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Vascular complication post percutaneous coronary intervention - Sistematic Literature Review

 

Complicações vasculares pós – intervenção coronariana percutânea - Revisão Sistematizada da Literatura

 

Alexsandro F. Gava. Enfermeiro. Aluno do Curso de Especialização em Enfermagem em CTI Cardiológico / Universidade Federal Fluminense (UFF). alexsandrogava@yahoo.com.br

 

Isabel Cruz. Doutora em Enfermagem. Titular da UFF. isabelcruz@uol.com.br

 

Abstract. Objective: review the scientific production from the vascular complications post percutaneous coronary intervention procedures in order to update technical scientific information that direct an evidence-based practice by professional nursing. Methodology: exploratory descriptive study based on librarian survey from national and international journals of nursing published in the period of 2003 to 2008. Results: There have been four national articles selected and  six international ones. After the evaluation of studies, the information was organized into themes according to the following considerations identified: vascular complications rate and severity, ratio of means of access and arterial complications, predictors factors, degree of dependency of patients undergone percutaneous coronary procedures and time to rest, form of hemostasis after removal of the arterial introducer and the complication rate of its removal by nurses. Conclusion: The study of the vascular complications post percutaneous coronary procedures emphasizes the presence and role of nurses in patient care to minimize complications. This requires further research on the technical-scientific knowledge to ensure quality of patient care and safety to the professionals.

Keyword: angioplasty balloon, nursing care, hemostatic techniques, device removal.

 

Resumo. Objetivo: Revisar a produção científica das complicações vasculares pós-procedimentos coronarianos intervencionistas percutâneos, a fim de atualizar informações técnica - cientificas que direcionem uma prática baseada em evidências por profissionais de enfermagem. Metodologia: Estudo exploratório descritivo, com base em um levantamento bibliográfico de periódicos nacionais e internacionais de enfermagem publicados no período de 2003 a 2008. Resultados: Foram selecionados 4 artigos nacionais e 6 internacionais. Após avaliação dos estudos, as informações foram organizadas em temas de acordo com as seguintes considerações identificadas: índices de complicações vasculares e gravidade, relação da via de acesso arterial e as complicações, fatores preditores, grau de dependência de pacientes submetidos a procedimentos coronarianos percutâneos e o tempo necessário de repouso, formas de hemostasia depois de retirada do introdutor arterial e o índice de complicações de sua retirado por enfermeiros. Conclusão: Estudar as complicações vasculares pós-procedimentos coronarianos percutâneos ressalta a presença e atuação do enfermeiro na assistência ao paciente para minimizar as complicações. Para tal, é necessário o aprofundamento nos conhecimentos técnico-científicos que garantam qualidade de assistência ao paciente e a segurança ao profissional.

Palavras-chave: angioplastia com balão, cuidados de enfermagem, técnicas hemostáticas, remoção de dispositivo. 

 

Introdução   

 

O enfermeiro torna-se um profissional indispensável em exames de grande complexidade. Isto porque é justamente quando o paciente necessita de intenso cuidado, a fim de que sejam evitadas conseqüências desagradáveis aos procedimentos hospitalares.

O profissional intensivista é importante em processos como o da remoção de introdutores arteriais em angioplastias coronarianas e no cuidado com o local da punção, já que o “cuidar” está na essência de sua formação. Quando esse profissional cuida do próximo como de si mesmo, levando humanidade ao ambiente hospitalar, os detalhes de cada procedimento são realizados com maior eficácia e menos erros.

A expansão de dispositivos em cardiologia intervencionista tem propiciado múltiplas opções de tratamento para pacientes portadores de doença arterial coronariana (DAC). Intervenções percutâneas têm aumentado devido à tecnologia avançada, invasão mínima, taxas de sucesso aumentadas e complicações diminuídas (1).

Mesmo com a menor incidência de agravos pós – procedimentos vasculares coronarianos, a retirada do introdutor arterial e os cuidados com o local de punção são relevantes para o gerenciamento do cuidado de enfermagem, pois estão relacionados às complicações hemorrágicas e vasculares, ocasionando aumento da morbidade, do tempo de hospitalização bem como dos custos hospitalares (2).

