Prontuário
Eletrônico da Pessoa (PEP) – breve estado da arte sobre estratégias de
capacitação
Isabel
Cruz
Resumo:
Treinamento e suporte educacional precários ou
insuficientes ou mesmo inexistentes para os(as) usuários do pPEP são barreiras
à usabilidade. Por meio da revisão
de literatura, concluiu-se que uma plataforma de PEP Simulado (PEPSim),
utilizando um software open access, além de um bom custo-benefício, pode
oferecer um ambiente de prática simulada para as experiências de
ensino-aprendizagem-avaliação que desenvolvam competências, tanto clínicas
quanto de informática em saúde, sobre o registro clínico interprofissional no
PEP, de forma ética e segura, com foco na pessoa e com base em evidência.
Palavras chave “prontuário eletrônico do paciente”, “ensino”, informática em saúde
Abstract:
Poor or insufficient or even non-existent training and educational support for
EMR users are barriers to its usability. A systematic literature review was
conducted and it leads to concluded that a EMR Simulated platform, with an open
access software, in addition to being cost-effective, can offer a simulated
practice environment for educational experiences to develop clinical as well
health informatics competences related to documentation in EMR, in an ethical
and safe way, with a person and evidence centred foci..
Keywords
“electronic
medical record”, “teaching”, health informatics
Breve
descrição do contexto:
Dentre
as tecnologias digitais na saúde, o prontuário eletrônico da pessoa (PEP) é,
sem sombra de dúvida, aquela que todos(as) os(as) trabalhadores(as) do Sistema
Único de Saúde (SUS) terão que lidar no cotidiano da Rede de Atenção à Saúde
(RAS).
Embora
não seja uma tecnologia nova, e a despeito dos avanços em seu desenvolvimento,
o PEP ainda não é, em 2021, um recurso presente em todo e qualquer encontro clínico
entre paciente e profissional de saúde. A adoção e implementação do PEP
continuam apresentando desafios que se não forem enfrentados podem comprometer
os benefícios com seu uso[1]
Descrição
do problema:
Ainda
que no Brasil, o prontuário eletrônico digital esteja regulamentado desde 2002
e dados do Comitê Geral da Internet
(CGI) revelem que 74% das instituições de saúde no país já adotam algum
tipo de registro eletrônico para seus pacientes[2].
Igualmente, há um investimento recente para sua adoção na Atenção Primária
e nos Hospitais Universitários[3].
Uma enquete recente no curso de especialização coordenado por mim mostrou que
68% dos(as) pós-graduandos(as) não tinham conhecimento prévio sobre PEP.
Neste
sentido, os estudos de Tsai et al
e
Niazkhani et al[4]
apontam que há barreiras a serem superadas em razão de treinamento e suporte
educacional precários ou insuficientes ou mesmo inexistentes para os(as) usuários
do PEP. A persistência destes problemas pode comprometer sua adoção e uso
adequado.
Processo
de obter dados:
Foi
realizada uma revisão da literatura, visando delinear o estado da arte sobre o
processo ensino-aprendizagem-avaliação para o desenvolvimento de competências
sobre o registro clínico no PEP, identificando também a melhor estratégia didática.
A
busca dos artigos foi realizada em abril de 2021, com base na seguinte pergunta
orientadora:- Qual a melhor estratégia para o ensino sobre o registro clínico
no PEP? A busca foi implementada no MEDLINE, SciELO e Google Acadêmico,
compreendendo o período 2020-2021, utilizando os seguintes termos:
“electronic medical record/prontuário eletrônico do paciente” combinado
como “teaching/ensino”. Neste estudo, interessava-me apenas os
artigos referentes à revisão de literatura e metanálise com acesso livre e
completo.
Resultado,
análise e interpretação:
Com
a combinação de keywords e dos filtros, nenhum artigo foi encontrado no
MEDLINE (mesmo ampliando os períodos de busca para 5 e 10 anos), tampouco foram
encontrados artigos na plataforma SciELO.
No
Google Acadêmico, com a combinação dos descritores e dos filtros, foram
identificados 49 textos. Com a leitura do título, foram selecionados 12.
Destes, 3 (três) são revisão da literatura. Contudo nenhum dos 3 fornecem
informações que possibilitem responder à pergunta deste estudo.
Isto
não significa que não exista produção científica sobre o ensino de registro
clínico no PEP. No meu entender, a polissemia dos termos em tecnologias
digitais sobre registro e prontuário pode dificultar ou tornar mais prolongado
o processo de mineração dos dados. Igualmente, pode sugerir que o ensino sobre
PEP ainda não é uma demanda para a maioria dos(as) docentes.
Alguns
achados chave sobre estratégias para o ensino do PEP
Com
o uso combinado das keywords “simulation” e “undergraduate” associadas a
“electronic medical record”, encontrei a revisão sistemática da literatura
feita por Rajaram et al[5]
sobre o treinamento de estudantes no uso do prontuário eletrônico. Da leitura
crítica do texto, extraio estes achados:
-
· Todas as intervenções didáticas usaram um componente prático envolvendo inserir informações em um PEP simulado ou prototípico
-
· O conteúdo sobre o PEP geralmente focado no registro para informações específicas (por exemplo, resultados de laboratório, medicamentos), codificação (CID, CIAP2, CIPE®, etc), adição de novos problemas ou medicamentos, aplicação de diretrizes preventivas e pedidos exames ou medicamentos.
-
· A maioria dos estudos relatou um planejamento de ensino-aprendizagem-avaliação baseado em pré e pós-teste.
-
· Há lacunas entre as competências estabelecidas nos currículos para o PEP e as atividades educacionais desenvolvidas sobre o registro clínico no PEP.
