente referida como necrose tubular aguda) e insuficiência intrínseca pós-renal ( é causada por alguma obstrução entre os rins e uretra, por exemplo, tumores de bexiga).(14)

A IRA ocorre em pacientes de ambos os hospitais e setores, incluindo emergência, cuidados intensivos, coronarianos, juntamente com cirúrgico e médico (10), tornando-se um problema comum e, portanto, o enfermeiro deve considerar que seja um problema em potencial para todos os seus pacientes.(4)

O crescimento populacional junto com o envelhecimento, o aumento da freqüência de grandes cirurgias, tais como cardiovasculares e transplantes de órgãos, somando a elevada utilização de drogas potencialmente nefrotóxicas, o aumento de pacientes vítimas de politraumas, vem determinando a elevada incidência de pacientes com IRA. (1,8)

Diante deste fato, pesquisas apontam que a incidência da IRA em pacientes hospitalizados é de 5%, podendo na UTI a sua incidência variar de 17% a 35%, sendo que 49% dos pacientes necessitam de tratamento dialítico. (3) A taxa de mortalidade varia de 25% a 90% e está associada ao tempo de internação prolongado, uso de terapias e a população estudada. (1,5)

Bioquimicamente, na IRA ocorre o aumento das concentrações de uréia e creatinina (acima de 1,8 mg/dl), potássio (acima de 6.5 mmol/l). A gasometria arterial indica acidose metabólica e o eletrocardiograma pode ser útil para avaliar a hipercalemia. O melhor indicador laboratorial da função renal é a Taxa de Filtração Glomerular (TFG) estima. Várias equações são utilizadas para a estimativa da TFG. (3,8)

Apesar da melhoria do diagnóstico e tratamento da doença renal, diagnósticos tardios ainda ocorrem, trazendo danos permanentes para os rins. O Kidney Disease Outcome Quality Initiative (KDOQI), mostra que uma TFG de 60ml/min por 1.72m2 por três meses ou mais, com ou sem lesão renal é definida como Doença Renal Crônica (DRC), onde os danos aos rins são permanentes e a função renal não pode manter vida e, consequentemente o paciente no momento necessita de diálise ou transplante. (3)

A avaliação hemodinâmica possui um papel fundamental na avaliação do paciente crítico. Ela permite realizar diagnóstico e estabelecer prognósticos. (11)

A IRA geralmente é acompanhada por oligúria (eliminação urinária igual ou abaixo de 400 ml por dia), e algumas vezes por poliúria, com distúrbio eletrolítico e acidose metabólica. Outros sintomas incluem: fraqueza, apatia, perda do apetite, náusea, vômito, respiração freqüente e profunda (Kussmaul), edema pulmonar, edema periférico, ascite e coma, arritmias cardíacas e fraqueza muscular extrema (que podem ser resultados de distúrbios metabólicos como hipercalemia e hipernatremia). (8, 10 11) Todas as causas de perda de líquido devem ser identificadas, tais como, hemorragias, vômito e diarréia, que também pode resultar na depleção de volume, a questão dos medicamentos também devem ser abordada, como a avaliação para ver se são  inibidores da ECA, aminoglicosídeos e ou nefrotóxicos. (10)

Quanto ao controle hídrico, 84% dos pacientes com IRA apresentam oligúria. (8)

O uso de diuréticos (furosemida), sua utilização no tratamento da IRA é uma questão incerta. O manitol é muito utilizado para reverter quadro de IRA ou para encurtar o seu curso natural, neste caso o principal foco de atenção deve ser o estado de hidratação e o equilíbrio eletrolítico do paciente. (14) Uma redução na produção de urina pode também levar a hiponatremia, hipercalemia, acidose metabólica e uremia. (4,14)