Com a utilização do corrente regime antiplaquetário de ácido acetilsalisílico associado à ticoplidina ou ao clopidogrel pós-implante de stent, podem ocorrer complicações hemorrágicas locais maiores em aproximadamente 2,5% dos pacientes. Foi estimado que as complicações maiores do acesso vascular arterial aumentam a duração da internação hospitalar por aproximadamente 2 dias, adicionando 2 mil dólares ao custo total do procedimento (3).

Para o seguro exercício profissional de enfermagem no cuidado e prevenção de complicações vasculares a pacientes submetidos a intervenções coronarianas transluminal percutânea é necessário um prática clínica baseada em evidências científicas.

A enfermagem baseada em evidências requer habilidades que não são tradicionais na prática clínica, pois exige identificar as questões essenciais nas tomadas de decisão, buscar informações científicas pertinentes à pergunta e avaliar a validade das informações (4).

As evidências devem ser buscadas para sustentar as decisões clínicas de diagnósticos, intervenções e resultados. O ato diagnóstico em enfermagem tem como foco as respostas humanas às enfermidades e seu tratamento e aos processos de vida. A validade das associações entre as manifestações apresentadas pelos doentes (dados objetivos e subjetivos) e o diagnóstico atribuído é ponto fundamental. A prática baseada em evidência contribui para a acurácia diagnóstica, pois prevê que se busquem resultados de pesquisas que indiquem essa validade.

 

Situação-problema

 

         Diante o exposto optou-se por abordar o estudo das complicações vasculares e hemorrágicas relacionadas ao pós-operatório de procedimentos intervencionistas coronários percutâneos, visto que uma intervenção precoce pelo enfermeiro diagnosticando e intervindo pode minimizar seus efeitos, reduzindo o desconforto do paciente, auxiliando na redução dos custos hospitalares, e contribuindo para uma assistência eficaz, consolidando a integralidade do cuidado.

 

Objetivo

 

O presente estudo tem por finalidade analisar e revisar a produção cientifica de profissionais de saúde quanto aos fatores relacionados às complicações vasculares no pós-operatório imediato de procedimentos coronarianos percutâneos, a fim de atualizar informações técnica - cientificas relevantes que possam direcionar uma prática baseada em evidências cientificas por profissionais de enfermagem no cuidado de pacientes coronariopatas submetidos a intervenções percutâneas por via transluminal.

 

Metodologia

 

Trata-se de um estudo exploratório descritivo, com base em levantamento bibliográfico, tendo como foco a avaliação das complicações vasculares decorrentes de procedimentos coronarianos percutâneos.

A busca dos estudos foi realizada online nos periódicos nacionais e internacionais de enfermagem, no período de julho a dezembro de 2008, decorrendo da combinação de descritores para avaliação das complicações vasculares relacionadas aos procedimentos de angioplastia transluminal percutânea.

Como critérios de inclusão foram selecionados os artigos em português ou inglês publicados entre janeiro de 2003 e dezembro de 2008, e devido às características do trabalho, revisões de literatura e estudos qualitativos não foram incluídos.

Os descritores utilizados para realização da pesquisa nas bibliotecas virtuais foram: angioplastia com balão, cuidados de enfermagem, técnicas hemostáticas, remoção de dispositivo.

Os periódicos nacionais consultados no estudo foram: Acta Paulista, Revista Latino-Americana de Enfermagem, Revista Enfermagem UERJ, Revista da Escola de Enfermagem da USP, Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Revista Brasileira de Enfermagem, Revista paulista de Enfermagem e Revista Mineira de Enfermagem.

A pesquisa de artigos internacionais ocorreu nos seguintes periódicos: American Journal of Critical Care, Critical Care Nurse, Dimensions of Critical Care Nursing, Intensive and Critical Care Nursing e Nursing in Critical Care.

A Biblioteca da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (BENF), parte integrante do Sistema de Bibliotecas e Arquivo da Universidade Federal Fluminense, foi também fonte de consulta de periódicos para a revisão de literatura prosposta.

