REVIEW ARTICLES
Patient potential donor organs in intensive care unit : systematic review literature for a clinical protocol
O paciente potencial doador de órgãos na unidade de terapia intensiva: revisão sistematizada da literatura para um protocolo clínico
Thiago Pontes de Oliveira César1, Isabel Cristina Fonseca da Cruz1
1Universidade Federal Fluminense
ABSTRACT
Objectives: To analyze the existing scientific literature to determine the best evidence about the actions of the intensive care nurse by the patient organ donor in order to propose a clinical protocol with the attitudes and actions that nurses must carry through this course of his professional practice .
Methods: following descriptors: "Patient Safety", "Donor organs," "Tissue and Organ Procurement", "Brain Death", "nursing care".
Results: In the case of evidence, it is possible to point out that the professional should be aware of physiological changes in the body such as hypotension, followed by hypothermia, hypernatremia, hyperglycemia, infection and corneal ulcers after brain death due to impaired vitality of the body, and which generates, consequently, the disempowerment donor. From this, the nurse must establish a care plan systematized in order to assess the patient's condition and maintenance measures of body homeostasis.
Conclusions: This study brought as a result the clinical protocol based on physiological changes in the body and plan of care that nurses, along with the team, is to implement so that the vitality of possible organ transplant is preserved. And it showed with concrete the need to promote the continuing education of professionals involved, in order to standardize the procedures adopted, as well as offering psychological support to professionals and families, in order to ease tensions and provide a suitable environment for the donation process.
Keywords: Patient Safety; Tissue Donors; Obtaining Tissue and Organ; Brain Death; Nursing Care.
RESUMO
Objetivos: Analisar a produção científica existente para determinar a melhor evidência acerca das ações do enfermeiro intensivista mediante ao paciente doador de órgãos a fim de propor um protocolo clínico com as atitudes e as ações que o enfermeiro deve realizar mediante a esse quadro da sua prática profissional.
Métodos: seguintes descritores: “Segurança do Paciente”, “Doadores de órgãos”, “Obtenção de Tecidos e Órgãos”, “Morte Encefálica”, “Cuidados enfermagem”.
Resultados: Tratando-se das evidências, é possível apontar que o profissional deve estar atento a alterações fisiológicas do organismo tais como: a hipotensão arterial, seguida da hipotermia, hipernatremia, hiperglicemia, infecção e úlceras de córnea após a morte encefálica devido ao comprometimento da vitalidade do órgão e o que gera, consequentemente, a despotencialização do doador. A partir disso, o enfermeiro deve estabelecer um plano de cuidados sistematizado com o objetivo de avaliar o estado do paciente e medidas de manutenção da homeostase corporal.
Conclusões: o presente estudo trouxe como resultado o protocolo clínico baseado nas alterações fisiológicas do organismo e no plano de cuidados que o enfermeiro, junto com a equipe, deve implementar para que a vitalidade dos possíveis órgãos transplantados seja preservada. Além disso, demonstrou com concretude a necessidade de promover a educação continuada dos profissionais envolvidos, com vistas a padronizar os procedimentos adotados, bem como o oferecimento de suporte psicológico aos profissionais e familiares, com vistas a diminuir as tensões e proporcionar um ambiente adequado para o processo de doação.
Descritores: Segurança do Paciente; Doadores de Tecidos; Obtenção de Tecidos e Órgãos; Morte Encefálica; Cuidados de Enfermagem.
INTRODUÇÃO
Com o avanço de estudos, das técnicas de ressuscitação e de suporte vital, a atividade cerebral veio definir a vida e a morte do indivíduo, vinculando a morte a critérios neurológicos, evoluindo para o que se conhece atualmente como Morte Encefálica (1,2)
O diagnóstico de morte encefálica é determinado através de exame clínico neurológico, a partir da ausência evidente de reflexos do tronco cerebral no paciente em coma, evidenciando-se a irreversibilidade desses(3). A fim de garantir a possibilidade da doação dos órgãos, o corpo desse paciente deve sofrer manutenção através de ventilação mecânica e outras medidas, por isso, o cuidado desses pacientes é considerado uma atividade complexa, implementada pela equipe multiprofissional que atua em unidade de terapia intensiva (4).
A doação de órgãos e tecidos, a rigor da Lei 9.434/97, consiste na disposição de órgãos, tecidos e partes do corpo humano, em vida ou post mortem, para o corpo de um receptor, para fins de transplante ou tratamento, gratuitamente. Considerando-se doador potencial a pessoa diagnosticada com dano irreversível no cérebro. Para que seja considerado um doador efetivo, aquele que realmente poderá dispor de seus órgãos, o potencial doador passará por avaliação médica a fim de analisar a aptidão dos seus órgãos, sendo facultado aos familiares autorizar ou não a referida doação.