Quando os medicamentos não são eficazes, a escolha do tratamento dialítico deve ser iniciado para não atrasar a recuperação da função renal. Com isso, outro tratamento empregado na UTI para o tratamento da IRA é a hemodiálise intermitente, onde normalmente é realizada três vezes por semana.(8) A preocupação sobre a estabilidade hemodinâmica durante a hemodiálise, lesão de néfrons e a incapacidade de remover o excesso de água e solutos de forma adequada, levaram ao desenvolvimento de uma mais lenta e menos agressiva forma de substituição renal, o método de hemofiltração veno-venosa.(6)

O único estudo que compara a taxa de mortalidade entre tratamento dialítico e não-dialítico encontrou uma taxa de mortalidade maior no grupo de pacientes dialíticos. (1-13)

Em relação ao sexo, alguns autores relatam que aproximadamente 65% dos pacientes internados em UTI que desenvolvem IRA são do sexo masculino e idade < 60 anos.  (8-13) Em resposta à diminuição da taxa de filtração glomerular, a aldosterona é liberada a partir do córtex adrenal, sinalizando aos rins para reabsorver sódio e água. A retenção de fluidos por sua vez resulta no desenvolvimento de doenças pulmonares e cardiovasculares, onde essas também tem grande predominância em pacientes críticos. (1,3)

A sepse é generalizada entre os pacientes enfermos, mais da metade desses pacientes irá desenvolver IRA. Esse subtotal tem uma taxa de mortalidade corresponde a 75% das mortes em pacientes com IRA na UTI.(9,10)

Estudos mostram que o uso da vosopressina em doses baixas (0,04 unidades por minuto) na sepse podem melhorar a função renal, aumentando a taxa filtração glomerular, não sendo então necessário o início da hemodiálise. (9)

A maioria dos principais órgãos são afetados pela lesão renal, com isso os enfermeiros devem ser capazes de avaliar como a doença afeta o paciente de forma holística.

 

Sugestões para a prática do enfermeiro

A enfermagem tem papel fundamental no atendimento de tais distúrbios, pois é ela que continuamente presta seus cuidados e detecta alterações clínicas nesses pacientes. Para uma assistência mais direcionada e de qualidade, a equipe deve estar integrada, organizada e consciente do seu papel técnico-científico. Assim, as ações de enfermagem necessitam ser definidas com base em fenômenos determinados por meio de avaliação clínica do paciente. O processo de avaliação é, portanto vital, e envolve a obtenção de uma precisão e a história completa do paciente, permitindo ao enfermeiro assistir o paciente frente a suas necessidades.(11)

Quando os rins estão funcionando normalmente, o volume de líquidos e eltetrólitos excretos por dia é exatamente igual à quantidade ingerida. Na tabela abaixo segue as manifestações mais comuns dos Distúrbios Hidroeletrolítico  encontrados na IRA.

 

 

Tabela 2- Manifestações dos Distúrbios Hidroeletrolítico, segundo Smeltzer e Bare - 2009

                  

Déficit de Volume Hídrico

Ø      Perda de peso > 5 %;

Ø      Turgor cutâneo diminuído;

Ø      Mucosa seca;

Ø      Oligúria ou anúria.

 

Excesso de Volume Hídrico

Ø      Ganho de peso > 5 %;

Ø      Edema, estertores;

Ø      Falta de ar;

Ø      Veias do pescoço distendida.

 

Déficit de Sódio

Ø      Náusea,

Ø      Letargia;

Ø      Convulsões;

Ø      Cólicas abdominais

 

Excesso de Sódio

Ø      Mucosa seca e pegajosa;

Ø      Sede;

Ø      Língua seca e áspera;

Ø      Fraqueza, agitação e desorientação.

 

Déficit de Potássio

Ø      Alteração do ECG;

Ø      Arritmias;

Ø      Anorexia;

Ø      Fraqueza muscular.

 

Excesso de Potássio

Ø      Diarréia e cólicas;

Ø      Irritabilidade;

Ø      Alteração de ECG

Ø      Fraqueza muscular

 

Déficit de Bicarbonato

Ø      Sonolência e confusão;

Ø      Freqüência e profundidade da respiração;

Ø      Náusea e vômitos;

Ø      Pele ruborizada e quente.