 

Para a extração dos dados dos artigos incluídos foi elaborado um instrumento de coleta de dados, que contém os seguintes itens: a identificação do autor, data e pais; os objetivos da pesquisa; tamanho da amostra; o tipo de estudo; os principais achados dos autores e suas conclusões.

Após a análise criteriosa dos estudos foram destacados alguns temas, que foram organizados de acordo com as considerações identificadas pelos autores, permitindo uma síntese dos estudos que ocorrem em relação ao tema exposto.

Resultados

A busca dos estudos foi realizada online nos periódicos nacionais e internacionais de enfermagem decorrendo da combinação de descritores para avaliação das complicações vasculares relacionadas aos procedimentos de angioplastia transluminal percutânea.

A partir da busca bibliográfica realizada, foi selecionado um total de 10 trabalhos que abordavam em suas pesquisas aspectos das complicações vasculares. Os estudos selecionados foram publicados entre janeiro de 2003 e dezembro de 2008. Deste montante de artigos 4 foram nacionais e 6  internacionais. 

Foi observada grande carência de publicações nacionais de profissionais de enfermagem quanto ao tema proposto no trabalho em relação ao volume de publicações internações encontradas.

Em relação aos tipos de artigos incluídos na pesquisa houve predominância de estudos de coorte prospectivos, ao todo foram 7. O restante dos artigos selecionados foram estudo transversal, estudo randomizado controlado e estudo de caso controle.

 

Quanto aos temas avaliados pelos autores foram encontradas considerações quanto a: índices de complicações vasculares, gravidade das complicações vasculares, a relação da via de acesso arterial e as complicações vasculares, os fatores preditores de complicações vasculares, o grau de dependência de pacientes submetidos a procedimentos coronarianos percutâneos e o tempo necessário de repouso, formas de obtenção de hemostasia, depois de retirada do introdutor arterial e o índice de complicações de sua retirado por enfermeiros.

 

Os dados retirados dos artigos incluídos foram dispostos na tabela abaixo segundo os seguintes itens: identificação do autor, data e pais; objetivos da pesquisa; tamanho da amostra; tipo de estudos; principais achados dos autores e suas conclusões.

 

Tabela 1 – Publicações selecionadas, segundo o tema complicações vasculares pós intervenções coronarianas percutâneas. Niterói, 2008.

Autores, Dada e Pais

 

Objetivo da Pesquisa

Tamanho da Amostra

Tipo de Estudo

 

Principais Achados

Conclusões

 

Malaquias S, Meireles G, Abreu L, Forte A, Sumita M, Hayashi, et al. 2005.

Brasil. (5)

 

Avaliar a retirada do introdutor arterial pelo enfermeiro e suas complicações.

 

104 pacientes

 

Estudo de Coorte Prospectivo.

 

Ocorrem 5 hematomas (4,8%), sendo 4 pequenos e 1 grande. Os hematomas foram tratados de forma clínica.

 

A retirada do introdutor arterial pelo enfermeiro mostrou ser um procedimento seguro e sem maiores complicações.

 

Solano JDC, Meireles GCX, Abreu LM, Forte AAC, Sumita MK, Hayashi JH. 2006. Brasil. (6)

 

Comparar os resultados da retirada do introdutor arterial pelo enfermeiro especializado em Hemodinâmica e pelo médico residente em cardiologia intervencionista em pacientes submetidos a intervenções coronária percutâneas.

 

100 pacientes

 

Estudo de Coorte Prospectivo

 

Ocorrem 8 hematomas (16%) nos pacientes que tiveram o introdutor retirado pelo enfermeiro, e 9 hematomas (17%) nos introdutores retirados pelo médico residente. Os hematomas foram de leves a moderados, e sem maiores complicações foram tratados clinicamente.

 

A retirada do introdutor arterial demonstrou ser uma procedimento seguro sem aumento das complicações.

Para obtenção de bons resultados, é importante salientar o treinamento especializado para os profissionais de enfermagem.

 

Armendaris MK, Azzolin KO, Alves FJMS, Ritter SG, Moraes MAP.