Em relação a esse processo, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) (5), através do Registro Brasileiro de Transplantes Ano XXI Nº 1, no primeiro trimestre de 2015, houve queda na taxa de potenciais doadores notificados (de 1,4% em número absoluto e de 7,3% na taxa por milhão de pessoas - pmp (– que passou de 49,0 para 45,4) e de doadores efetivos (de 0,8% em número absoluto e de 6,3% na taxa pmp – passou de 14,2 para 13,3). Já no período de Janeiro a Setembro de 2015 (6), constatou-se aumento no número absoluto estimado de potenciais doadores.
Nesse processo, destaca-se a participação do Enfermeiro na prestação do cuidado direto ao potencial doador e familiares, cabendo destacar a importância do manejo das repercussões fisiopatológicas próprias da morte encefálica, a monitorização hemodinâmica e a prestação de cuidados individualizados, ressaltando que o sucesso do transplante está diretamente relacionado à manutenção adequada deste possível doador. (7,8)
A atuação do enfermeiro permeia desde o início da suspeita de morte encefálica, ou seja, da constatação de irreversibilidade de todas as funções respiratórias e circulatórias ou cessação de todas as funções do cérebro, quando o profissional deverá prover condições de aproveitamento dos órgãos para o transplante (9).
Pelo exposto, é de suma importância a identificação dos elementos do processo de trabalho do enfermeiro atuante na unidade de terapia intensiva junto ao potencial doador de órgãos e familiares, considerando suas crenças e ações, pois estas ações poderão interferir diretamente no processo de doação/transplante. Assim, o estudo tem como questão de norteadora: Como o enfermeiro intensivista deve atuar frente a um paciente potencial doador de órgãos?
Para responder essa questão, elencou-se como objetivo: Analisar a produção científica existente para determinar a melhor evidência acerca das ações do enfermeiro intensivista mediante ao paciente doador de órgãos a fim de propor um protocolo clínico com as atitudes e as ações que o enfermeiro deve realizar mediante a esse quadro da sua prática profissional.
METODOLOGIA
O estudo se trata de uma Revisão Sistemática de Literatura, através de pesquisa bibliográfica computadorizada, realizada no período de março de 2015 à novembro de 2015, nas bases de dados nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e na Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), nas fontes LILACS, MEDLINE/PUBMED e BDENF, utilizando os seguintes descritores: “Segurança do Paciente”, “Doadores de órgãos”, “Obtenção de Tecidos e Órgãos”, “Morte Encefálica”, “Cuidados enfermagem” utilizando o operador booleanos AND, afim de se realizar as associações.
Foram adotados como critérios de inclusão: artigos publicados no período de 2010 a 2015, em inglês, espanhol e português, disponíveis em texto completo e que possuíam relação com objeto de estudo. Os artigos foram selecionados através da leitura de títulos e resumos. Foram adotados como critérios de exclusão: artigos do tipo revisão integrativa e nota prévia; artigos disponíveis não gratuitos; aqueles que não se enquadravam à temática dos cuidados de enfermagem ao potencial doador de órgãos; e os que se repetem.
Por ser uma temática diferenciada em relação à Unidade de Terapia Intensiva, ressalta-se a dificuldade em encontrar publicações sobre a temática de doação de órgãos que possam contribuir para a construção de um protocolo clínico que verse sobre como o enfermeiro intensivista deve atuar mediante essa situação. Vale destacar ainda que, as produções internacionais se apresentam em grande escala, porém, o acesso às mesmas não é gratuito.
SÍNTESE DAS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
A fim de selecionar as informações que seriam extraídas de cada artigo, foi realizada uma leitura crítica dos estudos selecionados, para identificação de elementos que se relacionassem à temática da Segurança do paciente no contexto dos cuidados ao potencial doador de órgãos, além disso, foi realizada a seleção dos trechos que continham as evidências científicas necessárias, que após esse processo foram agrupadas de acordo com o tema central e elementos relacionados a ele.
A figura 1 apresenta a síntese do processo de seleção dos artigos:
Figura 1. Fluxograma de identificação e seleção dos artigos para revisão sistemática sobre os cuidados ao Potencial Doador de Órgãos, 2010 a 2015.
Foram selecionados 20 artigos sobre a temática a fim de fundamentar a análise e posteriormente servir de base para argumentos para elaborar o protocolo. A tabela 1 abaixo são apresentados os resultados de acordo como nível de evidência de Oxford.