 

Excesso de Bicarbonato

Ø      Respiração deprimida;

Ø      Hipertonicidade muscular;

Ø      Vertigem;

Ø      Formigamento nos dedos e artelhos.

 

Mudanças fisiopatológicas que ocorrem quando os rins falham, criam a necessidade de imediata intervenção e monitoramento constante, onde resulta na admissão do paciente na UTI. (14)

A NIC (Nursing Interventions Classification) representa uma das mais modernas propostas relacionada às ações de enfermagem. É constituída de 486 intervenções e mais de 12 mil atividades.(7,11) Através do julgamento terapêutico, propõem-se as seguintes intervenções que deverão ser estabelecidas pela equipe multidisciplinar, Controle de Eletrólitos e Montorização de Líquidos. (2,7) Em geral, pacientes com distúrbio hidroeletrolitico e IRA são conduzidos mediante avaliação da volemia, dos eletrólitos séricos e urinários, da alteração da sede e da oferta de líquido oral ou parenteral, por meio da restrição de líquido e sódio, diuréticos e diálise.(11)

O paciente pode aparentar estar criticamente doente e letárgico, com náusea persistente, vômito e diarréia. A pele e as mucosas ficam ressecadas em virtude da desidratação , a respiração pode exibir um odor de urina (fedor urêmico) e níveis sanguíneos aumentado de uréia e creatinina (azotemia). O débito urinário varia (escassez até o volume normal), a hematúira pode estar presente e a urina apresenta uma densidade especifica baixa (1.010, comparada a um valor normal de 1.015 a 1.025). Com um declíneo na TFG, o paciente é incapaz de excretar normalmente o potássio (hipercalemia). Os pacientes com oligúria aguda não conseguem eliminar a carga metabólica diária das substâncias ácidas produzidas pelos processos metabólicos normais, tendo como conseqüência a acidose metabólica. A anemia acompanha inevitavelmente a IRA devido à produção reduzida de eritropoetina. (16) A diálise pode ser iniciada para evitar as graves complicações da IRA, como a hipercalemia, acidose metabólica, pericardite e edema pulmonar. A diálise corrige muitas anormalidades bioquímicas, permite liberar a ingestão de líquidos, proteínas e sódio, diminuindo as tendências hemorrágicas, e pode ajudar na cicatrização da lesões. (13)

O enfermeiro deve prestar assistência integral ao paciente, acompanhando sua evolução, corrigindo fluidos e eletrólitos, tratando os efeitos sistêmicos de uremia, prevenindo as infecções e apoiando os pacientes e seus familiares. Esse cuidado é desafiador! (10)

                                             

CONCLUSÃO

 

A IRA é um problema comum em UTI (4), com isso o desequilíbrio hídrico e eletrolítico são aspectos que devem ser considerados na avaliação e definição de ações a serem implementadas pelo enfermeiro, pois caso esses eventos não sejam tratados adequadamente, poderão levar o paciente à morte.

O gerenciamento hidroeletrolítico em pacientes de alta complexidade com IRA é primordial, e os enfermeiros devem estar atentos e capazes de identificar os indivíduos que estão em maior risco de desenvolver distúrbios hídricos e eletrolíticos. Os grupos de risco incluem idosos, aqueles com múltiplas co-morbidades, pessoas com doença renal pré-existente, pacientes pós-cirúrgicos (principalmente cardiovasculares), pós-trauma (pacientes que sofreram grandes perdas de sangue e lesão muscular), aqueles que foram expostos a insultos nefrotóxicos e pacientes com disfunção de múltiplos órgãos.

