Nursing evidence-based interprofissional practice guidelines for impaired verbal communication in ICU – systematic literature review
Prática interprofissional de enfermagem baseada em evidência sobre comunicação verbal prejudicada em UTI – revisão sistematizada de literatura
Nathalia Conceição Nunes Rodrigues da Silva1, Isabel Cristina Fonseca da Cruz1
1Universidade Federal Fluminense
ABSTRACT
The communication is essential in any relationship and should be efficient to make a humanistic nursing care and personalized according to the needs of the person assisted(12).However, there is the problem of the lack of information on the interprofessional practice based on scientific evidence and its guidelines for the diagnosis and nursing prescription for the patient of high complexity under intensive care. Therefore, the present study aims to review evidence-based interprofessional guidelines that will assist the intensive care nurse in the identification and treatment of nursing care related to the impaired verbal communication in the context of the interprofessional team. The method used in the research was of a descriptive nature, carried out through a systematized bibliographic review and based on secondary works, published in the period from 2011 to 2017. It was used the databases Pubmed, Cinahl, Bdenf and Lilacs, in Portuguese and English in nursing journals, with the PICO research strategy, were elected respectively (P) Critical Care AND Nursing AND (I) Acquired communication disorder OR communication barrier AND Nonverbal Communication AND (O) Communication. The results were selected 10 articles (from 31 recovered) that collaborated with the resolution of the research problem and classified according to their content and reliability. The conclusion of the study was professional nurses need to appropriate non-verbal methods for communicating with patients, including knowledge of Sign Language, universally used language as well as mastery of alternative communications such as pictures representing the major basic human needs and facial expressions with the intention of promoting care delivery with excellence.
Key-words: Non-Verbal Communication, Intensive Care, Multidisciplinary Communication, Comunication e Nurse-Patient Communication
RESUMO
A comunicação é essencial em qualquer relacionamento e deve ser eficiente para fazer um cuidado de enfermagem humanista e personalizado de acordo com necessidades da pessoa assistida(12). Entretanto encontra-se o problema da escassez de informação sobre a prática interprofissional com base em evidências científicas e suas diretrizes para o diagnóstico e prescrição de enfermagem para o (a) paciente de alta complexidade com comunicação verbal prejudicada sob cuidados intensivos. Logo, o presente estudo tem como objetivo revisar as diretrizes interprofissionais com base em evidência que ajudarão à (ao) enfermeira(o) intensivista na identificação e tratamento da conduta de cuidados de enfermagem relacionados à comunicação verbal prejudicada, no contexto da equipe interprofissional. O método utilizado na pesquisa foi de natureza descritiva realizada por meio de revisão bibliográfica sistematizada e baseada em obras secundárias, publicadas no período de 2011 a 2017. Utilizou-se como bases, Pubmed, Cinahl, Bdenf e Lilacs, nos idiomas português e inglês em periódicos de enfermagem, com a estratégia de pesquisa PICO, foram eleitos respectivamente (P) Critical Care AND Nursing AND (I) Acquired communication disorder OR communication barrier AND Nonverbal Communication AND (O) Communication. Como resultados foram selecionados 10 artigos (de 31 recuperados) que colaborassem com a resolução do problema de pesquisa e classificados segundo seu conteúdo e confiabilidade. A conclusão e recomendação do estudo foi que os profissionais enfermeiros precisam se apropriar dos métodos não-verbais para comunicação com os pacientes, incluindo conhecimento de Linguagem de Sinais, idioma universalmente utilizado bem como o domínio de comunicações alternativas como imagens representando as principais necessidades humanas básicas e expressões faciais com a intenção de promover uma prestação de cuidados com excelência.
Palavras-chave: Comunicação não Verbal, Cuidados Intensivos, Comunicação e Relações Enfermeiro-Paciente.
INTRODUÇÃO
O setor de terapia intensiva, é um ambiente complexo e por isso, propício para distúrbios de comunicação - informações incompletas, ocultadas, equivocadas - entre os membros da mesma profissão ou de áreas distintas que possuem ideias diferentes sobre prioridades para o cuidado(1,2).