Tabela 1 – Publicações localizadas nas bases de dados. Niterói, 2015 .
Autores, Data e País |
Objetivos |
Força da Evidência |
Tipo de estudo & instrumentos |
Principais achados |
Conclusões do autor |
ARAÚJO, Mara Nogueira de e MASSAROLLO, Maria Cristina Komatsu Braga. 2014, Brasil |
Conhecer os conflitos éticos vivenciados pelos enfermeiros no processo de doação de órgãos. |
Nível 4 – Grau C |
Relato de Casos, através de pesquisa Qualitativa |
Emergiram cinco categorias: dificuldade em aceitar a morte encefálica; não aceitação da equipe multiprofissional de desconectar o ventilador mecânico do paciente em morte encefálica não doador de órgãos; dificuldades da equipe multiprofissional durante o processo de doação de órgãos; situações que podem interferir no processo de doação de órgãos e Tomada de decisão frente a conflitos éticos. |
Os conflitos éticos vivenciados pelos enfermeiros no processo de doação de órgãos foram: a dificuldade do profissional em aceitar a morte encefálica como morte do individuo, a não aceitação em desconectar o ventilador mecânico do paciente em morte encefálica e não doador de órgãos, o desconhecimento para a realização do protocolo de morte encefálica, a falta de comprometimento, o descaso no cuidado com o potencial doador a escassez de recursos humanos e materiais a crença religiosa e a falha na comunicação. |
VIRGINIO, Bárbara Cristina de Aguiar Ernesto; ESCUDEIRO, Cristina Lavoyer; CHRISTOVAM, Bárbara Pompeu; SILVINO, Zenith Rosa; GUIMARÃES, Tereza Cristina Felippe; OROSKI, Graciele. 2015, Brasil. |
Descrever a visão dos enfermeiros acerca da finitude no processo de doação de órgãos em unidade de terapia intensiva de um hospital transplantador |
Nível 2 - Grau B |
Estudo descritivo, qualitativo. |
Os enfermeiros vivenciam em sua prática uma dialética entre a ação da doação e o lidar com a finitude através do cuidado de enfermagem prestado ao potencial doador e família. |
Há necessidade de repensar/rever conceitos, a formação e desmitificar verdades institucionais no lidar com o desconhecido. |
LIMA,Camila Santos Pires; BATISTA, Ana Cláudia de Oliveira; |
Compreender as percepções da equipe de enfermagem em sua atuação no cuidado ao paciente em morte encefálica. |
Nível 2 - Grau B |
Estudo descritivo-exploratório, qualitativo. |
A equipe considera-se qualificada para prestar assistência ao paciente em morte encefálica mas necessita de educação continuada. Dentre as dificuldades destacaram-se: a relação com a família e a estrutura logístico-administrativa da instituição. Os profissionais percebem sua importância na manutenção do potencial doador, na supervisão/orientação da equipe e no apoio familiar. As sugestões identificadas para melhorar o atendimento foram: educação continuada, melhoria na estrutura logísticoadministrativa e no apoio aos familiares. |
O estudo evidenciou a importância da equipe no cuidado ao paciente em morte encefálica, a necessidade do preparo para lidar com as famílias e aprimoramento dos conhecimentos para uma assistência segura e qualificada. |
CAVALCANTE,Layana de Paula; RAMOS, Islane Costa; ARAÚJO, Michell Ângelo Marques; ALVES, Maria Dalva dos Santos e BRAGA, Violante Augusta Batista. 2014, Brasil. |
Analisar a opinião dos enfermeiros sobre os cuidados de enfermagem ao paciente em morte encefálica e potencial doador de órgãos. |
Nível 2A – Grau B |
Revisão sistemática. |
As dimensões do cuidado dos Enfermeiros ao potencial doador de órgãos e tecidos dão indicativos de uma prática voltada para a manutenção hemodinâmica, estando presente, também, o conflito entre assistir ao paciente em morte encefálica ou a outros com possibilidades de sobrevida. |
O cuidado de enfermagem ao potencial doador de órgãos configura-se como um processo complexo e que requer melhor qualificação e maturidade emocional, nem sempre presente. |
GUIMARÃES, Jussara Borges Guimarães; BARBOSA,Naiane Moreira; BATISTA, Miranildes de Abreu; PASSOS, Xisto Sena. 2012, Brasil. |
Verificar o conhecimento dos enfermeiros da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgências de Goiânia-GO (HUGO), sobre condutas de enfermagem a serem tomadas no manejo do potencial doador de órgãos, no que se refere à prevenção, manutenção e controle da temperatura. |
Nível 2 - Grau B |
Pesquisa quantitativa, do tipo exploratório e descritivo através de questionário. |