2008. Brasil. (7)

 

 

Descrever as complicações vasculares por via radial e femural, em pacientes submetidos a angioplastia coronariana percutânea transluminal percutânea (ACTP).

 

199 pacientes

 

Estudo de Coorte Prospectivo

 

Presença de equimoses (18,29%) e hematomas (17,66%) na via radial foram maiores que os por via femural, 17,14% e 14,27%, respectivamente.

 

Foi encontrada maior incidência

de complicações vasculares relacionadas às punções radiais As complicações foram consideradas pequenas.

 

Hammermüller A, Rabelo ER, Goldmeier S, Azzolin KO. 2008. Brasil.(8)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Autores, Data e Pais.

 

 

Classificar pacientes em uma unidade de

hemodinâmica segundo o grau de dependência dos cuidados de enfermagem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Objetivo da Pesquisa

 

 

164 pacientes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tamanho da Amostra

 

Estudo

Transversal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tipo de Estudo

 

 

O grau de dependência foi maior para cuidado

corporal e locomoção por restrições no leito após os procedimentos cardiológicos. Pacientes submetidos à punção arterial ou venosa apresentaram grau de dependência maior do que os que

realizaram exames por outras vias.

 

 

 

 

Principais Resultados

 

 

O perfil de dependência dos pacientes

atendidos na

hemodinâmica foi de grau de

dependência intermediário, mas significantemente maior para aqueles sofreram punção arterial ou venosa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conclusões

 

 

Hamner JB , Dubois EJ, Rice TP.  2005. Estados Unidos da América. (9)

 

 

Identificar as variáveis preditoras das complicações associadas com o dispositivo de oclusão após procedimentos coronarianos percutâneos por via femoral.

 

 

141 pacientes

 

 

 

 

Estudo de Coorte Prospectivo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Dentre as variáveis preditoras avaliadas, as que diferiram de forma significante foram o baixo hematócrito, distúrbios de coagulação e uso prévio de dispositivos de oclusão, sendo associados a maior incidência de hematomas, sangramentos, pseudoaneurisma.

 

Os fatores preditores apontados podem em combinação, serem fortes indicativos para incidência complicações vasculares.

Justificando uma assistência de enfermagem mais atenta ao pós – procedimento de angioplastia.

 

Jones T, McCutcheon 2003. Estados Unidos da América. (10)

 

 

Comparar o uso da compressão manual com o uso de instrumento de compressão mecânica, para obtenção da hemostasia e diminuição complicações vasculares após a retirada do revestimento femoral em pacientes que sofreram angiografia.

 

100 pacientes

 

Estudo randomizado controlado

 

Houve formação de hematoma em ambas as técnicas utilizadas, mas a compressão manual apresentou incidência.

O tempo para ocorrer a hemostasia com compressão mecânica (29 minutos) foi superior a manual maior (15 minutos), assim como o tempo de mobilização por compressão mecânica (4 horas e 20 minutos) foi superior a manual (3 horas).

 

O estudo demonstrou que o dispositivo de compressão mecânica, mesmo apresentando tempo de hemostasia maior e necessidade de maior tempo de mobilização do paciente, apresenta seguros resultados para hemostasia pós procedimentos coronarianos percutâneos, em relação a técnica de compressão manual.

 

 

Dumont CJP, Keeling AW, Bourguignon C, Sarembock IJ, Turner M. (11)

 

 

 

Avaliar as complicações vasculares após intervenções coronarianas percutânea e a

significância dos preditores de risco para estas complicações.

 

 

 

11119 pacientes

 

 

Estudo de Coorte Prospectivo

 

 

Foram documentadas em 189 complicações. Hematoma (0,6%), fístula arteriovenosa (<0,1%), pseudoaneurisma (0,4%), sangramento no local do acesso (0,1%), dissecção da artéria femoral (<0,1%) e perda de pulso na extremidade distal (0,1%). Idade maior do que 70 anos, sexo feminino, hipertensão e falência renal foram significantes preditores para complicações.