Estas
informações são de muita utilidade para o planejamento de currículos e de
ensino teórico-prático ou simulado sobre o PEP.
Medidas
chaves para a mudança (ou melhoria):
As
inovações que acompanham a adesão ao PEP reforçam em mim a ideia de que é
preciso ampliar a competência sobre documentação clínica para incluir nela o
registro eletrônico. Isto porque o processo ensino-aprendizagem-avaliação
baseado em competência visa, sobretudo, o desenvolvimento de uma
perspectiva crítica sobre a experiência e seus resultados, os quais, por sua
vez, devem ser socialmente aceitáveis, tal como o PEP, por exemplo.
Assim
sendo, o desenvolvimento de competências clínicas relacionadas ao encontro clínico
mediado pelo PEP é, no meu julgamento, uma medida chave para o enfrentamento de
barreiras na adoção e uso do PEP. Neste sentido, destaco a contribuição do
artigo de Pontefract et al[6]
no qual os autores, utilizando a metodologia Delphi, estabeleceram competências
clínicas interprofissionais para o PEP em 6 áreas de domínio:
1)
Saúde Digital: atuar como profissional no ambiente digital de saúde;
2)
Acesso aos dados: acessar e interpretar os dados do(a) paciente para a tomada de
decisão clínica informada;
3)
Comunicação: comunicar-se de forma eficaz com profissionais de saúde e
pacientes no ambiente digital;
4)
Geração de dados: gerar dados para e sobre os pacientes dentro do PEP;
5)
Trabalho interprofissional: trabalhar com profissionais de saúde com e por meio
do PEP; e
6)
Monitoramento e auditoria: monitorar e melhorar a qualidade e segurança dos
cuidados de saúde.
A
definição de competências clínicas, interprofissionais, sobre o PEP trazem
mais uma inovação ao planejamento educacional e, em especial, ao processo de
avaliação teórico-prática ou simulada em saúde.
Estratégias
para mudanças:
Dentre
as estratégias didáticas, o estudo de Rajaram et al descreve um processo de
ensino sobre o registro clínico digital que utiliza a técnica de “mão na
massa” por meio de um PEP simulado
ou prototípico. Neste sentido, Melo Neto[7]
propõe um aplicativo protótipo para o treinamento sobre o PEP. Contudo, o
estudo de Milano et al[8]
me faz considerar que uma plataforma de um prontuário eletrônico “open
access” tem um melhor custo benefício para o ensino simulado sobre o PEP.
Próximos
passos:
Com
base na literatura estudada, encontro a fundamentação teórica necessária
para o desenvolvimento de uma plataforma de PEP Simulado (PEPSim). Com este
recurso, estudantes, docentes e profissionais da área da saúde, bem como das
diversas áreas que lidam com o(a) paciente, poderão vivenciar experiências de
ensino-aprendizagem-avaliação em um ambiente de prática, ético e seguro, no
qual possam ser desenvolvidas tanto as competências clínicas quanto as de
informática em saúde, com foco na pessoa e com base em evidência.
Referências:
[1] TSAI, C. H. et al. Effects of Electronic Health Record Implementation and Barriers to Adoption and Use: A Scoping Review and Qualitative Analysis of the Content. Life, v. 10, n. 12, p. 327, 4 dez. 2020. Disponível em: <https://www.mdpi.com/2075-1729/10/12/327>. Acesso em: 25 abr. 2021.
[2] Summit Saúde 21. Prontuário eletrônico: como a tecnologia agrega na medicina? Disponível em: <https://summitsaude.estadao.com.br/tecnologia/prontuario-eletronico-como-a-tecnologia-agrega-na-medicina/>. Acesso em: 26 abr. 2021. , 29 ago. 2020
[3] EBSERH - Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários – AGHUX. 2009. Disponível em https://www.gov.br/ebserh/pt-br/governanca/plataformas-e-tecnologias/aghu
[4] Niazkhani Z, Toni E, Cheshmekaboodi M, Georgiou A, Pirnejad H. Barriers to patient, provider, and caregiver adoption and use of electronic personal health records in chronic care: a systematic review. BMC Med Inform Decis Mak. 2020 Jul 8;20(1):153. doi: 10.1186/s12911-020-01159-1. PMID: 32641128; PMCID: PMC7341472.
[5] RAJARAM, A. et al. Training Medical Students and Residents in the Use of Electronic Health Records: A Systematic Review of the Literature. Journal of the American Medical Informatics Association: JAMIA, v. 27, n. 1, p. 175–180, 1 jan. 2020. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31592531/
[6] PONTEFRACT, S. K.; WILSON, K. Using electronic patient records: defining learning outcomes for undergraduate education. BMC Medical Education, v. 19, n. 1, p. 30, 22 jan. 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1186/s12909-019-1466-5>. Acesso em: 27 abr. 2021.
[7] MELO NETO, Newton de Barros. Prontuário eletrônico como recurso pedagógico para os cursos de saúde. 2020. 77 f. Dissertação (Mestrado em Ensino na Saúde) – Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Mestrado Profissional em Ensino na Saúde, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2020. Disponível em http://www.repositorio.ufal.br/handle/riufal/7335
[8] MILANO, C. E. et al. Simulated Electronic Health Record (Sim-EHR) Curriculum: Teaching EHR Skills and Use of the EHR for Disease Management and Prevention. Academic Medicine, v. 89, n. 3, p. 399–403, mar. 2014. Disponível em: <https://journals.lww.com/academicmedicine/fulltext/2014/03000/simulated_electronic_health_record__sim_ehr_.14.aspx>. Acesso em: 27 abr. 2021.
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