Constatou-se que os enfermeiros participantes conhecem diversas estratégias no manejo da queda de temperatura que acomete o paciente em morte encefálica, o que contribui para a otimização do processo de transplantes. Identificou-se as condutas de enfermagem utilizadas na manutenção da temperatura corporal do potencial doador de órgãos |
Diante dos resultados apresentados verificou-se que o enfermeiro conhece a importância da manutenção da temperatura corporal para o potencial doador de órgãos e também a necessidade de se prevenir complicações que podem contribuir para inviabilizar a doação. |
WESTPHAL, Glauco Adrieno; CALDEIRA FILHO, Filho Milton; VIEIRA, KalincaDaberkow; ZACLIKEVIS, Viviane Renata; BARTZ, Miriam Cristine Machado e WANZUITA, Raquel. 2011, Brasil |
Contribuir com as coordenações institucionais de transplantes, de forma a nortear e uniformizar os cuidados prestados ao doador falecido, buscando incrementar quantitativa e qualitativamente o transplante de órgãos com medidas aplicáveis à realidade brasileira. |
Nível 2 - Grau A |
Revisão sistemática com fins de elaborar uma diretriz. |
O reconhecimento da morte encefálica, a adequada abordagem da família e a manutenção clínica do doador falecido são fundamentais para a diminuição desta desproporção |
O intensivista tem importância central e a aplicação do conjunto de informações disponíveis para manutenção do potencial doador falecido está claramente associada à redução de perdas de doadores e ao aumento da qualidade e da efetivação de transplantes.. |
FLODÉN, Anne; PERSSON, Lars-Olof; RIZELL, Magnus; SANNERE, Margareta; FORSBERG, Anna. 2011, Suécia. |
Apresentar dados sobre as atitudes de enfermeiros de UTI sueca da morte cerebral até a doação de órgãos |
Nível 1 – Grau A |
Pesquisa Qualitativa |
Menos da metade das enfermeiras da UTI confiavam no diagnóstico clínico de morte encefálica sem a confirmação de uma angiografia cerebral. Vinte e cinco por cento dos entrevistados indicaram que a ventilação mecânica foi com utilizada para reduzir o possível sofrimento de uma pessoa.Um total de 39% tinham experimentado ocasiões em que a pergunta sobre a doação de órgãos não foi levantada. |
Enfermeiros atuantes nas UTIs suecas comunicaram várias barreiras para a doação de órgãos. Um plano de ação , incluindo a educação em diagnóstico por morte encefálica , relações interpessoais e interação com os familiares , bem como o acompanhamento regular sobre questões de doação em vários tipos de UTI seria útil e de relevância à prática clínica. Todos os enfermeiros que atuam em UTIs são obrigados a participar de doação de órgãos e são incluídas nestes resultados. |
FREIRE, Izaura Luzia Silvério; VASCONCELO, Quinídia Lúcia Duarte de Almeida Quithé de; TORRES, Gilson de Vasconcelos; ARAÚJO ,Ednaldo Cavalcante de; COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes; MELO, Gabriela de Sousa Martins. 2011, Brasil |
Analisar os fatores relacionados à estrutura, ao processo e resultados da doação de órgãos e tecidos para transplantes. |
Nível 2 - Grau B |
Estudo analítico, longitudinal e quantitativo |
Quanto à estrutura para a doação havia deficiências de recursos físicos (climatização), materiais (radiologia móvel), humanos (técnicos em enfermagem) e falta de registros adequados e protocolos assistenciais. No processo de doação, os problemas relacionaram-se às etapas de avaliação, diagnóstico de morte encefálica, manutenção e documentação, com maior proporção na assistência do não doador. |
Possivelmente, a estrutura e o processo determinaram o resultado de que 72,3% dos potenciais doadores não efetivaram a doação, índices compatíveis com os nacionais, mas contraditórios com os da Espanha, que consegue transplantar os órgãos de 86,7% dos seus doadores. |
FREIRE, Sarah Gabriel; FREIRE,Izaura Luzia Silvério; PINTO, Juliana Teixeira Jales Menescal; VASCONCELOS,Quinidia Lúcia Duarte de Almeida Quithéde e TORRES, Gilson De Vasconcelos. 2012, Brasil. |
Descrever as alterações fisiológicas da morte encefálica em potenciais doadores de órgãos e tecidos para transplantes |
Nível 3 – Grau B |
Estudo caso-controle |
As alterações fisiológicas foram: hipotensão arterial (100%), hipotermia (75,0%), hipernatremia (62,5%), diabetes insipidus (37,5%), hiperglicemia (32,3%), infecção (25,0%), hipertensão arterial (9,4%) e úlcera de córnea (3,1%). |