Observa-se que o sucesso na realização do Gerenciamento Hidroeletrolítico no paciente com IRA, está relacionada com a disponibilidade de uma equipe de enfermagem capacitada e treinada para o cuidado e tratamento. Frente à escassez de trabalhos sobre este tema, nota-se a necessidade de realização de mais pesquisas sobre o Gerenciamento Hidroeletrolítico nas Unidades de Terapia Intensiva, buscando as intervenções de enfermagem tanto de forma preventiva como curativa.

Deste modo, conclui-se que a busca de intervenções de enfermagem adequada ao cliente com alteração hidroeletrolítica, do mesmo modo que a educação permanente da equipe de enfermagem são ações que podem aumentar a qualidade do cuidado de enfermagem no paciente de alta complexidade. Este artigo, por conter dados atuais baseados em evidências científicas, auxilia o enfermeiro a exercer suas funções com maior eficácia, responsabilidade e segurança para o paciente e seu familiar.

 

 

REFERÊNCIAS

 

1- Bernardina LD, Belasco AGS, Bittencourt ARC, Barbosa DA. Evolução clínica de pacientes com insuficiência renal aguda em unidade de cuidados intensivos. Acta paul. enferm.; São Paulo, v. 21 n. spe, 2008.

2- Bianco RPR, Araújo ES. Nefroproteção relacionada ao uso de meio de contraste iodado: atenção de enfermagem. Acta paul. enferm.; São Paulo, v.21 n. sep, 2008.

3- Broscious SK, Castagnola J. Chronic Kidney Discare: Acute Manifestations e Role of Critical Care Nurse. Crit Care Nurse 2010;26:17-27

4- Brown AS, BSN, RN, CCRN. Rennal Tubular Acidosis. Dimens of Critical Care Nursing. 2010;29(3):112-119

5- Ciampone JT, Gonçalves LA, Maia FOM, Padilha KG. Necessidade de cuidados de enfermagem e intervenções terapêuticas em UTI: estudo comparativo entre pacientes idosos e não idosos. Acta paul. enferm.; São Paulo, v.19 n.1 s.21-23 jan./mar. 2006.

6- Dirkes S, Hodge K. Replacement Therapy in the Adult Intensive Care Unit: History and Current Trends. Critical Care Nurse vol.27, no.2, April 2007;27:61-80

7- Dochterman JM, Bulechek GM. Classificação das intervenções de enfermagem (NIC). 1 ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.

8- Garcia TPR et al. Pacientes vítimas de politraumatismo com insuficiência renal aguda na unidade de terapia intensiva. Acta paul.enferm.; São Paulo, v.21 n. 2008.

9- Gessner P, ACNP. The Effcts of Vasopressin on the Renal System in Vasodilatory Shock. Dimens Crit Care Nurs. 2006;25(1):1-8

10- Murphy F, Byrne G. The role of the nurse in the management of acute Kidney injury. British journal of Nursing, 2010, vol.19, no.3

11- Rolim ILTP. Análise das Intervenções da NIC indicadas para o Diagnóstico de Enfermagem “Volume de Líquidos Excessivo” em Unidade de Terapia Intensiva. Tese de (Doutorado), 2008. 103f – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.

12- Santos CMC, Pimenta CAM, Nobre MRC. A estratégia PICO para a construção da pergunta de pesquisa e busca de evidências. Rev Latino-Am Enfermagem. 2007;15:508-11.

13- Silva GLDF, Thomé EGR. Complicações do procedimento em pacientes com insuficiência renal aguda: intervenções de enfermagem. Rev Gaúcha Enferm.,Porto Alegre (RS) 2009 mar; 30(1):33-9

14- Sumnall R et al. Fluid management and diuretic therapy in acut renal failure. Nursing in Critical Care. Vol. 12 no 1. 2007.

15- Domenico EBL, Ide CAC. Enfermagem baseada em evidências: princípios e aplicabilidades. Rev Latinoam Enferm. 2003; 11(1): 115-8.

16- Smeltzer SC, Bare BG. Bruner & Suddarth: Tratado de Enfermagem Médico Cirúrgico. 10th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogem, 2009.

 

 

 

 





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