Nursing evidence – based inteprofissional practice guidelines for care in post-bariatric surgery – ICU - systematic literature review
A enfermagem no atendimento pós-cirurgia bariátrica – revisão sistemática da literatura
Leonor Cipitelli1, Isabel Cristina Fonseca da Cruz1
1Universidade Federal Fluminense
ABSTRACT
Obesity is the most prevalent chronic disease in the world, and bariatric surgery has been a consistent feature to reverse overweight. In this context, the nursing practice has a fundamental role from the preparation of the patient for the surgery until the hospital discharge. Objective: Through literature research, to select and analyze scientific articles that allow answering the practical question, identifying strategies of clinical practice of nursing assistance to patients submitted to bariatric surgery. Methods: This is a descriptive and qualitative research from bibliographic material available in the virtual databases: Scientific Eletronic Library Online (SCIELO); National Library of Medicine National Institutes of Health (PUBMED) and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS). Results: The results reveal 10 publications identified and analyzed by the thematic analysis technique, in which the following categories of analysis emerged: Nursing diagnosis in the preparation of the patient for bariatric surgery; nursing care in the postoperative period, involving parameters such as vital signs investigation, diet, physical activity, sleep quality and socialization. Conclusion: This review highlights the importance of effective participation of nursing in the diagnosis, care and orientation of patients undergoing bariatric surgery and, especially, in intensive care during late recovery.
Keywords: obesity, bariatric surgery, nursing care, critical care.
RESUMO
Aobesidade éadoençacrônicaquemaisaumentaemprevalêncianomundo e, a cirurgia bariátrica tem sido um recurso consistente para reverter o sobrepeso. Neste contexto, a prática da enfermagem tem papel fundamental desde o preparo do paciente para a cirurgia até a alta hospitalar. Objetivo: Por meio de pesquisa da literatura, selecionar e analisar artigos científicos que permitam responder a questão prática, identificando estratégias de prática clínica daenfermagem a pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. Métodos: Trata-se de uma pesquisa descritiva e qualitativa a partir de material bibliográfico disponível nos bancos de dados virtuais:Scientific Eletronic Library Online (SCIELO); National Library of Medicine NationalInstitutesof Health (PUBMED) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Resultados: Os resultados revelam 10 publicações identificadas e analisadas pela técnica da análise temática, abrangendo as seguintes categorias de análise: Diagnóstico da enfermagem no preparo do paciente para a cirurgia bariátrica; assistência da enfermagemno pós-operatório, envolvendo parâmetros como: investigação dos sinais vitais, dieta, atividade física, qualidade do sono e socialização. Conclusão: Esta revisão ressalta a importância da participação efetiva da enfermagem no diagnóstico, no cuidado e na orientação do paciente submetido à cirurgia bariátrica e, principalmente, nos cuidados intensivos durante a recuperação tardia.
Palavras-Chave: obesidade, cirurgia bariátrica, cuidados de enfermagem, cuidados intensivos.
INTRODUÇÃO
A obesidade é definida como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal que pode ser prejudicial à saúde.Sua etiologia é desconhecida, sendo considerada uma doença multifatorial, quando fatores genéticos, ambiental e social podem estar envolvidos com o seu desenvolvimento(1,2). AOMS(2016 )aponta a obesidade como a doença crônica que mais aumenta em prevalência no mundo, estimando-se que em 2025, o número de adultos com sobrepeso chegará a 2,3bilhões, e de obesosa 700milhões(3,4,5).
Alguns estudos vêm demonstrando que a obesidade provoca uma inflamação crônica debaixo grau e isto contribui para uma disfunção metabólica sistêmica, favorecendo o desenvolvimento de diversas com orbidades como diabetes, hipertensão, doença cardíaca, acidente vascular encefálico, apneia do sono, infertilidade e câncer(6,7,8).
De acordo com as Diretrizes Brasileiras de Obesidade da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica(ABESO),a classificação mais usual para a obesidade é o Índice de Massa Corpórea(IMC, pesocorporal(kg)/altura²) que se subdivide-se categorias: baixopeso (<18,5),pesonormal (18,5-24,9),sobrepeso (25,0-29,9),obesoI (30,0-34,9),obesoII (35,0-39,9)eobesoIII (≥ 40.0)(9,10).
O tratamento da obesidade é considerado multidisciplinar, combinando muitas vezes a terapia medicamentosa com mudanças no hábito alimentar e atividade física. E, a cirurgia bariátrica também tem sido um recurso consistente para reverter o sobrepeso (8,9). As indicações formais para a cirurgia bariátrica estão reunidas no quadro abaixo (QUADRO 1).