A partir do conhecimento das alterações constatadas no paciente,a equipe de saúde poderá direcionar o cuidado ao potencial doador segundo as suas necessidades e, assim, manter o órgão/tecido viável para transplante. |
GUPTA Natasha; GARONZIK-WANG, Jacqueline M; PASSARELLA, Ralph J; SALTER, Megan L; KUCIRKA, Lauren M.; ORANDI, Babak J; LAW, Andrew H.; SEGEV, Dorry L. 2014, EUA. |
Avaliar o conhecimento sobre a doação de órgãos, experiência na captação de doadores e opinião do processo entre residentes e bolsistas da UTI. |
Nível 1B, Grau A |
Pesquisa Qualitativa |
De 40 participantes, 50% já haviam participado do processo de doação, 25% estavam familiarizados com as diretrizes da Organização de Procura de Órgãos (OPO) e 10% tinham recebido instruções formais da OPO. A pontuação média na avaliação de conhecimento foi de 5 dos 10; maior pontuação de conhecimento, não foi associada com o nível de formação médica, treinamento prévio ou experiência com a conversão dos doadores, ou com pareceres favoráveis sobre a OPO. |
Foi identificado um défice generalizado de conhecimento entre os residentes e bolsistas em um centro médico acadêmico com um programa de transplante ativo que pode ajudar a explicar baixo nível de conhecimento dos envolvidos no processo de doação de órgãos |
MENDES, Karina Dal Sasso; SILVEIRA, Renata Cristina de Campos Pereira e GALVAO, Cristina Maria. 2012, Brasil. |
Tecer considerações sobre o papel e as responsabilidades do enfermeiro que atua em programa de transplantes de órgãos e tecidos. |
Nível 5 – Grau D |
Opinião de especialista. Reflexão. |
Os textos encontrados foram lidos, organizados e sintetizados em cinco categorias temáticas, a saber: definição do papel do enfermeiro no transplante, diferença entre o enfermeiro clínico e o enfermeiro coordenador de transplante, aspectos legais e éticos, pesquisa e informação e educação em transplantes. |
Conclui-se que o enfermeiro deve ter conhecimento dos princípios de boas práticas e ter recursos disponíveis para avaliar o mérito, riscos e questões sociais relacionadas aos transplantes. |
WESTPHAL, Glauco Adrieno; CALDEIRA FILHO, Filho Milton; VIEIRA, KalincaDaberkow; ZACLIKEVIS, Viviane Renata; BARTZ, Miriam Cristine Machado e WANZUITA, Raquel. 2011, Brasil |
Contribuir com as coordenações institucionais de transplantes, de forma a nortear e uniformizar os cuidados prestados ao doador falecido, buscando incrementar quantitativa e qualitativamente o transplante de órgãos com medidas aplicáveis à realidade brasileira |
Nível 2 - Grau A |
Revisão sistemática com fins de elaborar uma diretriz. |
O adequado controle endócrino-metabólico é essencial para a manutenção do aporte energético aos tecidos e do controle hidro-eletrolítico, favorecendo inclusive a estabilidade hemodinâmica. A abordagem das alterações hematológicas é igualmente importante considerando as implicações da prática transfusional inapropriada. Ressalta-se ainda o papel da ventilação protetora na modulação inflamatória e conseqüente aumento do aproveitamento de pulmões para transplante. |
Assinala-se a relevância da avaliação criteriosa das evidências de atividade infecciosa e da antibioticoterapia na busca do maior utilização de órgãos de potenciais doadores falecidos. |
PESTANA, Aline Lima; SANTOS, José Luís Guedes dos; ERDMANN, Rolf Hermann; SILVA, Elza Lima da e ERDMANN, Alacoque Lorenzini. 2013, Brasil. |
Apresentar um modelo teórico de organização do cuidado ao paciente em morte encefálica e o processo de doação de órgãos |
Nível 2 – Grau B |
Revisão sistemática. |
O pensamento Lean pode tornar mais eficaz e eficiente o processo de doação de órgãos e contribuir com a sua melhoria, a partir da sistematização das informações e capacitação dos profissionais para a excelência do cuidado. |
O modelo apresentado configura-se como um referencial disponível para validação e aplicação pelos profissionais e gestores de saúde e enfermagem na prática da gestão do cuidado ao paciente potencial doador de órgãos em morte encefálica e respectiva demanda por transplante. |
FERREIRA, Gisele da Cruz ; Cristina;ARREGUY-SENA, Cristina; ALVES, Marcelo da Silva; SALIMENA, Anna Maria de Oliveira . |
Descrever a construção de instrumentos para subsidiar os cuidados ao binômio corpo doador e familiares na perspectiva do processo de captação de órgãos. |