Podemos conceituar a comunicação como a transmissão de informações entre pessoas, podendo ser escrita, verbal, não verbal ou eletrônica através de. Uma comunicação efetiva é oportuna, precisa, completa, livre de ambiguidade e deve ser compreendida pelo receptor, sendo um fator importante no levantamento do histórico e relato subjetivo do paciente . É importante que a equipe possua habilidade na comunicação, pois esse é um elemento fundamental para garantir a alta performance na assistência profissional além de ser essencial para a excelência nos cuidados intensivos, podendo esta ser ensinada e aprendida. As relações de cuidado firmadas entre o paciente e a(o) enfermeira(o) são a base da enfermagem visto que a comunicação é o meio de estabelecimento de relações de ajuda e cura. Portanto, todo comportamento comunica e toda comunicação influencia no comportamento. Diante a isso, a comunicação é essencial para que a relação enfermeira(o)-paciente, se estabeleça. O enfermeiro com poder de comunicação expressa cuidados tornando-se empático aos outros, promovendo e aceitando a expressão de sentimentos positivos e negativos, desenvolvendo ensinamento e aprendizado interpessoal, fornecendo ambiente de apoio, assistindo com gratificação as necessidades humanas e permitindo expressão espiritual(1,2).
A comunicação eficaz é um atributo essencial da pratica de enfermagem profissional e seu colapso, contribui para erros no local de trabalho como perdas de informações importantes sobre o enfermo2. Dito isto, corrobora-se que a comunicação clara e objetiva reduz conflitos. Porém, para que isso ocorra, a mensagem deve ser transmitida com linguagem acessível de ser compreendida, uma vez que somente com a transmissão eficaz da mensagem pelo emissor, ela é verdadeiramente captada e entendida pelo receptor paciente ou familiar1. Um estudo de Hemsley et al em 2001, sugere que muitas dificuldades na comunicação com os clientes com deterioração grave da comunicação provêm da ausência de um sistema de comunicação enfermeira-cliente compreensíve(l,2)
Considerando tais informações, observa-se a seguir a situação problema do estudo que é a escassez de informação sobre a prática interprofissional com base em evidências científicas e suas diretrizes para o diagnóstico e prescrição de enfermagem para o (a) paciente de alta complexidade sob cuidados intensivos.
Quadro 1. Estratégia PICO utilizada para a pesquisa em questão, Niterói, 2018(13-15).
OBJETIVO
Revisar as diretrizes interprofissionais com base em evidências que ajudarão à (ao) enfermeira (o) intensivista na identificação e tratamento da conduta de cuidados de enfermagem relacionados à comunicação verbal prejudicada, no contexto da equipe interprofissional.
QUESTÃO PRÁTICA
Como otimizar o cuidado interprofissional do paciente de alta complexidade com comunicação verbal prejudicada por meio da prática de enfermagem baseada em evidência?
METODOLOGIA
A pesquisa de natureza descritiva foi realizada por meio de revisão bibliográfica sistematizada publicada no período de 2011 a 2017 e baseada em obras secundárias, no intervalo dos meses de outubro e novembro de 2018. Os locais de busca foram as bases Pubmed, Cinahl, Bdenf e Lilacs, nos idiomas português e inglês em periódicos de enfermagem, utilizando-se os descritores segundo a estratégia PICO.
A estratégia propõe que a busca seja estruturada em componentes do acrônimo PICO, sendo estes: Paciente, Intervenção, Comparação e Resultado (Outcome). Os descritores foram verificados na listagem de Decs e Mesh e foram eleitos respectivamente (P) Critical Care AND Nursing AND Acquired communication disorder OR communication barrier AND (I) Nonverbal Communication AND (O) Communication.
Após levantamento de títulos obteve-se na Pubmed 26 artigos, Cinahl 5, Bdenf 0 e Lilacs 0. Foi realizada leitura interpretativa dos resumos, sendo excluídos revisões sistemáticas, opiniões de especialistas e aqueles que não preenchiam os critérios de inclusão - artigos com textos completos, paciente adulto/idoso, entre 2011 e 2017 e idioma português/inglês - sendo incluídos portanto, artigos originais que condiziam direta e/ou indiretamente ao tema abordado dentro dos critérios de busca e protocolo de pesquisa para realizar a discussão das terapêuticas segundo o grau de relevância dos estudos. Assim, dos 31 artigos recuperados, obteve-se um número de 10 artigos, os quais são a bibliografia potencial.
Somente com os artigos selecionados, entretanto, percebeu-se que não era possível manter um raciocínio conceitual sobre o assunto e por isso, foram utilizados livros e periódicos da área de saúde que enriqueceram o estudo com o embasamento necessário.
RESULTADOS
Tabela 1 - Publicações selecionadas para composição do estudo. (Nathalia,Niterói,2018)
DISCUSSÃO
O profissional enfermeiro é capacitado para atender em todas as esferas de cuidado, atendendo cada vez mais a população e desempenhando um papel cada vez mais significativo na qualidade da prestação de cuidados de saúde. Eles fornecem cuidados numa variedade de contextos, seja em ambientes ambulatoriais ou hospitalares, rurais ou urbanos.(3,4) Os cuidados de saúde são comunicados de forma mais eficaz na linguagem primária de uma pessoa. Porém, infelizmente, a comunicação em saúde de qualidade com pacientes impossibilitados de falar é raramente fornecida. Os métodos mais comuns que os profissionais de saúde usam para se comunicar com os usuários são leitura labial, escrita de fichas, intérpretes familiares e / ou gestos. Estes métodos muitas vezes levam a barreiras como cuidados de saúde precários ou, na melhor das hipóteses, comunicação ineficaz(17).