 

 

 

A identificação dos fatores relacionados a maior incidência de complicações vasculares podem

contribuir para o desenvolvimento de protocolos de cuidados mais individualizados para os pacientes de alto risco. Justificando assim, maior tempo de compressão, maior tempo no leito e maior tempo de observação em unidades de recuperação.

 

 

Autores, Data e País

Objetivo da Pesquisa

Tamanho da amostra

Tipo de Estudo

Principais Resultados

Conclusões

 

 

Hoke L, Ratcliffe S, Kimmel S, Kolansky D, Hospital. 2007. Estados Unidos da América.(12)

Determinar qual método de remoção do introdutor arterial produz menos complicações e quais fatores estão associados com complicações no local do acesso.

 

 

413 pacientes

Estudo de Coorte Prospectivo

Dos 413 pacientes, 68 (16,5%) tiveram complicações. Hematoma (94%), sangramento (1,5%), pseudoaneurisma (7%) fístula arteriovenosa (1%) e trombose sem ocorrências. Não foram achadas diferenças significantes para complicações usando instrumentos para oclusão arterial em relação com a compressão manual ou mecânica. Pacientes com pressão sistólica alta, ou idade mais avançada foram mais susceptíveis a complicações.

As maiores complicações clinicamente significantes foram baixas. Instrumentos de oclusão arterial, mecânico e compressão manual provocaram baixo e comparável risco de complicação após remoção do revestimento. Pacientes idosos com elevada pressão arterial devem ter seu local de acesso monitorado e observadas as complicações vasculares com maior atenção.

 

Dumont CJP. 2007. Estados

Unidos da América. (13)

 

Determinar quais variáveis são preditoras individuais de complicações vasculares pós intervenção coronariana percutânea.

 

300 pacientes

 

Estudo de Caso Controle.

 

 

Pacientes com pressão arterial sistólica maior que 160 mmHg foram 8 vezes mais susceptíveis a ter complicações vasculares. Pacientes que receberam heparina versus bivalirudina foram 3 vezes mais susceptíveis. Hemostasia por dispositivos oclusivos e pacientes com história de HAS foram 77% e 61%,

respectivamente, menos susceptíveis a terem complicações.

 

Um perfil do paciente de alto risco para complicações vasculares após angioplastia está emergindo para incluir pacientes de 70 anos ou mais, pacientes tratados com heparina e aqueles cuja pressão arterial é maior ou igual a 160mmHg durante o procedimento.

 

Tagney J, Lackie D. 2007.

Inglaterra.(14)

 

Avaliar se a redução do tempo do paciente no leito de 6 para 3 horas, não aumenta a incidência de complicações vasculares pós – procedimentos coronarianos percutâneos.

 

 

Estudo de Coorte prospectivo

 

Nos dois grupos avaliados (3 e 6 horas) a formação de hematoma esteve presente sem diferenças significativas. Sangramentos tiveram uma incidência discretamente superior no grupo de 3 horas.

 

Redução do tempo de repouso no leito para 3 horas, não aumentou de forma significante a incidência de complicações vasculares.

                                           Fonte: UFF – Especialização Enfermagem em CTI Cardiológico 2008.

Discussão

O índice de complicações vasculares pós angioplastia coronariana transluminal percutânea, foi considerado de baixa incidência, conforme avaliado em dois estudos, ambos compostos por uma ampla amostragem, com resultados semelhantes, aponta a incidência de complicações próxima a 16% (11,12).

Há uma variedade de possíveis complicações vasculares que podem ocorrer num determinado paciente, mas em 6 artigos foi observado que a presença de hematomas, sangramentos no local da punção e pseudoaneurismas foram as complicações mais freqüentes (4, 5, 7, 9, 11,12).

Outras complicações vasculares, como formação de fistula arteriovenosa, dissecção de aorta e perda do pulso do membro puncionado foram relatados por alguns autores, mas estiveram presentes com baixos índices (11,12).

Dos estudos abordados, 4 avaliaram que as complicações vasculares quando presentes foram consideradas de pequena gravidade, e passíveis de serem tratadas clinicamente sem maiores prejuízos para os  pacientes(4 5, 7,12).