Quadro 1. Indicações clínicas para a condução da cirurgia bariátrica.
Para o paciente obeso, a cirurgia bariátrica pode ser um meio efetivo para a redução de peso, controlando e, algumas vezes, revertendo comorbidades associadas ao sobrepeso (2). É importante salientar que toda técnica de cirurgia bariátrica pode apresentar riscos, inclusive de morte. No entanto, esse risco varia entre 0,2 a 0,4%(2).
Vale lembrar que uma equipe interdisciplinar deve acompanhar todas as etapas de atendimento do paciente indicado ao tratamento cirúrgico. Dentre esses profissionais, destacam médicos especialistas (endocrinologista e cirurgião bariátrico), nutricionista, psicólogo ou psiquiatra, anestesista, assistente social, cardiologista e, sem dúvida, o enfermeiro que deverá participar desde a fase pré-operatória até a alta hospitalar.Este estudo de revisão da literatura permitiu analisar os avanços da prática clínica do enfermeiro acerca da segurança do paciente e do autocuidado, principalmente no período pós-cirúrgico tardio ou retardado. A recuperação cirúrgica retardada é complexa e dinâmina e, está inserida nos parâmetros de avaliação do NANDA, InternationalNursing Diagnoses(11,12).O processo de recuperação tardia está relacionado com as possíveis complicações desde o término da anestesia e continua por período variável. Essas complicações podem envolver funções fisiológicas, psicológicas, reestabelecimento das atividades habituais e dieta.(13).
Desta forma, este estudo teve como objetivo revisar os parâmetros atribuídos aos cuidados do paciente pós-cirurgia bariátrica na competência do enfermeiro, principalmente no período pós-cirúrgico tardio e cuidados intensivos.
QUESTÃO PRÁTICA
Como otimizar o cuidado interdisciplinardo paciente obeso de alta complexidade submetido à cirurgia bariátrica por meio da prática de enfermagem baseada em evidência?
Quadro 2. Descrição de componente de estratégia PICO:
METODOLOGIA
Este estudo, de natureza descritiva, foi realizado a partir de uma revisão sistematizada da literatura com base em artigos científicos que abordam o tema em questão, publicados no período de 2011 a 2017.
Para o levantamento bibliográfico foram utilizados os seguintes ambientes virtuais: Scientific Eletronic Library Online (SCIELO); National Library of Medicine NationalInstitutesof Health (PUBMED) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).Como critérios de inclusão foram utilizados descritores, como: obesidade, cirurgia bariátrica,prática clínica da enfermageme recuperação cirúrgica retardada, abrangendo artigos originais, revisões, estudo transversal e estudos randomizados.
RESULTADOS
Conforme mostra o fluxograma abaixo, foram selecionados 10 artigos científicos no contexto do atendimento da enfermagem ao paciente pós-cirurgia bariátrica, com enfoque no período tardio (FIGURA 1).
Figura 1. Fluxograma de seleção de artigos.
Após leitura crítica dos artigos selecionados, foi realizada a síntese de evidências científicas em ordem cronológica, conforme quadro abaixo:
Quadro 3: Análise de evidências científicas.
Nesse aspecto, este estudo vem ressaltar a importância da educação continuada sobre os cuidados da enfermagem ao paciente, visto os benefícios da cirurgia bariátrica, não apenas na perda de peso, mas na melhora dos parâmetros metabólicos e também psicológicos.
Estudos transversais e descritivos envolvendo pacientes em período pós-operatório têm permitido aprimorar os protocolos de atendimento da enfermagem, abordando o perfil clínico e diagnóstico (8,14-15,22).
Os cuidados da enfermagem já se iniciam na fase pré-operatória, quando o preparo adequado do paciente é fundamental para o sucesso da cirurgia. Esses parâmetros de assistência da enfermagem, desde a fase pré-operatória até a fase pós-operatória estão descritos abaixo (TABELA 3).
Tabela 3. Relação de cuidados da enfermagem ao paciente candidato à cirurgia bariátrica.
É importante que o protocolo de assistência da enfermagem ao paciente em fases pré-operatória e pós-operatória seja, previamente, elaborado e estudado pela equipe de profissionais da saúde envolvida na evolução técnica do procedimento cirúrgico. Alguns autores postulam que a Teoria de Autocuidado de Oremapresentada por Dorothéa Orem em 1991 vem transformando de forma positiva a atuação do enfermeiro como instrumento humano na promoção da saúde. A proposta de Orem é permitir a identificação dos déficits de autocuidado da enfermagem para, desta forma, traçar diretrizes de assistência e diagnóstico da enfermagem (13,24,25).