Nível 3 - Grau A |
Relato de uma experiência através do instrumento Modelo das Atividades de Vida. |
Foram identificados 33 possíveis diagnósticos, sendo 14 vinculados à preservação do corpo e 19 às respostas de familiares diante do luto e do impasse de autorizar ou não a doação. Foram selecionadas 31 intervenções para manter o corpo em condições para captar órgãos/tecidos e 25 para atender às necessidades de informação, enfrentamento e apoio para decisão dos familiares. |
Os diagnósticos, as intervenções e os resultados de enfermagem foram registrados segundo North American Nursing Diagnosis Association, Nursing Intervention Classification e Nursing Outcome Classification respectivamente. Os instrumentos atendem às legislações do Conselho de Enfermagem e de doação/captação de órgãos, necessitando ser validados por peritos da área. |
FREIRE, Izaura Luzia Silvério; Oliveira de Mendonça, Ana Elza; BESSA de Freitas, Marcelo; MELO, Gabriela de Sousa Martins; COSTA, Isabelle Katherinne Fernandes;TORRES, Gilson de Vasconcelos.2014, Brasil. |
Identificar a compreensão da equipe de enfermagem acerca da morte encefálica (ME) e da doação de órgãos e tecidos. |
Nível 2 – Grau B |
Estudo descritivo, quantitativo através de questionário estruturado. |
Dos 68 profissionais, 51,5% era técnico de enfermagem; 77,9% afirmaram sentir-se preparados para assistir paciente em ME. Dos critérios para o diagnóstico da ME, 94,1% citou ausência de atividades encefálicas detectas por exames complementares. A manutenção da temperatura Enfermería Global Nº 36 Octubre 2014 Página 195 corporal (82,4%) foi o principal cuidado mencionado na manutenção do potencial doador. Do processo de doação, a entrevista com a família foi a mais citada (82,4%). |
Evidenciou-se falta de conhecimento teórico-prático da equipe de enfermagem, demonstrando a necessidade de se investir em estratégias educacionais. |
SANTOS, Marcelo José dos e MASSAROLLO, Maria Cristina Komatsu Braga. 2011, Brasil. |
Desvelar a percepção dos profissionais que atuam em Organizações de Procura de Órgãos sobre os fatores que facilitam e dificultam a entrevista familiar no processo de doação de órgãos e tecidos para transplante. |
Nível 2 – Grau B |
Pesquisa qualitativa. |
Após a análise das entrevistas, foram revelados os fatores que facilitam e dificultam a entrevista familiar. |
As proposições que emergiram, revelaram que os fatores que facilitam e dificultam a entrevista familiar estão relacionados ao local da entrevista, à assistência prestada ao potencial doador e aos familiares, aos esclarecimentos fornecidos à família e a manifestação do potencial doador em vida sobre a decisão quanto à doação de órgãos. |
SOUZA, Silvia Silva; BORENSTEIN, Miriam Süsskind; SILVA, Denise Maria Guerreiro Vieira da; SOUZA, Sabrina da Silva de; CARVALHO, Juliana Bonetti de. 2013, Brasil |
Identificar situações de estresse vivenciadas pelos membros da equipe de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva ao cuidar de um potencial doador de órgãos |
Nível 1, Grau A |
Pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva, |
Os profissionais da saúde sentem-se ameaçados ao se identificarem com a situação da pessoa em morte encefálica, pelo medo da própria morte, com a dúvida em relação à morte encefálica e também pela sensação de fracasso como profissional. |
A equipe de enfermagem frente ao potencial doador de órgãos vem sofrendo situações estressantes, tendo que superar os desafios e mobilizar estratégias de enfrentamento a partir das situações que se apresentam. |
TEIXEIRA, Renan Kleber Costa; GONÇALVES, Thiago Barbosa e SILVA, José Antonio Cordero da. 2012, Brasil. |
Avaliar a influência do conhecimento sobre morte encefálica relacionada à doação de órgãos dos pacientes |
Nível 3 – Grau B |
Pesquisa Clínica, através de estudo de caso controle. |
A maioria por pacientes era do gênero feminino e favorável à doação de órgãos, apresentando média de idade de 39 anos. Apenas 19,9% souberam informar o que era morte encefálica, 85,3% acreditavam que o médico pode se equivocar na firmação do estado de morte encefálica de um paciente e 18,4% confiavam no diagnóstico de morte encefálica. Observou-se relação estatisticamente significante (p<0,01) entre o grau de confiança no diagnóstico de morte encefálica e a pessoa aceitar doar seus órgãos após sua morte. |