As vias de acesso mais utilizadas para realização de procedimentos coronarianos diagnósticos ou terapêuticos são por punção das artérias femorais, radiais e ulnares, esta de forma menos freqüente, e por dissecção da artéria braquial. Um estudo comparou a freqüência de complicações entre as vias radial e femoral, e apontou que há maior incidência de complicações nos procedimentos realizados pela via transradial. Equimoses e hematomas foram as ocorrências observadas (7).

Vários fatores preditores de complicações vasculares são apontados na prática clínica, como pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica, diabetes, doença renal crônica, e distúrbios de coagulação sanguínea, pacientes com idade avançada, sexo feminino ou com índice de massa corpórea elevado. Podemos destacar também os preditores associados ao procedimento, como anticoagulação, duração prolongada do procedimento, a via de aceso arterial, o calibre do introdutor utilizado, maior tempo decorrido para retirada do introdutor, duração do repouso do paciente no leito, utilização de dispositivos de oclusão arterial e realização de compressão manual ou mecânica após a retirada do introdutor.

Diante da variedade de fatores preditores encontrados na prática clínica, somente alguns foram apontados como sendo relevantes para a atenção dos enfermeiros. Em 3 estudos, a idade avançada e a presença de hipertensão arterial sistêmica foram avaliadas como fortes causas de possíveis complicações vasculares(11, 12, 13).

Em 2 artigos avaliados, os autores concordam que a presença da pressão arterial sistólica elevada é um importante fator gerador de agravos vasculares12, 13. Um dos autores apontou que a pressão arterial sistólica igual ou superior a 160mm Hg durante o procedimento torna o paciente 8 vezes mais susceptível a apresentar alguma complicação vascular(13).

De acordo com as considerações dos autores, podemos verificar que a monitorização da pressão arterial pelo enfermeiro, principalmente em pacientes idosos, pode ser considerada uma forma de prevenir possíveis complicações locais no ponto de punção arterial.

Somente um estudo indicou que falência renal e o sexo feminino como preditores significativos de complicações vasculares (11).

Apesar de vários estudos indicarem que o esquema de anticoagulação prévia ao procedimento ser um forte fator para aumento da incidência de complicações vasculares, dos artigos avaliados, somente um apontou a anticoagulação feita por heparina como responsável pelo aumento de complicações, tornando o paciente 3 vezes mais susceptível a tais intercorrências vasculares (13).

Dois fatores geralmente não avaliados na prática diária foram apontados num estudo como preditores de complicações locais no sitio de punção arterial, o baixo hematócrito e a presença de distúrbios de coagulação, sendo associados a maior incidência de hematomas, sangramentos e pseudoanerismas (9).

O enfermeiro do serviço de hemodinâmica deve de rotina avaliar os exames laboratoriais pré – procedimento com a finalidade de diagnosticar precocemente distúrbios que possam aumentar os riscos de complicações vasculares.

Um artigo avaliou o grau de dependência de pacientes submetidos a procedimentos hemodinâmicos como, cineangiocoronariografia e angioplastia coronariana, e concluiu que estes pacientes, por necessitarem ficar em repouso após o procedimento para prevenção de complicações, apresentaram grau intermediário de dependência, principalmente para o cuidado corporal e   locomoção (8). Este achado fornece bases para o planejamento da assistência e dimensionamento de recursos humanos para o cuidado de pacientes nos primeiros momentos após procedimentos que envolvam pulsões vasculares visando prevenção de complicações vasculares.

Devido ao grau de dependência apresentado pelo paciente após procedimentos coronarianos percutâneos, o enfermeiro deve realizar um maior dimensionamento de pessoal para auxiliar em suas necessidades imediatas, principalmente naquelas que envolvam cuidado corporal, afim de preservar o período de repouso do paciente e contribuir para diminuição da ocorrência de complicações vasculares.

Para obtenção de hemostasia após a retirada do introdutor arterial, são usados os seguintes métodos: dispositivos oclusivos e compressão mecânica ou manual. Foram encontrados 4 artigos que abordaram a incidência de complicações vasculares associadas à forma de hemostasia, e observamos que pelos estudos identificados não há um consenso quanto a qual forma é mais segura.