Profissionais de saúde assumem que a maioria dos pacientes conscientes ouvintes ou não, podem efetivamente ler os lábios. Entretanto, a leitura labial assim como o uso de familiares ou amigos como intérpretes para Linguagem de Sinais (LIBRAS), raramente é um modo efetivo de comunicação, pois estes podem conhecer um pouco de Linguagem de Sinais, mas podem não ser fluentes, por exemplo. Isso gera um risco de aumentarem as chances de interpretações errôneas(3). Os usuários surdos, por sua vez, são impedidos pela barreira linguística de se comunicar de forma eficaz, tendo seu direito de privacidade e sigilo cerceados pela presença de um interprete3. Nos EUA, a Lei dos Americanos Portadores de Deficiência (ADA), sancionada há vinte e cinco anos, estabelece que os prestadores de serviços de saúde garantam tratamento de saúde igual e comunicação eficaz para pessoas surdas, garantindo as mesmas condições de confidencialidade e autonomia que as previstas para outros pacientes. Entretanto, ainda hoje os usuários encontram dificuldades de comunicação significativas, causando diminuição da satisfação do paciente e consequentemente a evasão na procura por cuidados de saúde, mesmo os emergenciais(3).
Neste contexto, as percepções dos profissionais sobre as barreiras na prestação de cuidados de saúde para os usuários, concentraram-se nas barreiras linguísticas. A primeira estratégia de comunicação, a Linguagem de Sinais (no Brasil, LIBRAS), é desconhecida por muitos profissionais de saúde, embora todos os profissionais indiquem que seu objetivo é fornecer o cuidado ideal e individualizado para o usuário(3). Esse desconhecimento da Linguagem de Sinais impede uma comunicação efetiva até mesmo com pacientes ouvintes, uma vez que o enfermeiro que tenha domínio dessa estratégia, pode ensinar sinais básicos ao paciente ouvinte, para que ambos estabeleçam uma comunicação rápida e segura, principalmente na identificação de necessidades básicas como fome e sono além de auxiliar na identificação da dor, o quinto sinal vital(6).
A dor é definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada com dano tecidual real ou potencial. O IASP também enfatiza a necessidade de considerar a dor quando o paciente é incapaz de se comunicar(6,8). Muitos profissionais não se sentem seguros quanto à suas capacidades de avaliar a dor para pacientes incapacitados de verbalizar até porque não se utilizam rotineiramente de uma escala formal de avaliação de dor. Além disso, a prescrição analgésica baseada em escores de dor ocorreram com pouca frequência, já que a prescrição adequada de analgesia para alívio sintomático depende de avaliação sistemática e documentação regular da dor por enfermeiros6. Em um estudo original de validação, o Indicador Comportamental da Escala de Dor (ESCID) foi considerado uma ferramenta útil para medir a dor em pacientes criticamente doentes não comunicativos em ventilação mecânica5. Além deste, a escala de Avaliação da Dor em Demência Avançada (PAINAD) é recomendado para avaliar a dor em pacientes de cuidados intensivos, porque é mais confiável do que a Ferramenta de Observação da Dor no Cuidado Crítico (CPOT), em termos de consistência interna. Contudo, ambas as medidas também são boas opções para avaliação(7,8).
Enfermeiros e demais profissionais de saúde que cuidam de pacientes graves, portanto, são a chave para o acesso dos pacientes à comunicação, mas podem, ao mesmo tempo, ser um obstáculo à capacidade do paciente para se comunicar e interagir com o ambiente, visto que os pacientes criticamente doentes que não são capazes de falar, muitas vezes sofrem de ansiedade, estresse, delírio, confusão e sintomas relacionados à síndrome de estresse pós-traumático)(3,4,5). A disfunção da fala em pacientes conscientes, ouvintes ou não, pode levar à raiva, ansiedade com impactos fisiológicos e frustração entre outros sentimentos, porque muitos pacientes na UTI não tem conhecimento do que aconteceu antes da admissão e terão muitas perguntas e um desejo convincente de se comunicar e a falta de habilidade dos pacientes para falar adequadamente pode facilmente levar à diminuição da participação em seu próprio tratamento e reabilitação(4).