A maioria da população estudada não compreendia o significado da morte encefálica e apresentava um baixo grau de confiança no diagnóstico de morte encefálica, sendo que esse perfil influência negativamente o desejo de doar órgãos. |
WESTPHAL, Glauco Adrieno; CALDEIRA FILHO, Filho Milton; VIEIRA, KalincaDaberkow; ZACLIKEVIS, Viviane Renata; BARTZ, Miriam Cristine Machado e WANZUITA, Raquel. 2011, Brasil. |
Nortear e uniformizar os cuidados prestados ao doador falecido |
Nível 3 – Grau B |
Estudo de caso controle. |
A atuação do intensivista durante a manutenção do potencial doador falecido exige cuidados específicos com os órgãos visando sua maior viabilidade para transplantes. O manejo hemodinâmico cuidadoso, os cuidados ventilatórios e de higiene brônquica minimizam a perda de rins e pulmões para o transplante. A avaliação da condição morfológica e funcional do coração auxilia na avaliação do potencial transplantável deste órgão. |
A avaliação da função hepática, assim como o controle metabólico e a realização de sorologias virais são fundamentais para a orientação das equipes transplantadoras na seleção do órgão a ser doado e no cuidado com o receptor. |
WESTPHAL, Glauco Adrieno; ZACLIKEVIS, Viviane Renata; VIEIRA, Kalinca Daberkow; CORDERO, Rodrigo de Brito; HORNER, Marina Borges W.e OLIVEIRA,Thamy Pellizzaro de. 2012, Brasil. |
Avaliar o efeito da aplicação de um protocolo gerenciado de manutenção de potenciais doadores falecidos de múltiplos órgãos em duas unidades hospitalares. |
Nível 2 – Grau B |
Estudo de coorte, através de coleta em banco de dados. |
Identificaram-se 42 potenciais doadores (18 na Fase 1 e 24 na Fase 2). Houve diminuição do tempo entre a primeira exploração clínica e o explante (Fase 1: 35,0±15,5 horas versus Fase 2: 24,6±6,2 horas; p=0,023). Houve aumento na aderência em 10 dos 19 itens essenciais de manutenção, e redução nas perdas por parada cardíaca (Fase 1: 27,8 versus 0% na Fase 2; p=0,006) com aumento de doadores reais (Fase 1: 44,4 versus 75% na Fase 2; p=0,044). Não houve mudança nas perdas por negativa familiar ou por contra-indicação médica. |
A adoção de um protocolo gerenciado promove a aplicação de medidas essenciais no cuidado do potencial doador falecido e pode reduzir as perdas de potenciais doadores por parada cardíaca. |
DISCUSSÃO
Por se tratar de um assunto de cunho subjetivo e técnico pode-se destacar que as evidências permeiam tanto os aspectos cognitivos e subjetivos quanto os procedimentais e de conhecimento do enfermeiro (10,11,12).
O enfermeiro da UTI deve partir do principio que, ao lidar com a morte, ele lida com a finitude da vida o que compromete os aspectos emocionais tanto da família (13,14,15) quanto do próprio profissional. Para isso, a capacitação desse profissional deve permear tanto as questões de controle emocional, dando apoio à família e incentivo à doação (16,17,18), e quanto às de racionalidade envolvida no processo de morte encefálica e da doação de órgãos, como o conhecimento técnico.
Tratando-se das evidências, é possível apontar que o profissional deve estar atento a alterações fisiológicas do organismo tais como: a hipotensão arterial, seguida da hipotermia, hipernatremia, hiperglicemia, infecção e úlceras de córnea após a morte encefálica devido ao comprometimento da vitalidade do órgão e o que gera, consequentemente, a despotencialização do doador. A partir disso, o enfermeiro deve estabelecer um plano de cuidados sistematizado (19) com o objetivo de avaliar o estado do paciente e medidas de manutenção da homeostase corporal(20).
Dentre os cuidados essenciais, as evidências destacam manutenção térmica, hemodinâmica (mantendo a PAM>65 mmHg) e do equilíbrio eletrolítico, assim como a reposição hormonal e a aplicação de um regime ventilatório adequado.
Em relação ao sistema hormonal, as evidências apontaram para utilização da levotiroxina (1 a 2 µg/kg) já que auxilia na manutenção dos hormônios tireoidianos. Em relação às funções renais, administrar metilprednisolona a fim de auxiliar na compensação de eventual insuficiência adrenal e levando ao melhor controle hemodinâmico; Mensurar a Creatinina basal a cada 24 horas ; Manter sódio sérico entre 130-150 mEq/L e o débito urinário entre 0,5-4 ml/kg/h.