Para 2 autores o uso de dispositivos de oclusão arterial estão relacionados à maior incidência de sangramentos, hematomas e pseudoaneurimas (9, 13).

Um estudo comparou a ocorrência de complicações vasculares associadas a compressão mecânica e manual, constatou que o surgimento de hematomas pela compressão manual foi maior (10).

Mas um outro autor verificou que instrumentos de oclusão arterial, mecânico e compressão manual provocaram baixo e comparável risco de complicação após remoção do introdutor arterial (12).

Uma conduta comum que se tornou rotina nas instituições de saúde é o repouso no leito após procedimentos coronarianos percutâneos, onde a via de acesso é arterial, como uma forma de prevenir a formação de hematomas, sangramentos e outras complicações vasculares. Mas não há um consenso do tempo de permanência do paciente no leito.

Um estudo envolvendo a amostragem de 372 pacientes avaliou a redução do repouso de 6 horas para 3 horas e suas repercussões sobre o surgimento de complicações vasculares. Pelo apresentado no artigo a incidência de sangramentos no grupo que permaneceu por 3 horas em repouso foi discretamente superior. Quanto ao aparecimento de hematomas, os dois grupos avaliados não apresentaram diferenças estatísticas significantes (14). Pelo apresentado, o tempo de repouso do paciente no leito pode se reduzido para 3 horas sem maiores complicações vasculares.

No que diz respeito ao tempo de permanência do paciente no leito, um outro autor, ao abordar a ocorrência de complicações vasculares associada ao tipo de compressão feito após a retirada do introdutor arterial, observou que quando a compressão era feita por dispositivos mecânicos os pacientes necessitavam de um período de 4 horas e 20 minutos de repouso no leito para evitar complicações locais, mas quando a compressão era feita de forma manual para obtenção do mesmo objetivo a necessidade de repouso diminuiu para 3 horas (10).

Neste mesmo estudo foi observado que o tempo de hemostasia quando a compressão era feita de maneira manual demonstrou ser mais rápida, durando em média 15 minutos, valor significantemente menor que a compressão feita por dispositivos mecânicos, que obtiveram em média hemostasia em 29 minutos (10).

Pelo avaliado, como o tempo de repouso do paciente pode ser diminuído para 3 horas, uma redução dos custos hospitalares pode ocorrer, devido a menor tempo de internação do paciente, maior rotatividade de leitos e maior disponibilidade de recursos humanos.

Uma prática profissional exercida pelos enfermeiros com especialização em hemodinâmica ou em cuidados intensivos é a retirada de introdutor arterial após procedimentos coronarianos percutâneos (15). Dois estudos indicaram que a retirada do introdutor arterial pelo enfermeiro mostrou ser um procedimento seguro e sem maiores complicações (5, 6).

Um destes estudos comparou a retirada de introdutor arterial pelo enfermeiro e pelo médico residente, e verificou a ocorrência de 8 hematomas (16%) nos pacientes que tiveram o introdutor retirado pelo enfermeiro, e 9 hematomas (17%) nos introdutores retirados pelo médico residente (6).

Nos dois estudos os hematomas foram de leves a moderados, e sem maiores complicações foram tratados clinicamente (5, 6).

Um dos autores destacou a necessidade de treinamento especializado para os profissionais de enfermagem para obtenção de bons resultados (6).

A identificação dos fatores relacionados à maior incidência de complicações vasculares pode contribuir para o desenvolvimento de protocolos de cuidados mais individualizados para os pacientes de alto risco. Justificando assim, maior tempo de compressão, maior tempo no leito e maior tempo de observação em unidades de recuperação.

 

Conclusão

 

Com base nos conteúdos dos artigos estudados, foi possível verificar que as complicações vasculares após procedimentos coronarianos intervencionistas por via transluminal percutânea são de baixa incidência. Quando presentes, as complicações mais comuns foram os hematomas, sangramentos no local de punção e os pseudoaneurismas.