A comunicação portanto, é mais do que apenas ser capaz de expressar um sim ou um não, ou um aceno ou um piscar de olhos; também é uma maneira de mostrar a personalidade, expressar medo e preocupações visto que, um paciente que consegue se comunicar com a equipe de alguma forma, consegue participar das decisões de seu tratamento e reabilitação. Diante disto, a comunicação aumentativa e alternativa (AAC) é uma outra estratégia de comunicação que compreende diferentes formas de recursos, tais como sistemas sem tecnologia (acenos de cabeça, vocalizações e expressões faciais), sistemas de baixa tecnologia (comunicação de imagens ou placas de olhos) bem como sistemas de alta tecnologia que oferecem voz armazenada, armazenamento e recuperação de mensagem, vocabulário complexo e previsão de frase que são capazes de ajudar as pessoas a se expressarem. Embora essa estratégia esteja disponível, ela não é efetivamente utilizada no cuidado aos pacientes mesmo que seus benefícios sejam conhecidos, como auxiliar na expressão de necessidades, pensamentos e sentimentos, otimizando a qualidade da assistência e o tempo que a equipe dispensa à beira leito. Portanto, existe uma necessidade urgente de fornecer informações aos profissionais sobre as estratégias da AAC e como usá-las para garantir uma melhor comunicação, cuidado e diminuição dos mal-entendidos uma vez que quando implementada corretamente e sob medida para o usuário individual, todos os sistemas AAC, seja de alta ou de baixa tecnologia, podem ser eficazes(4,10).
Na formação de profissionais técnicos e enfermeiros, nota-se que existem lacunas em seus treinamentos, já que não conhecem ou estudam aprofundar as bases teóricas de comunicação para adquirir habilidades de relacionamento interpessoal. Isso denota a necessidade de disciplinas dedicadas à teoria e ao conhecimento prático da comunicação não-verbal, principalmente a Linguagem Brasileira Sinais(LIBRAS). Isso sugere a necessidade de enfermeiros tornarem-se mais conscientes de seus gestos e posição do corpo, suas expressões faciais e seu tom, uma vez que todos os gestos feitos por um enfermeiro para transmitir mensagens, podem constituir uma barreira à comunicação(12). As literaturas de educação em enfermagem sugerem que os acadêmicos de enfermagem estão em uma posição ideal para criar mudanças nas configurações clínicas, pois conseguem alinhar a teoria aprendida em sala de aula, com a pratica vivenciada nos hospitais. Corroborado à isso, através de um estudo recente de Kelly et al e Slaughter et al, em 2012, doze enfermeiros de uma equipe hospitalar descreveram os benefícios das parcerias com os alunos permitindo a aprendizagem recíproca, sendo intelectualmente estimulados e expondo à equipe a diferentes perspectivas(10).
A diferença de idiomas entre o profissional enfermeiro e o paciente, também é um problema de comunicação no ambiente de terapia intensiva. A equipe de enfermagem experimentou que as consequências de não se entenderem a partir de uma linguagem comum era que as necessidades dos pacientes não podiam ser atendidas. Com isso, os profissionais percebem que há uma certa agressividade por parte dos pacientes por estes não serem compreendidos. O enfermeiro bem como toda a equipe multiprofissional deveria também ter conhecimentos de um outro idioma para diminuir a distância verbal com os pacientes(11).
CONCLUSÃO
A estratégia PICO auxilia orientando a construção da pergunta de pesquisa e da busca bibliográfica e permite que o profissional, da área clínica e de pesquisa, ao ter uma dúvida ou questionamento, localize de modo acurado e rápido, a melhor informação científica disponível. A estratégia pode ser utilizada para construir questões de pesquisa de naturezas diversas, oriundas da clínica, do gerenciamento de recursos humanos e materiais, da busca de instrumentos para avaliação de sintomas entre outras16. Através dessa estratégia, observou-se que a comunicação com pacientes é crucial. A melhora na comunicação pode acarretar resultados importantes entre a enfermeira e o paciente bem como garantir a satisfação familiar. Para tanto, a inclusão do ensino de idiomas secundários incluindo a Linguagem de Sinais e o inglês bem como a comunicação suplementar e alternativa (AAC) nos currículos de enfermagem poderiam ser um passo importante na redução da má-comunicação com pacientes portadores de distúrbios de comunicação graves.
A busca profissional por métodos alternativos de comunicação não-verbal, se faz relevante no cuidado ao paciente grave ouvinte ou não para implementar um diálogo eficaz e rápido.
O uso de comunicação alternativa através de implementação de escalas alternativas para avaliação de dor nos pacientes críticos é um importante fator para promover efetividade da comunicação.
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