O paciente no pós-operatório deve ser regularmente acompanhado através da consulta ambulatorial com o seu médico, assim como, manter o acompanhamento nutricional e psicológico. A perda de peso pode ser estabilizada em média 18 meses após a cirurgia, quando normalmente ocorre a perda máxima de peso. No entanto, o tratamento cirúrgico é considerado bem sucedido quando a perda atinge no mínimo 50% do excesso de peso. Desta forma, é de fundamental importância o acompanhamento multiprofissional do paciente para que ele consiga uma manutenção no peso corporal num período de cinco anos (9). Muitos pacientes planejam uma cirurgia plástica antes mesmo de agendar a cirurgia bariátrica, neste contexto, a equipe de saúde deve advertir que esperem de 18 a 24 meses para uma consulta inicial com o cirurgião plástico(2).
DISCUSSÃO
A cirurgia bariátrica é considerada quando outras intervenções não alcançam a perda de peso adequada, comomudanças nos hábitos alimentares, atividade física e tratamento medicamentoso. No entanto, é dever que o paciente seja previamente acompanhado de forma a adequar sua classificação em obesidade, a presença de outras comorbidades associadas e, também sua história de vida. E, a enfermagem tem um papel crucial durante o processo de preparação do paciente para o procedimento cirúrgico, no diagnóstico, na orientação e no atendimento.
As diretrizes de atendimento da enfermagem devem somar para um atendimento de excelência por uma equipe multidisciplinar, inserindo no protocolo de atendimento outros parâmetros importantes para a recuperação do paciente, como atividade física, hábito alimentar, qualidade do sono e interação social. As complicações e riscos do tratamento cirúrgico para perda de peso já foram comprovadas e, a despeito, um estudo mostrou que as manifestações clínicas no pós-operatório são mais frequentes em mulheres(1,2). Em contrapartida, outros estudos baseados em evidências clínicas também já mostraram que a cirurgia bariátrica pode ser segura, inclusive em pacientes idosos (15). Um estudo realizado com 134 pacientes (91,8% do sexo feminino) do Instituto de Cirurgia Bariátrica de Maringá/PR mostrou que as comorbidades associadas à obesidade desses pacientes reduziram significativamente, como níveis de LDL e glicemia em jejum (8). Vale lembrar que o perfil clínico apresentado pelo paciente no pós-operatório também pode estar associado ao tipo de cirurgia realizada (15).
A cirurgia bariátrica também vem mostrando complicações potencialmente graves, incluindo deficiências de micro e macronutrientes, estenose, ulceração, esofagite, colelitíase, esteato-hepatite e farmacocinética e dinâmica alteradas. Um estudo mostrou que a cirurgia bariátrica pode promover uma diminuição nos níveis de hormônio estimulante da tireóide (TSH), independente da perda de peso pós-operatória (26). Embora esta discussão ainda precise ser mais esclarecida, o possível efeito negativo da cirurgia bariátrica sobre a produção do TSH desperta preocupação.
Dentro desse contexto, a enfermagem vem cada vez mais se aprimorando aos cuidados intensivos durante o processo de recuperação cirúrgica retardada, quando diversas complicações podem ser diagnosticadas, dificultando a alta hospitalar(13). No pós-operatório da cirurgia bariátrica não é diferente, logo, a recuperação tardia também é considerada multidimensional e as intervenções da enfermagem devem estar individualmente comprometidas com a estabilidade clínica do paciente, tempo de recuperação e retomada de suas atividades habituais. Com uma competente avaliação diagnóstica e autocuidado, a enfermagem pode contribuir, de fato, para uma melhor qualidade de vida do paciente.
CONCLUSÃO
Apesar das inúmeras investigações e estudos já realizados sobre a conduta durante a escolha e procedência da cirurgia bariátrica para o tratamento da obesidade, ainda há muito que discutir sobre as necessidades individuais de cada paciente. Muitas dúvidas são apresentadas pelos pacientes e familiares quanto ao acompanhamento clínico, psicológico e dietético no período pós-cirúrgico, quando o paciente pode apresentar de forma particular manifestações clínicas e psicológicas (22).
O plano terapêutico para a obesidade almeja não só controlar o excesso de peso, mas também e, principalmente, as doenças associadas ao sobrepeso. Logo, a equipe multiprofissional deve fornecer ao paciente um protocolo de autocuidados que atenda de fato a sua recuperação e qualidade de vida. E, esta revisão ressalta a importância da participação efetiva da enfermagem no diagnóstico, no cuidado e na orientação do paciente submetido à cirurgia bariátrica e, principalmente, nos cuidados intensivos durante a recuperação tardia.
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