 

Pelo avaliado, um novo perfil de pacientes com alto risco de desenvolver complicações vasculares está emergindo para incluir os pacientes com idade mais avançada e com presença de hipertensão arterial sistêmica. A anticoagulação prévia ao procedimento, o baixo hematócrito e a presença de distúrbios de coagulação nos pacientes, foram alguns relevantes fatores preditores de complicações apontados por alguns autores. Desta forma, estes pacientes devem ter seu local de acesso arterial monitorado com maior frequência e a presença de complicações vasculares observadas com maior atenção.

A identificação precoce dos fatores de risco para complicações conduzirá para o desenvolvimento de protocolos mais individualizados paciente- específico para o cuidado de pacientes de alto risco. Esta informação fornecerá também suporte clínico para justificar o maior tempo de compressão, maior tempo no leito e maior tempo de observação em unidades de recuperação.

Quanto à forma de hemostasia objetivada após a retirada do introdutor arterial, pelos estudos identificados não há um consenso quanto à forma mais segura. Os autores apresentaram diversificados resultados, sendo portando necessário para definir uma segura conduta pesquisas adicionais para definição de qual método é mais eficaz.

Um cuidado importante no pós de procedimentos coronarianos invasivos é o tempo de permanência do paciente em repouso, que para prevenção de agravos locais é adotado em média um período não superior a 6 horas. Contudo os resultados de algumas pesquisas apontam que seguramente este tempo de repouso pode ser diminuído para 3 horas, sem aumento significativo dos índices de complicações vasculares.

Foi verificado que a retirada de introdutores arteriais pós-procedimentos coronarianos intervencionistas por via transluminal vem tornando-se uma prática cada vez maior entre os profissionais enfermeiros. Pelo constado nos resultados dos estudos, a incidência de complicações vasculares não apresenta aumento quando o introdutor é retirado por este profissional.

Cabe destacar que para retirado de introdutores arteriais, segundo pareceres técnicos emitidos por alguns Conselhos Regionais de Enfermagem, o enfermeiro deve possuir especialização em Enfermagem em Terapia Intensiva ou Enfermagem em Unidade de Hemodinâmica, pois o procedimento é complexo e pode acarretar sérios riscos de complicações ao paciente (15).

Estudar as complicações vasculares pós-procedimentos coronarianos percutâneos ressalta a presença e atuação do enfermeiro na assistência ao paciente, para minimizar as complicações, mas para tal é necessário o aprofundamento nos conhecimentos técnico-científicos que garantam qualidade de assistência ao paciente e segurança ao profissional.

A necessidade de aprofundar nos conhecimentos técnicos – científicos de enfermagem é relevante quanto às complicações vasculares, pois no âmbito nacional as pesquisas são ainda escassas. Portanto pesquisas futuras tornam se necessárias para esclarecimentos de condutas que definam uma prática profissional mais segura para o paciente submetido a intervenções coronarianas por via transluminal.

 

Referências Bibliográficas

1. Woods SL, Froelicher ESS, Motzer SA. Enfermagem em cardiologia. 4a. ed. Barueri, SP: Manole; 2005. p.629-50.

2. Leon MB, Baim DS, Popma JJ, Gordon PC, Cutlip DE, Ho KK et al. A clinical trial comparing three antithromboticdrug regimens after coronary artery stenting. Stent Anticoagulation Restenosis Study Investigators. N Engl J Med 1998; 339: 1665-71.

3. Krause PB, Klein LW. Utility of a percutaneous collagen hemostasis device: to plug or not to plug? J Am Coll Cardiol 1993; 22:1280-2.

4. Domenico EBL, Ide CAC. Enfermagem baseada em evidências: princípios e aplicabilidades. Rev Latinoam Enferm 2003 jan-fev;11(1):115-8.

5. Malaquias S, Meireles G, Abreu L, Forte A, Sumita M, Hayashi, et al. Remoção de introdutor arterial pós-intervenção coronária percutânea pelo enfermeiro. Rev Bras  Enferm 2005; 13(1): 12-5.

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