Em relação ao sistema hematológico, realizar a coleta duas hemoculturas e urocultura em todos os doadores de órgãos na abertura do protocolo de transplante; Realizar oximetria de pulso contínua; Gasometria arterial a cada 6 horas; Radiografia de tórax a cada 24 horas devido aos mediadores inflamatórios liberados que podem desencadear reações hemodinâmicas; Monitorizar a glicemia capilar pelo menos a cada 6 horas em todos os potenciais doadores e mais frequentemente sempre que iniciar infusão contínua de insulina; Realizar a dosagem sérica de sódio, potássio e glicemia pelo menos a cada 6 horas; Manter pH > 7,2; Monitorizar a glicemia capilar pelo menos a cada 6 horas em todos os potenciais doadores.
Ainda, em relação ao sistema respiratório, aspirar o tubo orotraqueal somente quando houver secreção traqueal; Realizar mudança de decúbito a cada 2 horas e Manter a cabeceira elevada entre 30º e 45º (21,22,23,24,25,26,27).
Por fim, vale salientar que a educação continuada é fortemente recomendada28, haja vista que o despreparo da equipe que atua com o potencial doador pode comprometer todo o processo de doação. Deste modo, aumentar a compreensão do processo e promover a educação continuada da equipe constitui ferramenta essencial para diminuir as dificuldades29 de manutenção dos órgãos e aumentar a taxa de transplantes realizados e bem-sucedidos.
CONCLUSÕES
Por fim foi possível notar, o enfermeiro que atua em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é fundamental para que seja atingido o sucesso no tratamento do paciente, principalmente com relação a doação de órgãos, devido a necessidade de uma assistência em saúde especializada, qualificada e segura.
Esses profissionais, juntamente com a equipe multidisciplinar, deverão contar com abrangência de conhecimentos científicos em relação à fisiologia humana e as complicações que levam à desqualificação do paciente como doador.
Considerando a quantidade de pessoas aguardando pelo transplante, bem como a escassez de órgãos, a conduta destes profissionais é de suma importância, de modo a otimizar o uso de órgãos captados, nas melhores condições funcionais possíveis, de doadores com morte encefálica diagnosticada.
No que condiz às características e alterações fisiológicas dos doadores de órgãos, as evidências apontam que o enfermeiro deverá estar capacitado para promover a manutenção do potencial doador, identificando as alterações fisiopatológicas, prevenindo e detectando precocemente as principais complicações que podem ocorrer em decorrência da morte encefálica, instituindo as medidas terapêuticas adequadas e objetivando a manutenção das condições dos órgãos a serem utilizados.
Os resultados obtidos através das produções científicas acerca do tema demonstram que, paralelamente aos conhecimentos científicos, o enfermeiro deve estar atento ao apoio emocional aos familiares do potencial doador. É inegável o dissabor e sofrimento resultantes da perda de um ente, sendo, portanto, o preparo para a realização do transplante considerado um fato gerador de muita tensão, conflitos e ambivalência de sentimentos, haja vista a tristeza pela perda do familiar aliada ao sentimento de poder fazer o bem a outra pessoa, provavelmente desconhecida, a partir dos órgãos a serem transplantados. Neste momento, demanda-se grande preparo da equipe que atua junto ao potencial doador, para que preste apoio necessário aos familiares, auxiliando neste momento tão doloroso.
Ao final deste estudo, foi possível evidenciar que o impacto nas realizações de transplantes decorre justamente da abordagem e assistência por parte da equipe de enfermagem, tanto no cuidado com o paciente, desde a suspeita de morte encefálica, quanto no suporte prestado aos familiares, propiciando um elo de confiança a fim de auxiliar na tomada de decisões.
Assim, o presente estudo trouxe como resultado o protocolo clínico baseado nas alterações fisiológicas do organismo e no plano de cuidados que o enfermeiro, junto com a equipe, deve implementar para que a vitalidade dos possíveis órgãos transplantados seja preservada. Além disso, demonstrou com concretude a necessidade de promover a educação continuada dos profissionais envolvidos, com vistas a padronizar os procedimentos adotados, através de um protocolo gerenciado, implementando estratégias que reduzam o percentual de erros, direcionando as ações dos profissionais de forma preventiva, otimizando, assim, o sucesso do processo de doação, bem como o oferecimento de suporte psicológico aos profissionais e familiares, com vistas a diminuir as tensões e proporcionar um ambiente adequado para o processo de doação.
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